sexta-feira, 6 de maio de 2022

TARAS BULBA, Nicolai Gógol

 

TARAS BULBA, Nicolai Gógol, Abril Cultural, 1982 São Paulo, tradução de Francisco Bittencourt, Isbn (sem).




A epopeia de um povo ainda em formação, de sangue nômade, mas passando ao sedentarismo, os Cossacos, que são a raiz da grande nação russa, nascida a partir da Ucrânia. O mesmo jeito de viver de outros bárbaros como os Vikings que saíam de seus fiordes e devastavam a costa da Inglaterra, da França e chegaram até a América conforme reza a lenda.

Após gerações de saqueadores, agora, os filhos dos Cossacos estudam em seminários ou trabalham na agricultura, Os pais já idosos, entretanto, ainda sonham com o passado épico. A situação de guerra contínua e eterna com os vizinhos (especialmente os poloneses, turcos e árabes) está resolvida, tratados de paz foram assinados. 

Os Tártaros, agora, vindos da Criméia, assumiram o lugar dos Cossacos, assaltam e saqueiam a Ucrânia em incursões ligeiras.

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Taras Bulba foi um filme ao qual assisti na juventude e sobre ele devo ter escrito resenha publicada no jornal "A Cruzada" quando atuei no jornalismo aqui da terra. O filme é de 1962, ganhou o Oscar de melhor trilha sonora e é dirigido pelo inglês por J. Lee Thompson. Estrelado por Yul Brynner (no papel principal), Tony Curtis, Christine Kaufmann e mais uma dezena de estrelas. Lee dirigiu filmes de grandes bilheterias, entre as quais, Os Canhões de Navarone, Planeta dos Macacos, Justiça Selvagem. O filme me marcou de forma indelével. Nunca esqueci dos lances heroicos que mostrou com maestria e magnetismo. Pela mesma época, um pouco depois, li o livro pela primeira vez, e revivi o mundo épico no qual meus antepassados certamente também viveram, seja aqui na América primitiva, na África, ou nas estepes eslavas.

Recentemente, me bati com  o pequeno romance de autoria de Alexei Gogol, companheiro de outras boas caminhadas, em um sebo dessa Aracaju de pouca leitura. 

E acabei de ter o prazer de reler 

O velho Bulba vive numa monotonia que dá pena. Seus tesouros enterrados, frutos dos últimos saques aos turcos e aos poloneses, devem estar enferrujando, se perdendo. Tem quem cuide de seu gado e de seus campos de trigo...

Seus dois filhos homens, rapagões com a barba despontando, chegam do seminário, onde estudam, para passar dez dias com os pais. A mãe baba os meninos, quer que eles durmam em seus braços nesses dez dias de folga.

“Como um cossaco pode ser homem de verdade sem um batismo de fogo?”. Taras se martiriza ruminando. E inventa uma viagem para Stieth, a cidade fortificada que é a sede da nação ucraniana, onde vivem velhos companheiros de aventura embriagados. E leva os filhos junto, para desespero da esposa, que chora e nem tem o direito de protestar.

Em Sietch, Taras deflagra uma revolução. Consegue substituir o Kochevoi (uma espécie de rei) por outro que aceita quebrar o tratado de paz com os poloneses.

Em expedição, ao estilo de tempos passados, cavaleiros armados e  filas de carroças vazias, partem para os saques. Os cossacos de todos os cantos sentem o cheiro de sangue e pólvora e seguem o rastro de Bulba, formando um exército sedento de ação. Saqueiam mosteiros, vilas e cidades em toda divisa da Polônia.  Enchem as carroças, sequestram boiadas. A ganância aumenta. Atacam uma cidade que resiste e não abre os portões. Montam certo ferrenho até que a fome obrigue a cidade se render.  

Na calada da noite, enquanto os cossacos bebem e dançam comemorando a iminente vitória, divisões do exército polonês entram solertes  na cidade e se entrincheiram.

Quando parte do exército cosssaco avança para a tomada, bate-se com canhoneiras mortais. Recua, Muitos morrem ou ficam prisioneiros.

Nesse ínterim,  tempo, um mensageiro chega de longe ao acampamento cossaco dizendo que os Tártaros, aproveitando as fazendas e as lavouras desguarnecidas. Queimaram tudo, roubaram os tesouros enterrados. Mataram os velhos, sequestraram moças e rapazes e descem para a Criméia em uma caravana e de carroças carregadas.

Os Cossacos então se dividem em dois exércitos. 

Um parte para atacar os tártaros antes que sumam no mar com seus navios e vendam os prisioneiros aos traficantes de escravos no Oriente Médio. E o outro, comandado por Taras Bulba, fica para libertar os companheiros e saquear a cidade, uma presa fácil agora, considerando que a fome volta a castigar a cidade. As provisões trazidas pelos poloneses aparentemente se acabaram. 

Os Cossacos que vão caçar os Tártaros são dizimados ou feitos prisioneiros.

Os comandados por Taras Bulba caem numa armadilha. Taras e alguns guerreiros escapam milagrosamente e, no dia seguinte, escondidos na mata, veem  seus companheiros triturados a torniquetes  pelos poloneses  e depois degolados.

Bom! 

Acho que me estendi além da conta...

Vou deixar que o leitor (todos os livros do mundo estão nos sebos brasileiros) se interesse e saiba o que aconteceu com os dois filhos de Taras Bulba: Ostap e Andrei. E com o judeu Yankel, que sobreviveu milagrosamente até o final do livro. 

Há um romance eletrizante aguardando o leitor. E outro, em segundo plano, que vez por outra sobe sanguinário para o primeiro, e trata da sina dos judeus que tentavam sobreviver na Ucrânia daquele tempo.

(Aracaju, 05 de maio de 2022, Antônio FJ Saracura).

 

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