O ENIGMA DO CASARÃO, J. Ribeiro
Neto (Luminiscata o intruso),2015, Sercore, 176p, isbn 9787-8584-13053-5)
Desde 2010, quando ganhei o prêmio Mário Cabral de Crônicas pela Secult com o livro “Minha Querida Aracaju Aflita”, conheço J. Ribeiro Neto. Seu “Luminiscata o intruso” foi premiado na categoria romance. Encontros esporádicos nos shoppings da cidade, ele fuçando os jornais e eu compulsando livros ou plantando sementes em O Escritor na Livraria. Dedico a J. Ribeiro uma simpatia especial, também pela genética admirável que tem, ele é neto de José Ribeiro Filho, criador da Casa de Leitura do Santo Antônio e um dos fundadores da Academia Sergipana de Letras, nos idos antigos. Gerações de intelectuais de renome o antecederam e estão a seu lado, como seus irmãos Wagner Ribeiro e Marcelo Ribeiro, poetas, cronistas que engrandecem Sergipe.
Tive a oportunidade de ler “Luminiscata
o intruso” (o livro premiado) e teci comentários críticos que entreguei ao
autor. Não me lembro se houve contestação ou réplica. Mas como não mudou o seu tratamento
civilizado comigo, creio que os tenha assimilado. E deve mesmo ter, pois, há
cerca de um ano, entregou-me uma pasta com os originais de um novo romance, “O
Estigma do Casarão”. Não costumo ler obras em elaboração, temo contaminar com
meus equívocos um grande livro. E essas leituras nunca aprofundam. E avaliação apressada é melhor nem
haver. Mas ele insistiu e, duas semanas depois, devolvi-lhe o calhamaço todo
pintado de vermelho. Pedi-lhe desculpa, disse-lhe que nem precisava ler minhas
observações críticas (um pedido de certa forma desnecessário, devido à minha
letra mastigada, intragável).
Ontem encontrei J. Ribeiro em um shopping center.
E me deu, publicado, e com uma capa
linda de Bené Santana (artista plástico genial), seu novo livro, “O Estigma do Casarão”.
Acontecera o lançamento no espaço cultural da Assembléia e eu nem soube. Como
ando desligado! Perco eventos simpáticos como esse a cada dia. Como posso dar
conta de tanta coisa acontecendo nessa Aracaju que respira arte?
- “Cito você no livro”.
- “Eu? Cuidado! Eu sou de
Itabaiana!”.
J. Ribeiro sorriu econômico, que
é seu jeito de sorrir. Eu fiquei com uma pulga atrás da orelha, segui meu
destino. Sabia que era um romance
policial e bem que eu poderia ter ganhado uma pontinha como suspeito dos crimes
que assolaram o clã dos Molgadícios, donos do casarão estigmatizado. Ou o detetive Guilherme, perdido, atirando a
esmo, me arrolou como suspeito. Ou mesmo
ter sido assassinado, como vingança (demora, mas não tarda) pela minha indelicadeza
naquelas observações críticas que citei acima.
Comecei a reler a obra. Logo no
começo, encontrei-me (sessão de agradecimentos, ufa!) antecedido pelos
impagáveis irmãos Wagner e Marcelo Ribeiro, e pelo mestre contista Paulo
Fernando Teles de Morais. “Eu não posso (escreveu o autor) omitir a decisiva
colaboração do escritor Antônio Francisco, que com o mesmo entusiasmo com que
faz rufarem os Tambores da Terra Vermelha demoliu as estruturas do meu primeiro
casarão, sobre os escombros do qual edifiquei
este que estou trazendo a público. Valeu, Saracura!”.
Menos apreensivo, prossegui a
leitura. Confesso que ainda me perdi (avoado
como sou) no emaranhado dos personagens, Maria Ruth, Rutinha, Margoth, Lisbeth,
Maria Laura, Laurinha, Rosalva Corró, Rosa, Rosalva, Vó e outros nomes que nem
anotei. E, apressado por natureza, dizem que tenho a bola esquipada (?), agoniei-me
nos longos diálogos (da página 66 a 174, 70% do romance), envolvendo Miss
Marple (Rosa) e o “meu caro Watson” (Rute), no desvendamento dos mistérios. Sherlock
Holmes que perdoe a traição do fiel escudeiro.
Em compensação, deliciei-me com a boa escrita (frases curtas e
eficazes) especialmente com as tiradas que descontraem o texto e cativam o
leitor sisudo: namoradeira que só! Laranjas que dificilmente se deixariam
espremer, sabe-se lá mais o quê, afe!...um pedaço de sanduíche mordido, um peixe sem muito prestígio, além dos
trezentos paus, mais esperta pouquinha coisa, demais da conta, puta
mesquinharia, me engana que eu gosto, santa ingenuidade, e muitas outras.
Por fim, desculpando-me por ser
avoado e apressado, arrisco dizer que o capítulo IX vale por um romance
inteiro.
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