quinta-feira, 9 de junho de 2022

CHICO, O VELHO, Ronaldo Pereira Lima, digo, Ronperlim

 

CHICO, O VELHO, Ronaldo Pereira Lima, digo, Ronperlim, por volta de 60 páginas, editora Prima, 2022, romance ambientalista, isbn.

 


Meses atrás, Ronperlim me enviou o manuscrito digital de pequeno romance e me pedia para ler e dizer o que achava. Eu ajo assim também com meus livros, Antes de os  publicar submeto-os a leitores próximos. E Ron tem sido um parceiro e tanto, oferecendo sugestões valiosas. 

Abracei a tarefa. Claro que jamais mudaria o rumo do trem. Apenas botaria azeite nas conexões dos trilhos, que secariam com um sopro, se assim quisesse o autor. 

Fiz isso e, depois, quando o livro saiu da gráfica e tive acesso,  nem conferi se Ron usou minhas considerações. Li-o como se fosse uma história nova, me surpreendendo a cada passo. 

Ronperlim (Ronaldo Pereira de Lima) é ganhador de prêmios literários. Fui seu companheiro em um deles, o Secult de Literatura de 2010, infelizmente o último  promovido pela Secretaria de Cultura do Estado de Sergipe. Ele, com o livro infantil “Laura” e eu, com “Minha Querida Aracaju Aflita”, que ainda vive e goza de boa saúde.

“Chico, o Velho” fala dos pescadores e de suas famílias ancoradas na beira do Rio São Francisco, ali em Porto Real do Colégio, nas Alagoas... Tentando pegar o peixe do dia, prosando embaixo dos pés de benjamim, sugando o mel da cana  que gera sonhos. O livro é um álbum de fotos vivas e revela o dia a dia desse povo, o jeito de pensar e de agir: remendando redes, espalhando armadilhas nas águas e sempre a cultivando laços da camaradagem. 

A prosa é leve e reveladora. A trama é desenvolvida com tão natural beleza, que até o trivial diário encanta. 

“Ele se calou. Não tendo o que responder, voltou o rosto para o teto e observava a teia de aranha. Nisso, sua mulher punha a mesa. Nela, estavam dispostos feijão, farinha e três postas de tilápias sendo que, a maior estava destinada para ele. A mesa estava composta por quatro crianças, uma mulher pálida e um homem revoltado. Joaquim, o filho mais velho, o espiava. Atreveu-se com uma pergunta simples e breve, mas sem resposta. Por cima do prato uma mosca voava. Com uma das pernas sobre a cadeira estirou a mão oleosa, pegou o peixe e mordia-o com veemência”.

Ronperlim preocupa-se em revelar paisagens e almas em ação em seu mundo decadente. “Chico o Velho” é do tamanho desse povo que vive do rio, tem-lhe amizade, e se queixa de que o amigo está escondendo o peixe. Seria um pedido de socorro? 

Quem está destruindo o rio? Quem leva os peixes para as profundezas tenebrosas onde moram os duendes marinhos também assustados? 

Quem pode socorrer os pescadores se os responsáveis (escolhidos pelos pescadores) nem ligam para o rio e nem para seu povo?  

 

Aracaju, 09 de junho de 2022, por Antônio FJ Saracura

 

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