segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

VENCEDORES DO SERTÃO, a história escrita por Roseilde Francisca de Santana Santos

 

VENCEDORES DO SERTÃO, a história escrita por Roseilde Francisca de Santana Santos, HOJE Edições, 2021, 196 Páginas, 14 por 21 cm, Isbn 978-65-88008-02-7.

 


 

Roseilde Francisca de Santana Santos cuida do projeto Missão Sergipe, dentro da escola Senador Leite Neto, no povoado Várzea do Enxu, em São Miguel do Aleixo, Sergipe. E usa, no falar (e como isso me encanta!) o gostoso verbo “Ponhar”, de meu tempo de menino, que dona Zinha, minha professora do infantil, me ensinou a conjugar, e, depois, as escolas superiores quiseram arrancar de minha alma. Não conseguiram. Tá “ponhado” no meu imo ad aeternum

Ela trouxe uma caravana de alunos para a II Feira do Livro de Itabaiana (dias 04 a 06 de novembro de 2022) nos três dias. Eles se apresentaram no palco com as peças: Musical Diz, Coração Brasileiro e Deus não está morto; almoçaram, jantaram, lancharam, brilharam, ensinaram. E compraram livros com  os Vales Livros que receberam da organização do evento. 

E eu troquei livros com Roseilde. Dei-lhe  “O Menino Amarelo” e recebi “Vencedores do Sertão”... 

Sempre tento permutar livros com os escritores nas Feiras das quais participo.

Li as partes de "Vencedores do Sertão" que são relembranças e respeitosamente corri rápido os olhos pelas dedicadas à doutrina, que é o sustento do missionário. 

Há a mão de Deus mudando o mundo para melhor em cada canto. Há os escolhidos que dão a vida pela missão. O que seria dos pobres, sem comida e sem esperança, se não tivessem o amparo das mãos santas de Roseilde e as mãos  de milhões de abnegados: as mãos de Deus. E que força é esta que alimenta as mãos destes missionários frágeis;  humanos, como eu sou também?

Roseilde me contou, nos poucos minutos que estivemos juntos na Feira, coisas que jamais vou esquecer. 

“Eu precisava de 100 reais para dar lanche (melhor do que a farofa caseira que trazia) aos meninos que vinham comigo para a Feira do livro de Itabaiana. Mas eu não tinha um tostão no bolso. Além do transporte, não houve como conseguir mais aqui no lugar.

Então fui, mais uma vez, às redes sociais. Expliquei minha missão e pedi que três pessoas me dessem, cada uma, 30,00 reais. Talvez 90,00 fossem o suficiente. Então chegou a primeira doação: oitocentos reais. E a mão anônima bateu no meu ombro e falou: “Se precisar de mais, me avise”.

“Como Deus é bom! Quando as circunstâncias parecem contrárias, Ele trabalha em nosso favor” (página 148 de Vencedores do Sertão).

E a missionária prosseguiu: “Disse aos Grupos das Redes Sociais que não precisava mais de dinheiro. Em vez de lanche, os meninos puderam almoçar na praça da alimentação do shopping”.

E eu (agora sou eu, Saracura) fico comemorando este País e este povo, aos quais pertenço. E agradeço a Deus ter me feito parar uns minutos para conhecer a missionária Roseilde Santana, vindo de Limeira, São Paulo, que se bateu no sertão de Sergipe para comandar esses sertanejinhos inocentes e suas famílias carentes.

xxx

A missão na Vargem do Enxu (e outros povoados do entorno) é mantida por uma célula da Igreja evangélica de Limeira, São Paulo, que se denomina “Missão Filadélfia”, e também atua no mundo todo.

O livro narra missão da autora em Angola (Luanda) na África, até que a Covid-19 a mandou de volta ao Aleixo. E a missão no  Ceará: Brejo Santo, São José do Belomonte e Porteiras... Em Jati, conheceu o menino que morava "logo ali...". O mundo fica pequeno quando se anda segurando na mão de Deus. E tudo fica pertinho, logo ali, mesmo que se tenha que caminhar horas e horas para chegar. Para este menino sem nome, o longe  era logo ali. O pertinho (de que falava) demorava demais para se chegar. 

O livro “Vencedores do Sertão” narra a epopeia da missionária Roseilde, desde a infância de migrantes sergipanos no sul ilusório.  Andou pelo caminho espinhoso de criança pobre, sem casa digna,  sem mesa e sem conforto. Em jovem, estudou pouco e com grande sacrifício. Buscou, incansável, uma vaga no mercado de trabalho. Aprendeu a arte de cabelereira e trabalhou por conta própria em casa. Foi microempresária e quebrou. Levantou-se e quebrou de novo. Casou, criou família, construiu seu mundinho de esperança, que se desmanchou com a separação do marido. perda do marido. Viveu discriminada nas rodas da religião e nas rodas sociais. Em forte depressão e quase acidentalmente, entrou em um templo evangélico e recebeu "o chamado". Outros recusariam, estava cansada de derrotas, mas Roseilde aceitou. Corria o ano de 2004. De católica fervorosa  que sempre foi, passou a evangélica ardorosa.  Desde 2010, (já são 13 anos), a missionária Roseilde provê dignidade aos poucos favorecidos do sertão de Sergipe.  

Já aqui, graduou-se em Serviço Social pela UNIT, em Itabaiana e fez especialização em Planejamento de Gerenciamento de Serviço Social. 

Ela sabe congregar forças que nem se tocavam que serviam para se congregar. Com  paciência, vem transformando a vida do povo da Várzea do Enxu, Caiendas e Malhada dos Negros para melhor. Também  de outros povoados do São Miguel do Aleixo, de Ribeirópolis  e de Nossa Senhora da Glória. . 

Roseilde tem boas pernas para andar, teve uma motinha 88 quebradeira, tem Alex que sabe dirigir, que é seu companheiro de vida agora e fiel sacristão. Tem um carrinho de terceira mão e está querendo comprar um mais novo para chegar mais longe, logo e sem falta. Tem o reconhecimento do Poder Público, a gratidão do povo, a força de Deus à mão. 

Recomendo a leitura do livro da missionária Roseilde.

(Por Antônio FJ Saracura, Aracaju, 22 de janeiro de 2023).

Contato com a autora: 

079 99998-0508 (wsap)

roseildesantana@hotmail.com  (email)

 

sábado, 7 de janeiro de 2023

MOEDA VENCIDA, Francisco J. C. Dantas

 

MOEDA VENCIDA, Francisco J. C. Dantas, Alfaguara, 2022, Rio de Janeiro, 1.edição, ISBN 978-85-5652-146-0.




Ler os livros de Francisco Dantas é como assistir a uma aula especial de Literatura. Dantas foi professor dessa arte a vida inteira na Universidade Federal de Sergipe e em outras no mundo, em todas é doutor e lenda.

Seus livros são ágeis, thrillers azougados assim como as aulas de História Econômica do professor Alberto de Carvalho, que tive a glória de assistir no curso de Economia da UFS nos idos de antigamente. No meio do deserto de silêncios, só se ouvia a voz do professor itabaianense, criando mundos espetaculares habitados por infernais magos. Os gazeteiros inveterados davam um jeito de aparecer; as salas vizinhas corriam para as janelas da nossa sala, mas eu nem dava fé, só as percebia no aplauso que explodia quando a aula se acabava.

Infelizmente não pude assistir às aulas de Francisco Dantas na faculdade; aconteceram quando eu habitava outros mundos. Mas me sinto recompensado pois posso ler seus livros. Assisto a aula particular, com privilégios: sou o único aluno na sala, interrompo a leitura para apreciar melhor a paisagem e para entender mais bem a trama; retrocedo e recupero íntegro aquele lance que passou rápido demais; consulto o dicionário sempre solícito e as imagens assumem clareza inquestionável. Babo e choro de prazer. Cida, minha esposa caminhadeira, ao passar pela sala, me flagra enxugando com as costas das mãos meu rosto nu. E eu nem me constranjo, porque sei que ela espera a vez de gozar também.

Se “Moeda Vencida” se limitasse apenas ao poema/prosa que consta nas últimas 22 páginas (capítulo 19, 20 e 21) estava bom demais para mim. Aqui é a apoteose à convivência de homens calcinados pelas guerras sem fim, entre si, com os animais brutos e com o meio inóspito. Desfilam marcantes: o inconveniente tangido pela pinga e o fazendeiro mal demais; o conciliador Desidério e o velho Monteiro iludido; o vaqueiro Cipriano que advinha o que o patrão astucia...

Desidério ponteia poderoso, desde a lida com o milho, nas primeiras páginas e confabula em gestos silenciosos com o cavalo Suveni, que apareceu de uma cena de terror páginas bem antes, até após o livro acabado...

Scadufax escuta o afago de Gandalf na tábua do pescoço (no caminho de Edoras) e entende: “Corra amigo e mostre-nos o significado da pressa" [1].

“Suveni, de rédeas moles, baixa a cabeça para cheirar onde anda o perigo, sonda e apalpa a lama da beirada com as patas dianteiras, até apontar o ponto mais seguro da passagem. Pressente os arredores cheios de vida... Apressa mais a andadura como se o coração palpitasse alegrado... Desobrigado, avança num bonito troca-pés, com os cascos chamegando na camada de areia solta, a esta hora de poeira apagada, devido ao sereno neste quebrar da madrugada... 

O cavaleiro se apura pra que o cavalo continue convencido de que é o dono do mundo. De que erra em benefício do próprio deleite. 

E ambos, nessa pisada, vão ganhando terreno pouco a pouco, até alcançarem o destino demarcado...”.

***

Você precisa fazer essa viagem. Estonteante! E muito mais há...

Há Sebastião que vem cuidar da vaca borboleta para que tenha uma morte digna, se não pelas beberagens que não mais carecem, pelas práticas paliativas que até os animais precisam ter. Tem o frade glutão que pesca as fontes das propriedades alheias, chafurdando a água, fazendo o gado sedento recuar com nojo. Tem a amizade entre Prego e o jegue Capitão, que tentou cruzar com uma égua no cio de Duarte Pirão e se deu mal... Tem o poder do mal dominando silencioso as vizinhanças, depilando passarinhos, matando cachorro na estrada e urubu no céu, aprontando presepadas de arrepiar, impondo servidões.

E há aquele Reitor ou vice cara-de-pau da Universidade Federal que premia seu melhor comandante com medalha de sabão, pijama, e palmadinhas nas costas. Também! O general demonstrava "recusa obstinada aos instrumentos digitais, à parafernália didática moderna, recomendada sob pretexto de aliviar a aprendizagem".  Quantos  mestres brilhantes foram, precipitadamente, estocados nas prateleiras acadêmicas?  Neste caso, quem ganhou foi a soltura das  Candeias e fomos nós, matriculados somente na  escola da vida.  

Para mim, um simples leitor de alma aberta, sem teorias ou preconceitos aos quais deva continência, este gostoso e ligeiro (apenas 191 páginas), “Moeda Vencida”, foi um dos grandes romances que tive o prazer de ler. E gostaria que você o lesse também. Nunca me conformei em comer sozinho um banquete assim fausto e supimpa. 

(Por Antônio FJ Saracura, em 07 de janeiro de 2023).

Nota: Lendo a dedicatória que o autor escreveu no livro que enviou à minha casa, “Ao grande Antônio Saracura, com um abraço, Francisco Dantas, em Lajes Velhas, 03 dez de 2022”, perguntei-lhe por que me chamou “grande”, se sou baixotinho. Respondeu-me: “chamo assim todos meus grandes amigos”. Então, na hora, já me senti grandão. 

Saiu outra resenha sobre o livro e me chegou pelas mãos do professor Reginaldo de Jesus. Não achei jeito de recuperar o word, apenas capturei a tela de meu celular com a página do jornal da  Cidade, que reproduzo a seguir (caso queira muito, você conseguirá ler. Eu consegui).


Conheça o oitavo livro do romancista sergipano, Francisco Dantas, pela visão do jornalista Márcio Santana Sobrinho, publicada no Jornal da Cidade, de Aracaju, em 11/04/2023.
Graças a Deus um grande jornalista de nossa terra se debruça sobre “Moeda Vencida” e, agora, certemente, você vai querer muito ler o livro.
O romancista é um dos maiores do Brasil de todos os tempos. Sem excluir qualquer outro. Nesse universo há infinitos tronos.




.
[1] (O Senhor dos Anéis, de JR Tolkien).