RELÓGIO DO TEMPO, José Expedito de Souza, 2014, 282p, isbn
978-85-8253-077-1
E ficamos amigos.
Jamais vou esquecer seu orgulho em ter servido o
exército brasileiro, deixando-me triste por ter cavado a minha dispensa. Também
o orgulho com o qual exibia um diploma
de torneiro mecânico, quando éramos apenas auxiliares de escritório. E de suas
piadas inteligentes e curtas que destruíam (e destroem) qualquer empedernido
mau humor.
Quando a Petrobrás me transferiu
para São Paulo, ele foi meu embaixador na faculdade onde meu curso fora
interrompido, criando condições para concluí-lo mesmo à distância. Depois que
me formei, sabe lá Deus como, deu-me conta de uma medalha de honra ao mérito
que me coubera. Sem o seu empenho, eu jamais saberia dela, minha única medalha
na vida toda. No meu retorno para Sergipe, após mais de 12 anos fora, Expedito me puxou o quanto pode para mais perto dele, tentando
me integrar no meio que já me considerava estranho. Abriu-me as portas da Câmara de Arbitragem da
Associação Comercial, da Codise, da sua indústria chamada Steel e da Associação
de Empresários Cristãos (ADCE). Não
entrei porque não quis.
XXX
Por que nenhum pároco quis casar Maria Alice?
Morri de pena da pobrezinha, de cidade em cidade, montada em
um jipe duro, batendo em portas fechadas ou recebendo fechadas de portas e,
mesmo assim, querendo prosseguir mais e mais, na busca de realizar um sonho tão
simples de realizar.
A tripa grande engolindo a tripinha e causando a morte da
criança que recusa a comida gostosa que alimenta a tripa grande.
O umbigo, que nada mais é do que a cabeça de um parafuso
estratégico, e que sustenta a bunda do menino... Se ele continuar coçando o umbigo,
parafuso afrouxa e a bunda despenca.
xxx
Na literatura, como na vida, o humor, a solidariedade, a
valorização do simples, a ironia, a verve de Expedito estão evidentes. Ele escreve como quem bate fotos. Como quem
pinta telas. Como quem conta piadas. Como quem encanta o passado.
O filme custa dinheiro. As tintas são escassas. A
pequena platéia pode voar. O passado é escorregadio.
Então Expedito capricha no foco. No caminho do pincel, nos
ingredientes da prosa, na graça do dizer, nas sutilezas das reminiscências. Com
um clique, capta o mundo. Com quatro
pinceladas, constrói uma alvorada. Com
dez linhas, ensaia um romance. Com os
fantasmas do passado, ressuscita um Riachão que emociona o leitor e dignifica
um povo.
Antônio FJ Saracura (da Academia Itabaianense de Letras)
Foi publicado como apresentação no livro
(facebook novembro 2015)
Foi publicado como apresentação no livro
(facebook novembro 2015)
(Notas de Leitura)
Relógio do tempo – Expedito
Souza, 2014, editora J. Andrade, 282p, isbn 978-85-8253-077-1- Acaba de ser
lançado. Eu tive a honra de ser um dos pré leitores, daí já estar podendo falar
dele. Além de ter recebido um exemplar
logo que saiu do forno, quentinho. A obra resgata um rico passado que se
perderia caso Expedito fosse um acomodado, achasse que livro é coisa de gente
besta. Eu conheço o autor de muito e,
sem sobrosso, posso tomar como minhas as palavras de um dos
prefaciadores: “Na literatura, como na
vida, o humor, a solidariedade, a valorização do simples, a ironia, a verve de
Expedito estão evidentes. Ele escreve
como quem bate fotos. Como quem pinta telas. Como quem conta piadas. Como quem
encanta o passado”. Não deixe de ler! (publicada na revista Perfil ano 18 número 1)
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