HISTÓRIAS DO MEU POVO, Aduilson Gois, Aracaju, Infographics,
2025, 166p, isbn 976-65-5730-263-7
Saiu a terceira obra do escritor (uma grata surpresa)
Aduilson Gois, das Flechas de Itabaiana, meu primo segundo, que conheci outro
dia, filho de Antão e neto de tio Homero.
Este meu tio Homero, como sua irmã Florita (que é minha mãe),
sem prejuízo dos demais irmãos, foram brilhantes
na arte de relembrar, incansáveis
contadores de histórias. Os ouvintes viciados e boquiabertos sempre eram
surpreendidos com inéditas e apaixonantes histórias.
Aqui, Aduilson está atento ao povoado em volta, desviando o olhar
de seu mundo de quase a vida toda, quando viveu perigosamente nas rotas do
crime, nas arriscadas fugas, ou na solidão da cadeia. “Cansei de Servir o Diabo” e “A Liderança”, suas obras anteriores publicadas, tratam com
maestria dessa fase dura.
O escritor mostra, agora, o lado lírico de sua alma. Aqui são 52 crônicas curtas, leves, escritas no tosco e saboroso linguajar dos povoados de Itabaiana. Algumas nem uma página dão, outras apenas registram uma pessoa ou um momento que precisam ser preservados, pois foram importantes para algum morador, para o povoado, para os olhos de quem, fugazmente, agora, os vê.
O livro trata de Antão (o pai do autor), de meu sósia
Saracura, da parentada espalhada, dos vizinhos...
E trata do meu São Tupi, time de futebol com sede no campo de várzea ao lado da antiga bodega de tio Homero, onde o pau quebrava de verdade. Eu era guri e, levado por tio Zé, fiz um teste em campo. Tio Homero era o cartola, o treinador, o avante e me recebeu receoso: “Aqui a parada é dura e você ainda é pequeno e meio doentio”. E ele sabia muito bem que meu pai considerava futebol, ramo de preguiçoso, sem futuro nenhum. Mesmo assim, fiz teste rápido que não prosperou e está contado no romance “Os Tabaréus do Sítio Saracura”, capítulos: Um domingo nas Flechas, e Os Livros de Cordel.
Aproveite e assista à partida de campeonato, que aconteceu naquele domingo, entre o time das Flechas e Os Paneleiros da periferia de Itabaiana. Qual foi o placar? Eu conto lá.
Há crônicas que dialogam comigo (ou com minha a obra), como as do protagonista “genial” Saracura, homônimo que vi apenas uma vez e fiquei seu amigo. Foi em uma festa em homenagem ao casal tio Homero e Zefinha de Mengo, no terreiro do sitio dele... Havia muita gente do lugar, dos povoados em volta e até da rua. Tio Homero era um líder respeitado e querido.
Eu não perco uma festa dos ferreiros (Eitha povo festeiro!). Só
não vou se estiver doente ou viajando pra longe.
Alguém gritou meu nome (“Saracura!”). Eu corri em busca, serpenteado
no meio do povaréu. O grito viera do pátio do templo evangélico (Igreja da
bênção) construído no oitão da casa de tio Homero por um filho convertido,
chamado Anselmo.
Chegamos ao mesmo tempo, querendo o mesmo pedaço de bolo e o copo de coca cola. Então havia mais um
Saracura (além de mim) no mundo, que tive muito prazer de conhecer.
Ninguém iria me chamar por um pedaço de bolo, mas não consegui
deixar meu xará lanchar sozinho. Fiquei
seu amigo, se bem que nunca mais o encontrei na vida.
Algum tempo depois, o romancista Francisco Dantas mandou-me um recorte de algum jornal ou revista, parece-me que de São Paulo e que falava de um Saracura, originário das Flechas em Itabaiana Sergipe, presepeiro, contador de casos engraçados, destaque no lugar onde morava o jornalista.
E Francisco me gozava assim, sugerindo que o Saracura fosse eu: “Não há quem possa com este povo das Flechas de Itabaiana! Você faz sucesso no Brasil todo!”
xxx
Retornando ao livro de Aduilson, destaco aqui três contos/crônicas,
apenas para não citar o livro todo e também sugerir atrações especiais no turismo
cultural de quem comprar a passagem.
“Antão e as cachorras vermelhas”,
“Homero comigo no dominó”,
“Gratidão”,
“Anselmo e a besta pampa”
“Histórias do Povo” dá para ler de uma sentada sofregamente. Ou ser bebido
como a um vinho de cem anos, um golinho hoje e outro amanhã, para melhor desfrutar.
O livro diverte, instrui e encanta. Pra que mais?
(Por Antônio FJ Saracura, em 18/11/2025).
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