MURAL DE IMPRESSÕES, João Oliva
Alves, Criação editora, 254 pag., Isbn: 978-8562-576249
João Oliva é uma pessoa de quem
gosto desde a adolescência quando foi meu chefe por um tempo na redação do
jornal “A Cruzada”. Nos idos de 1965. Foi quem me ensinou um pouco da arte da
escrita útil, sem perfumaria desnecessária. Pelo menos tentou me ensinar.
Uma vida inteira, mais de noventa
anos de observação científica da nossa vida social, política, religiosa e o que
seja mais, faz de João um autor respeitável. Cada crônica (ou ensaio) desse seu
livro, carrega dentro uma sabedoria imensa. Eu li compulsivo, precisando reter
o mais que pudesse desta crônica, correndo em busca da próxima, com medo que
fugisse de mim ou que eu me acabasse antes.
O poeta precisa apenas de um bom o poema
para se consagrar, para que o chamemos de Grande. E João tem mais de um. Mas bastava
este Amor de Outono, que começa assim:
“Um amor outonal, cuja beleza
calma
Tem o doce langor de um final de
tarde,
De folhas a cair, de brisa que
acalma,
De sol que ao declinar já não
queima nem arde.”
O livro é dividido em três
partes. A primeira fala de personalidades sergipanas. A segunda, de literatura
e jornalismo (como lamentei não ter publicado meus livros antes para ganhar
também uma resenha; ganharia?). A terceira compõe-se de ensaios e
memorialística. E o foco das três partes é Sergipe. E a que o autor faz abordagem
é muito pessoal, pois João testemunha o que viu, não fala por ter ouvido falar.
Reencontrei-me com meu amigo do
tempo de jornal, nos idos de 1965, Acrísio Torres Araujo, quebrando caranguejo
nos bares de Atalaia ou visitando um lote perdido no meio dos cajueiros onde
hoje é o bairro Jardins. E José Amado Nascimento, que sempre o vi de longe,
mesmo quando foi meu professor na faculdade de economia nos idos de
antigamente... Sabia do seu valor mas não tinha uma ideia certa da dimensão,
que agora consegui.
Em um ensaio, este de abordagem generalista,
João fala sobre o desprestígio do pecado. Essa perda de sentido do pecado, que
tem a ver com a moral e os costumes, vai nos levar outra vez ao barbarismo. Não
se obedece ás leis de Deus, que são as leis naturais, e, na sequência,
questiona-se e transgride-se as leis dos homens. Valei-me Senhor São Bento!
E sobre o centenário de Clodoaldo
de Alencar. O Ceará é o grande exportador de talentos, inclusive para Sergipe.
Clodoaldo, de cepa ilustre, descende de José de Alencar (O Guarani, Iracema)
foi trazido por Gracho Cardoso em 1922 e produziu uma plêiade de intelectuais
genuinamente nossos.
O Riachão não poderia ficar de
fora. Que terra é essa que produziu tantos filhos ilustres? Inclusive João. Os
tipos folclóricos desfilam como se fossem os mesmos de Itabaiana na minha infância.
O cronista João Oliva os ressuscita o contador de histórias (Pai Jocundo), o
poeta popular (Gino Costa), o vendedor de quebra-queixo (Martinho Caga-pilar) o
Ceguinho Marcelino.
E o caso acontecido sobre José
Araujo Nascimento... Uma decisão insólita e corajosa de ir à casa do desafeto com
as mãos estendidas pedindo a paz, sentar-se à mesa, e rezar um padre nosso. É
loucura ou é absoluta sanidade?
João Oliva apresentou-me pessoas
decentes, que eu precisava conhecer para que minha vida melhorasse muito, como
Ursino Ramos e muitos outros. Leia o livro e comemore. Não é sempre que podemos
desfrutar um livro tão bom.
Mural de Impressões, João
Oliva Alves,Criação editora, 254 pag. João Oliva é uma figura simpática para
mim desde a adolescência, quando foi meu chefe, por um tempo, em 1965, na
redação do jornal “A Cruzada”. Foi quem me ensinou um pouco da arte da escrita
útil, sem perfumaria desnecessária. Pelo menos tentou. Uma vida inteira, mais
de noventa anos de observação científica à nossa vida social, política,
religiosa e o que seja mais, faz de João um autor respeitável. Cada crônica (ou
ensaio) desse seu livro carrega dentro uma sabedoria imensa. Eu li compulsivo,
precisando reter o mais que pudesse desta, correndo em busca da próxima, com
medo que me fugisse ou que eu me acabasse antes. A começar com o poema de
abertura em homenagem à sua esposa, simples e belo, uma lição aos jovens
poetas. (Corra ao livro!). (Perfil ano 17 numero 2)
li na ASL em 2019
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