Resenha de livros lidos pelo autor, relatórios de participação em eventos literários, resenhas de terceiros sobre livros de autoria de Antônio Saracura...
TOBIAS BARRETO, MINHA TERRA, Elias Felipe Neto, Gráfica N.Sra. Imperatriz, de Tobias Barreto, 2010, 309 páginas
Há livros que nos marcam para o resto
da vida. E, às vezes, nem são livros badalados, não passam de edições caseiras,
feitas pela teimosia de autores iluminados. De nosso Sergipe, posso citar: “A
História de Lagarto” (de Adalberto Fonseca), “Japaratuba”, (de Eduardo Cabral),
“Porto da Folha”, (de Manoel Alves) e agora (pois acabo de ler), “Tobias
Barreto, Minha Terra” (de Elias Felipe Neto). Estes são compêndios históricos, mas
têm o sabor espetaculares romances.
Elias Felipe Neto (Tobias Barreto Minha
Terra) me levou ao passado remoto da fazenda de gado de Belchior Dias Moreia.
Ferrei garrotes no pé da Serra do Canine, apartei bezerros, curei bicheiras...
Conversei com Robério Dias Moreia, com Belchior de Afonseca Dias, com Frei
Ângelo dos Reis, com o itabaianense padre Amaral, que ficou 43 anos vigariando
a vila de Campos pela qual lutou sem
trincheiras, incessante.
Ao autor não escapa nada, no afã de
prestar um serviço profissional ao seu povo, o que faz bem: vigários, coadjutores,
sacristãos, políticos, visitantes, benfeitores...
E surge à minha frente o próprio Tobias
Barreto, nascido de um amor incontrolável! Eu nunca lera o livro de Junot
Silveira, “O Romance de Tobias Barreto”, que me encantou na amostra reproduzida
por Elias, descrevendo a vila de outrora, que trago um fragmento para ilustrar:
“À distância, bimbalham chocalhos e
estalejam macacas, que se casam à voz monótona dos tropeiros. São comboios que
passam na noite silenciosa, conduzindo cargas para as praças de Lagarto,
Itabaiana e outros mercados próximos”.
Aqui e acolá o autor, aperreado com
tanta missão, delega a futuros pesquisadores um maior aprofundamento, buscando
repartir a glória de revelar a história do povo de Tobias Barreto.
(Aracaju, 14 de maio de 2014,
Antônio Saracura, recuperada em dezembro 2010 e resumida em agosto de 2024).
REDEMOINHOS, José Lima
Santana,São Paulo, Scorteci, 2015, isbn 978-85-366-4375-5.
“Antigamente
minha avó dizia
Que
o diabo brincava nos redemoinhos” (página 119)
Vivo correndo, como
todos comigo. Como se a vida fosse redemoinho a nos levantar do chão, revolver,
derrubar de volta, arrastar, enterrar, partir em mil pedaços, recompor, ressuscitar. A paz é escorregadia.
Os raros bons momentos, fogem sem me darem adeus.
Relembro feliz os
retiros espirituais do meu tempo de seminário, que não acabavam nunca, e nos
quais sobrava tempo até para divagar, plainar por mundos misteriosos e
desconhecidos. Como foram confortantes.
A boa poesia é aquela
que não preciso reler (e nem entender). Na primeira corrida de olhos vejo seu
íntimo. Sua alma se mostra. Para que conhecer as profundezas? Basta fazer-me sentir
bem. Mesmo dentro desse redemoinho.
É pouco?
José Lima Santana é um
homem sereno, meio caminho andado para bom poeta. Seu porte de bandeira branca,
seu pensamento lúcido, sua voz cordata viram poemas fáceis de entender,
companheiros de paz para momentos atribulados da vida.
Ele sabe a palavra
adequada. Sabe amadurecer a ideia essencial. Como o vinho envelhecido, que é
melhor porque soube se conter, esperar a vez. Me lembra o matador de tocaia,
que pode passar um mês afiando a pontaria, desfrutando a paciência,
sedimentando as intenções, manufaturando mil asas para a bala a ser disparada.
E tiro assim caprichado
cumpre a sina de matar. Ou de salvar. Ou de pacificar.
xxx
Meu
querido poeta, José Lima Santana.
Estou
lendo seus poemas, devagar, conhecendo cada caminho enveredado, cada picada pisada.
E me admiro pelo seu jeito de narrar sentimento. Você não precisa de
artimanhas, enigmas, subterfúgios. Tem palavras definitivas para
expor sentimento e difundir serenidade.
Se
não, veja “Alvorecer” (página 13), o primeiro poema do livro:
“Da janela
Eu vi
Sonolento
A aurora
Sangrando
O mundo”.
E “Tardio”
(página 19):
O frio tardio de Buenos Aires
Penetra lancinante em minha roupa,
Atravessa minha carne surrada pela vida
E alcança meus ossos com pouco cálcio.
E frio tardio de Buenos Aires
Convida-me a beber vinho.
O vinho tinto enche a taça
E eu me encho de tangos e de magia.”
Também
“Estupidez” (Página 68):
O tempo espeta,
Insensivelmente,
Espinhos na pedra.
O vento lambe
Voluptuosamente,
A face da pedra.
E a pedra, a pedra,
Estupidamente,
Permanece agachada.
Difícil alguém não gostar de algum desses mais de cem
redemoinhos. Tempestades que fazem a bonança imediata nessa vida louca.
(Aracaju, 2016, 09 de fevereiro 2016, por Antônio
Saracura, recuperada em dezembro de 2020).
REFLEXÕES CIDADÃS,Edson Ulisses
de Melo,Nossa Gráfica 2012, 234 página isbn 978-85-62576-36-2
Não li o livro inteiro, pois há
muito discursos em solenidades. Discursos me atribulam. Passei os olhos em todas as páginas e li,
especialmente, os textos que falam sobre a origem humilde e a luta do autor para
chegar ao cume. Isso me toca em qualquer escrito. Tenho queda por sagas,
especialmente de pessoas de origem humilde que conseguem vencer na vida. Apesar
de ser um fenômeno comum em nossa sociedade aberta, as histórias me comovem.
Vejo-me em cada uma.
E fico me perguntando: por que
alguns conseguiram e outros não? Seria o destino? Desígnio de Deus? Sorte
apenas? Como Josino Ulisses, um homem
rude e pobre, pai dos Ulisses da Ilha do Ouro, o mundo está cheio.
Tenho percebido que boa parte dos grandes de hoje, em nosso meio,
passaram, na origem, por um seminário religioso. Chama a atenção as figuras ilustres do “Porto da Folha”, de Manoel Alves de Souza, que já resenhei aqui. . Inclusive Edson
Ulisses é de lá, pois a Ilha do Ouro pertence à Porto da Folha, se bem que não passou por nenhum seminário.
Mas volto ao livro “Reflexões
Cidadãs” para constatar um motivo do sucesso de Edson Ulisses, a parte que lhe
coube. Determinação, sacrifícios sem conta, confiança no sucesso, Deus... Este não abençoa quem não merece, então Edson mereceu muito.
(Aracaju, 13 de julho de 2013,
Antônio FJ Saracura, recuperada em dezembro de 2020).
Tempos atrás (um ano talvez) eu
folhei o livro na Escariz (prateleira de livros sergipanos) e li trechos aqui e
acolá. Tinha título interessante, uma capa agradável, e se dizia um romance.
Mesmo assim, não me fisgou; pois achei que fosse uma novelinha açucarada.
Há poucos dias, na Roda de
Leitura da biblioteca Epifânio Dória, que frequento, uma senhorinha me interpelou,
pois soubera de meus livros. Disse-me que publicara também um romance e propôs fazermos
permuta das obras. Ela estava acompanhada de João Neto, jornalista de méritos,
que já me entrevistara uma ou duas vezes. Era a mãe dele.
Ao receber o livro, reconheci o folheado
na Escariz. Estava na capa o galhinho de tomates cereja maduros. “Tomates
Cereja.”
Chegando em casa, comecei a ler o
livro.
A aproximação a um livro é um
processo demorado, carece de apresentação por algum leitor, recomendação de alguém,
a aproximação com o próprio autor, como foi este caso. Além de outros.
Li livro, de começo, por João
Neto e um pouco porque a autora estava agora com “Os Tabaréus do Sítio
Saracura” (objeto da troca). Como eu ficaria se ela viesse, qualquer dia, me falar
de “Os Tabaréus...”e eu nada soubesse dos “Tomates...”?
Logo nos primeiros capítulos, o
livro me conquistou. Uma grata satisfação. Deliciei-me com a bela história da
família tatuada geneticamente com uma coroa. Enchi os olhos de lágrimas aqui e
acolá. É certo que sou fraco demais para chorar. Tenho chorado muito lendo
livros.
“Tomates Cereja” é um romance
curtinho (não seria uma novela?), mas conta uma história que mexe com o coração
do leitor.
(Aracaju, 24/07/2012, Antônio FJ
Saracura, resenha recuperada em dezembro de 2020)
O MONOBELO E OUTRAS
NARRATIVAS, Jackson da Silva Lima (1997), 112 páginas.
É sensacional.
Num mar de charadas e
bordões, Jackson faz Quincas nadar, mergulhar, destilar filosofia
singular de vida. Bicho macho triunfante! Quincas na sua janela, ou botando água no feijão ou fogo na panela vai distribuindo sua sabedoria de maneira jocosa e agradável. “(Cornélio) acabou de dobrar a esquina agora mesmo. Vem lá se arrastando, o galhudo, de cangote baixo, o peso do mundo inteiro nas costas”.
Imagino que Jackson precisasse
difundir o rico material que acumulou em suas pesquisas sobre o jeito jocoso do povo (povão) tratar o sexo e a sexualidade. Trocadilhos, pegadinhas, mermas, pulhas.
Esperei que Cornélio
entrasse no enredo, cumprimentando Quincas e fosse mais agraciado com a ironia
deste. Mas sumiu. Novos personagens tomaram seu lugar.
Acabado "Monobelo" um pequeno romance de 72 páginas, entram “Outras Narrativas” contos curtos e também cheios de devassidão.
“Na Noite em que o Sol esfriou” (cinco rounds na "lona". Na manhã seguinte , "dei um ressono de mentira e me virei pra o outro lado". Maria queria recomeçar tudo de novo.
"De Ladeira abaixo" (vai ser frouxo assim nos infernos. Nem no meu tempo do seminário eu cheguei perto);
"O Homem dos Bonecos" (mulher faz do trouxa o que bem quer. Também do esperto);
"Sob o mesmo teto" (O diabo dá sempre mais fogo do que um casamento pode apagar);
"Num domingo de Folga" (o que mais gosto é de um sarameado de valete e dama; há gosto pra tudo);
"A Bocetinha de rapé e o velho ás" (Todas elas o tinham surpreendido de prazer ancho, visceral gozo voluptuosamente aspirado. São lembranças apenas, agora).
“O
Monobelo e outras narrativas” é livrinho genial e me lembrou um pouco "O Escravo do Diabo", do escritor primitivista, sertanejo e agricultor, Odair Silva, que já apresentei em uma resenha neste Blog.
Ganhei "Monobelo" do próprio autor quando fui à sua casa levar meu “Tambores da
Terra Vermelha”, dias após o lançamento.
Trouxe, também na mesma viagem, a obra prima “Cão na Moita”, que apresentarei a resenha qualquer dia.
(Aracaju,
08 de julho de 2013, por Antônio FJ Saracura, recuperada em dezembro de 2020).
OS ÍCONES DE UM TERREMOTO, Paulo Barbosa de Araujo, Editora
Diário Oficial 2010.
Capítulos muito longos, frases compridas que ameaçam sufocar
o leitor. Como o segundo parágrafo da página 38.
Idas e vinda contínuas embaralham a cabeça mais atenta.
O capítulo I, Os Vigilantes da Esperança, merecia dez
capítulos para ser apresentado, talvez.
Há muita teoria útil, mas exposta de maneira tortuosa, e
fica difícil de ser captada adequadamente. O próprio autor percebe que está sendo
confuso, pois, aqui e acolá, faz revisão do tema, iniciando o parágrafo com a
fase “O que estamos a dizer é o seguinte...(página 45 e outras).
O tom de discurso “É hora de darmos um basta” parece uma interferência
no livre arbítrio leitor. Um tom militar demais na boca de um civil que, pelo
que conta, nada tem a admirar nos homens de verde.
Na página 21, o autor diz (falando do movimento 1964) que o
sofrimento dessas pessoas (os presos políticos, também chamados subversivos) foi
enorme e não se registra em lugar algum algo parecido. Isso deixa a impressão
de atrocidades extremas, muito maiores do que as sofridas pelos judeus nos
campos de concentração nazistas; do que judeus (outra vez) na inquisição
espanhola – veja o “Último Judeu”, de Nohan Gordan (livro resenhado aqui no
Blog); a repressão no Chile, viva ainda.
No capítulo 2, há trechos muito bons como o da página 56, mergulhando
na história esquecida ou pelo menos pouco divulgada. Mas poderia (assim como o
primeiro) ser subdividido e assim ser mais palatável. Reencontrei muitos
conhecidos, mas outros nem foram citados e passaram pelo mesmo calvário.
Não me parece ser um livro para ser lido sequencialmente,
mas uma fonte rica de pesquisa, para ser acessada aleatoriamente.
Sobre a edição da Editora do Diário Oficial, os gestores precisam
rever seus estoques de cola, talvez estejam vencidos. Logo que concluí a leitura,
folhas se descolavam e queriam sair voando.
(Aracaju, Jan/2011, Antônio Saracura, recuperada em dezembro
de 2020).
PADRE JOSÉ MANOEL ARAUJO (O
Missionário da fé e da esperança), Carlos Mendonça, Edição própria (grafica Infographics) 400p, Il, Isbn 978-85-916736-0-5
Um padre não precisa de muita
erudição para fazer um bom trabalho.
Um escritor também não, parece.
Padre Manoel Araujo foi
discriminado, considerado por colegas elitistas um padre do baixo clero, um
tabaréu tosco. Mas deixou uma obra espetacular por onde passou. Talvez superior
a de seus críticos. Sabedoria demais muitas vezes atrapalha. Prova disso é o
apego ao padre pelas comunidades por onde passou desde que começou seu apostolado. Compareceram ao lançamento do
livro, antigos paroquianos de Dores, de Carira, de Itabaiana. Talvez até
paroquianos das tribos indígenas do longínquo Amazonas onde padre Araújo atuou
primeiro. O povo de Ribeirópolis fez uma festa como poucas já acontecidas, até na capital, que eu tenha notícia.
O escritor Carlos Mendonça surgiu
há pouco na arena literária, depois que fechou seu pequeno comércio e resolveu
escrever livros. É um pesquisador teimoso, chegando à ferocidade. Vive fuçando
jornais antigos, conversando com testemunhas vivas, escrevendo e divulgando sua
obra. Os livros que publicou até hoje (“Chico
de Miguel”, “Vidas em Trânsito”, “Na Feira de Itabaiana Tem”, “Mons. Eraldo
Barbosa”, “As Mães” e “Padre José Manoel Araújo”) são sucesso absoluto de
vendas. Nesse Estado pobre de livros e escritores, um operário das letras sem
muitos apetrechos técnicos de academia faz bonito. Causa inveja, até. O povo, carente de informação, vibra
com os livros de Carlos. São bem humorados, tratam de temas de interesse
comprovado. Quem compra não os joga na lista de espera ou na cesta de lixo. Consideram
um privilégio ler autor tão dedicado.
Carlos lançou “Chico de Miguel”,
pois sabia que metade da Grande Itabaiana ansiava pela história do estrategista
da política. Lançou “Vidas em Trânsito” porque essa é a vida de todo Itabaianense
com seu caminhão e sua tino comercial. “Na Feira de Itabaiana Tem” para que ninguém
mais em Sergipe fique falando de Caruaru. Lançou “As Mães”, porque era o dia
das mães e nenhum escritor fez isso. Lançou “Monsenhor Eraldo Barbosa", lançou “Padre
Araújo, porque foram lideranças do povo católico que não abria mão de conhecer à
fundo seus santos.
Em “Padre José Manoel Araújo é
traçada a trajetória do vigário gordo (carinhosamente apelidado de padre Bolinha), carismático e dinâmico, desde a sua
origem humilde, no sertão seco do povoado Tacaiacó, distrito de Tacaratu, Pernambuco,
até aposentadoria merecida em uma casa de simples, na cidade de Ribeirópolis em
Sergipe. Apresenta o apóstolo eficiente, disseminando a fé cristã e plantando
no coração das pessoas a esperança em dias melhores, para quem tem fibra e fé.
Construindo igrejas nos povoados remotos, elevando a auto estima, valorizando o
povo humilde sempre esquecido. Salvando almas, resgatando dignidade.
Os depoimentos colhidos de
pessoas que conviveram com o padre ocupam metade do livro, e o enriquecem muito.
Também as fotos: muitas do arquivo do padre e outras batidas pelo autor na peregrinação em caminhos percorridos pelo sacerdote, desde Tacaratu. Destaque para a entrevista
feita com o personagem principal (Padre Araújo) que deu fé absoluta à história
contada.
(Aracaju, 22 de abril de 2014,
por Antônio FJ Saracura, resenha recuperada em Dezembro de 2020).
O
QUADRADO DE PIRRO, Renato Conde Garcia, Sercore Artes Gráficas,260p, 16x23,classificação:Romance,
literatura sergipana.
“O
Quadrado de Pirro” é um livro vistoso, vestido de branco como as noivas puras
e com uma capa chamativa, mostrando Aracaju nascendo nos idos de 1855, com os
contornos do Quadrilátero de Pirro em um vermelho vinho ao gosto dos olhos e do
paladar. E lá por detrás, no miolo da obra, letras de bom tamanho, espaços
amplos, diagramação transpirando opulência.
E
o autor?
Eduardo
Conde Garcia, sobrenome respeitável, pelo menos para mim que admiro quem galgou
as cristas das melhores posições da nossa hierarquia política, econômica e
social. Aonde todos deveríamos tentar chegar com trabalho e com empenho. E onde
ninguém permanece sem dignidade e honradez, conforme penso e quero continuar
pensando.
O
livro é precedido por um artigo de Luiz Antônio Barreto (nosso maior nome nesse
cenário do saber) como se fosse um prefácio móvel. Arauto do rei, anunciando a
novidade que espera ser do agrado dos súditos.
Quem
não se sentiria tentado a conhecer a obra?
Afonso
da Eletrohidro e meu amigo (amante da boa literatura, já leu e comentou “Os
Tabaréus do Sítio Saracura” e “Meninos que não queriam ser Padres”, só para
citar os livros de minha autoria) me emprestou o exemplar que recebera autografado
do autor em algum lançamento de que não ouvi falar.
Li
livro de leitura agradável e tem valor inestimável para nossa bibliografia,
honrando-a e a enriquecendo. Destaco em especial a Parte V, que começa com o
Barão João Afonso indo para a Corte. Entranha-se nas cartas (tanto a de João
Afonso como a de João Pedro) que desenharam, com cores claras, o Brasil de
então. E termina com o doutor Silva (um tipo que instiga e levanta qualquer
livro frouxo) e com as usinas engolindo os engenhos e os negros heroicos
mostrando seu brio.
E
finalizo dizendo que o próprio Afonso (não o João, mas o que me emprestou o
livro) disse-me que gostou muito. E eu sei como ele é exigente e o tenho na
conta de um juiz justo, de quem nunca discordo, especialmente sobre esse “Quadrado”.
Para conhecer melhor o tema do livro, leia excerto de publicado pelo intelectual Osvaldo Ferreira Neto Expressão Sergipana
|
Aracaju,
08 de junho de 2011, por Antônio FJ Saracura, resenha recuperada em dezembro de
2020).
O Centro tem seu surgimento quando a cidade do Aracaju começou a emergir dos charcos, lagoas, mangues e dunas da antiga Praia da Olaria, que existia no povoado Santo Antônio do Aracaju. Essa região já estava sendo ocupada administrativamente desde de novembro de 1854. O recém chegado presidente da província, o carioca Inácio Joaquim Barbosa, transferiu a Alfândega e a Mesa de Rendas Provinciais. Ele tinha os mais claros desejos de prosperidade econômica para Sergipe. Criaram-se mais tarde uma Agência dos Correios e uma Sub-Delegacia Policial. Todos esses prédios públicos situando-se a margem direita do Rio Sergipe, na região da atual Praça Gal. Valadão.
O objetivo era o escoamento da produção açucareira provincial. Necessitava-se de um porto, pois já não se encontrava estrutura adequada e suporte em São Cristóvão. Todo o processo de transferência da capital é oficializado pela Resolução Provincial n° 413(94) que elevava essa região inóspita a condição de capital da Província de Sergipe del Rey.
Esse novo centro urbano planejado teve o engenheiro militar Sebastião José Basílio Pirro como projetista. Ele se encontrava aqui desde 1848, quando Inácio Barbosa, imbuído do espírito mais progressista e moderno da época, contratou Pirro para desenhar Aracaju sobre essa planície litorânea. O projeto seria de acordo com os modelos mais modernos das cidades da Europa no século XIX, a exemplo da grande reforma de Paris.
O TABULEIRO DE XADREZ
O Plano de Pirro se baseava no tabuleiro de xadrez, seu desenho tinha um quadrado de 32 quadras, cada uma com ruas de 110 metros. Tudo a partir de um ponto central, a Praça do Palácio (atual Praça Fausto Cardoso). Mas o plano se desenvolveu a partir da Alfândega (atual Centro Cultural de Aracaju) sentido sul, em direção da Avenida Barão de Maruim, margeando o rio, respeitando a simplicidade geográfica do relevo e rigor geométrico dos cálculos. As primeiras residências de alvenaria foram dos líderes da Região da Cotinguiba e de quem tinha apoiado a transferência da capital. As demais eram de palha e pau a pique, onde moravam os trabalhadores da nova capital.
Além dos primeiros prédios administrativos que ficariam situados nas proximidades da Alfândega ou nas margens do Rio. Em 1856 é erigida a primeira igreja católica de Aracaju, a Casa de Oração São Salvador (Larajeiras com João pessoa) e a Assembleia Provincial (Escola do Legislativo da Alese). Nesse mesmo ano era colocado em prática as Posturas Municipais, que determinavam os primeiros passos das diretrizes urbanísticas que não contemplava os pobres e determinava 100 palmos de largura as ruas.
O IMPERADOR PASSOU POR AQUI
Em 1860 o Centro recebia a visita do Imperador D.Pedro II, a Imperatriz Tereza Cristina e sua comitiva. Desembarcaram no pequeno atracadouro de madeira que viria a levar o nome de Ponte do Imperador. Eles participaram de uma celebração na Igreja São Salvador e passaram uma noite hospedados no então Palácio do Governo (hoje a atual Delegacia da Receita Federal, na esquina da Praça Fausto Cardoso com a Av. Rio Branco). Foi nessa visita que a obra de construção do Palácio Provincial do Governo, que estava sendo erguido, foi vistoriada por Dom Pedro. A obra foi projetada pelo engenheiro Francisco Pereira da Silva, que tinha sido contratado por Inácio Barbosa para ajudar no projeto de Pirro. No ano 1863 o Palácio ficou pronto.
A CIDADE SE PREPARA PARA O SÉCULO XX
Outros prédios públicos também começavam a ocupar o Centro. Em 1869 a Cadeia Pública (atual Palácio Serigy, onde localiza-se a Secretaria Estadual da Saúde); em 1875 a Matriz da Conceição (atual Catedral Metropolitana); em 1890 o Tribunal da Relação (atual Memorial do Judiciário). Com esse conjunto de prédios, em estilo neoclássico, dava-se ao traçado de Pirro feições de uma cidade provinciana. A região se desenvolvia cada vez mais para o século XX que se aproximava e trazia novos ecos da modernidade.
Nesses últimos anos do século XIX, o Centro recebia novas definições do disciplinar Código de Posturas, aprovado pela Lei Provincial n°968 de abril 1871. A lei dificultava e segregava ainda mais o Quadrado de Pirro para os pobres. Eles eram empurrados para os “arrabaldes”, como dizia Fernando Porto em seus estudos. Cada vez mais o Centro era destinado aos mais ricos e poderosos.
No ano de 1873, a Câmara Municipal define as nomenclaturas das ruas do Tabuleiro. Capela, Santa Luzia, Arauá era incluídas no mapa como novos logradouros públicos. Já a rua dos Músicos vira Pacatuba; a rua Jabotiana se torna Itabaiana; Independência vira Santo Amaro; rua da Assembleia muda para Itaporanga; rua Pirro é alterada para Socorro e a rua da Conceição vira Japaratuba (hoje Rua João Pessoa). Enquanto as ruas da Aurora (a popular Rua da Frente), São Cristóvão, Laranjeiras, Maruim e Estância conservaram os nomes desde a fundação da cidade. A partir dessa alteração as ruas do Centro levaria os nomes dos principais municípios sergipanos até os dias atuais (Excerto de: https://www.brasildefato.com.br/2017/11/09/especial-expressao-sergipana-or-quadrado-de-pirro-nosso-eterno-centro-parte-1/)
O
ÚLTIMO JUDEU, Noah Gordon,352 pág, Rocco, 20009788532511713
O romance é uma aventura azougada, não solta o leitor hora
nenhuma. A Santa Inquisição (que de santa não tem nada, é muito mais do Diabo,
que nem ele seria capaz de tanta malvadeza) está em todas as páginas com
fogueiras queimando gente viva e inocente.
Após
a reconquista (1492) da península Ibérica com a queda de Granada, os reis
católicos Fernando e Isabel deflagraram a limpeza étnica na Espanha. Absurdo
crime contra a humanidade praticado pela Igreja Católica (papas, reis e fanáticos)
com o intuito maior de se locupletar, roubando o povo judeu (e outros) no mundo
de então.
Este
é o mundo e a época de “O Último Judeu”, final do sécilo XV.
O
garoto Yonah Helquias Toledano consegue escapar do massacre da família e vaga, por
anos, pelos campos da Espanha. Ora era Martin, ora Ramom Calicó, sempre se
veste de ninguém para esconder seu solidéu que nem existe. O burrico Moisés companheiro
dos primeiros momentos, o salvou de muitas enrascadas. Vive sofrida jornada com
trabalhos indignos, sacrifícios, riscos contínuos até alcançar o sucesso com
médico cirurgião, sem perder a essência da religião de seus pais.
O
povo judeu não tinha para onde fugir, toda a Europa (Portugal, Holanda, França...)
era governada pela mesma família. E a América, óbvia fuga, era extensões dessa
Europa, sob o mesmo jugo
A Inquisição durou três séculos queimando
pessoas somente porque seguiam outros caminhos na busca do mesmo Deus. Ou nem isso,
somente porque possuíam bens que a Igreja ou o Reino, ou o oportunista de
plantão queriam.
O
judeu, mesmo convertido (marrano), continuava sob vigilância e desconfiança.
Qualquer denúncia, mesmo falsa, o levava à fogueira. E enquanto tolerado,
sempre era católico de categoria inferior dentro da igreja discriminadora. Os padres
que criticavam a irracionalidade da inquisição eram destituídos de suas
paróquias, condenados por heresias, indo também para as fogueiras.
Sob
a direção de Torquemata (também dos antecessores e sucessores, tão sanguinários
quanto) a Igreja Católica eliminava pessoa à seu estrito critério. A inquisição
ficava com 1/3 dos bens e a Coroa com o resto. Era um meio mais de ganhar
dinheiro do que de purificar a fé.
O
livro é muito mais ainda.
(Antônio
FJ Saracura, Aracaju, 17 de março de 2011, recuperada em dezembro de 2011).
O SILÊNCIO DAS
MONTANHAS, Khaled Hosseini,Globo Livros , 2013,Isbn 978-85-250-5408-1
Que segredo faz um
livro Best-seler universal?
Por que as pessoas
querem ler muito ler certo livro?
Por que grandes
editoras investem em um livro milhões (propaganda, em direitos autorias...)?
Há livros maravilhosos
que não saem do chão, são lidos apenas pelos amigos do autor. Há verborréias
chatas que ganham o mundo e encantam em todas as línguas.
Li até o meio,
recentemente, “Adultério”, de Paulo Coelho. Depois de um ou dois capítulos
cativantes, ficou claro, para mim, que o autor começara a se redundar, enrolar,
encompridar a novela, projetar clichês manjados demais. No entanto, o livro é
um sucesso de vendas no mundo inteiro.
O “Silêncio dos Inocentes”
conta história de uma família afegã desintegrada pela guerra, pela pobreza,
pelas tradições malvadas. A lenda dos DEV, contada nos primeiros capítulos, cria
clima e o cenário para o desenrolar de uma história de desencontros,
injustiças, sonhos, desilusões, de vida dura.
Mesmo tendo chegado ao
final e me emocionado em várias partes, achei um livro lento, cansativo.
Especialmente quando o autor resolve tratar de personagens secundários, meros
figurantes, com exagerado detalhamento. Como, por exemplo, a longa digressão
sobre a família do médico Markos.
(Aracaju, 08 de abril
de 2015, Antônio FJ Saracura, recuperado em dezembro de 2020).
Post Scriptum:
Procurei o livro em
minha biblioteca e ele já se fora, em minhas doações regulares que faço à
bibliotecas de escolas ou de pequenas cidades. Não pude rever colocações simplistas
e tive que expurgar outras, porque me pareceram inconsistentes.
E por que publicou a
resenha, doido?
Eu só tinha isso, foi
isso mesmo.
E não me atribula ser
julgado pelas minhas limitações ou pelas limitações de meus textos.
Eu sou assim limitado. Meus textos são eu. (Saracura).