HISTÓRIA DE SÃO MIGUEL DO ALEIXO, Edivan Santos e Rivaldo
Goes, 2022,Arter Editora, 176 páginas, Isbn 978-65-88562-59-8
Uma pequena e bucólica cidade, muito mais campo que rua, está
à esquerda de quem vai de Aparecida à Glória entrando um pouco por caminhos
fazendeiros cheirando a esterco de gado.
Estive lá, algumas vezes, participar de Encontros de Escritores e lançamento de livros, que Edivan Santos, filósofo de renome e professor dedicado, todo ano realiza.
Caminhei pelas ruas, no meio da uma tarde, o evento que acontecia em um clube na entrada da cidade parara para respirar. Conversei com moradores que tomavam fresca à frente de suas casas e me bati com os pais do vigário da igreja do Sagrado Coração de Jesus de Aracaju (recentemente virou bispo), que eu nem sabia que moravam lá. Eles, já bem idosos, afastados da lida da roça que começava no quintal, aceitaram minha abelhudice e me deram uma cadeira para sentar. Pronto! Esqueci do tempo ouvindo a história de um povo valoroso. Fragmentos dessa história que ouvi são gora publicados em um livro que me chegou às mãos e sobre o qual direi algumas palavras.
Como louvo o aparecimento desses livros que falam dos nossos lugares e de nossa gente! É uma malvadeza termos tanto a contar e ficarmos calados, com vergonha ou achando que ninguém merece saber além da gente, ou que história de gente simples não merece ser contada em livro.
Aleixo, na intimidade muito mais do que São Miguel, pode ter
sido uma das filhas de Itabaiana no passado longínquo; o povoado Caienda
(uma história esquecida) consta da carta que o vigário de Itabaiana (que o
livro mostra), Francisco da Silva Lobo (pai de um monte de lobinhos que engrandecem
nossa terra), mandou ao rei de Portugal, Dom José I. Este padre é reconhecido como o
fundador da orquestra sinfônica que hoje se chama Nossa Senhora da Conceição,
isso em 1745. Pois então! Caienda está na crônica que o padre escreveu assim, “Notícia sobre a frequezia de Santo Antônio e Almas de Itabaiana” que assim diz: "a parte norte desta freguesia tem os lugares chamados Pião, Cuité,
Salgado, Baquiteré e Cayendas (esta dista oito léguas de Itabaiana)”.
O livro nos brinda com muito mais desse gostoso lugar.
O Aleixo foi emancipado em 26 de novembro de 1963 e provem da vizinha Nossa Senhora das Dores com alguns povoados de N. S. da Glória. O nome homenageia o cônego Miguel Monteiro Barbosa, vigário de Dores na época, e um andarilho de Alagoas, de nome Aleixo, que a lenda narra ter vivido no lugar. Na emancipação, o Aleixo (que se chamava Lagoa do Aleixo) tinha 130 residências e 580 habitantes.
As pessoas de destaque (alguns falecidos) que a obra dá conta são: Domício José das Graças, Jairton das Graças (prefeito) , José Almeida Santos, Manoel Barreto dos Santos, Ananias Correia de Andrade, Pedro Barbosa de Souza (Prefeito), dona Laurinha rezadeira, Zé Fotografo, Zé da Graça, entre outras.
Entre os párocos, consta padre Padilha (meu colega de seminário e meu diretor em “A Cruzada”) falecido recentemente conforme li nas redes sociais. Terá mesmo? Frei Fidélis Maria de Itabaiana, primo carnal de minha mãe. E o padre José Aleixo Kunrat, que foi vigário de 1955 a 1964 mas não tem culpa nenhuma na denominação do município, pois já era Aleixo antes do vigário.
A Pedra da Sereia é o ponto turístico mais divulgado. Se bem que uma grande enchente do rio em 2019, a derribou no leito e dorme submersa quando o rio pega água. Habita apenas as memórias de poetas e historiadores, como é o caso de Robério Santos, que a canta em seu livro "O Vendedor de Sereias". Foi nesta Pedra que seu personagem deixou um saco preto e o narrador caiu da besteira de abrir. Por isso, ainda hoje corre com medo. Tanto corre que achou, recentemente, uma das minas de Belchior Dias Moreia, na principal encosta pedregosa da Serra de Itabaiana. Quase um milhão de interesseiros passaram a seguir Robério, que precisou ressuscitar os mitológicos cangaceiros, para protegerem o valioso segredo.
Tenho a impressão que saí do tema...
E já que me misturei a rica história do Aleixo com gente da redondeza e de sucesso, puxei a aba da camisa do autor da “História dos
Municípios Sergipanos contada em versos”, publicada em 174 fascículos simultâneos,
o intelectual lagartense Zezé de Boquim. Ele me encarou brabo. Para o apaziguar, pedi que declamasse versos sobre o Aleixo. Cabra sem pabulagem nenhuma, tascou:
“O seu povo é bem unido
Tem sua luta diária
Os que já são fazendeiros
Vivem de sua pecuária
Tem outros na capital
Que eu li em um jornal
São donos da funerária".
O livro “A História de São Miguel do Aleixo” é um rico capítulo da historia de Sergipe.
(Antônio Saracura, Aracaju, 06 de maio de 2022).
Li na Academia Sergipana de letras em 09 de maio de 2022
ResponderExcluirPostei nas redes sociais em 17/06/2022
ResponderExcluirPublicado no Zona Sul em 04/04/2023
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
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