TRILHANDO MEMÓRIAS, Ana
Maria Fonseca Medina, J. Andrade, 350 páginas, sem ISBN
“Trilhando Memórias” consolida um
extenso trabalho de pesquisa e compilação de dados sobre uma família e a terra
onde viveu e ainda vive. Há capítulos
áridos para quem não pertence ao clã ou conviveu com ele, e, outros
extremamente agradáveis até para estranhos como eu. Em alguns, Ana Medina
gastou latim à vontade, mergulhou no lirismo de tal modo que a realidade
pareceu fantasia (“As bonecas de milho pendiam no brincar do vento,
balançando-se aflitivamente, numa dança mítica. Do jardim e do pomar emanavam
olores especiais”). Em outros, foi uma repórter cirurgiã, incisiva, narrou
fatos. Marquei duas vezes como sendo “muito bom”, o capítulo “Raymundo, único e
eterno amor”.
A autora leva-nos aos antigos
engenhos e nos apresenta aos coronéis que construíram o lastro do Brasil.
Atravessa duras crises e momentos de opulência. Pulsa como as linhas do
telégrafo e com os trens do Leste Brasileiro. Cana, sisal e, depois, as
laranjas doces de Boquim. Há uma nobreza
implícita e até explícita em cada frase. Uma nobreza que decorre da luta digna
pela sobrevivência. As citações especialmente as que saem da boca do povo
simples (cantorias de João Gago, por exemplo) dão um sabor especial à obra. Além
de um livro de memórias, de história, é também o repositório de homenagens
justas notadamente à Dona Mariah (com toda minha admiração).
Bom seria se toda família tivesse
seu historiador como a família Fernandes Fonseca tem Ana Maria Medina.
Pra finalizar, eu faço como o
mestre da zabumba que, parando ante uma tela onde aparecia o patriarca Raymundo
Fonseca “tirou o chapéu fez as mesmas vênias que fazia quando ele (Raymundo)
estava no meio de nós, no alpendre da casa do Garangau (deve ser o mesmo
Garangau da histórica Itabaiana Grande e hoje pertencente ao Campo do Brito,
onde viveu Cornélio Fonseca, bisavô ou trisavô de Floriano Fonseca, esposo de
minha prima, Mônica de tia Caçulinha). Não contive as lágrimas (eu também, a
exemplo da autora) voltei à infância e vi quão poderosa é a cultura de minha gente(sic)”.
Nota de leitura:
Trilhando Memórias,Ana Maria Fonseca Medina, 350 folhas, sem
ISBN, Gráfica J. Andrade.
A autora leva-nos aos antigos
engenhos e nos apresenta aos coronéis que construíram o lastro do Brasil. Duras
crises, momentos de opulência. O enredo pulsa como as linhas do telégrafo e geme
como os trens do Leste Brasileiro. Cana, sisal, laranjas doces de Boquim. Há uma nobreza implícita e até explícita em
cada frase. Uma nobreza que decorre da luta digna pela sobrevivência. As
citações, especialmente as que saem da boca do povo simples (cantorias de João
Gago, por exemplo), dão um sabor especial à obra. Além de tudo o mais
(história, memória) Ana entoa uma ode louvor a sua mãe, Dona Mariah. Bom seria
se toda família tivesse seu historiador como a família Fernandes Fonseca tem
Ana Maria Medina.
(Publicado na revista Perfil)
Li na ASL em 2019
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