TROPEIRISMO NOSSO, Antônio
Gonçalo de Souza, 300p, Expressão gráfica editora, 2016 isbn (sem).

Junto comigo, no stand, estavam
autores ligados à casa Juvenal, alguns sentados comodamente e poucos minerando.
Escritores dos quatro cantos do Ceará com livros brilhando tentadores nos
mostruários ao longo das paredes, aguardando leitores.
Fiquei na feira nos dias 20, 21,
22 e 23 de abril de 2017, caído de um caminhão de mudança, igual àquele gato do
adágio popular. Acho que foi no 20 de abril, ainda não chegara o feriado de
Tiradentes que lotou a Bienal e mais livros que eu tivesse, venderia! Então, na
tarde do dia 20, uma quarta-feira modorrenta, pouca gente circulando, os
escritores sentados em volta da mesa de autógrafo, batendo papo à toa. Eu me sentia
um estrangeiro ali, pisando em ovos.
Para me entrosar, correndo riscos,
acheguei-me à mesa, temperei a garganta para chamar a atenção, e propus que trocássemos
nossos livros uns com os outros. Eu não vislumbrava possibilidade de vender mesmo
naquela feira morta da quarta. Alguns dos escritores, que deveriam ser
ilustres, membros de academias, sequer haviam me percebido intrujado na área deles.
Todos me olharam. Antônio Gonçalo, que eu ainda não percebera no meio, levantou
a mão e começou a autografar “Tropeirismo Nosso”.
O livro de Antônio Gonçalo era
massudo e me interessava, eu já o namorara no mostruário. Meus ancestrais foram
tropeiros aqui em Sergipe: Bernardino Ferreiro transportando barras de ferro de Maroim para
as forjas de Itabaiana e Zé Saracura pai levando cereais para os saveiros do Rogue
Mendes, nos portos fluviais de Japaratuba.
Assim como Antônio Gonçalo, outros
escritores aceitaram o desafio: Rejane Costa Barros (Água do Tempo), Neuzemar
Moraes (Portugal e o Brasil nos Oceanos da História), Ana Maria Nascimento
(Nuances do Caminho), Tibúrcio Bezerra (Obrigado Cantador), Nice Arruda (Quase
tudo de mim...).
Essa permuta foi boa, tenho recebido comentários pelo wsap e-mails. Estou sendo lido pelos
escritores do Ceará! Pelo menos, os que encontrei na Casa Juvenal Galeno.

A saga de tropeiros lendários do
Ceará, que fizeram história e uniram mais o País inclusive nas conversas às
sombras da árvores do sopé da serra do Quincuncá ou em outro qualquer lugar. Desde
São Paulo (Casa de Fundição de Taubaté, a Oficina Real dos Quintos), Minas
Gerais, Bahia e o nordeste inteiro, transportando ouro bruto das minas, lingotes,
dinheiro para saldar débitos, mercadorias, especiarias, carne seca, farinha,
cultura, esperança...
Várzea Alegre ficou em minha alma
como uma cidade especial.
A maioria das pessoas com quem
mantive contato na Bienal possuía vínculos fortes com ela. Escritores ou
simples visitantes na feira literária. E eu nunca ouvira falar de Várzea
Alegre. O sítio Sanharol, lugar mítico, povoado de heróis, desbravadores, um
reino dentro do império da Várzea Verde vestiu-se de Sítio Saracura da Terra
Vermelha de Itabaiana. Na casa Juvenal Galeno, pelo menos, Várzea Alegre e Sanharol
tomaram conta do Ceará inteiro como se não houvesse mais nada, nem Fortaleza. A
imagem que construí pode nem ser a sombra do sítio real, mas é a que quero
preservar, como se fosse uma passárgada ou um são saruê.
Não sei não!
Será mesmo verdade que a designação
romeiro vem do nome Romão de Padre Cícero. Sempre imaginei que viesse de
romaria, viagem à Roma, lugar santo dos cristãos. Pura coincidência que Cícero tenha Romão como
sobrenome? Outra... Aqui em Sergipe, pelo menos nas pubas que preparávamos no sítio
Saracura de minha infância, com as quais fazíamos os bolos e os pés de moleques de
sabor incomparáveis, ninguém extraía goma nenhuma (páginas 182 e 183).
Nota final: Passei o livro "Tropeirismo Nosso" para o escritor Pedro Meneses, tropeiro, descendente de tropeiros e estudioso do assunto. A obra comporá o acervo do Museu Dona Maria, no Recanto da Serra, em Tobias Barreto.
Nota final: Passei o livro "Tropeirismo Nosso" para o escritor Pedro Meneses, tropeiro, descendente de tropeiros e estudioso do assunto. A obra comporá o acervo do Museu Dona Maria, no Recanto da Serra, em Tobias Barreto.