A TAIEIRA DE SERGIPE: UMA DANÇA FOLCLÓRICA,Beatriz
Góis Dantas,editora UFS, 168p,2013,isbn 978-85-7822-319-9
A apresentação ao livro assusta, mas aí vem o prefácio de José Calazans que
acalma: Não é nada disso, pode avançar que o leão é manso. As sapecas “negrinhas
pequenas” de José Calazans, me arrepiaram; a vista turvou-se, uma onda de
emoção encheu meus olhos. Minha esposa flagra-me enxugando lágrimas,
controlando o peito que arfa. Argueiros não colam... Dor no peito é desculpa
esfarrapada.
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É uma pena que folguedos
de nosso povo estejam desaparecendo, alguns já se foram de vez. Sinal dos
tempos. Não há mais espaço. Outras prioridades e facilidades se impõem a cada
dia. A magia da internet e da televisão danificaram até o mágico cinema. Os
livros caminham para o cemitério, por conta própria, em fila indiana.
A Taieira em Sergipe resiste por conta de uma pessoa,
já muito velha, e que tenta passar a coroa e ninguém quer. E mesmo que alguém
mais novo a receba, dificilmente vai encontrar herdeiro quando este precisar passar
adiante.
Até cidades se acabam. Laranjeiras mesmo, onde mãe
Bilina (Umbelina Araujo) mantem a Taieira ainda viva, já foi uma grande
metrópole. Rica. Com 57 engenhos produzindo, possuía o vigor que nem os dias de
festa de hoje em dia imitam.
Beatriz Dantas segue o fio da meada, mostra o geral e
desce ao ponto. Escrita afável, termos de domínio publico, frases cadenciadas.
Há uma melodia por detrás do texto, embalando a leitura. Para mostrar situações
complicadas, que outros levariam dez páginas de conceitos intragáveis, Beatriz
usa as próprias expressões fortes e definitivas do falar do povo: “Tomar uma
coisinha” (página 34), “não gostava de estudos” (página 35), “hoje as moças têm
vergonha de sair...” (página44), “Iaiá me deu mode seu doto” (página 53),
“antigamente era dona desse negoço” (página 68), “fazer rainhas menos pobres”
(página 79), “são Benedito pode castigar os responsáveis” (82), “realizar o
corte do inhame” (página 83), “a paróquia não aprovou a dança de negra” (página
84), “tudo isso é louvor, tudo isso é louvar” (página 85)...
Fruí a Taieira viva de Laranjeiras, e as que já
morreram em Lagarto e São Cristóvão. Benzi as divisas e fui à Alagoas, à Bahia e ao Rio de Janeiro. Pedi a bênção ao vigário
que sabia o que era bom, Padre Filadelfo Jónathas de Oliveira, sessenta anos celebrando missa na matriz de Laranjeiras
e abençoando os cultos pagãos nos
terreiros clandestinos. Um santo.
E o livro surpreende. Até encanta.
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