segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

TOBIAS BARRETO, MINHA TERRA

 

TOBIAS BARRETO, MINHA TERRA, Elias Felipe Neto, Gráfica N.Sra. Imperatriz, de Tobias Barreto, 2010, 309 páginas



Há livros que nos marcam para o resto da vida. E, às vezes, nem são livros badalados, não passam de edições caseiras, feitas pela teimosia de autores iluminados. Muito bem iluminados, pois, se não o fossem, não iriam gastar tempo e dinheiro escrevendo e publicando um livro para pouca gente (ou ninguém) querer saber dele.

Em nosso Estado de Sergipe, posso citar e o faço com vigor, os livros: “A História de Lagarto” (de Adalberto Fonseca), “Japaratuba”, (de Eduardo Cabral), “Porto da Folha”, (de Manoel Alves) e agora (pois acabo de ler), “Tobias Barreto, Minha Terra” (de Elias Felipe Neto).

Existem outros célebres, mas esses, apesar de praticamente desconhecidos, não lhes ficam atrás. Bem escritos, ricos conteúdos históricos, convincentes, apaixonantes, emocionantes. São livros de história, mas têm o gosto de espetaculares romances. Se não quiser se apaixonar por eles, nem os procure ler!

José Padilha de Oliveira (que chamo sempre de padre, e foi meu companheiro nas colunas do jornal “A Cruzada” nos idos de 1960) me ligou outra semana.

Queria que eu fosse até sua casa na Treze de Julho, ajudá-lo a encontrar um destino mais útil à sua biblioteca, que extrapolava o espaço de que dispunha e às necessidades vigentes de um guerreiro cansado de guerras.

Passei uma manhã inteira numa reunião surpreendente e ditosa.

Manoel Cabral Machado recitou os poemas e leu as crônicas de toda sua obra. Recebi a atenção especial de José Silvério Fontes, Baltazar Góes, Ibarê Dantas, Ricardo Leite, Cezar Brito, Luiza Maria da Costa, Maria Lígia Pina e outros que já viajaram ou vivem ainda neste vale. Ilustres, para os quais antes nem ousava levantara vista...

Elias Felipe Neto (Tobias Barreto Minha Terra) me levou ao passado remoto da fazenda de gado de Belchior Dias Moreia. Ferrei garrotes no pé da Serra do Canine, apartei bezerros, curei bicheiras...

Olá! Todos!

Robério Dias Moreia, Belchior de Afonseca Dias, Frei Ângelo dos Reis, o itabaianense padre Amaral, que ficou 43 anos vigariando a vila de Campos pela qual lutou incessante, sem trincheiras.

Alô, Construtores da nação tobiense!

E surge o próprio Tobias Barreto, glória do Brasil, nascido de um amor incontrolável! Eu nem sabia do livro de Junot Silveira, “O Romance de Tobias Barreto”, que me encantou na amostra reproduzida por Elias, descrevendo a vila de outrora, que trago um fragmento para ilustrar meu leitor:

“À distância, bimbalham chocalhos e estalejam macacas, que se casam à voz monótona dos tropeiros. São comboios que passam na noite silenciosa, conduzindo cargas para as praças de Lagarto, Itabaiana e outros mercados próximos”.

Ao autor (Elias Felipe) não escapa nada, no afã de prestar um serviço profissional ao seu povo, o que fez com méritos. Cada vigário, cada coadjuntor, até cada sacristão, cada político, cada visitante, cada benfeitor. Cada figura de destaque na feitura do brilho do povo de Tobias Barreto é mostrada no lugar certo.

O livro é consistente, coerente nas partes. Bom de se ler. Não perde tempo contando o que não precisa contar, nem vai além do alcance de sua mãe cuidadosa. São pequenos fatos, alguns corriqueiros, mas que dão uma vida enorme ao enredo. Sempre anda pela trilha religiosa, no que se sente mais à vontade pelo que se depreende. Aqui e acolá o autor, aperreado com tanta missão, delega a futuros pesquisadores maior aprofundamento, saindo-se muito bem e buscando repartir a glória de contar a história desse povo admirável e dessa terra abençoada..

 

(Aracaju, 14 de maio de 2014, Antônio Saracura, recuperada em dezembro 2010)

sábado, 12 de dezembro de 2020

REDEMOINHOS, José Lima Santana

 

REDEMOINHOS, José Lima Santana,São Paulo, Scorteci, 2015, isbn 978-85-366-4375-5.



 

“Antigamente minha avó dizia

Que o diabo brincava nos redemoinhos” (página 119)

 

Vivo correndo, como todos comigo. Como se a vida fosse redemoinho a nos levantar do chão, revolver, derrubar de volta, arrastar, enterrar, partir em mil pedaços, recompor, ressuscitar. A paz é escorregadia. Os raros bons momentos, fogem sem me darem adeus.

Obrigações, redes sociais, pestes, pragas, cobranças, discriminações, despeitas, invejas.

Relembro feliz os retiros espirituais do meu tempo de seminário, que não acabavam nunca, e nos quais sobrava tempo até para divagar, plainar por mundos misteriosos e desconhecidos. Como foram confortantes.

A boa poesia é aquela que não preciso reler (e nem entender). Na primeira corrida de olhos vejo seu íntimo. Sua alma se mostra. Para que conhecer as profundezas? Basta fazer-me sentir bem. Mesmo dentro desse redemoinho.

É pouco?

José Lima Santana é um homem sereno, meio caminho andado para bom poeta. Seu porte de bandeira branca, seu pensamento lúcido, sua voz cordata viram poemas fáceis de entender, companheiros de paz para momentos atribulados da vida.

Ele sabe a palavra adequada. Sabe amadurecer a ideia essencial. Como o vinho envelhecido, que é melhor porque soube se conter, esperar a vez. Me lembra o matador de tocaia, que pode passar um mês afiando a pontaria, desfrutando a paciência, sedimentando as intenções, manufaturando mil asas para a bala a ser disparada.

E tiro assim caprichado cumpre a sina de matar. Ou de salvar. Ou de pacificar.

xxx

Meu querido poeta, José Lima Santana.

Estou lendo seus poemas, devagar, conhecendo cada caminho enveredado, cada picada pisada. E me admiro pelo seu jeito de narrar sentimento. Você não precisa de artimanhas, enigmas, subterfúgios. Tem palavras definitivas para expor sentimento e difundir serenidade.

Se não, veja “Alvorecer” (página 13), o primeiro poema do livro:

 

“Da janela

Eu vi

Sonolento

A aurora

Sangrando

O mundo”.

 

E “Tardio” (página 19):

 

O frio tardio de Buenos Aires

Penetra lancinante em minha roupa,

Atravessa minha carne surrada pela vida

E alcança meus ossos com pouco cálcio.

 

E frio tardio de Buenos Aires

Convida-me a beber vinho.

O vinho tinto enche a taça

E eu me encho de tangos e de magia.”

 

Também “Estupidez” (Página 68):

 

O tempo espeta,

Insensivelmente,

Espinhos na pedra.

 

O vento lambe

Voluptuosamente,

A face da pedra.

 

E a pedra, a pedra,

Estupidamente,

Permanece agachada.

 

Difícil alguém não gostar de algum desses mais de cem redemoinhos. Tempestades que fazem a bonança imediata nessa vida louca.

 

 

(Aracaju, 2016, 09 de fevereiro 2016, por Antônio Saracura, recuperada em dezembro de 2020).

 

 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

REFLEXÕES CIDADÃS,Edson Ulisses de Melo,


REFLEXÕES CIDADÃS,Edson Ulisses de Melo,Nossa Gráfica 2012, 234 página isbn 978-85-62576-36-2


Não li o livro inteiro, pois há muito discursos em solenidades. Discursos me atribulam. Passei os olhos em todas as páginas e li, especialmente, os textos que falam sobre a origem humilde e a luta do autor para chegar ao cume. Isso me toca em qualquer escrito. Tenho queda por sagas, especialmente de pessoas de origem humilde que conseguem vencer na vida. Apesar de ser um fenômeno comum em nossa sociedade aberta, as histórias me comovem. Vejo-me em cada uma.

E fico me perguntando: por que alguns conseguiram e outros não? Seria o destino? Desígnio de Deus? Sorte apenas? Como Josino Ulisses, um homem rude e pobre, pai dos Ulisses da Ilha do Ouro, o mundo está cheio.

Tenho percebido que boa parte dos grandes de hoje, em nosso meio, passaram, na origem, por um seminário religioso. Chama a atenção as figuras ilustres do “Porto da Folha”, de Manoel Alves de Souza, que já resenhei aqui. . Inclusive Edson Ulisses é de lá, pois a Ilha do Ouro pertence à Porto da Folha, se bem que não passou por nenhum seminário. 

Mas volto ao livro “Reflexões Cidadãs” para constatar um motivo do sucesso de Edson Ulisses, a parte que lhe coube. Determinação, sacrifícios sem conta, confiança no sucesso, Deus... Este não abençoa quem não merece, então Edson mereceu muito.

(Aracaju, 13 de julho de 2013, Antônio FJ Saracura, recuperada em dezembro de 2020).

domingo, 6 de dezembro de 2020

TOMATES CEREJA, Ailezz

 

TOMATES CEREJA, Ailezz (Maria Zélia Silva Rocha),Edição particular,Revisão de Lilian Rocha


 

Tempos atrás (um ano talvez) eu folhei o livro na Escariz (prateleira de livros sergipanos) e li trechos aqui e acolá. Tinha título interessante, uma capa agradável, e se dizia um romance. Mesmo assim, não me fisgou; pois achei que fosse uma novelinha açucarada.

Há poucos dias, na Roda de Leitura da biblioteca Epifânio Dória, que frequento, uma senhorinha me interpelou, pois soubera de meus livros. Disse-me que publicara também um romance e propôs fazermos permuta das obras. Ela estava acompanhada de João Neto, jornalista de méritos, que já me entrevistara uma ou duas vezes. Era a mãe dele.

Ao receber o livro, reconheci o folheado na Escariz. Estava na capa o galhinho de tomates cereja maduros. “Tomates Cereja.”

Chegando em casa, comecei a ler o livro.

A aproximação a um livro é um processo demorado, carece de apresentação por algum leitor, recomendação de alguém, a aproximação com o próprio autor, como foi este caso. Além de outros.

Li livro, de começo, por João Neto e um pouco porque a autora estava agora com “Os Tabaréus do Sítio Saracura” (objeto da troca). Como eu ficaria se ela viesse, qualquer dia, me falar de “Os Tabaréus...”e eu nada soubesse dos “Tomates...”?

Logo nos primeiros capítulos, o livro me conquistou. Uma grata satisfação. Deliciei-me com a bela história da família tatuada geneticamente com uma coroa. Enchi os olhos de lágrimas aqui e acolá. É certo que sou fraco demais para chorar. Tenho chorado muito lendo livros.

“Tomates Cereja” é um romance curtinho (não seria uma novela?), mas conta uma história que mexe com o coração do leitor.

(Aracaju, 24/07/2012, Antônio FJ Saracura, resenha recuperada em dezembro de 2020)

sábado, 5 de dezembro de 2020

O MONOBELO E OUTRAS NARRATIVAS, Jackson da Silva Lima

 

O MONOBELO E OUTRAS NARRATIVAS, Jackson da Silva Lima (1997), 112 páginas.

 


É sensacional.

Num mar de charadas e bordões, Jackson faz Quincas nadar, mergulhar, destilar filosofia singular de vida. Bicho macho triunfante! Quincas na sua janela, ou botando água no feijão ou fogo na panela vai distribuindo sua sabedoria de maneira jocosa e agradável. “(Cornélio) acabou de dobrar a esquina agora mesmo. Vem lá se arrastando, o galhudo, de cangote baixo, o peso do mundo inteiro nas costas”.

Imagino que Jackson precisasse difundir o rico material que acumulou em suas pesquisas  sobre o jeito jocoso do povo (povão) tratar o sexo e a sexualidade. Trocadilhos, pegadinhas, mermas, pulhas.

Esperei que Cornélio entrasse no enredo, cumprimentando Quincas e fosse mais agraciado com a ironia deste. Mas sumiu. Novos personagens tomaram seu lugar.

Acabado "Monobelo" um pequeno romance de 72 páginas, entram  “Outras Narrativas” contos curtos e também cheios de devassidão. 

“Na Noite em que o Sol esfriou” (cinco rounds na "lona". Na manhã seguinte , "dei um ressono de mentira e me virei pra o outro lado". Maria queria recomeçar tudo de novo.  

"De Ladeira abaixo" (vai ser frouxo assim nos infernos. Nem no meu tempo do seminário eu cheguei perto); 

"O Homem dos Bonecos" (mulher faz do trouxa o que bem quer. Também do esperto);

"Sob o mesmo teto" (O diabo dá sempre mais fogo do que um casamento pode apagar);

"Num domingo de Folga"  (o que mais gosto é de um sarameado de valete e dama; há gosto pra tudo);

"A Bocetinha de rapé e o velho ás" (Todas elas o tinham surpreendido de prazer ancho, visceral gozo voluptuosamente aspirado. São lembranças apenas, agora).   

“O Monobelo e outras narrativas” é livrinho genial e me lembrou um pouco "O Escravo do Diabo", do escritor primitivista, sertanejo e agricultor, Odair Silva, que já apresentei em uma resenha neste Blog. 

Ganhei "Monobelo" do próprio autor quando fui à sua casa levar meu  “Tambores da Terra Vermelha”, dias após o lançamento.

Trouxe, também na mesma viagem, a obra prima “Cão na Moita”, que apresentarei a resenha qualquer dia. 

(Aracaju, 08 de julho de 2013, por Antônio FJ Saracura, recuperada em dezembro de 2020).

 

 

OS ÍCONES DE UM TERREMOTO, Paulo Barbosa de Araujo

 

OS ÍCONES DE UM TERREMOTO, Paulo Barbosa de Araujo, Editora Diário Oficial 2010.

 


 

Capítulos muito longos, frases compridas que ameaçam sufocar o leitor. Como o segundo parágrafo da página 38.

Idas e vinda contínuas embaralham a cabeça mais atenta.

O capítulo I, Os Vigilantes da Esperança, merecia dez capítulos para ser apresentado, talvez.

Há muita teoria útil, mas exposta de maneira tortuosa, e fica difícil de ser captada adequadamente. O próprio autor percebe que está sendo confuso, pois, aqui e acolá, faz revisão do tema, iniciando o parágrafo com a fase “O que estamos a dizer é o seguinte...(página 45 e outras).

O tom de discurso “É hora de darmos um basta” parece uma interferência no livre arbítrio leitor. Um tom militar demais na boca de um civil que, pelo que conta, nada tem a admirar nos homens de verde.

Na página 21, o autor diz (falando do movimento 1964) que o sofrimento dessas pessoas (os presos políticos, também chamados subversivos) foi enorme e não se registra em lugar algum algo parecido. Isso deixa a impressão de atrocidades extremas, muito maiores do que as sofridas pelos judeus nos campos de concentração nazistas; do que judeus (outra vez) na inquisição espanhola – veja o “Último Judeu”, de Nohan Gordan (livro resenhado aqui no Blog); a repressão no Chile, viva ainda.

No capítulo 2, há trechos muito bons como o da página 56, mergulhando na história esquecida ou pelo menos pouco divulgada. Mas poderia (assim como o primeiro) ser subdividido e assim ser mais palatável. Reencontrei muitos conhecidos, mas outros nem foram citados e passaram pelo mesmo calvário.

Não me parece ser um livro para ser lido sequencialmente, mas uma fonte rica de pesquisa, para ser acessada aleatoriamente.

Sobre a edição da Editora do Diário Oficial, os gestores precisam rever seus estoques de cola, talvez estejam vencidos. Logo que concluí a leitura, folhas se descolavam e queriam sair voando.

(Aracaju, Jan/2011, Antônio Saracura, recuperada em dezembro de 2020).


quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

PADRE JOSÉ MANOEL ARAUJO

 

PADRE JOSÉ MANOEL ARAUJO (O Missionário da fé e da esperança), Carlos Mendonça, Edição própria (grafica Infographics) 400p, Il, Isbn 978-85-916736-0-5


Um padre não precisa de muita erudição para fazer um bom trabalho.

Um escritor também não, parece.

Padre Manoel Araujo foi discriminado, considerado por colegas elitistas um padre do baixo clero, um tabaréu tosco. Mas deixou uma obra espetacular por onde passou. Talvez superior a de seus críticos. Sabedoria demais muitas vezes atrapalha. Prova disso é o apego ao padre pelas comunidades por onde passou desde que começou seu apostolado. Compareceram ao lançamento do livro, antigos paroquianos de Dores, de Carira, de Itabaiana. Talvez até paroquianos das tribos indígenas do longínquo Amazonas onde padre Araújo atuou primeiro. O povo de Ribeirópolis fez uma festa como poucas já acontecidas, até na capital, que eu tenha notícia. 

O escritor Carlos Mendonça surgiu há pouco na arena literária, depois que fechou seu pequeno comércio e resolveu escrever livros. É um pesquisador teimoso, chegando à ferocidade. Vive fuçando jornais antigos, conversando com testemunhas vivas, escrevendo e divulgando sua obra. Os livros que publicou até hoje (“Chico de Miguel”, “Vidas em Trânsito”, “Na Feira de Itabaiana Tem”, “Mons. Eraldo Barbosa”, “As Mães” e “Padre José Manoel Araújo”) são sucesso absoluto de vendas. Nesse Estado pobre de livros e escritores, um operário das letras sem muitos apetrechos técnicos de academia faz bonito. Causa inveja, até. O povo, carente de informação, vibra com os livros de Carlos. São bem humorados, tratam de temas de interesse comprovado. Quem compra não os joga na lista de espera ou na cesta de lixo. Consideram um privilégio ler autor tão dedicado. 

Carlos lançou “Chico de Miguel”, pois sabia que metade da Grande Itabaiana ansiava pela história do estrategista da política. Lançou “Vidas em Trânsito” porque essa é a vida de todo Itabaianense com seu caminhão e sua tino comercial. “Na Feira de Itabaiana Tem” para que ninguém mais em Sergipe fique falando de Caruaru. Lançou “As Mães”, porque era o dia das mães e nenhum escritor fez isso. Lançou “Monsenhor Eraldo Barbosa", lançou “Padre Araújo, porque foram lideranças do povo católico que não abria mão de conhecer à fundo seus santos.

Em “Padre José Manoel Araújo é traçada a trajetória do vigário gordo (carinhosamente apelidado de padre Bolinha), carismático e dinâmico, desde a sua origem humilde, no sertão seco do povoado Tacaiacó, distrito de Tacaratu, Pernambuco, até aposentadoria merecida em uma casa de simples, na cidade de Ribeirópolis em Sergipe. Apresenta o apóstolo eficiente, disseminando a fé cristã e plantando no coração das pessoas a esperança em dias melhores, para quem tem fibra e fé. Construindo igrejas nos povoados remotos, elevando a auto estima, valorizando o povo humilde sempre esquecido. Salvando almas, resgatando dignidade.

Os depoimentos colhidos de pessoas que conviveram com o padre ocupam metade do livro, e o enriquecem muito. Também as fotos: muitas do arquivo do padre e outras batidas pelo autor na peregrinação em caminhos percorridos pelo sacerdote, desde Tacaratu. Destaque para a entrevista feita com o personagem principal (Padre Araújo) que deu fé absoluta à história contada.

(Aracaju, 22 de abril de 2014, por Antônio FJ Saracura, resenha recuperada em Dezembro de 2020).


O QUADRADO DE PIRRO, Renato Conde Garcia

 


O QUADRADO DE PIRRO, Renato Conde Garcia, Sercore Artes Gráficas,260p, 16x23,classificação:Romance, literatura sergipana.


 

 

“O Quadrado de Pirro” é um livro vistoso, vestido de branco como as noivas puras e com uma capa chamativa, mostrando Aracaju nascendo nos idos de 1855, com os contornos do Quadrilátero de Pirro em um vermelho vinho ao gosto dos olhos e do paladar. E lá por detrás, no miolo da obra, letras de bom tamanho, espaços amplos, diagramação transpirando opulência.

 

E o autor?

 

Eduardo Conde Garcia, sobrenome respeitável, pelo menos para mim que admiro quem galgou as cristas das melhores posições da nossa hierarquia política, econômica e social. Aonde todos deveríamos tentar chegar com trabalho e com empenho. E onde ninguém permanece sem dignidade e honradez, conforme penso e quero continuar pensando.

 

O livro é precedido por um artigo de Luiz Antônio Barreto (nosso maior nome nesse cenário do saber) como se fosse um prefácio móvel. Arauto do rei, anunciando a novidade que espera ser do agrado dos súditos.

 

Quem não se sentiria tentado a conhecer a obra?

 

Afonso da Eletrohidro e meu amigo (amante da boa literatura, já leu e comentou “Os Tabaréus do Sítio Saracura” e “Meninos que não queriam ser Padres”, só para citar os livros de minha autoria) me emprestou o exemplar que recebera autografado do autor em algum lançamento de que não ouvi falar.

 

Li livro de leitura agradável e tem valor inestimável para nossa bibliografia, honrando-a e a enriquecendo. Destaco em especial a Parte V, que começa com o Barão João Afonso indo para a Corte. Entranha-se nas cartas (tanto a de João Afonso como a de João Pedro) que desenharam, com cores claras, o Brasil de então. E termina com o doutor Silva (um tipo que instiga e levanta qualquer livro frouxo) e com as usinas engolindo os engenhos e os negros heroicos mostrando seu brio.

 E finalizo dizendo que o próprio Afonso (não o João, mas o que me emprestou o livro) disse-me que gostou muito. E eu sei como ele é exigente e o tenho na conta de um juiz justo, de quem nunca discordo, especialmente sobre esse “Quadrado”.

Para conhecer melhor o tema do livro, leia excerto de publicado pelo intelectual Osvaldo Ferreira Neto Expressão Sergipana

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 Aracaju, 08 de junho de 2011, por Antônio FJ Saracura, resenha recuperada em dezembro de 2020).

 Post Escriptum:

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(...)

OS PRIMEIROS PASSOS DO CENTRO

O Centro tem seu surgimento quando a cidade do Aracaju começou a emergir dos charcos, lagoas, mangues e dunas da antiga Praia da Olaria, que existia no povoado Santo Antônio do Aracaju. Essa região já estava sendo ocupada administrativamente desde de novembro de 1854. O recém chegado presidente da província, o carioca Inácio Joaquim Barbosa, transferiu a Alfândega e a Mesa de Rendas Provinciais. Ele tinha os mais claros desejos de prosperidade econômica para Sergipe. Criaram-se mais tarde uma Agência dos Correios e uma Sub-Delegacia Policial. Todos esses prédios públicos situando-se a margem direita do Rio Sergipe, na região da atual Praça Gal. Valadão.

O objetivo era o escoamento da produção açucareira provincial. Necessitava-se de um porto, pois já não se encontrava estrutura adequada e suporte em São Cristóvão. Todo o processo de transferência da capital é oficializado pela Resolução Provincial n° 413(94) que elevava essa região inóspita a condição de capital da Província de Sergipe del Rey.

Esse novo centro urbano planejado teve o engenheiro militar Sebastião José Basílio Pirro como projetista. Ele se encontrava aqui desde 1848, quando Inácio Barbosa, imbuído do espírito mais progressista e moderno da época, contratou Pirro para desenhar Aracaju sobre essa planície litorânea. O projeto seria de acordo com os modelos mais modernos das cidades da Europa no século XIX, a exemplo da grande reforma de Paris.

O TABULEIRO DE XADREZ

O Plano de Pirro se baseava no tabuleiro de xadrez, seu desenho tinha um quadrado de 32 quadras, cada uma com ruas de 110 metros. Tudo a partir de um ponto central, a Praça do Palácio (atual Praça Fausto Cardoso). Mas o plano se desenvolveu a partir da Alfândega (atual Centro Cultural de Aracaju) sentido sul, em direção da Avenida Barão de Maruim, margeando o rio, respeitando a simplicidade geográfica do relevo e rigor geométrico dos cálculos. As primeiras residências de alvenaria foram dos líderes da Região da Cotinguiba e de quem tinha apoiado a transferência da capital. As demais eram de palha e pau a pique, onde moravam os trabalhadores da nova capital.

Além dos primeiros prédios administrativos que ficariam situados nas proximidades da Alfândega ou nas margens do Rio. Em 1856 é erigida a primeira igreja católica de Aracaju, a Casa de Oração São Salvador (Larajeiras com João pessoa) e a Assembleia Provincial (Escola do Legislativo da Alese). Nesse mesmo ano era colocado em prática as Posturas Municipais, que determinavam os primeiros passos das diretrizes urbanísticas que não contemplava os pobres e determinava 100 palmos de largura as ruas.

O IMPERADOR PASSOU POR AQUI

Em 1860 o Centro recebia a visita do Imperador D.Pedro II, a Imperatriz Tereza Cristina e sua comitiva. Desembarcaram no pequeno atracadouro de madeira que viria a levar o nome de Ponte do Imperador. Eles participaram de uma celebração na Igreja São Salvador e passaram uma noite hospedados no então Palácio do Governo (hoje a atual Delegacia da Receita Federal, na esquina da Praça Fausto Cardoso com a Av. Rio Branco). Foi nessa visita que a obra de construção do Palácio Provincial do Governo, que estava sendo erguido, foi vistoriada por Dom Pedro. A obra foi projetada pelo engenheiro Francisco Pereira da Silva, que tinha sido contratado por Inácio Barbosa para ajudar no projeto de Pirro. No ano 1863 o Palácio ficou pronto.

A CIDADE SE PREPARA PARA O SÉCULO XX

Outros prédios públicos também começavam a ocupar o Centro. Em 1869 a Cadeia Pública (atual Palácio Serigy, onde localiza-se a Secretaria Estadual da Saúde); em 1875 a Matriz da Conceição (atual Catedral Metropolitana); em 1890 o Tribunal da Relação (atual Memorial do Judiciário). Com esse conjunto de prédios, em estilo neoclássico, dava-se ao traçado de Pirro feições de uma cidade provinciana. A região se desenvolvia cada vez mais para o século XX que se aproximava e trazia novos ecos da modernidade.

Nesses últimos anos do século XIX, o Centro recebia novas definições do disciplinar Código de Posturas, aprovado pela Lei Provincial n°968 de abril 1871. A lei dificultava e segregava ainda mais o Quadrado de Pirro para os pobres. Eles eram empurrados para os “arrabaldes”, como dizia Fernando Porto em seus estudos. Cada vez mais o Centro era destinado aos mais ricos e poderosos.

No ano de 1873, a Câmara Municipal define as nomenclaturas das ruas do Tabuleiro. Capela, Santa Luzia, Arauá era incluídas no mapa como novos logradouros públicos. Já a rua dos Músicos vira Pacatuba; a rua Jabotiana se torna Itabaiana; Independência vira Santo Amaro; rua da Assembleia muda para Itaporanga; rua Pirro é alterada para Socorro e a rua da Conceição vira Japaratuba (hoje Rua João Pessoa). Enquanto as ruas da Aurora (a popular Rua da Frente), São Cristóvão, Laranjeiras, Maruim e Estância conservaram os nomes desde a fundação da cidade. A partir dessa alteração as ruas do Centro levaria os nomes dos principais municípios sergipanos até os dias atuais (Excerto de: https://www.brasildefato.com.br/2017/11/09/especial-expressao-sergipana-or-quadrado-de-pirro-nosso-eterno-centro-parte-1/)

O ÚLTIMO JUDEU, Noah Gordon

 

O ÚLTIMO JUDEU, Noah Gordon, 352 pág, Rocco, 2000 9788532511713

 

 

O romance é uma aventura azougada, não solta o leitor hora nenhuma. A Santa Inquisição (que de santa não tem nada, é muito mais do Diabo, que nem ele seria capaz de tanta malvadeza) está em todas as páginas com fogueiras queimando gente viva e inocente.

 

Após a reconquista (1492) da península Ibérica com a queda de Granada, os reis católicos Fernando e Isabel deflagraram a limpeza étnica na Espanha. Absurdo crime contra a humanidade praticado pela Igreja Católica (papas, reis e fanáticos) com o intuito maior de se locupletar, roubando o povo judeu (e outros) no mundo de então.

 

Este é o mundo e a época de “O Último Judeu”, final do sécilo XV.

 

O garoto Yonah Helquias Toledano consegue escapar do massacre da família e vaga, por anos, pelos campos da Espanha. Ora era Martin, ora Ramom Calicó, sempre se veste de ninguém para esconder seu solidéu que nem existe. O burrico Moisés companheiro dos primeiros momentos, o salvou de muitas enrascadas. Vive sofrida jornada com trabalhos indignos, sacrifícios, riscos contínuos até alcançar o sucesso com médico cirurgião, sem perder a essência da religião de seus pais.

 

O povo judeu não tinha para onde fugir, toda a Europa (Portugal, Holanda, França...) era governada pela mesma família. E a América, óbvia fuga, era extensões dessa Europa, sob o mesmo jugo

 

A Inquisição durou três séculos queimando pessoas somente porque seguiam outros caminhos na busca do mesmo Deus. Ou nem isso, somente porque possuíam bens que a Igreja ou o Reino, ou o oportunista de plantão queriam.

 

O judeu, mesmo convertido (marrano), continuava sob vigilância e desconfiança. Qualquer denúncia, mesmo falsa, o levava à fogueira. E enquanto tolerado, sempre era católico de categoria inferior dentro da igreja discriminadora. Os padres que criticavam a irracionalidade da inquisição eram destituídos de suas paróquias, condenados por heresias, indo também para as fogueiras.

 

Sob a direção de Torquemata (também dos antecessores e sucessores, tão sanguinários quanto) a Igreja Católica eliminava pessoa à seu estrito critério. A inquisição ficava com 1/3 dos bens e a Coroa com o resto. Era um meio mais de ganhar dinheiro do que de purificar a fé.

 

O livro é muito mais ainda.

 

(Antônio FJ Saracura, Aracaju, 17 de março de 2011, recuperada em dezembro de 2011).

 

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

O SILÊNCIO DAS MONTANHAS, Khaled Hosseini

 


O SILÊNCIO DAS MONTANHAS, Khaled Hosseini,Globo Livros , 2013,Isbn 978-85-250-5408-1

 

Que segredo faz um livro Best-seler universal?

Por que as pessoas querem ler muito ler certo livro?

Por que grandes editoras investem em um livro milhões (propaganda, em direitos autorias...)?

Há livros maravilhosos que não saem do chão, são lidos apenas pelos amigos do autor. Há verborréias chatas que ganham o mundo e encantam em todas as línguas.

Li até o meio, recentemente, “Adultério”, de Paulo Coelho. Depois de um ou dois capítulos cativantes, ficou claro, para mim, que o autor começara a se redundar, enrolar, encompridar a novela, projetar clichês manjados demais. No entanto, o livro é um sucesso de vendas no mundo inteiro.

O “Silêncio dos Inocentes” conta história de uma família afegã desintegrada pela guerra, pela pobreza, pelas tradições malvadas. A lenda dos DEV, contada nos primeiros capítulos, cria clima e o cenário para o desenrolar de uma história de desencontros, injustiças, sonhos, desilusões, de vida dura.

Mesmo tendo chegado ao final e me emocionado em várias partes, achei um livro lento, cansativo. Especialmente quando o autor resolve tratar de personagens secundários, meros figurantes, com exagerado detalhamento. Como, por exemplo, a longa digressão sobre a família do médico Markos.

 

(Aracaju, 08 de abril de 2015, Antônio FJ Saracura, recuperado em dezembro de 2020).

Post Scriptum:

Procurei o livro em minha biblioteca e ele já se fora, em minhas doações regulares que faço à bibliotecas de escolas ou de pequenas cidades. Não pude rever colocações simplistas e tive que expurgar outras, porque me pareceram inconsistentes.

E por que publicou a resenha, doido?

Eu só tinha isso, foi isso mesmo.

E não me atribula ser julgado pelas minhas limitações ou pelas limitações de meus textos.

Eu sou assim limitado.  Meus textos são eu. (Saracura).