terça-feira, 10 de maio de 2022

LAMPIÃO E O CANGAÇO NA HISTORIOGRAFIA DE SERGIPE, Archimedes Marques

 

LAMPIÃO E O CANGAÇO NA HISTORIOGRAFIA DE SERGIPE, Archimedes Marques, tomos I, II e III, 1. Edição, Editora Real, Cajazeiras Paraiba,2017, 2018, 2021 páginas: 376, 387 e 408.Isbn: três.

 


Livros sobre o cangaço têm leitores cativos pelo Brasil e pelo mundo inteiro. Lampião é o mais cantado santo desse país devasso, cruel. Há livros sobre os cabras, os apelidos, as valentias, as covardias, as malvadezas, sobre até outros livros ou sobre jornais que abordaram o cangaço e o rei dos cangaceiros. Neste último conjunto estão os três tomos publicados pelo presidente da Academia Brasileira de Cangaço, o delegado Archimedes Marques, cujo título é “Lampião e o Cangaço na Historiografia Sergipana”.

 Me pegando no tema explicitado acima e para salientar o valor de Lampião...

Há o caso daquele cordelista, meu amigo, que esculachava Lampião e os cangaceiros, dizia ser um absurdo se gastar tanta poesia com o marginal. “Escrevo sobre Jesus, Nossa Senhora, os santos da igreja, sobre as mães e o Santíssimo Sacramento”. 

Perdi contato com o poeta. Alguns anos depois, o encontrei em sua banquinha na Feira de Livro da orla de Aracaju. Aproximei-me. Quase todas as obras expostas tratavam do cangaço, de Lampião. Obras de autores consagrados e de autoria do cordelista amigo. Olhei pra cara e falei: Oxente!

E ele nem esperou, já foi falando. “Ou o poeta escreve sobre /o bandido lampião / ou morre de fome pobre / se ficar na profissão. / Esta é minha agricultura / Cuido bem da freguesia / santo aqui não tem procura / Nem Jesus e nem Maria. / Lampião é o campeão /Depois vem os cangaceiros /eu não acho outra razão / preciso ganhar dinheiro...

 

O primeiro tomo do livro de Arquimedes mostra as referências aos protetores de Lampião em Sergipe: de Aquidabã em dias de terror; de Capela mansa e de Capela braba; dos cangaceiros nas terras dos Enforcados; de Anápolis em polvorosa; de como Lampião pariu uma cidade; das pisadas de Lampião na Boca da Mata; da rápida passagem pelos Campos do Rio Real...

O segundo tomo trata das referências às vidas sofridas das cangaceiras.

O terceiro Tomo (de que falo agora) trata das referências na imprensa e na literatura sergipanos sobre o cangaço: no Saco do Ribeiro; no poço Redondo de Alcino Costa; na terra dos buraqueiros; em muitas outras paragens, pois o cangaceiro gostou tanto de Sergipe, que sua família foi criada aqui.

Nessa última parte é que eu entro com “Os Tabaréus do Sítio Saracura”. Arquimedes refere-se ao cordel “A Família Saracura (O Cangaceiro Lampião, página 258) e ao  capítulo 21 (Lampião no oitão da tenda, página 124), reproduzimos excertos a seguir: 

"O Cangaceiro Lampião"  

"E o cangaceiro Lampião?

Mamãe sempre nos contou

De uma vez em que o bando

Lá pelas Flechas passou...

A família amedrontada

Pra acidade se mudou.

 

As ferramentas da tenda

O gás e os mantimentos

Foram enterrados no pasto...

E pai Totonho atento

 No olho de uma árvore

Estudava o movimento.

 

O bando chegou cantando

Não matou, não destruiu.

Passou um mês arranchado

Perto da beira do rio...

A família só voltou

Depois que o bando partiu.

 

Por conta dessa visita

Algo estranho aconteceu.

Se lampião foi embora

Não foi o que pareceu...

Escondida no riacho

Alguma trouxa esqueceu

 

Mesmo após a sua morte

Muita gente aqui garante

Que o vulto do bandido,

Como um condenado errante,

Assusta de noite as casas

E persegue o viajante.

 

Pode até ter ido embora

Naquela ocasião

Mas retornou em seguida

Pra fazer assombração...

Se vivo metia medo

Que dirá sua visão!"

 

(Lampião no oitão da tenda)

"Bandidos organizados em bandos cruzavam as estradas em busca de uma fazenda mais rica, de um sítio mais abastado, dos quais haviam escutado falar. Muitas vezes, eram bandos famintos de Alagoas, de Pernambuco, da Bahia, vagando ao léu, apenas para não morrerem parados. O Nordeste inteiro ficou unido pela fome. As divisas foram apagadas pelo sol quente demais, abrindo passagem a Zé Sereno, Lampião, Corisco e outros que não lograram tanta fama.

Corria a notícia de que um bando de cangaceiros estava vindo. As famílias se apavoravam, algumas corriam até a cidade. Mas os cangaceiros passavam longe, não chegavam às Flechas. Pelo menos, não haviam entrado ainda no sítio dos Ferreiros.

(Leia o restante no livro “Os Tabaréus do Sítio Saracura).

(Por Antônio FJ Saracura, Aracaju, 10 de maio de 2022)

(Leia os livros de autoria de Antônio FJ Saracura, estão nas livrarias da cidade e no Amazon).

 

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