segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

A TAIEIRA DE SERGIPE: UMA DANÇA FOLCLÓRICA,Beatriz Góis Dantas

A TAIEIRA DE SERGIPE: UMA DANÇA FOLCLÓRICA,Beatriz Góis Dantas,editora UFS, 168p,2013,isbn 978-85-7822-319-9


A apresentação ao livro assusta,  mas aí vem o prefácio de José Calazans que acalma: Não é nada disso, pode avançar que o leão é manso. As sapecas “negrinhas pequenas” de José Calazans, me arrepiaram; a vista turvou-se, uma onda de emoção encheu meus olhos. Minha esposa flagra-me enxugando lágrimas, controlando o peito que arfa. Argueiros não colam... Dor no peito é desculpa esfarrapada.

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É  uma pena que folguedos de nosso povo estejam desaparecendo, alguns já se foram de vez. Sinal dos tempos. Não há mais espaço. Outras prioridades e facilidades se impõem a cada dia. A magia da internet e da televisão danificaram até o mágico cinema. Os livros caminham para o cemitério, por conta própria, em fila indiana.

A Taieira em Sergipe resiste por conta de uma pessoa, já muito velha, e que tenta passar a coroa e ninguém quer. E mesmo que alguém mais novo a receba, dificilmente vai encontrar herdeiro quando este precisar passar adiante.

Até cidades se acabam. Laranjeiras mesmo, onde mãe Bilina (Umbelina Araujo) mantem a Taieira ainda viva, já foi uma grande metrópole. Rica. Com 57 engenhos produzindo, possuía o vigor que nem os dias de festa de hoje em dia imitam.

Beatriz Dantas segue o fio da meada, mostra o geral e desce ao ponto. Escrita afável, termos de domínio publico, frases cadenciadas. Há uma melodia por detrás do texto, embalando a leitura. Para mostrar situações complicadas, que outros levariam dez páginas de conceitos intragáveis, Beatriz usa as próprias expressões fortes e definitivas do falar do povo: “Tomar uma coisinha” (página 34),  “não gostava  de estudos” (página 35), “hoje as moças têm vergonha de sair...” (página44), “Iaiá me deu mode seu doto” (página 53), “antigamente era dona desse negoço” (página 68), “fazer rainhas menos pobres” (página 79), “são Benedito pode castigar os responsáveis” (82), “realizar o corte do inhame” (página 83), “a paróquia não aprovou a dança de negra” (página 84), “tudo isso é louvor, tudo isso é louvar” (página 85)...

Fruí a Taieira viva de Laranjeiras, e as que já morreram em Lagarto e São Cristóvão. Benzi as divisas e fui à Alagoas, à Bahia  e ao Rio de Janeiro. Pedi a bênção ao vigário que sabia  o que era bom, Padre Filadelfo Jónathas de Oliveira, sessenta anos celebrando missa na matriz de Laranjeiras e abençoando os cultos  pagãos nos terreiros clandestinos. Um santo. 


E o livro surpreende. Até encanta.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

CAVALOS DO AMANHECER, Mario Arregui

CAVALOS DO AMANHECER, Mario Arregui, L&M Pocket, 144 páginas, 2003, isbn 978-85-254-1291-1





Há uma eterna contenda dentro de mim, eu comigo mesmo, buscando subir sempre um degrau a mais na melhoria da escrita, contra o outro acomodado, satisfeito antes da hora, achando que do jeito que está, dá para o gasto.

E também travo contendas com os escritores que leio. Não as busco. Nem gosto de disputa, de apostas. Desde pequeno que fujo das parelhas, do vamos ver quem chega primeiro. Quando me bato com um palavroso cheio de argumentos prefiro me calar, fazer de conta que presto atenção, e escapo pelas paralelas o mais rápido que consigo.

As contendas com os escritores que leio nascem espontâneas, logo nas primeiras linhas. Instalam-se silenciosas, com o natural estudo de adversários, a avaliação dos seus armamentos, a procura de uma rota de fuga para o caso de desvantagem. Menos vejo, já estou envolvido até o pescoço. Dependendo da emoção que me afete, parto para a via de fato, posso enveredar pela calorosa altercação verbal, com xingamentos, palavrões, elogios, vivas... Muitas lágrimas.


Minha esposa, que cuida de suas coisas em outro ambiente, sempre aparece, tentar socorrer o poeta desconexo, o escritor inverossímil ou o marido exacerbado.


Já abandonei livros pela metade, já rasguei outros, mas também mandei construir altares para alguns.
Recriminei-me por ter chegado até o fim de certos livros e chorei quando outros terminaram tão cedo.

A minha contenda desta semana foi com “Cavalos do Amanhecer”, de Mário Arregui. Autor desconhecido até que comprei, por três reais, no supermercado Bom Preço, o seu pequeno livro, um pocket da LPM. Na oportunidade, comprei outros títulos de autores diversos, escolhidos ao léu, mais porque estavam no queima e achei uma injustiça (aos autores, aos editores), nem a um preço irrisório, um cara pretensamente instruído fazer de conta que nem viu.

Fui avançando na leitura e na minha contenda. E fui perdendo para o autor, em cada frase, em cada passagem. Ou melhor, ele foi me dominando. Saí da arquibancada e entrei na arena dos leões. Eu não era mais o leitor surpreendido. Encantei-me, como os irmãos Correa em Os Contrabandistas. Misturei-me nas histórias, sem sua licença. Assumi, como se fosse minha, a construção da obra, já concluída. Bem que poderia ter sido eu! Por que não fui?

E como escapar desse fantástico desvario?

Noite de São João é uma aula de contear (existe?): “olhou o triângulo do sexo... tíbio e terno e estremecido como um pássaro”. Assim como os demais, melhores ainda. O Regresso de Ranulfo Gonzalez termina igualzinho ao O Preço do Santo, em Os Ferreiros, penso que sim. Em Os Contrabandistas, os irmãos Correa encarnam em seus espíritos a consciência de Rulfo Alves, nada tão triste e tão belo! Na página 43 há uma sequência sôfrega, que palavra nenhuma poderia dizer tão bem como as linhas em branco deixadas à propósito. Quis fazer assim em Os Ferreiros, mas meu revisor quase dá um troço. Três Homens: “o sargento ali ficou, cabisbaixo, como perdido em pensamentos difíceis”.
Cavalos do Amanhecer...
Eu não saberia terminá-lo de outra maneira.

Diego Alonso? Nunca daria meu pescoço para ser escanhoado pelo barbeiro! Lua de Outubro tem final espetacular, nada como cinco tiros implacáveis de um revólver. A Vassoura da Bruxa: “posso dizer que um velório sem defunto é uma das coisas mais estranhas que existem entre o céu e a terra”. E, finalmente, Os Ladrões: aprendizes recuam ao crime (à barbárie), espantados pelo pudor (um sentimento besta de meninas).

São histórias marcantes que jamais serão esquecidas, até pelo relapso leitor. Mesmo que o enredo fuja, as imagens persistirão indeléveis. Por mais avoado que o leitor seja, voará nas asas da escrita irretocável. Os pampas serão seus pagos também.

Respeitosamente, arriei minhas armas  de ataque aos pés de Arregui.

  

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

PORTO DA FOLHA FRAGMENTOS DA HISTÓRIA E ESBOÇOS BIBLIOGRÁFICOS, Manoel Alves de Souza


PORTO DA FOLHA FRAGMENTOS DA HISTÓRIA E ESBOÇOS BIBLIOGRÁFICOS, Manoel Alves de Souza, Edição do autor, 2009,413 páginas



O intelectual e historiador de escol, Pedrinho dos Santos (“A Proclamação da República na Missão de Japaratuba”, e muitos outros) que o diga. Esse Manoel Alves de Souza “não é um novato nas caminhadas da vida intelectual de Sergipe”.

E nem poderia ser, pelo que mostra a fotografia aposta na página 21 do seu livro, pelo curriculum festejado por Pedrinho, pela obra que está à venda nas livrarias da cidade. A obra transpira pesquisa, árduo trabalho, missão de vida, maturidade consciente. Eu senti isso! Denso, rico em informações, restabelece a memória de 71 personalidades do município sertanejo que se destacaram como militares, padres, donos de terras, professores, funcionários de alto nível. E ainda apresenta dados sobre a origem de Porto da Folha, e entra na segunda guerra mundial, com seus conterrâneos guerreiros. E muito mais.

Se em Porto da Folha até então eu só conhecia Antonio Carlos do Aracaju (que nem é citado no livro) e Pedro Alves de Souza, que foi seminarista comigo nos idos de 1960, tem tanta gente ilustre, o que não dizer de todo o Estado. Luiz Antonio Barreto está longe de concluir o seu trabalho (“Personalidades Sergipanas”).

Os buraqueiros tem muito é que comemorar a obra. E nós todos brasileiros, também!
Estes 71 ilustres poderiam ter sido comidos pelo cupim do esquecimento eterno. Como muitos de outras cidades com menos sorte. Mas estes estão agora eternizados, guardados numa fonte indelével e acessível (o livro) para que estudiosos busquem subsídios, escrevam desdobramentos da vida e obra de cada um, para a nossa história autêntica.

Ao lado de sobrenomes como Britto e Feitosa, outros muitos brilham (e brilharam) na vida econômica, cultural nascidos no sertão de Porto da Folha. Lendo o livro, eu conheci os heróis e as epopeias, pois o autor entranhou os fatos mais importantes por que passou cada um dos biografados. E neste ponto, o livro ganha ares de romance épico, quando fala da questão de terras, a fazenda Pilão tomada na tora pelo latifundiário Oliveira Rezende. A fazenda Araticum de Etelvino Tavares e a intervenção profícua de sinhozinho Bahia (177). As filhas do padre Gervásio e a sua teimosia em se manter padre (188). Padre Jugurta, que certamente seria bispo, como seus colegas de seminário (Mário Vilas-Boas, Avelar Brandão), se não encontrasse a bela Aristela. E o concílio Vaticano II (até nele) “dom Manoel” entra e se envolve como se fosse um cardeal. O batizado do cangaceiro Balão (199), os casamentos surpresa do padre Lima (200), o conluio entre coiteiros, cangaceiros e volantes. Padre João Lima, um ilustre buraqueiro, chegando a ser considerado prefeito (paralelo) de Frei Paulo, pelas obras que realizava (255).

Essa plêiade de buraqueiros humildes ingressou nas forças armadas, nos seminários, catados pelos franciscanos, pelos capuchinhos, pelos seculares, pelos salesianos nas várias Santas Missões. Depois foi puxando os irmãos mais novos, transformando-se todos em ilustres sergipanos, que agora nunca mais esqueceremos.

E lendo o livro eu fui reconhecendo alguns deles, como Edson Ulisses de Melo, que sempre vejo nas solenidades públicas a quem cumprimento de longe.

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Há dois outros livros sergipanos, “A História de Lagarto” de Adalberto Fonseca, e “Japaratuba da Origem ao Século XIX”, de Eduardo Cabral, que me causam similar satisfação como este “Porto da Folha”, do professor Manoel Alves. Estão além os três. Como se fossem, sei que não o são, obras definitivas, cabais. Elas ficarão à vista, em minha biblioteca, como santos de veneração.

O professor Pedrinho dos Santos, habitante do “Depósito Literário” da Biblioteca Epifânio Dórea (a caverna escura onde São João Apóstolo escreveu o Apocalipse), prossegue gastando latim no prefácio, útil latim. “O livro do professor Manoel Alves Souza escapa dessa visão tecnicista e inconsequente, enxerga palmos adiante e entende, sobretudo, que na história de sua gente se acha um pedaço da explicação da própria sociedade sergipana.”

Não se apoquentem, pois a escuridão aludida à caverna de são Pedrinho, é apenas virtual. Sete candeeiros de ouro alumiam de sabedoria a igreja encravada no concreto da biblioteca sergipana. Os fiéis saem pesados, prenhes, da boa e consiste informação.

Assim como os três livros e respectivos autores citados mais acima, há paróquias (igrejas e vigários) que, naturalmente, me incutem veneração idêntica: Este “Depósito Literário” do professor Pedrinho dos Santos, o apartamento-biblioteca de Jackson da Silva Lima e o Instituto Tobias Barreto de Luiz Antônio que não me sairá jamais da memória.  Para ficar no mesmo número mágico da Santíssima trindade. Já que falo de santos.







Sala de Leitura

Porto da Folha Fragmentos da História e Esboços Bibliográficos, Manoel Alves de Souza, Edição do autor, 2009 - O historiador de escol, Pedrinho dos Santos (“A Proclamação da República na Missão de Japaratuba”) que o diga. Manoel Alves de Souza “não é um novato nas caminhadas da vida intelectual de Sergipe”. E nem poderia ser, pelo que mostra a fotografia aposta na página 21 do seu livro, pelo curriculum festejado por Pedrinho, pela obra que está à venda nas livrarias da cidade. “Porto da Folha” transpira pesquisa, árduo trabalho, missão de vida, maturidade. Eu senti isso! Denso, rico em informações, restabelece a memória de 71 personalidades do município sertanejo que se destacaram como militares, padres, donos de terras, professores, funcionários de alto nível. E ainda apresenta dados sobre a origem de Porto da Folha, e também na segunda guerra mundial, com seus conterrâneos guerreiros. E muito mais. Leiam!
(Publicada na Perfil Ano 18 n. 1)


PROCURANDO O PEQUENO PRÍNCIPE, Carlos Gomes de Carvalho Leite

PROCURANDO O PEQUENO PRÍNCIPE, Carlos Gomes de Carvalho Leite, Infographics, 2013, 120 páginas, sem isbn.

  














Ao visitar o professor Carlos Leite para submeter trechos de meu livro que falava dele (Meninos que Não Queriam ser Padres) dei-lhe de presente “Os Tabaréus do Sítio Saracura”, que são memórias de meu tempo de menino nos rústicos sítios de Itabaiana. Uma semana depois, retornei para pegar o seu “ok” ou “nok” e o encontrei com um livrinho na mão, último exemplar (conforme me disse) guardado com desvelo para um amigo que demorou demais a aparecer e estava ali à sua frente.  Havia uma dedicatória desenhada com letra tremida. Ele me entregou cheio de emoção:

 

— É para você, meu filho!

 

E, com jeito cúmplice, acrescentou:

 

— Eu também publiquei um livro de memórias.

 

Procurei o pequeno príncipe pela Chapada dos Índios e pela Cepa Forte, andei com os Paiaiás pelas estradas de areia de Sergipe menino, conversei com Canário, filho da cega Luiza, confessei meus pecados ao Padre Aço (que nem me deu penitência). E sinhá Laura, meu Deus! Quanta resignação! Peguei o trem da Leste e varei o mundo. Gostei demais.

 

O velho professor (“uma mãe”, conforme digo lá no meu livro) acrescentou mais algumas crônicas ao acervo anteriormente publicado e está nos dando, agora, em segunda edição, um presente inestimável no seu aniversário de noventa anos (quando deveria receber). Um livro como esse não poderia morrer na primeira edição.Tem que permanecer disponível sempre, para ser lido pelos filhos da Chapada dos Índios (Cristinápolis) e da Cepa Forte (Jandaíra-BA) e por todos nós que nos atiçamos com reminiscências de nossa gente.

 

Depois da festa de aniversário em família e da missa de Ação de Graças na Igreja de Nossa Senhoria Menina, onde cada presente recebeu um exemplar, doutor Carlos mandou dezenas de exemplares aos párocos de Cristinápolis e Jandaíra, para que os paroquianos das duas cidades pudessem saborear também as histórias dos antepassados. 

 

Eu fiquei encarregado de levar exemplares às bibliotecas Clodomir Silva e Epifânio Dórea, ao Instituto Histórico Geográfico e à Academia Sergipana de Letras.

Talvez o autor ainda disponha de um ou dois, não dou certeza, caso você se interesse. (Publicada na revista “Perfil” ano 16, número 03)

 

(Aracaju, dezembro de 2012, por Antônio FJ Saracura)

 

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Nota:

A seguir, está a mensagem da família publicada nas Redes Sociais, em janeiro de 2023, comemorando (em 20 de fevereiro de 2023) cem anos de vida do escritor e advogado Carlos Gomes de Carvalho Leite, in memoriam.

 

 





 










ANO DO CENTENÁRIO DE CARLOS GOMES DE CARVALHO LEITE
20/02/1923
20/02/2023



Em 20 de fevereiro de 1923 nascia Carlos Gomes de Carvalho Leite, filho mais novo de Dr. Leonardo Gomes de Carvalho Leite e Dona Maria Delmira de Faria Leite.
Carlinhos como era chamado por seus irmãos nasceu e foi criado numa grande família, tão grande que já nascera tendo alguns sobrinhos e sobrinhas.
Como se dizia antigamente, foi a raspa do tacho, pois sua mãe já o teve com seus 44 anos de idade e seu pai às vésperas de completar 50 anos. Pois sim, o Dr. Leonardo Gomes de Carvalho Leite completa neste ano de 2023 os seu 150 anos, pois este nasceu aos idos dos anos de 1873.
Apesar de ser a raspa do tacho, teve uma vida mais duradoura que seus pais. Dona Marocas, como era conhecida sua mãe, morreu aos 60 anos e seu pai aos 80 anos, já o caçula da família chegou aos 94 anos, falecendo de em 2017.
Carlos Gomes de Carvalho Leite, Dr. Carlos para uns, Professor Carlos para outros ou simplesmente Carlinhos para muitos, foi uma criança feliz e essa felicidade está descrita em seu livro "Memórias de Infância", um adolescente responsável com suas obrigações e um homem digno, respeitoso e temente à Deus.
No pós guerra foi cursar direito na faculdade de direito em Maceió onde conheceu sua futura consorte.
Casou-se com D. Maria Luiza Lessa de Carvalho Leite com quem teve dois filhos, Luiz Leonardo Gomes de Carvalho Leite e Miguel Carlos Lessa de Carvalho Leite, convivendo com a esposa por quase 57 anos até o falecido desta em 2007.
Por onde passou foi respeitado e adorado por seus pares da justiça ou por seus alunos.
Depois de passar 10 anos longe de sua querida esposa na resistiu as saudades e atirou-se de volta aos braços da amada que o esperava saudosa na casa do Pai.
No momento de sua partida só lhe faltou o ar tão necessário para vida, uma simples parada cardiorrespiratória. Assim como Deus lhe deu Ele tirou.
De resto nada lhe faltou e nesse momento em que festejamos seu centenário, quero agradecer todo o carinho que os patentes lhe deram em vida, agradeço aos verdadeiros amigos, aos eternos alunos e por fim agradecer a alguns estranhos que cuidaram com dedicação e carinho nos seus últimos anos de vida, estranhos que marcaram sua passagem e que hoje consideramos parte da família.
Procurei não citar nomes para não ser ingrato com alguém.


Alguns comentários na Rede Social: 

Francisco Augusto Ramos (Morávamos nas mesmas pensões em Estância, quando ele era Promotor Público. A última foi a de Dona Iaiá Ralin. Devo-lhe favores que jamais terei com que pagar. Era meu conselheiro. Mas nem sempre seguia os seus nobres e leais ensinamentos).

Paulo Amado Oliveira (Grande homem! Bom e do bem).

Francisco Augusto Ramos (Paulo Amado Oliveira verdade. Tivemos sorte de convivermos com ele).

Paulo Fontes Fontes (Que bela estória! Os povos dignos e civilizados sempre reverenciaram os seus familiares e heróis. E mesmo aqueles simples cidadãos e cidadãs, de todas as épocas, merecem o nosso carinho e as nossas homenagens. Parabéns).

Ana Maria Medina (Grande homem, dotado de valores éticos e morais, muito caridoso, deixou saudades).

Francisco Augusto Ramos (Ana Maria Medina poucos procederam como foi o comportamento dele).

Francisco Augusto Ramos (Filho do Advogado que recebeu a carteira número 1 da OABSE, guardada hoje na Seccional como relíquia entregue pelo filho).

Ana Maria Medina (Concordo plenamente).

Antônio Saracura (Meu professor quando estudei no seminário e um dos personagens do romance que escrevi: "Meninos que não Queriam ser Padres". Grande amigo de todo seminarista e, especialmente, meu amigo da vida toda).

OS MAIS ADMIRADOS (revista), Araripe Coutinho

OS MAIS ADMIRADOS (revista), Araripe Coutinho, revista, 2012.


Trata-se de uma homenagem a personalidades daqui da terra e também do envolta. O destaque é para meu conterrâneo José Cunha, o mega construtor. Minha mãe conta que o pai dele, quando em menino na Matapoã, ia à tenda de meu avô Totonho Bernardino (nas Flechas). Era gordinho, e meu avô, apontando sua barriga, perguntava: “Ô Luiz, isso é barriga ou pança?” E ele defendia-se: “Ô Totonho, e isso aí é ferro ou ferrugem?”. Referia-se à barra que meu avô moldava na forja.
Há vários outros ilustres considerados na revista: Paulo Barreto, Zé Peixe, Joubert Uchoa, Excelsa Machado (esposa de Expedito Souza das Memórias de Aracaju), Hamilton Maciel (república de Pão de Açúcar), Jozailto Lima (Viagem na Argila, muito bom).

Depois desse número, não vi mais a revista circulando. Teria morrido como o autor (Araripe), que deixou um vazio na cidade?

(Publicada na edição perfil 16/03)




RASGANDO O VERBO, Lilian Rocha

RASGANDO O VERBO, Lilian Rocha,InfoGraphics,2010,páginas:90 il. 20cm, ibsn (não anotado)


Sempre escrevo mais sobre o autor do que sobre a obra. Ninguém espere uma crítica literária, à moda de Vieira Neto ou Ezequiel Monteiro (para citar apenas dois e daqui). Terão de mim apenas considerações sobre a literatura produzida e, algumas vezes, aspectos do livro que me marcaram para o bem ou para o mal. O meu intuito é atrair os leitores para os livros que valem a pena e afastá-los daqueles que podem matá-los. Matá-los se não fizerem como eu, abandoná-los.
Eu conheci a escritora Lilian Rocha, autora de “Rasgando o Verbo”, primeiramente, pela leitura de “O do Bilhete” (gostosas e inspiradas crônicas revelando a vida íntima do grande Colégio Arquidiocesano de Aracaju. Nem o Colégio nem nós jamais vamos conseguir pagar o bem que este livro nos fez). Depois, deliciei-me com “O Chá das Oito” (o bate papo com objetos que estão a nossa volta destilando ensinamentos que nunca mais se apagarão de minha mente). Na sequência, mergulhei em “Antes da Escuridão” (tateando pelas veredas dos nervos óticos e me embasbacando diante da panorâmica retina, engolfado no drama intenso da personagem em preservar abertas as janelas para esta natureza bela).
Pensam que acabou?
Prossegui conhecendo e me deliciando com a professora Lilian Rocha. Agora invertidos os papéis. Ela aceitou ler os manuscritos (?) de meu livro “Meninos que não queriam ser Padres” (no lugar do Reitor e a seu pedido) oportunidade em que me ensinou segredos da criação literária, e eu, atento e embriagado, tentava desesperadamente aprender.
Finalmente “Rasgando o Verbo”, irmão gêmeo de “A Conquista da Oração”, que também tive o prazer de conhecer,  (ambos da coleção “Língua Solta”), cai em minhas mãos. Revi meus “calos” de estudante jovem e assustado, quando não atinava por que os tempos e os modos verbais possuíam nomes tão esquisitos. Custava chamarem o “Indicativo”, de “Certezas”; o “Subjuntivo ou “Conjuntivo”, de “Dúvidas”; o “Pretérito”, de “Passado”? Também o “Gerúndio” (ação que está se realizando) e “Particípio” (ação já realizada), têm apelidos que assustam ainda mais o aluno assustado.
Os gramáticos vestem roupas de monstros em inofensivos espantalhos.
E Lilian Rocha tenta, através da dramatização armada na sua obra, amansar até os espantalhos. Enferrujado, precisei me apoiar numa listagem da conjugação do verbo “Amar”, trazida, no desespero, da Internet. Se não...
(publicada na Perfil nn/nn)


REFLEXÕES FILOSÓFICAS SOBRE A TOLERÂNCIA E A INTOLERÂNCIA,Cleiber Vieira,

REFLEXÕES FILOSÓFICAS SOBRE A TOLERÂNCIA E A INTOLERÂNCIA,Cleiber Vieira,InfoGraphics Gráfica e Editora,2011,128páginas,21cm,Isbn:  978-85-909511-1-7



Cleiber Vieira, economista de formação e profissão, parece-me  um prior  de  monastério, pelo seu tipo circunspeto e solene. Conheci-o há pouco tempo (algum mês de 2009), em um evento nos “Correios”,  quando eu divulgava meu livro “Os Tabaréus do Sítio Saracura”.  Ele estava lá e, de relance,  fez-me  lembrar também o diretor espiritual do seminário (padre Urso), personagem de outro livro que escrevi, “Meninos que não queriam ser Padres”.  

 Depois desse encontro ligeiro e difuso, vi-o mais duas ou três vezes, quando tentei entabular conversa, com meu jeito irreverente, e tive que recuar cuidadoso. Percebi que ele transitava por uma camada bem acima da que costumo arrastar minhas alpercatas rotas. Eu teria que descobrir o atalho certo à  seus sítios protegidos.

Só bem recentemente, depois de sua posse na presidência da Associação Sergipana de Imprensa é que, finalmente, consegui (acho) alcançar a sua nuvem e sentar-me na beiradinha, ainda um tanto  relutante e  com medo de escorregar.  

Este seu novo livro “Reflexões Filosóficas sobre a Tolerância e a Intolerância” (já publicou anteriormente dois outros, “O Peregrino da Fé” e “A Crise Existencial do Morgado”) atesta parte de meu julgamento apressado. Cleiber Vieira transpira filosofia e a sua obra  busca nos alertar dos perigos na vida, tecendo considerações sobre as dúvidas, as posturas,  os  tropeços que afetam o nosso dia a dia. Muito mais isso do que nos ensinar a aplicar os tostões adequadamente para que não  virem pó, como faria um economista, que o sou também.

Confesso que me assustei (talvez não tenha captado o real sentido, o que não é de admirar!) com algumas colocações, como a da  página   81, que diz que “até mesmo o adúltero  é um viciado, um violento, um intolerante”.  Ora! Adúltero (salvo melhor juízo) é  o homem ou a  mulher que comete infidelidade conjugal (adultério), que é uma  prática  antiga e cada vez mais comum, difundida  em novelas inocentes da televisão. Até incentivada! E os adjetivos “viciado, violento, intolerante” cheiraram-me aos sermões dos frades capuchinos nas santas missões no Pé do Veado, de minha velha Itabaiana de moleque acanhado.

Mas garanto que os sustos foram irrelevantes diante das lições ensinadas por esse  filósofo sergipano, Cleiber Vieira,  em sua aula magna ,  “Reflexões Filosóficas Sobre a Tolerância e a Intolerância”. 

Uma honra desfrutá-la, com todo o respeito.

(publicada na Perfil 14/08)



terça-feira, 24 de novembro de 2015

NÚMERO ZERO, Umberto Eco

NÚMERO ZERO, Umberto Eco, Record, 2015, 207 páginas, isbn 978-85-01-10467-0



Tive a impressão de ter, finalmente, entendido o motivo da bronca de Umberto Eco em Dan Brown, quando foi publicado, dois anos atrás, “O Inferno”. Não sei onde guardei o recorte do jornal ou o endereço do site (se é que li mesmo). Pareceram-me resquícios, rebarbas de uma briga velha, vinda de livros anteriores, desde “O Código da Vinci” e “O Pêndulo Foucault” e, agora, continuada. Umberto dizia que Dan teria sido “irresponsável” ao apresentar no seu romance uma sociedade secreta poderosa (Consórcio) ramificada em vários países. Dan não podia, não tinha dados, a não ser que tivesse espionado os originais de Eco, ainda em elaboração. Ou fosse adivinhão, como diriam no meu povoado de Itabaiana. Ou uma improvável coincidência, dois raios caindo no mesmo lugar ao mesmo tempo.

É desalentador ao escritor (Eco) ver seu grande segredo (trunfo) furado por outro (Dan) assim sem mais nem menos. Teria, agora, que apresentar sua Stay-behind (Gládio) como matéria requentada, ou rasgar seu romance. Optou pela primeira hipótese.

Acabo de ler “Número Zero”, como li “O Inferno”.  Há uma linha de coincidências em ambos por conta, obviamente, do poder onipresente e até certo ponto absoluto do Consórcio e da Gládio. O livro de Eco, lido depois, pareceu parcialmente inspirado no de Dan. Que injustiça para o professor de Alexandria!

“Número Zero” é um livro curto, mas denso. Cada frase é um link para a cultura acumulada pelo romancista de “O Nome da Rosa”, “Baudolino” e muitos outros. Cito dois exemplos, apenas para ilustrar: “Na universidade as coisas andam ao contrário do mundo normal, não são os filhos que odeiam os pais, mas os pais que odeiam os filhos (que progridem).” “Quem quiser vencer deverá saber uma única coisa e não perder tempo sabendo todas, o prazer da erudição é reservado aos perdedores.”

Eco analisa amiúde as malandragens da imprensa. O jornal não foi feito para divulgar, mas para encobrir notícias. Quando for de seu interesse. Sem omitir o fato crítico, cria cortinas de fumaça para menosprezá-lo: uma manchete que prenda a atenção, futilidades em volta, plantações de inutilidades. E não é isso que acontece no facebook, nas redes sociais?

Quando o administrador se depara com uma postagem que o agride, dispara dez postagens tapias, empurrando a agressora ao fundo do fosso, fora da vista. E se ameaça cresce, há as armas de defesa a serem ensarilhadas, entre aos quais, os dossiês. Concordo (quem não concorda?) que um dossiê assusta até pela suspeita de que ele existe. A palavra tem força própria, basta-se para apavorar a quem deve. E há quem melhor assuma o perfil de construtor dessa bomba relógio, senão o jornal, senão a imprensa?

Nem um grande romancista, como Eco, escapa ao ingrediente fatal para o sucesso de um livro: a sedução, a alcova tórrida. Maia cai no papo de Collona: casa de campo, a alcova de praxe, o tempero bem-vindo à árida leitura. E mesmo que não fosse tão árida assim!

E dentro do romance nasce, cria-se e toma conta do romance original, outro romance, desta vez histórico ou aparentado. Os últimos dias de Mussolini, no final da guerra e quarenta anos depois dela. Bragadócio, o jornalista investigativo, morre esfaqueado. O Stay-behind ou o Gládio (se é que não sejam a mesma sociedade secreta) ressurge das cinzas e age como agiu o Consórcio em Dan Brown, sem medo de punir.

Eu pouco sabia sobre Mussolini. Ocupei-me, em toda a vida, com Hitler e as atrocidades alemãs. Perdi muito, todos perdemos. Pelo menos foi a impressão que retive após a leitura de “Número Zero”.
Mussolini tinha seu valor e não poderia jamais ser relegado ao esquecimento.

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Aqui eu posso falar sobre o que quiser e não preciso, depois, me esconder em um local incógnito, pois “Sobre Livros Lidos” é um ótimo esconderijo.
Quem lê as resenhas que construo? Quem lê os livros que indico? Talvez nem os autores resenhados. “Olhando certos livros, parece que nem os autores os leram.”
Se não leem os livros (sejam autores ou não) quanto mais as resenhas sobre eles.

(por Antônio Saracura, 25 de novembro de 2015)

De “Antônio Saracura sobre livros lidos” para a Revista: Enforcadense de Literatura (Janeiro de 2020)







  
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             


sábado, 21 de novembro de 2015

RIACHUELO PASSADO DE RIQUEZAS, Antônio Martins Bezerra

RIACHUELO PASSADO DE RIQUEZAS, Antônio Martins Bezerra, textopronto, 2012, 432p isbn (sem)  



Aproveitem a rara oportunidade e conheçam o livro e o autor. Duas surpresas espetaculares. Sobre o livro, está no mesmo panteão de Japaratuba (de Eduardo Cabral), História de Lagarto (de Adalberto Fonseca) e Porto da Folha (de Manoel Alves).  Dos bons que tratam de nossos municípios. Riachuelo mostra-se inteiro: os engenhos de açúcar, os jogadores de futebol, os políticos, os intelectuais (tirem o chapéu para Santo Souza), os médicos, os empresários, os vigários, etc. etc. Com sucintos e bons textos e fotografias raras. O acerco fotográfico é espetacular. Tiramos o chapéu para Santo Souza duas linhas atrás e aqui reverenciamos outros filhos ilustres de Riachuelo: Augusto Cezar Leite, João Pires Winne, João Sapateiro, Silvio Cezar Leite, Clara Leite Rezende, Manoel Pascoal Nabuco D’Ávila e muitos outros.

Antônio Martins é teólogo, formado pelo Seminário Teológico do Norte do Brasil. Tem desempenhado sua missão de pastor de almas em cidades de Sergipe e Alagoas. Formou-se em Pedagogia e atualmente, além de pastor da Terceira Igreja Batista de Aracaju, é professor do colégio Barão de Mauá.  Um pesquisador e historiador admirável.
Lamentável:
As folhas do livro estão se soltando, talvez a cola foi inadequada para o papel usado off set 75 gramas ou para as 432 páginas.

Sala de leitura -Passado de Riquezas” (Textopronto), 2012, de Antônio Martins Bezerra. Aproveitem a rara oportunidade e conheçam o livro e o autor. Duas surpresas espetaculares. Sobre o livro, está no mesmo panteão de Japaratuba (de Eduardo Cabral), História de Lagarto (de Adalberto Fonseca) e Porto da Folha (de Manoel Alves).  Riachuelo mostra-se inteiro: os engenhos de açúcar, os jogadores de futebol, os políticos, os intelectuais (tirem o chapéu para Santo Souza), os médicos, os empresários, os vigários,  etc. etc. Cada um pela escrita responsável  de Antônio Martins e pela rica iconografia que conseguiu disponibilizar. Gostei.

(Publicada na revista Perfil  ano 16 número 03, um resumo)


SELETA DO PRIMEIRO ENCONTRO SERGIPANO DE ESCRITORES

SELETA DO PRIMEIRO ENCONTRO SERGIPANO DE ESCRITORES, Antônio FJ Saracura e outros,  Infographics, 2013,  186p, isbn 878-85-67215-00-6



Quando for ler o livro “Seleta do Primeiro Encontro Sergipano de Escritores”,  sugiro começar por  um dos textos: a crônica chamada “A Justiça Tem Endereço”, escrita pelo imortal da Academia de Letras de Tobias Barreto,  Antônio Virman, na página 182, ou o poema  “Eterna Esperança”, da poetisa Martha Hora, na página  146. O primeiro é dedicado a Tobias, que deve ter se mexido no túmulo gratificado.  O segundo, a poesia, tem a trama de um romance e a alma de um musical. Poesia serve mesmo a revelar  misteriosos mundos e  Martha  Hora faz isso com maestria.

Mas há outros excelentes textos no livro, não vou dar conta de citar aqui. O espaço que tenho é limitado e nem esticando daria.  Os cinquenta (quase isso) autores sintam-se citados (como escuto falarem alguns palestrantes nas preliminares do discurso), um a um, nas pessoas de Virman e Martha. Eu também estou na Seleta, tentando arrumar um patrocínio para publicar o meu primeiro livro, o que não consigo. Pense que dificuldade! Não pule, viu!

Esta “Seleta “ foi um projeto da  Editora Infograhics  (tenho feito resenhas de livros publicados apenas por esse selo;  e não consigo me desgrudar)  e conta com a magia de Domingos Pascoal de Melo, o grande ativista cultural dessa província acanhada, fez (e faz) acontecer. Que frase carregada! Não cabe mais nada nela. Mas em Pascoal sempre cabe uma nova missão, que dá conta, nem sei como.

Cada autor colaborou, voluntariamente, com um artigo, a seu gosto e critério.  Foram impressos mil exemplares e  doados  à duas instituições de caridade: o Lar Cidade de Deus, de Itabaiana,  e o GACC – Grupo de Apoio à Criança com Câncer, de Aracaju. O lançamento aconteceu na II Bienal do Livro, em Itabaiana, em 2013.  Um lançamento, dos mais de cem acontecidos no evento, que precisa ser imitado por outras cidades.

O leitor, que se interessar pelo livro, pode comprá-lo  diretamente ao Gacc  ou ao Lar Cidade de Deus.
E aproveite para conhecer o trabalho dessas nobres instituições. Vale a pena  esforço para obter o livro e será bem recebida uma ajuda à carente caixa das duas instituições beneficentes.

Nota final (muito importante)

A Infographics está dando um incentivo aos escritores sergipanos: Quem publicar um livro lá (desde a II Bienal do Livro de Itabaiana até o III Encontro Sergipano de Escritores em outubro/2014) concorrerá ao prêmio espetacular:  a impressão, à custo zero, de um novo livro, no mesmo tamanho e com a mesma quantidade de exemplares.

Percebeu alcance?

(publicada na revista Perfil ano 17 número 3)

SUSSURROS DO MAÇACARÁ, Carlos Conceição

SUSSURROS DO MAÇACARÁ, Carlos Conceição, 2002, 128p, J. Andrade, sem isbn




Recebi um telefonema de um desconhecido que queria falar-me sobre um livro de minha autoria que lhe caíra nas mãos. Tinha algumas restrições ao meu texto. O encontro teria que ser em sua casa, no Siqueira Campos. Deu-me o endereço. Como eu estava curioso, marquei um horário (pela manhã) e fui lá.

Encontrei um senhor alquebrado, de muita idade, sentado na pequena varanda da casa, tendo ao lado numa cadeira de plástico, vazia, com uma pequena rachadura na base. Esperava-me. Empurrei o portão apenas encostado e entrei, apertei sua mão. Sentei-me na cadeira, mas tive o cuidado de manter um pé escorando o meu peso, para o caso de querer-se partir. 

Fiquei uma manhã inteira conversando com o velho jornalista Carlito Conceição (este é o nome do santo). Alertou-me dos deslizes, e contou-me uma grande aventura, sua vida. A origem humílima, seu amor impossível, a inolvidável Maçacará. Falou da Curuba de menino, da cidade do Carmo (Carmópolis) que o viu nascer. Vi-me um tupinambá moleque, caçando passarinho, pegando preá, fazendo estrepolias... Sentado, paciente, de boca aberta, estupefato muitas vezes. Horas, eu enxugava as lágrimas, provocadas pela emoção que não conseguia conter. Horas, ele recitava versos de extrema beleza, e eu pairava no ar como um beija flor. O poeta lia trechos de seu livro, que segurava junto ao meu em uma das mãos, encenando a epopéia de um sergipano dono apenas de uma vontade inquebrantável de vencer e de uma disposição férrea em ser correto. A mão livre revolteava no ar, gesticulando golpes, traçando contornos, concretizando ilusões e sonhos.

Voltei à casa com seu livro, “Sussurros do Maçacará” e feliz por ter conhecido uma alma rara, agora com 94 anos, morando sozinho, cuidando se si próprio, jornalista aposentado, poeta dos bons, diretor da ASI-Sergipe. Imortal pela Academia Arapiraquense de Letras, que soube reconhecer o seu valor. Uma lucidez de espantar! Uma lógica inquebrantável.

“Força do acaso, numa tarde amena
Logo ao chegar, na esquina da Avenida,
O destino – maldoso e frio –
Rindo dos destroços de minha vida
Atirou-me o desafio (você)”.

Poderia estar aí neste desafio, a redenção de um morador de rua, sem teto e baixa autoestima. Ao contrário, a vida inteira os dois sofreram de amor. A querida Flora do acróstico já se foi, vitimada pela solidão sem remédio, e o teimoso vate persiste cantando seu amor impossível, agora mais ainda. 

Seus poemas nascem no chão a seus pés, ganham o céu celebrando o amor que vasa de seu coração. Suas crônicas, publicadas na imprensa por anos a fio, revelam um mar encapelado, arrepiando o marasmo estabelecido. Seus contos descrevem as encruzilhadas de uma vida maltratada, que ainda parece continuar sendo, depois de tantos anos de guerra intensa.

 (Texto escrito em dez/2010)


Nota 01:

Um dia, logo depois, Carlito convidou-me para ir à Arapiraca com ele, era seu aniversário ou algo parecido. Fui e assisti uma sessão da academia de letras onde conheci alguns imortais, colegas do poeta, com os quais ainda mantenho vínculos literários.

Nota 02:

Nunca mais me encontrei com o poeta, mudou-se para outro bairro, foi morar com um filho, precisava de cuidados especiais. Soube que publicou um novo livro de poemas, que eu gostaria muito de ler.

Nota 03:

Hoje, 26 de setembro de 2016, recebi um telefonema do jornalista Clarêncio Martins Fontes dando conta de que o poeta Carlito Conceição havia falecido. Estava em um velatório da capital e o sepultamento se daria na cidade de Carmópolis, onde nascera e da qual gostava tanto.  
Saí correndo, levar meu adeus ao grande jornalista e poeta.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

TARDES DE DOMINGO, Telma Costa

TARDES DE DOMINGO, Telma Costa,2006,39p, sem isbn.



Li o livrinho  em menos de uma hora.  Jeitinho cativante de contar uma história, colocando confetinhos (tic-tacs) aqui e ali para ficar mais saborosa a merendinha
.
A novela clássica  de um amor juvenil, com os ingredientes necessários (rejeição, dúvidas, traição, sofrimento, abdicação, final feliz...), um  enredo óbvio, mas que prende o  leitor e o deixa gratificado.  O livro foi-me “vendido” como juvenil e, talvez por isso, achei-o um tanto avançado: pelos beijos de língua (cheira a sacanagem) e pela consumação carnal, temporã demais. Se estamos preparando assim as nossas garotinhas (assim tão disponíveis e tão dadas)  vou ter que ficar mais atendo à minha neta, que mostra os primeiros sinais e puberdade. Adiantará?    

UM AMIGO DE KAFKA, Isaac Bashevis Singer

UM AMIGO DE KAFKA, Isaac Bashevis Singer,LPM Pocket,320P,18cm,2008,ISBN – 978-85-254-1400-7



O que aparecer nas livrarias de Isaac Singer eu compro e leio. E ainda empresto às pessoas que eu sei que gostam do que é bom. Sinto-me em casa lendo contos, as memórias deste escritor judeu polonês.

 Nasci no lado de cá do mundo, no interior de Sergipe, em Itabaiana, numa família católica, dessas que nem sabem de que povo descende. Por que então essa empatia? Dizem que os itabaianenses provêm de judeus, devido talvez ao fino tino comercial que possuem, mas a história não confirmou ainda.  

E que importância teria isso ao meu gosto pelos textos de Singer? Gosto do que ele escreve independentemente de qualquer vínculo com o sangue improvável, apenas por que me embevece.

Neste livro (Um amigo de Kafka), como nos demais que já li, o foco é o mesmo: os judeus poloneses e suas desventuras e aventuras. São histórias domésticas, muitas vezes sem nada de espetacular, mas que prendem e encantam. Ele, como eu, tratamos de pessoas simples e anônimas que viveram sem brio aparente nenhum. Ele explora a desilusão da vida ingrata, inútil, e eu, a ilusão de um futuro promissor, incerto. Ele encanta e eu tento, desesperadamente, fazer o mesmo.

Eu já havia publicado meus dois primeiros livros “Os Tabaréus do Sítio Saracura” e “Meninos que não Queriam ser Padres” quando conheci a obra de Isaac Singer. Digo isso porque tento me preservar de um plágio. E explico por quê. Em Singer (no conto Os Pombos, deste livro) acontece uma revoada de pombos que acompanha o féretro de professor Vladislav, em Varsóvia, semelhante a revoada das abelhas que pairou sobre a casa onde meu avô Totonho Bernardino, no sítio dos Ferreiros, nas Flechas de Itabaiana. As abelhas pairaram voando e zoando e, depois, acompanharam, por um bom trecho, o cortejo fúnebre que seguia ao cemitério de Santo Antônio e Almas de Itabaiana. Está descrito em “Os Tabaréus do Sítio Saracura” (a rapariga e a morte questionada).  Eu sei que falei de minhas abelhas bem antes (2008) de ter lido o conto de Isaac Singer (2011), independente de quem primeiro acompanhou enterro, se as abelhas das Flechas de Itabaiana ou pombos de Varsóvia. Meu avô faleceu em 1964 e Singer não diz a data do falecimento de Vladislav, mas o livro de Isaac Singer foi publicado em 1970, daí preocupar-me e de antemão arremedar uma defesa.

Alguns contos do “Um amigo Kafka”, além de Os Pombos, são espetaculares, e não posso me omitir em nomeá-los aqui: Visitantes de uma noite de inverno (eu ouvia o pavio chupar o querosene); A Chave, O Conselheiro, Schloimele, A Colônia, O Filho... todos valem muito a pena serem lidos.

Isaac Singer ganhou o prêmio Nobel de Literatura em 1978.

Você já leu “Amor e Exílio” ou “47 contos”?


 Se “Um amigo de Kafka” ou qualquer outro livro de Isaac Singer cair em suas mãos, não deixe escapar. Mas estique o braço e pegue também “Os Tabaréus do Sítio Saracura”, de um judeu ceboleiro controverso, que está ao lado, na estante de Livros Sergipanos, da Escariz Riomar, Jardins ou Jorge Amado.