ARMADILHA MORTAL, Roberto Arlt, L&PM Pocket, 98 páginas,
isbn 978-85-254-0613-2
Sempre me liguei em filmes e livros policiais A série com um
zanôio chamado Columbo (Peter Falk) preencheu minhas tardes monótonas quando
ainda não pensava em escrever livros. Hercule Poirot e Miss Marple de Agatha
Cristhie, Inspetor Maigret de Simenon, Sherlock Holmes e meu Caro Watson de Conan
Doyle, Smiley de Jonh leCarré... Em minha exígua biblioteca ainda resistem ao
tempo e aos visitantes gatunos alguns exemplares, jóia raras, que mantenho como
sinal de fidelidade e veneração.
Bem recentemente, mantive contato com Roberto Arlt, um
argentino que viveu pouco, apenas 42 anos (eu já tenho 70) e morreu quando eu
ainda nem era nascido (1942). O livro que me apresentou a Roberto é Armadilha
Mortal, uma coletânea de contos policiais (ou criminais quase perfeitos) de dar
água na boca. Escrita escorreita, sem esnobismo, quase uma reportagem jornalística.
Mas que prende, surpreende, fixa-se na memória de quem ler.
“A Pista dos Dentes de Ouro” narra um crime de vingança em
que o criminoso cobre um dente com papel dourado, uma pista falsa. Quando
desfaz o disfarce, um fiapo do papel encrava-se na gengiva causando-lhe
desconforto a ponto de procurar um dentista que, por fim, torna-se seu
cúmplice. Não há detetives, e nem precisa. O crime, uma vingança justa, sela um
pacto de confiança entre o assassino e a dentista. “Um Argentino entre os Gângsters”
é surpreendente apesar de o desenlace previsível, como se isso fosse possível. Afinal,
para que serve o domínio da arte? “A Vingança do Macaco” mostra o ladrão,
senhor de si, executando seu plano. De repente, “experimenta uma sensação
desconfortável, como se alguém o observasse”. Trepado na escrivaninha, com o
chapéu do ladrão na mão, está um pequeno macaco. No chapéu, ainda as iniciais
do ladrão, mantidas por um descuido bobo. Pronto. O conto muda o rumo. Agora
não é um predador recolhendo jóias e dinheiro, mas a caça a um macaco esperto, matreiro.
“A Dupla Armadilha Mortal” termina com Estela escapando no para-quedas, que não
abriu. E Ferrain cantando vitória por um instante apenas, pois a bolsa
esquecida por Estela era uma bomba, e explodiu. Conto logo o fim. “O Mistério
dos três Sobretudos” mostra que não é necessário nada espetacular para se
construir um ótimo conto. Vale tudo para pegar o ladrão comprometedor que usa
duas pernas postiças, uma honesta e outra nem tanto. “O Enigma das três Cartas”
tem um final xôxo e, aqui e acolá, frases sem nexo evidente. Botei a culpa no
tradutor. “Um Crime quase Perfeito”...
É melhor você ler esse livro quase
perfeito.
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