sexta-feira, 31 de maio de 2019

AS PRINCESINHAS, Ana Beatriz Soares Rocha


AS PRINCESINHAS, Ana Beatriz Soares Rocha, Infographics, 2013 40 páginas, Sem isbn

A autora tem apenas nove anos.

Estive no lançamento do livro, no Cantinho Cultural dos Correios, e achei a criança um tanto agastada com aquele povo todo a sua volta. Os pais (que são funcionários dos Correios) tentavam fazer a filha mais agradável. Afinal era a estrela; mas ela não estava, aparentemente, a fim do céu.

Independente do valor do livro (para crianças), muito bom, acho uma malvadeza o que os pais corujas fazem com suas crianças. Será que elas conseguirão lidar com o sucesso ou o estrelismo que até derrubam/confundem a cabeça de escritores maduros?

Acompanhei, recentemente, na Bienal do livro de Itabaiana, uma escritora mirim, filha de outro corujão mais empolgado ainda com a genialidade da cria. A menina parecia uma pequena manequim num desfile de modas do colégio.

Sinto algo estranho nesse mundo de talentos literários precoces em demasia.

Que a criança seja genial, que escreva bem, que surpreenda o mundo das letras. Que seu livro seja publicado e difundido. Mas que continue criança, não um cão peludo sendo levado a todo desfile transmitido pela televisão.

(Aracaju, 18 de janeiro de 2014, Antônio Saracura)
Recuperada em 31 de maio de 2019.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

ALÔ ARACAJU AQUELE ABRAÇO, Vieira Neto


ALÔ ARACAJU AQUELE ABRAÇO, Vieira Neto, J. Andrade, fl 130, sem isbn



Não tive ainda a honra de conhecer Vieira Neto, um dos grandes literatos de nossa terra. Ele possui rica bibliografia, gerada desde 1985, que inclui teatro, prosa e poesia. Com evidência para o teatro, onde é mestre, e para a poesia, de que já escutei elogios na imprensa; e li, gretando, seus livros expostos nas livrarias da cidade. Tenho comigo “Celeiro de Emoções” (não resisti e comprei), que mereceu rasgado elogio de Santo Souza um rasgado: “A produção deste poeta é, sob todos os aspectos, um tesouro de pérolas luminosas de espiritualidade, amor fraterno e, alguma vezes, eróticas também”.

O jornal “do Dia” publica semanalmente os contos  e crônicas de Vieira Neto que leio com prazer. Textos apimentados, de gostoso ardor. Agradam sem escandalizar.

Vieira Neto publicou m sua coluna no mesmo jornal (sem nunca ter falado comigo) uma avaliação de meus livros “Os Tabaréus do Sítio Saracura” e “Meninos que não queriam ser padres”, tendo-os recomendado como bons. Foram dois momentos de glória para mim, sempre poupado pela crítica, como os demais escritores dessa terra insensível.  

Caiu-me agora às mãos, emprestado por Euclides de Oliveira, o segundo livro de memórias de Vieira Neto “Alô Aracaju, aquele Abraço”, que trata de seu início de vida em Aracaju até quando resolve emigrar para o sul. Já que disse que este é o segundo, obrigo-me a dizer que o primeiro, também de memórias, chama-se “Um Garoto Estanciano” e trata exclusivamente de sua infância princesa do Piauitinga. Sei disso pela leitura de afogadilho (para o dono da livraria não me expulsar).

Este “Alô Aracaju” é de leitura fácil, seguindo mais ou menos um linha cronológica. Mas há idas e vidas, como a partir da página 107 ao se referir à sua deusa Luciana, da cidade ribeirinha de Propriá.

Revi a Aracaju saudosa dos bodegas em cada esquina, dos programas de auditório, dos bregas fuleiros e dos luxuosos Miramar e Chantecler. Também dos empreguinhos fajutos e dos chefes (que sempre há) que se achavam donos dos subordinados. Parecido demais com minha vida de garoto na selva,  que é a cidade grande para o tabaréu.  

Passei boas horas andando com o "perdido" Vieira Neto pela pecaminosa Aracaju...

 (Aracaju, 13 de julho de 2014 (recupera em 30 de maio 2019).
Nesse meio tempo, eu conheci Vieira Neto, até leve alguns livros dele para a III Bienal do livro de Itabaiana. Depois, o perdi de novo; ele deixou de escrever no jornal.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

ALGUM POEMA CONCISO, Marcelo Ribeiro


ALGUM POEMA CONCISO, Marcelo Ribeiro, Gráfica Editora Triunfo, 106p (2005),Sem isbn

Gosto de textos que dizem o que querem dizer com poucas e adequadas palavras. Não sou adepto das preliminares longas, dos desvios intermináveis, dos finais que nunca se acabam. Dão-me agonia as frases ou palavras pomposas apenas, como se fossem tiros de festim.

Marcelo Ribeiro nesse livro é sinônimo de economia. Desde o título. Não gasta verbo à toa. Todos no lugar certo e coerentes. 

Os versos têm sentido. Um exemplo de respeito ao leitor. Poemas bem elaborados e claros, dignos de um artesão brilhante; eu achei. 
Melodiosos. Sem enigmas nem advinhas a decifrar, que assim não é poesia no meu modo de pensar. Não esnoba e não parece querer impressionar a academia. 
Li Algum Poema Conciso sem protestar, repugnar (arrepugnar), sem brigar com o poeta. Há muito tempo que não lia um livro de poesias até o fim. 

Apenas boiei em EGG. Acho que por deficiência cultural minha. O autor não poderia desconfiar que um tabaréu bruto da Terra Vermelha leria um dia seus versos.

xxx

Valeu a pena pagar cinco reais no sebo pelo livrinho. Além de barato premiado.  Ganhou o segundo lugar do Prêmio Santo Souza, em 2004.

Aracaju, 20/02/2016, Antônio FJ Saracura. Em 04 de março de 2019 recuperei meu texto dos alfarrábios. Não achei o livrinho, o  que queria muito para mostrar um poema, pelo menos, nessa pequena resenha. Deve ter ido em alguma caixa de doação que sempre faço à escolas). 

ARMADILHA MORTAL, Roberto Arlt


ARMADILHA MORTAL, Roberto Arlt, L&PM Pocket, 98 páginas, isbn 978-85-254-0613-2



Sempre me liguei em filmes e livros policiais A série com um zanôio chamado Columbo (Peter Falk) preencheu minhas tardes monótonas quando ainda não pensava em escrever livros. Hercule Poirot e Miss Marple de Agatha Cristhie, Inspetor Maigret de Simenon, Sherlock Holmes e meu Caro Watson de Conan Doyle, Smiley de Jonh leCarré...

Em minha exígua biblioteca ainda resistem ao tempo e aos visitantes gatunos alguns exemplares, jóia raras, que mantenho como sinal de fidelidade e veneração.


Bem recentemente, mantive contato com Roberto Arlt, um argentino que viveu pouco, apenas 42 anos (eu já tenho 70) e morreu quando eu ainda nem era nascido (1942). O livro que me apresentou a Roberto é Armadilha Mortal, uma coletânea de contos policiais (ou criminais quase perfeitos) de dá um gosto de sangue na boca. Escrita leve sem esnobismo, quase uma reportagem. Prende, surpreende, fixa-se na memória de quem ler.

“A Pista dos Dentes de Ouro” narra um crime de vingança em que o criminoso cobre um dente com papel dourado: uma pista falsa. Quando desfaz o disfarce, um fiapo do papel ficou encravado e na gengiva causando-lhe desconforto a ponto de procurar um dentista. E o dentista torna-se cúmplice do crime. Não há detetives, e nem precisa. O crime foi uma vingança justa e o assassino e o dentista selam um pacto de silêncio.

 “Um Argentino entre os gângsters” é surpreendente apesar de o desenlace previsível, como se isso fosse possível. Afinal, para que serve o domínio da arte?

“A Vingança do Macaco” mostra o ladrão, senhor de si, em ação roubando um escritório à noite.  De repente, experimenta uma sensação desconfortável: alguém o observa. Trepado na escrivaninha, com o chapéu do ladrão na mão, um pequeno macaco o observa em silêncio. No chapéu estão as iniciais do ladrão gravadas em uma brincadeira. Um descuido bobo. Pronto! O conto muda o rumo. Agora não é um predador recolhendo jóias e dinheiro, mas a caça a um macaco esperto, matreiro.

“A Dupla Armadilha Mortal” termina com Estela escapando no para-quedas, que não abriu. E Ferrain cantando vitória por um instante apenas, pois a bolsa esquecida no avião, por Estela, era uma bomba, e explodiu. Conto logo o fim!

“O Mistério dos três Sobretudos” mostra que não é necessário nada espetacular para se construir um ótimo conto. Vale tudo para pegar o ladrão comprometedor que usa duas pernas postiças, uma honesta e outra nem tanto.

“O Enigma das três Cartas” tem um final sem sal e aqui e acolá frases sem nexo. Botei a culpa no tradutor. Um grão chocho de feijão no meio do bom cozinhado.   

“Um Crime quase Perfeito”...

É melhor você ler o livro. É quase perfeito. Se encontrar em alguma livraria ou sebo.

(Aracaju, 16 de janeiro de 2016, Antônio Saracura)

O SENHOR DOS ANÉIS (AS DUAS TORRES), J RR Tolkien,



O SENHOR DOS ANÉIS (AS DUAS TORRES), J RR Tolkien, Martins Fontes, 2011, ISBN 85-336-1516-1 para os três romances, total páginas 1210, este 357



A Comitiva (como saiu do Condado) dispersou-se nas complicações da estrada. O guia Gandalf caiu primeiro, deixando Aragorn, estradeiro veterano mas cheio de dúvidas, como substituto. O guerreiro Boromir, após tentar roubar o anel de Frodo, toca sua corneta em pânico. Os Orcs fecharam o cerco, atacaram o acampamento, já estavam à espreita. Quando Aragorn, Legolas e o anão Gimli acorreram, a corneta silenciara. Muitos Orcs jaziam mortos e Boromir estava varado de flechas, à morte: “Vá às Minas Tirith e salve meu povo!”

Os Orcs levaram os hobbits que conseguiram pegar: Merry e Peppin. Frodo sumira, resolveu cumprir a missão (destruir o anel número 1) sozinho. Samwise, o fiel escudeiro, fui junto;os dois meteram-se em um barco e desceram o Arduim em direção ao reino do mal.

E agora o romance segue quatro caminhos, incluindo Gandalf, morto mas nem tanto. Aragorn segue os passos dos Orcs e vive mil aventuras. Merry e Pippim conseguem escapar quando o pelotão de Orcs é destruído pelos guerreiros de Theoden. Os Entes da floresta os acolhem. Um novo caminho se abre na drama: a marcha dos Entes para atacar a primeira torre, onde mora Saruman (Isengard).

E Gandaf aparece. Eu bem que desconfiava!

Primeiro, de relance, como um velho de chapéu caído no lusco-fusco. Depois, apareceu como da vez anterior, e agora era Gandalf. Então contou parte de sua aventura desde que foi engolido no precipício em chamas, e garantiu que o velho anterior não fora ele. Pode? Que teria sido então: Saruman, o novo aliado de Saulon?

Achei que não havia guerra suficiente para a empreitada que Gandalf (passando por cima de Língua de Cobra, que me lembrou Gollum disfarçado) e obrigou o povo de Eldoras, e seu rei paradão, Theoden , a marchar desbandeirado para atacar Saruman. Mas havia. Passo ter pulado alguma página colada (que são duas) ou cochilando, peguei um desvio privativo inventado pela minha imaginação (estou com essa mania) que Tolkien nem desconfia qual seja.

Gandalf organiza a defesa dos cavaleiros de Rohan e a guerra recrudesce, derruba a primeira torre e deixa Saruman preso na cidadela Orthanc. Mas Saruman é apenas um lacaio tirado a gato mestre; um ponta de lança da imensa investida que Sauron encetava para conquistar o mundo para o mal.

xxx

Enquanto a guerra mata (muito mais orcs), Frodo e Samwise varam rios, pântanos e montanhas em busca de Mordor para cumprir a missão. Apenas na torre do Inonimado o anel poderá ser destruído.
 Gollun, o simpático perigo, silencioso e surpreendente acompanhou a Comitiva desde o Condado. Navegando pelo rio sobre um tronco, Deus sabe como. Misturou-se aos Elfos da floresta que moravam sobre árvores. Visitou sorrateiro o ninho dos hobbits. Fechava o cerco. Daqui a pouco atracaria, era o esperado, o óbvio.

Gollum sempre a quem seguir. E os hobbits, meio perdidos, percebem o nojentinho e o pegam. Será que Gollun não se deixou pegar?

Por que Gollum aceita guiá-los até Mordor?

O certo seria apossar-se do anel. Para isso, atrasar a viagem até surgir uma chance. Se Frodo queria tanto chegar até Mordor e leva o anel consigo, então vai entregar a alguém seu “Precioso.” Mas, na cabeça de Gollun, em última instância, há Ela. Se não der para recuperar o anel antes, tem a certeza de que Laracma o fará para ele.

Frodo dá pena: frágil, feminil, e ainda pega uma dose cavalar do veneno da aranha Laracna; Sam assume a missão de levar o anel até a Fenda da Perdição. Nem percebe que seu amigo e patrão apenas está sedado. Mas já é hora do terceiro volume da trilogia.

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A escrita de Tolkein é cheia de truques, como se fosse um seriado do cinema. Cada cena deixa um suspense (pequeno ou grande) para ser resolvido na seguinte ou para agregar mais suspense. Assim, o livro vai se desenvolvendo e comendo o sossego do leitor. Ágil, voraz. Até nas descrições de flora ou fauna existe um perigo correndo em paralelo, que intriga. O autor estabelece porta-vozes (pode ser uma águia, os capitães orc...) para esclarecer pontos obscuros, preparar o terreno para desenlaces, justificar ações aparentemente precipitadas. Em poucas linhas ele revela segredos que mil páginas não dariam conta de fazer.

Estou escrevendo essas linhas sem me aguentar pois gostaria mesmo era de me entrar até a raiz do cabelo em O Retorno do Rei, que é o último da trilogia e está me esperando de olho comprido.

(Antônio Saracura em 26 de maio de 2019)

O SENHOR DOS ANÉIS (A SOCIEDADE DO ANEL), JRR Tolkien


O SENHOR DOS ANÉIS (A SOCIEDADE DO ANEL), J RR Tolkien, Martins Fontes, 2011, ISBN 85-336-1516-1 para os três romances, total páginas 1210, este 426.




Eu precisava ler Tolkien, pela quantidade de livros vendidos (mais de 500 milhões), pelos filmes a que vi rapidamente na tv, especialmente pela palestra na Bienal de São Paulo em 2017, que me enfeitiçou. Esse motivo da Bienal eu conto no meu blog antoniosaracurasobrelivroslidos (para os mais curiosos).  

O exemplar do Senhor dos Anéis que adquiri  tem 1.210 páginas e engloba três romances (uma trilogia): A Sociedade do Anel, As duas Torres, e o Retorno do Rei. Os três contam a história da destruição do anel número um, que dá imensos poderes ao seu usuário: pode controlar todos os reis do mundo. A história começa em um livro anterior: Hobbit, que está resenhado aqui no blog. 



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A mesma longa e perigosa viagem feita em Hobbit por Bilbo Bolseiro e outros, é feita agora em A Sociedade de Anel, por Frodo Bolseiro, sobrinho do primeiro, e sua Comitiva. Até o roteiro geográfico é parecido: montanhas, pântanos, áreas desoladas, florestas com arvores vivas. Orcs, balrocs (novidade nesse), trolls, elfos, anões, hobbits, swangs, dragões... A viagem, que é o livro todo (tanto um como outro) é, nesse, bem mais tranquila.

Talvez eu tenha me acostumado com os perigos e aqui não me atribularam tanto como em Hobbit.

O ferimento de Frodo naquele cemitério desativado, que o deixou fora de combate, me pareceu meio irreal. Como se tivesse acontecido em um sonho. Apenas uma vez Frodo foi o alvo certo. Então foi um acaso, Sauron não sabia com certeza que Frodo portava o anel. Os Orcs, em Valfrenda, mal mostraram a cara e foram destroçados. Os da margem leste do Arduin, na chegada da grande cachoeira, apenas lançaram uma chuva de flechas inofensivas.

Até Gollun permaneceu tímido nas sombras, acompanhando a comitiva nem sei como conseguiu. Mais para não o esquecermos. Foi timidamente acusado de ter denunciado a Comitiva aos Orcs/Sauron. Como poderia? Se esteve o tempo seguindo a comitiva como um barco salva vida amarrado ao navio? Se saísse para avisar, perderia a pista e o seu “precioso”. Só se já houvesse celular!

Eu estava na maior expectativa quando a Comitiva entrou na Floresta Dourada. Viriam as aranhas, as árvores carnívoras? Mas apareceram Elfos bonzinhos que acolheram-na por mais de um mês no maior luxo.

De espetacular apenas, Gandalf sugado ao buraco flamejante de Moria, laçado pelo chicote de Balrock, essa sombra escura não bem definida. Causou suspense, emoção. O mago, meio demagogo (me pareceu)  sacrifica-se, manda a  Comitiva seguir em frente ficando para fechar a ponta do inferno (o fogo queimava todos os túneis). As cavernas de Moria ofereceram adrenalina com os Ulrucs negros de Mordor, com Orcs violentos, com trols. Como essa turma malvada (tão populosa) achou a Comitiva nos subterrâneas de Moria?

A morte do mago pode dar ao romance muito mais imprevisibilidade...

No mais, bons banquetes, barriga cheia, Destaque para os laços da amizade que ligam, especialmente, Samwise a Frodo, com momentos de grandiosidade. Diz Frodo, vencido, a Sam: “Não adianta tentar escapar de você, mas estou feliz, Sam. Não sei dizer como estou feliz.” Pela dor maior do anão Gimli, banalizando os perigos reais e sofrendo muito mais pela separação dos novos amigos achados no caminho: “o tormento no escuro era o perigo que eu temia, e esse perigo não me demoveu. Mas eu não teria vindo se soubesse do perigo da luz e da alegria. Agora, com essa despedida, sofri meu maior sofrimento, e não poderia haver pior nem mesmo que eu tivesse de ir nesta noite, diretamente ao encontro do Senhor do Escuro.”

A ganância de Boromir, bem disfarçada até quando não mais aguentou. O poder ofusca e cega. Em todo lugar. Em todos os níveis. Como resistir até ao prenúncio? A rainha Galadriel, que poderia ficar com o anel, teve forças para recusá-lo. E mostrou a Frodo do perigo que o poder eminente representa: “Os anéis concedem poderes de acordo com a capacidade de cada um que o possui. Antes que você pudesse usar esse poder, sentiria a necessidade de ficar mais forte, e treinar sua vontade em relação ao domínio dos outros. O poder é bom mas é incontrolável. Melhor nem pensar no anel.”

A Sociedade dos Anéis (primeiro da trilogia) é um livro de história singela que prende o leitor. Cada frase lida instiga à próxima, numa cativação que se transforma mais e mais em saborosa escravidão.

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Essa parada que fiz na leitura para escrever as anotações que você está lendo, antes de começar o segundo livro, estão-me deixando agoniado, ansioso para subir às Duras Torres de um fôlego só.
Agora, entendo, perfeitamente, que 1.220 páginas é muito pouco se a escrita é boa. Mesmo que trate de coisas comuns, arrebata o leitor. Por outro lado, uma única frase mal escrita é demais para qualquer leitor aguentar.

(Aracaju, 14 de abril de 2019, por Antônio FJ Saracura)



terça-feira, 28 de maio de 2019

MEMÓRIAS DE ARACAJU BODEGAS, Expedito Souza


MEMÓRIAS DE ARACAJU BODEGAS, Expedito Souza, Sercore, 2019, 205 páginas, isbn 9796580067121


Este é o terceiro livro de Expedito Souza que trata, em uma maneira singular, da Memória de Aracaju: Com fotos de duas épocas distintas: de agora e de 20, 30, 50 anos atrás. Fotos feitas pel
o autor. que vem, há meio século, registrando o dia a dia da cidade, especialmente, no que se refere a seus equipamentos e labores (imóveis e negócios).

Como a foto tem o poder de mil palavras, Expedito oferece aos atônitos aracajuanos, uma biblioteca imensa e de valor inestimável, com as Memórias de Aracaju.

O primeiro volume da série abrange parte do centro histórico (segmentos do quadrilátero de Pirro) e foi lançado em 2012; o segundo, arrolando sobras do primeiro e avançando sobre áreas da periferia próxima, um anos depois. Ambos fizeram, e ainda fazem (têm ganhado novas edições) grande sucesso.

Agora, após interregno no qual publicou boa prosa (Relógio do tempo, Tempo de almas e anjos e No tempo de cada um), Expedido lança o terceiro volume, este tratando, essencialmente, de Bodegas, o pequeno negócio (algumas vezes nem tão pequeno) de esquinas (e até meio de trecho) que movimentou a comércio de gêneros de consumo familiar até a chegada dos supermercados. E o novo livro vem mais rico do que os primeiros, pois inclui, além da história mágica que as fotos transmitem por si, depoimentos, considerações, lembranças, na forma de crônicas, contos, ensaios e reportagens.

O autor pesquisou o mundo bodegueiro que ainda resiste em alguns nichos. Conversou com aposentados esquecidos e com filhos ilustres, ou não, dos velhos bodegueiros de Aracaju. Virou pelo avesso e vasculhou sua prodigiosa memória, pois foi ajudante de balcão (bodegas de tios e do próprio pai) quando veio do Riachão ainda menino, nos idos de 1960: despachou lista de compras, entregou sacolas de mercadorias, controlou cadernetas de dívidas, foi em busca dos esquecidos lembrar-lhes da pendura vencida....

Os casos contados no livro têm autenticidade e transportam o leitor para a cidade de trinta anos atrás.
Hábitos, leras, chistes, dizeres...

Biriteiros, pinguços, gabolas, caloteiros, piadistas, namoradores, sovinas, ciumentos, apaixonados, ingênuos... Os mais pitorescos tipos folclóricos desfilam pelas páginas, enriquecendo mais ainda os casos recuperados: Cachaça só a dinheiro, menino com diarreia, queijo do reino a mais na caderneta, comedor de mariolas, bodegueiro corcunda, açúcar vai empedrar, ovo de ferro...Muitos desses casos ainda circulam na oralidade e são motivo de gargalhadas nas rodas saudosistas. Agora, gravados pela prosa e pela fotografia de Expedito, serão eternos (patrimônio de Aracaju), ninguém mais os esquecerá.

Expedito Souza habita, com honra e direito, a galeria dos grandes memorialistas sergipanos. É um dos principais. E tem lugar merecido nas mais ilustres academias literárias instaladas em nosso Estado, a começar pela centenária Sergipana de Letras, cujo brilho será bem maior com a sua presença.

Memórias de Aracaju Bodegas é um livro bem feito, ficou muito bonito. Capas sóbrias e cativantes. Miolo envelhecido que deu o clima perfeito às saudosas bodegas. Textos essenciais e inteligentes. Prosa escorreita e sempre bem humorada como deve ser a boa prosa. Tudo concorre para uma leitura prazerosa e útil.

Eu li e recomendo como se a obra fosse de minha autoria.

Por fim, preciso salientar um ponto importante para a nossa literatura órfã, sufocada nas gavetas dos autores e muitas vezes transformada em fogueiras nos quintais dos herdeiros. Talvez este livro nunca fosse publicado (como outros não foram) se mecenas, que ainda existem, não tivessem pago a edição. Prestem a atenção à marca no rodapé da contracapa: Fecomércio/SE Sesc Senac. Um aceno de esperança que nos alenta.

(Aracaju, 20 de maio de 2019, por Antônio Saracura).
 COMERCIAL
 Post scriptum:
O lançamento será no dia 31 corrente (maio 2019) no Hotel Sesc Atalaia a partir das 19:30 horas.  Eu vou! 
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