A ROLINHA FOGO-APAGOU, Edson
Valadares, apenas uma folha solta
A ROLINHA FOGO-APAGOU
Em seu carro de fogo,
no espaço passeava a aurora,
que ia apagando a luz das estrelas!
Os galos sopravam seus clarins
para o Sol despertar.
O Sol surgiu detrás de um monte,
onde uma rolinha cantava tristonha:
O fogo apagou! O fogo apagou!
Um canto triste, um canto de dor.
Deitada em seu ninho,
protegido de sombras,
chocava dois brancos ovinhos,
futuras rolinhas que cantariam
o fogo apagou! O fogo apagou!
E numa manhã brilhante,
um menino malvado,
ouviu o canto: O fogo apagou!
E, de um estilingue armado,
à rolinha uma pedra atirou!
E nunca mais, nunca mais,
se ouviu o canto triste:
O fogo apagou! O fogo apagou!
Ilhéus, 30/06/1999.
Edson é um senhor de mais de
noventa anos e se intitula o maior poeta brasileiro de todos os tempos. E
coloca a filha (que não me lembro o nome) como a segunda, logo atrás ele
próprio.
Edson concorre (segundo apregoa) ao prêmio Nobel
de literatura todo ano. Ainda não foi eleito, mas persiste. Considera-se crítico literário, e
desce o pau sem pena no exercício de sua missão. Seja lá quem for o autor que
lhe caia às mãos. Tempos atrás, muito atrás, eu publiquei um poema da revista
Perfil. Eu nunca ouvira falar de Edson Valadares; àquela época, eu ainda não
frequentava a Academia Sergipana de Letras, seu pouso das segundas. Fui
surpreendido com uma carta dura descendo o pau no meu poema e no autor (abaixei-me para escapar da bala no peito).
Pedi a revista que
publicasse a carta do leitor indignado com meu poema na edição seguinte.
Ele tinha razão.
Ele tinha razão.
É contista e poeta. Seus livros
(digitais) são vendidos pela Amazon, entre eles, Contos do Sertão e Versos no
Espelho. Há um que fala de um Sergipano em Paris: sei porque deu-o ao presidente da Academia Sergipana em uma sessão passada. Eu vi de longe.O presidente desmanchou-se em estranhas mesuras de gratidão.
Toda segunda-feira, quando Edson comparece como visitante à Academia Sergipana de Letras para a sessão aberta e
ordinária, distribui, aos acadêmicos, folhas soltas com algum poema de sua
autoria. E mais folhas com cartas que escreve, rotineiramente, à líderes
políticos e religiosos do mundo, dando sugestões, fazendo críticas, apontando
rumos certos. E mais folhas trazendo cartas respostas, quase sempre em língua estrangeira, nas quais um rei ou mandatário, através de secretários, agradecem um livro ou uma sugestão de Edson Valadares.
Semana passada, ele distribui um
poema chamado “A Rolinha Fogo-apagou” sobre o qual direi duas palavras.
Antes, quero dizer que o poeta
não é receptivo à críticas. Torce o bico, acha-se acima delas. O bico virtual, que
a gente não vê, mas sente. Houve um poema anterior em que,
festivamente, fazia “os sinos dobrarem”. Eu sugeri trocar o verbo, porque dobrar
sino seria mais apropriado à lamentação, à homenagem póstuma, e citei o
livro de Hemingway. Valadares olhou-me com cara de desprezo e disse: “Esse
Hemingway é um péssimo escritor”.
Quase todos daqui da Academia o
consideram louco. Agastam-se com sua ação marqueteira. Eu não!
Eu o admiro também pela juventude
do modo de agir, pela autoestima vibrante, por continuar (depois de muitos anos
de luta sem muita glória) firme na missão de encantar a todos com sua obra
literária, de exercer, com coragem, sua cidadania.
Mas sobre o poema “A Rolinha Fogo
apagou":
Eu deletaria o 15 verso que diz:
“E numa manhã brilhante”.
Evitaria a mudança de tempo,
levando-o à frente, o que achei inadequado, considerando que os versos
seguintes retomam (parece isso) a ação ao presente.
E também evitaria a mudança de
cenário, a “aurora” para uma “manhã brilhante”.
Fazendo isso, o poema fica
consistente, coerente. No meu ponto de vista.
Ajustaria também o final , diria: apaga o
canto triste da rolinha morta, e não das rolinhas do mundo todo, que não é verdade,
pois, ainda há rolinhas hoje cantando pelo mundo. Aqui na árvore de meu prédio há.
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