domingo, 10 de janeiro de 2016

ARMADILHA MORTAL, Roberto Arlt

ARMADILHA MORTAL, Roberto Arlt, L&PM Pocket, 98 páginas, isbn 978-85-254-0613-2


Sempre me liguei em filmes e livros policiais A série com um zanôio chamado Columbo (Peter Falk) preencheu minhas tardes monótonas quando ainda não pensava em escrever livros. Hercule Poirot e Miss Marple de Agatha Cristhie, Inspetor Maigret de Simenon, Sherlock Holmes e meu Caro Watson de Conan Doyle, Smiley de Jonh leCarré... Em minha exígua biblioteca ainda resistem ao tempo e aos visitantes gatunos alguns exemplares, jóia raras, que mantenho como sinal de fidelidade e veneração.

Bem recentemente, mantive contato com Roberto Arlt, um argentino que viveu pouco, apenas 42 anos (eu já tenho 70) e morreu quando eu ainda nem era nascido (1942). O livro que me apresentou a Roberto é Armadilha Mortal, uma coletânea de contos policiais (ou criminais quase perfeitos) de dar água na boca. Escrita escorreita, sem esnobismo, quase uma reportagem jornalística. Mas que prende, surpreende, fixa-se na memória de quem ler.


“A Pista dos Dentes de Ouro” narra um crime de vingança em que o criminoso cobre um dente com papel dourado, uma pista falsa. Quando desfaz o disfarce, um fiapo do papel encrava-se na gengiva causando-lhe desconforto a ponto de procurar um dentista que, por fim, torna-se seu cúmplice. Não há detetives, e nem precisa. O crime, uma vingança justa, sela um pacto de confiança entre o assassino e a dentista. “Um Argentino entre os Gângsters” é surpreendente apesar de o desenlace previsível, como se isso fosse possível. Afinal, para que serve o domínio da arte? “A Vingança do Macaco” mostra o ladrão, senhor de si, executando seu plano. De repente, “experimenta uma sensação desconfortável, como se alguém o observasse”. Trepado na escrivaninha, com o chapéu do ladrão na mão, está um pequeno macaco. No chapéu, ainda as iniciais do ladrão, mantidas por um descuido bobo. Pronto. O conto muda o rumo. Agora não é um predador recolhendo jóias e dinheiro, mas a caça a um macaco esperto, matreiro. “A Dupla Armadilha Mortal” termina com Estela escapando no para-quedas, que não abriu. E Ferrain cantando vitória por um instante apenas, pois a bolsa esquecida por Estela era uma bomba, e explodiu. Conto logo o fim. “O Mistério dos três Sobretudos” mostra que não é necessário nada espetacular para se construir um ótimo conto. Vale tudo para pegar o ladrão comprometedor que usa duas pernas postiças, uma honesta e outra nem tanto. “O Enigma das três Cartas” tem um final xôxo e, aqui e acolá, frases sem nexo evidente. Botei a culpa no tradutor. “Um Crime quase Perfeito”... 
É melhor você ler esse livro quase perfeito.

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