LAMPIÃO E O CANGAÇO NA HISTORIOGRAFIA DE SERGIPE, Archimedes
Marques, tomos I, II e III, 1. Edição, Editora Real, Cajazeiras Paraiba,2017,
2018, 2021 páginas: 376, 387 e 408.Isbn: três.
Livros sobre o cangaço têm leitores
cativos pelo Brasil e pelo mundo inteiro. Lampião é o mais cantado santo desse
país devasso, cruel. Há livros sobre os cabras, os apelidos, as valentias, as
covardias, as malvadezas, sobre até outros livros ou sobre jornais que
abordaram o cangaço e o rei dos cangaceiros. Neste último conjunto estão os
três tomos publicados pelo presidente da Academia Brasileira de Cangaço, o
delegado Archimedes Marques, cujo título é “Lampião e o Cangaço na
Historiografia Sergipana”.
Me pegando no tema explicitado
acima e para salientar o valor de Lampião...
Há o caso daquele cordelista, meu
amigo, que esculachava Lampião e os cangaceiros, dizia ser um absurdo se gastar
tanta poesia com o marginal. “Escrevo sobre Jesus, Nossa Senhora, os santos da
igreja, sobre as mães e o Santíssimo Sacramento”.
Perdi contato com o poeta. Alguns anos
depois, o encontrei em sua banquinha na Feira de Livro da orla de Aracaju.
Aproximei-me. Quase todas as obras expostas tratavam do cangaço, de Lampião. Obras
de autores consagrados e de autoria do cordelista amigo. Olhei pra cara e
falei: Oxente!
E ele nem esperou, já foi
falando. “Ou o poeta escreve sobre /o bandido lampião / ou morre de fome
pobre / se ficar na profissão. / Esta é minha agricultura / Cuido bem da
freguesia / santo aqui não tem procura / Nem Jesus e nem Maria. / Lampião
é o campeão /Depois vem os cangaceiros /eu não acho outra razão / preciso
ganhar dinheiro...
O primeiro tomo do livro de Arquimedes
mostra as referências aos protetores de Lampião em Sergipe: de Aquidabã em dias
de terror; de Capela mansa e de Capela braba; dos cangaceiros nas terras dos
Enforcados; de Anápolis em polvorosa; de como Lampião pariu uma cidade; das
pisadas de Lampião na Boca da Mata; da rápida passagem pelos Campos do Rio
Real...
O segundo tomo trata das referências às vidas sofridas das cangaceiras.
O terceiro Tomo (de que falo agora) trata das referências na imprensa e
na literatura sergipanos sobre o cangaço: no Saco do Ribeiro; no poço Redondo
de Alcino Costa; na terra dos buraqueiros; em muitas outras paragens, pois o
cangaceiro gostou tanto de Sergipe, que sua família foi criada aqui.
Nessa última parte é que eu entro com
“Os Tabaréus do Sítio Saracura”. Arquimedes refere-se ao cordel “A Família
Saracura (O Cangaceiro Lampião, página 258) e ao capítulo 21 (Lampião no
oitão da tenda, página 124), reproduzimos excertos a seguir:
"O Cangaceiro Lampião"
"E o cangaceiro Lampião?
Mamãe sempre nos contou
De uma vez em que o bando
Lá pelas Flechas passou...
A família amedrontada
Pra acidade se mudou.
As ferramentas da tenda
O gás e os mantimentos
Foram enterrados no pasto...
E pai Totonho atento
No olho de uma árvore
Estudava o movimento.
O bando chegou cantando
Não matou, não destruiu.
Passou um mês arranchado
Perto da beira do rio...
A família só voltou
Depois que o bando partiu.
Por conta dessa visita
Algo estranho aconteceu.
Se lampião foi embora
Não foi o que pareceu...
Escondida no riacho
Alguma trouxa esqueceu
Mesmo após a sua morte
Muita gente aqui garante
Que o vulto do bandido,
Como um condenado errante,
Assusta de noite as casas
E persegue o viajante.
Pode até ter ido embora
Naquela ocasião
Mas retornou em seguida
Pra fazer assombração...
Se vivo metia medo
Que dirá sua visão!"
(Lampião no oitão da tenda)
"Bandidos organizados em bandos
cruzavam as estradas em busca de uma fazenda mais rica, de um sítio mais abastado,
dos quais haviam escutado falar. Muitas vezes, eram bandos famintos de Alagoas,
de Pernambuco, da Bahia, vagando ao léu, apenas para não morrerem parados. O
Nordeste inteiro ficou unido pela fome. As divisas foram apagadas pelo sol
quente demais, abrindo passagem a Zé Sereno, Lampião, Corisco e outros que não
lograram tanta fama.
Corria a notícia de que um bando de
cangaceiros estava vindo. As famílias se apavoravam, algumas corriam até a
cidade. Mas os cangaceiros passavam longe, não chegavam às Flechas. Pelo menos,
não haviam entrado ainda no sítio dos Ferreiros.
(Leia o
restante no livro “Os Tabaréus do Sítio Saracura).
(Por Antônio FJ Saracura, Aracaju, 10
de maio de 2022)
(Leia os livros de autoria de Antônio
FJ Saracura, estão nas livrarias da cidade e no Amazon).
Publicado no Zona Sul em 21/03/2023
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