domingo, 5 de abril de 2020

OS CAVALOS DA REPÚBLICA, Moacyr Scliar


OS CAVALOS DA REPÚBLICA, Moacyr Scliar, 2005, Ática,80 páginas, ilustrações, isbn 978-85-08-09759-3


Um livro juvenil, pequeno, bem ilustrado, de fácil leitura. Mostra a proclamação da República do Brasil em 15 de novembro de 1889 e a quase proclamação da República dos cavalos. E mais coisas agregadas ou não, de uma maneira bem leve, sem deixar de avaliar o Brasil profundo:

A liberdade da vida em uma estância de gado nos pampas gaúchos e a camisa de força na capital do império.
Uma viagem de navio dos confins do Rio Grande ao Rio de Janeiro, dava uma eternidade; eternidade.
O movimento migratório após a libertação dos escravos, quando alemães, italianos e outros povos vieram fazer Brasil.
A libertação dos escravos que a Inglaterra exigiu: os produtos brasileiros mais baratos (a China) estavam falindo os empreendimentos de suas colônias espalhadas no mundo.
O escravo liberto prossegue sob o comando do senhor, recebendo comida e, por bondade, de quando em quando, algumas moedas, como era o caso de dona Benta, a cozinheira do capitão, pai de Rafael (o narrador).
O clima político (ciúmes, rasteiras), disputa de poder entre os militares e os bacharéis.
Os militares perdendo a confiança do imperador, a ponto deste criar a Guarda Negra, formada por capoeiristas libertos, para se proteger.
A discriminação ao povão, como uma classe “inferior” (não pessoas de bem) formada por ambulantes, capoeiristas, carroceiros, pedintes, ladrões, prostitutas...
A educação escolar dos filhos de ilustres: professores avulsos exigentes se que sabiam de tudo um pouco (até Javanês, lembrei-me agora de Lima Barreto).
E a saúde do imperador que inspirava cuidados; o povo comentava que ele estava meio broco.

E livro acabou, nem dois horas de leitura.

Além da panorâmica mostrada acima, há os cavalos, que todo gaúcho (é o caso de Moacyr) tem na alma (eu também) e a quem muito devemos.  “Na trilha que levou o ser humano da barbárie à civilização, encontraremos sempre as marcas das patas doo cavalo”.  E a quase efetivada proclamação da República dos cavalos, que tomaram consciência da exploração que sofrem desde a origem dos tempos. E resolveram, em reunião na cocheira imperial, aproveitar a onda: os militares derrubarão o imperador e eles derrubarão (ao chão) Deodoro e os demais altas patente, proclamando a independência da raça.

Eu flagrei, bem atrás de Mariana onde estava protegido, o piscar brejeiro de olho que o cavalo de Deodoro deu para Rafael, talvez dizendo que preferia servir ao novo imperador do Brasil (Deodoro) do que a liberdade. E, assim, a boa cocheira garantida, como foi o caso de dona Rosa, que continuou na sua comodidade. 

Seria um piscar de olhos com sentido justo se o cavalo tivesse identificado o menino (que escondido ouviu o os detalhes do plano) na noite anterior, na cocheira imperial. . 

(Antônio Saracura, 2020abr05, Aracaju, na quarentena do Corona)

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