O NOME DE DEUS É MISERICÓRDIA,
papa Francisco e Andrea Tornielli, Planeta, 2016, 144p, isbn 978-854-220-634-0
Doutor Carlos Leite é autor do
livro “Procurando o Pequeno Príncipe”, crônicas de sua infância no Chapadão dos
Bugres e no Barracão: Cristinápoplis e Jandaíra, respectivamente. Gostosas
lembranças! Foi meu professor de história nos idos de 1960, quando me deu boas
notas. Eu o fiz personagem, um dos principais,
do meu livro, “Meninos que não Queriam ser Padres”. Doutor Carlos fecha a trama
de maneira espetacular, no dizer de Vieira Neto, um dos grandes intelectuais
dessa terra: poeta, crítico literário, dramaturgo,
cronista, memorialista e romancista.
Depois dos incidentes que narro
no citado romance (está saindo a segunda edição) comecei a frequentar, com
certa assiduidade, a casa do velho professor, quarenta anos depois de ter saído
do colégio onde ele ensinava, o Arquidiocesano de Aracaju.
Ele agora tem 94 anos e praticamente
não sai de sua cadeira. Passa o dia inteiro, entre dormindo, lendo algum livro
(geralmente com viés religioso) e rezando.
Eu levo livros para ele ler. Os
que publico e os que compro e acho que fazem o seu estilo. Talvez por isso ele se
ache em débito comigo e sempre está procurando um jeito de retribuir, também me
emprestando algum livro. Esta semana eu trouxe de sua casa: “O Nome de Deus é
Misericórdia”, uma entrevista feita pelo jornalista do jornal “la Stampa”,
Andrea Tornielli com o papa Francisco (Francisco Jorge Mário Bergoglio).
E não é que li o livro! Talvez como
penitência. É que tenho lido pouco livro de religião, até a Bíblica Sagrada sobre a cômoda de meu escritório, está aberta na mesma página (O Livro de Ester, página 413) há meses. Além do que, sou um pecador inveterado. Por pensamentos, palavras e obras. Sempre arrependido e sempre vacilando. Comecei a ler " Nome de Deus..."para compensar um pouco, ajuntar bônus para o tal Julgamento
Final. E gostei.
Os temas abordados no livro são,
de acordo com os capítulos: Tempo de Misericórdia, a graça da confissão,
procurar todas as brechas, Pecadores sim - corruptos não, misericórdia e
compaixão, entre outros.
A Misericórdia significa abrir o
coração. É a atitude divina que abraça, que se dedica a perdoar. Então é
preciso existir o pecador para que a misericórdia possa ser exercida. Ele (o
pecador), nesse contexto, é mais importante do que o justo. Sem o pecador não haveria
misericórdia. O Senhor perdoa tudo e, se assim não fizesse, o mundo não existiria
(página 55). Haverá no céu alegria por um só pecador que se converta do que por
99 justos que não precisam de conversão (página 84).
Confessar-se com um sacerdote é
uma forma de colocar minha vida nas mãos e no coração de outra pessoa, que
naquele momento age no lugar de Jesus. O
confessor deve ouvir e não interrogar. E perdoar, mesmo que o pecador não
esteja arrependido de seu pecado.
Arranjar um jeito. Até pelo fato do pecador lamentar-se não se arrepender
do pecado. É um motivo justo.
Se alguém é um ministro de Deus, acaba por
acreditar que está separado do povo, é dono da doutrina, titular do poder,
fechado às surpresas de Deus (degradação do encanto). Os que adoram os
primeiros lugares, gostam de ser chamados de mestres, começam a perder o
encanto diante da salvação que lhes foi dada, ao se sentirem mais seguros,
começam a se apoderar de atributos que não são seus. O corrupto tem a cara de
quem diz: não fui eu. Ele se indigna porque lhe roubam a carteira, lamenta-se
pela falta de policiais nas ruas, mas depois ele ludibria o Estado, sonegando
impostos; talvez demita os funcionários a cada três meses para evitar
contratá-los por tempo indeterminado, ou então possui trabalhador não
registrado. E ainda conta vantagem disso
aos amigos (página 120).
O livro é bem diagramado, bonito,
agradável então. Letras graúdas, espaço duplo entre as linhas, anima por isso. Uma
penitência que o pecador (como eu) paga sem sacríficos maiores. Até com prazer.
Apesar dos temas óbvios, faz bem ouvir de novo.
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