domingo, 3 de março de 2019

A VINGANÇA DE WINNETOU, Karl May


A VINGANÇA DE WINNETOU, Karl May, Editora; Vila Rica, sbn: 85-7344-493-2



José Augusto Viana, o Gustinho de meu romance “Meninos que não Queriam ser Padres” (está em muitas passagens), ex-colega de seminário, mandou-me o livro de São Paulo, achou acidentalmente na estante escondida de uma livraria. Calculou que eu iria gostar muito de rever meus heróis juvenis, "Mão de Ferro" (Old Shatterhand), devido as suas habilidades com os punhos e que narra suas próprias aventuras, e "Mão de Fogo" (Old Firehand), devido as habilidades no manejo das armas, que ele sabia pelo meu entusiasmo ao narrar aventuras espetaculares nos oitões proibidos do seminário.
E gostei mesmo!


Bastou eu abrir o pacote (uma surpresa não anunciada) e retirei de minha frente, Cadernos de Ruminações, de Francisco J. C. Dantas. Também afastei a um lado os poemas de Jeová Santana e de José Ronaldson, que havia trazido da última Roda de Leitura da biblioteca Epifânio Dórea. Depois, se Deus me der folga, retornarei aos meus ídolos tupiniquins, aos clássicos da boa literatura produzida aqui.

A Vingança de Winnetou é um pequeno romance, juvenil, arrebatador. A exemplo de toda bibliografia de Karl May.

Quem já leu esse alemão que varou o mundo em pensamento: Pelo Kurdistão Bravio, Winnetou, Através do Deserto, e muitos outros? 75 milhões de livros somente na Alemanha, foi traduzido para quase 100 países, onde vendeu 200 milhões de livros. Os seus romances incendiaram a juventude dos anos 60. Escreveu mais de 75 livros. No Brasil a editora Globo traduziu 30 livros.

Montei no meu cavalo xucro e retornei às pradarias do oeste americano. Enchi os olhos de lágrimas, emocionado. Subi serras, cavalguei campos sem fim em boa companhia. Fiz justiça, matei índios sanguinários e caras pálidas mau-caráter. Ri das estratégias inventadas nos momentos críticos, quando, aparentemente, tudo estava perdido. Sangue frio, serenidade. Se a morte parece inevitável, tem-se mesmo é que relaxar. E se não tiver jeito, “precipitar-se na eternidade com um sorriso nos lábios”:

- Já fez as pazes com Deus?
- Por que pergunta isso, coiote?
- Porque chegou a sua hora.
- Mas não me recordo de haver brigado com Ele! Não vejo porque então tenha que fazer as pazes.

É uma pena que os livros de Karl May, como também de Júlio Verne, Emílio Salgari, Edgar Wallace, Alexandre Dumas, Mark Twain, Jack London, entre muitos outros. não estejam mais, facilmente, disponíveis. Sumiram das livrarias e até das bibliotecas. Eles me formaram leitor para a vida toda, totalmente enfeitiçado pelas aventuras e amores puros. Eram livros fáceis de ler, de entender. Divertidos, emocionantes, instigantes. Quem se batia com um deles, certamente se transformaria em um leitor contumaz.

Hoje, entretanto, a maior parte dos livros que nos cercam são complicados. Mesmo os escritos em nossa língua exigem dicionário para serem entendidos. Ou cursos preparatórios de filosofia, de medicina, de psicologia, de uma ciência qualquer dominada pela elite metida. As histórias contadas são enigmáticas, sejam em romances, em contos, em crônicas, e especialmente, nos poemas. Poucos falam de nosso povo, de nossos costumes, de nossa terra, da simplicidade das nossas coisas. Os autores talvez pensem alto demais. Achem que falar da gente é descer ao barbarismo.

Deve ser por isso que as estatísticas registram cada vez menos leitores de livros entre a juventude. Quem vai deglutir tanto sabedoria acadêmica? Tanta aparente baboseira? Quem vai se arriscar a uma travessia tão sombria?

Gostei muito de rever meus heróis do tempo de menino. Obrigado Gustinho, José Augusto Viana, lagartenses intelectual, que assumiu o Estado de São Paulo como sua terra, Santo Amaro como sua casa, e o “Curintha” como sua religião pagã cheia de deuses bons de bola.

(Aracaju, 13/07/2014, Antônio Francisco de Jesus. Recuperada dos alfarrábios em 03 de marco de 2019).

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