ENSAIO SOBRE
A CEGUEIRA, José Samarago, Caminho, 9. Edição, 19995, isbn 972-21-1021-7.
Para que
introdução, prefácios e apresentações? Neste livro até caberia. Um bem técnico,
mostrando a biografia do autor, ganhador de um prêmio Nobel de literatura, único
em nossa língua.
Para que capítulos
definidos e titulados? Para que pontuação? Para que diálogos didáticos com
clara indicação de quem perguntou e de quem respondeu? Para que isso tudo se o livro
é bom ou ruim. No primeiro caso não lhe aumentará o valor. No segundo, não lhe acrescentará
nada.
Este “Ensaio
sobre a cegueira” não têm nada disso e se impõe.
Pode haver
algum leitor que reclame do amontoado de letras a que não está acostumado (eu
faço), mas o fará bem baixinho, se o fizer.
O bom
livro dispensa acessórios.
xxx
Um
caminhão de diamantes que às vezes nem parece tanto. O complicado é controlar
(dar conta) de tanta riqueza assim amontoada. Apesar do valor que acabo de
outorgar ao livro, “Ensaio sobre a cegueira” é complicado lê-lo. Tudo misturado. Não há pontos para descanso,
pausa para se respirar. Recomeçar a
leitura abandonada no dia anterior é sempre uma tarefa árdua. Onde foi mesmo
que eu parei ontem? Mas compensa, com infinitas sobras.
Vivi
momentos monótonos aparentemente
repetitivos. Confesso que pensei em parar, como fiz alguns anos atrás com “O
Evangelho Segundo Jesus Cristo”, do mesmo autor.
Mas há
trechos que jamais se apagarão de minha memória, antológicos.
E não vai
contar a história, como manda a ciência da resenha?
Não!
Não vou
privá-lo do raro prazer de pegar com suas mãos os diamantes no caminhão.
(Publicado
na Perfil 16/2).
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