CHICO, O VELHO, Ronaldo Pereira Lima, digo, Ronperlim, por
volta de 60 páginas, editora Prima, 2022, romance ambientalista, isbn.
Meses atrás, Ronperlim me enviou o manuscrito digital de pequeno romance e me pedia para ler e dizer o que achava. Eu ajo assim também com meus livros, Antes de os publicar submeto-os a leitores próximos. E Ron tem sido um parceiro e tanto, oferecendo sugestões valiosas.
Abracei a tarefa. Claro que jamais mudaria o rumo do trem. Apenas botaria azeite nas conexões dos trilhos, que secariam com
um sopro, se assim quisesse o autor.
Fiz isso e, depois, quando o livro saiu da gráfica e tive acesso, nem conferi se Ron usou minhas considerações. Li-o como se fosse uma história nova, me surpreendendo a cada passo.
Ronperlim (Ronaldo Pereira de Lima) é ganhador de prêmios literários. Fui seu companheiro em um deles, o Secult de Literatura de 2010, infelizmente o último promovido pela Secretaria de Cultura do Estado de Sergipe. Ele, com o livro infantil “Laura” e eu, com “Minha Querida Aracaju Aflita”, que ainda vive e goza de boa saúde.
“Chico, o Velho” fala dos pescadores
e de suas famílias ancoradas na beira do Rio São Francisco, ali em Porto Real
do Colégio, nas Alagoas... Tentando pegar o peixe do dia, prosando embaixo dos
pés de benjamim, sugando o mel da cana que gera sonhos. O livro é um álbum de
fotos vivas e revela o dia a dia desse povo, o jeito de pensar e de agir: remendando
redes, espalhando armadilhas nas águas e sempre a cultivando laços da camaradagem.
A prosa é leve e reveladora. A trama é desenvolvida com tão natural beleza, que até o trivial diário encanta.
“Ele se calou. Não
tendo o que responder, voltou o rosto para o teto e observava a teia de aranha.
Nisso, sua mulher punha a mesa. Nela, estavam dispostos feijão, farinha e três
postas de tilápias sendo que, a maior estava destinada para ele. A mesa estava
composta por quatro crianças, uma mulher pálida e um homem revoltado. Joaquim,
o filho mais velho, o espiava. Atreveu-se com uma pergunta simples e breve, mas
sem resposta. Por cima do prato uma mosca voava. Com uma das pernas sobre a
cadeira estirou a mão oleosa, pegou o peixe e mordia-o com veemência”.
Ronperlim preocupa-se em revelar paisagens e almas em ação em seu mundo decadente. “Chico o Velho” é do tamanho desse povo que vive do rio, tem-lhe amizade, e se queixa de que o amigo está escondendo o peixe. Seria um pedido de socorro?
Quem está destruindo o rio? Quem leva os peixes para as profundezas tenebrosas onde moram os duendes marinhos também assustados?
Quem pode socorrer os pescadores se os responsáveis (escolhidos pelos pescadores) nem ligam para o rio e nem para seu povo?
Aracaju, 09 de junho de 2022, por Antônio FJ Saracura
Publicado no Zonal Sul e, 28/02/2023
ResponderExcluirLido na ASL em 27/02/2023
Lido na ASL em 27/02/2023
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