GALVEZ, O IMPERADOR DO ACRE, Márcio Souza, 21ª edição, Record, 2021, Rio de Janeiro. Isbn 978-65-5587-473-0.
(A
absurda comparação de um romance, em sua primeira edição, lida em 1976, e a
vigésima primeira, que acabo de ler).
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Ontem,
2023out26, domingo, à tardinha, na livraria Leitura, do shopping
Riomar... O Escritor na Livraria vive como nunca.
O
professor Jackson, que eu não me lembrava de ter visto antes, me dá um abraço
de surpresa e compra “O Menino Amarelo”.
Por
que isso, professor? Inquiri em silêncio.
Ele
respondeu, no mesmo tom, que assistira documentários que o
jornalista Jorge Carvalho vem publicando nas redes sociais, e agora quer ler todos
os livros de minha autoria.
Fiquei
boquiaberto...
Em
seguida, Nininho do Bolo Bom de Lagarto, levou também “O Menino Amarelo” e
prometeu dar-lhe um lanche reforçado quando chegasse em casa. E eu nem me
lembrei de prevenir Nininho, que o amarelo iria pedir, após papar o lance, uma colher de Biotônico
Fontoura… viciou!
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E
Márcio Souza, de quem sou fã desde 1976, quando li e me apaixonei pelo “Galvez,
o imperador do Acre”, ao me ver só, gritou um psiu da prateleira da literatura
nacional, me chamando.
Caí
de joelhos a seus pés.
Ele me puxou pra cima e disse com a voz gabaritada pela 21ª edição de Galvez, que me apresentava com um olhar paralelo, disfarçado mas lascivo:
“Quero ler
este “Menino Amarelo” também! Mande para Manaus, o correio é por minha conta.”
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Quando
acabei meu expediente na Leitura, fui ao caixa e comprei Galvez. Em casa, me
dei conta de que não pedira o endereço de Márcio.
Como
despachar então o meu "Menino Amarelo"?
E
agora?
Apertei a criatura (meu herói nacional que venero há 47 anos), passei três dias, no começo com voracidade e, ao final, arrastando os pés dormentes no chão, procurando a beleza retida nítida em minha memória, a história heroica da guerra de libertação do Acre, que me arrebatou no passado, mas nada dela o livro novo tinha. Era agora uma brincadeira boba. Mas uma pista, nem cifrada, achei, de meu mito, Márcio Souza.
Tentei
conversar com o imperador, reclamar do desmantelo de sua nova história (nem
estava mais querendo o endereço de seu criador, de Márcio, de tão indignado agora), mas ele, ou estava
escornado bêbado babando sarjetas ou
escapando das casas de senhoras casadas, desde Belém a Manaus, com as calças na
mão.
O
séquito de parasitas devassos (o competente estado maior de antanho)
cortejava-o como Imperador do Acre, e ele inflava como bexiga de
aniversário. E o exército de seringueiros cearenses virados na gota
serena, comandado por Joana, agora era não mais que trinta e dois pelocos
lassos, alvos fáceis, como o foram. E minha heroína, que queria ser freira, acabou morta com seis buracos de bala,
abraçada a winchester fumegante, de pernas abertas para o céu.
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Eu,
que venho falando bem do livro há muitos anos, abaixei a cabeça desorientado.
Aonde foi parar a epopeia nacional de leitura alucinante? Este exemplar
(vigésima primeira edição) que acabo de ler (como diabos cheguei ao final?)
nada tem a ver com o primeiro, que li (ou imaginei que li) em 1976, perdendo
por um triz com a Odisseia de Homero, a Eneida de Virgílio, os Lusíadas
de Camões.
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Preciso
destruir a estátua em bronze de Galvez, que entronei na praça principal de Rio
Branco. Preciso me desmentir aos que confiaram em minha palavra de conhecedor
da literatura. Recomendei que lessem "Galvez, o Imperador do Acre!" e
nem indiquei a edição.
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Eitha! Ia
me escapando a contracapa desta 21ª edição...
Nela,
Jorge Amado diz que o livro é “vertiginoso, alucinante, no qual a Amazônia se
revela em seus furores e perigos”;
Ignácio
de Loyola Brandão garante que “é divertido, fluente, satírico e
provocador”;
E
os News Yorks se desmancham em elogios.
(Aracaju,
06 de novembro de 2024, por Antônio FJ Saracura).
Nota:
“Eu
tinha nas estantes dezenas de livros muitos ruins que eu não jogava fora, caso
algum dia precisasse de um exemplo de livro de má qualidade.” (Página 15, de
Encaixotando Minha Biblioteca, de Alberto Manguel).
E
eu os tenho também ocupando, no lugar de livros bons, que descarto morrendo de
pena. E agora, tenho um, rara espécie, que já bom 47 anos atrás. Eu preciso entender
o mistério. E terei como comprar as duas edições, se um dia me bater com a primeira divina.
Li na Asl em 2024 (primeiros meses).
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