TRANSLÚCIDO SILÊNCIO, Manoel Cardoso,Escorteci,2003,90
páginas,Isbn: 978-85-366-0001-2
Há uma papelaria aqui no bairro Coroa do Meio, na qual
costumo comprar clips, envelopes, papel A4 e outros produtos do gênero. Sobre o
balcão há uma gamela com livros à venda. Poucos, de apenas um autor: Manoel
Cardoso. Sempre os estou folheando: crônicas, poesia, novelas.
Livros exercem sobre mim uma atração incontrolável.
Folheio-os e leio pedaços, aqui e acolá, enquanto a balconista
conta os clipes, experimenta as borrachinhas de amarrar dinheiro ou tira minhas
xeroxs.
A proprietária, uma senhora simpática, vendo-me naquela
bisbilhotice, aproxima-se e me diz que o autor mora em São Paulo, é professor
universitário e seu irmão. Fico surpreso e, ao mesmo tempo, contente por ter
encontrado a explicação do mistério, o motivo daquela exclusividade. Então achei
que, para justificar minha abelhudice, me redimir, eu deveria comprar um
daqueles livros. O preço era simbólico, muito barato. Comprei um que narrava uma
excursão feita a uma serra, por um grupo de amigos.
Agora, ao escrever essa crônica, não o vejo mais na minha
estante de sergipanos. Não sei que fim levou. E não chega a me atribular, iria
usá-lo apenas como referência, pois esse texto é sobre outro livro que se chama
“Translúcido Silêncio”. Comprei-o na livraria Escariz por R$12,00. De início, pensei
que era de Manoel de Barros, célebre poeta do Mato Grosso, e li com cuidado
alguns poemas. Todos me emocionaram, tinham sentido, eram claros, sem
mistérios, translúcidos (para imitar o título). Mas, ainda na livraria, descobri
que se tratava de outro Manoel, filho da cidade de Nossa Senhora das Dores em
Sergipe, o irmão da dona da papelaria da Coroa do Meio. E continuei sentindo-o
tão bom ou melhor do que o outro Manoel.
E agora, depois de percorrer mais de uma vez os versos de
Manoel Cardoso digo que eles fluíram sonoros como se estivessem rimados e
metrificados sem o estarem. Não há palavras perdidas. Não há idéias soltas ou
truncadas. Cada poema traz alegria, muito mais tristeza. Saudade, muito mais
indignação. Também amor, um amor sofrido pelo seu rincão e indignado pelo Deus
que tem tudo e poupa tanto.
Esse Manoel Cardoso não é um “poeta” qualquer... Sabe
escrever, colocar as palavras que deveriam estar naquele lugar, e transmitem, rigorosamente,
o sentimento certo, o leitor absorve naturalmente. É um poeta maior.
Sala de leitura: TRANSLÚCIDO SILÊNCIO, Manoel Cardoso,
Escortece, 2003, 90 pag. Isbn: 978-85-366-0001-2 - Este livro, eu comprei
na Escariz por R$12,00. Pensei que se tratasse de Manoel de Barros e li com
cuidado alguns poemas. Todos me emocionaram, tinham sentido, eram claros, sem
mistérios, translúcidos (para imitar o título). Lá mesmo na livraria descobri
que se tratava de outro Manoel, pois era filho da cidade de Nossa Senhora das
Dores em Sergipe. Tão bom ou melhor que o outro Manoel.
(Revista Perfil ano 18 número 1)
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