sábado, 7 de dezembro de 2019

CABEÇAS DO VENTO, Emanuel Neri


CABEÇAS DO VENTO, Emanuel Neri,2013,168 pag, Conteúdo Editorial, Isbn 978-85-61001-13-1

Numa dessas tardezinhas, quando desço de meu conforto e vou à libraria Escariz Jardins divulgar a literatura da nossa terra, encontrei Gilson Neri, que comprou meu livro “Os Tabaréus do Sítio Saracura”. Um mês ou dois depois, ele me apareceu na mesma livraria reclamando de que eu não dou atenção aos leitores, pois não respondo e-mails que me enviam. Fiquei atônito, pois é o que faço e religiosamente: dar retorno a leitores. Os emails chegam tão poucos e me fazem tanto bem que não teria sentido eu não os responder.
Fui compulsar a caixa de “enviados” do celular de Gilson e identificamos a causa, havia um “r” a mais em algum lugar no endereço do destinatário.
Dois dias depois, Gilson deixou na portaria de meu prédio, o livro (prometido no email), “CABEÇAS DO VENTO”, de autoria de seu irmão, Emanuel Nery.
Nem ia ler logo, estava no meio de outro e sem um pé de largá-lo, mas comecei e só parei na última linha. É um livro magro, 163 páginas, incluindo um álbum de fotos e uma sessão de depoimentos dos filhos de seu Nilo e dona Isabel (um esquadrão de quinze).
Bem escrito, revelando São Miguel do Gostoso (nascida de Touros), no Rio Grande do Norte, na esquina do mapa brasileiro, o ponto de convergência de várias ventanias que, em busca de novo rumo, estiram e alisam carapinhas, de que só ouvira falar uma vez, em uma viagem ao exterior. Duas moças de lá não se cansavam de louvar a terra Natal. Até prometi visitar, mas, agora, nem me lembrava mais da promessa.
“Cabecas do Vento” é uma história de família, com as dificuldades e a luta braba que forjam um povo digno. As rusgas do casal. O pouco carinho da mãe severa. Pai rigoroso e zangado mas com momentos de afagos. A palmatória das professoras, as cipoadas de Isabel, os sermões de seu Nilo, a reza do terço inacabável, a vigilância crítica do exército de irmãos. Também a guerra surda da mãe, com seu gênio estudado, manhoso... Como uma mulher possui armas poderosas e estratégias vencedoras: o silêncio prolongado, tesando até o limite da tolerância, inchando por dentro e desarmando o general prepotente.
Até na abastança (o casal possuía fazendas e casa de comércio, forte ligação com o mundo político) vive-se fases de penúria, que também ajudam a temperar o ferro que não quebra.
Quando Nilo faleceu, Isabel submissa até então, revelou-se uma máquina empreendedora. Abriu horizontes à família, que viu o mundo como deles. Investiu em São Miguel do Gostoso, que cresceu junto com seus negócios e sua política contagiante. Saiu do borralho e levou seu brilho à sociedade. Só não aceitei os foguetões molhados secando no forno aceso.
O autor navega pelas origens dos Neri, faz a longa caminhada dos ancestrais até aquela praia varrida pelo vento. Pega pela mão os judeus de Espanha e Portugal, da Itália, e sabe-se lá de onde mais, como eu tentei pegar em Os Tabaréus do Sítio Saracura.
É uma vida comum que, agora, nos encanta, graças a um livro gerado das anotações (poderiam ser histórias contadas) de uma mãe de família que assumiu a missão de construir um futuro melhor para os descendentes e para o seu lugar gostoso.
A sensação que fica é a de que famílias como essa Neri povoam o Brasil de fora a fora, em cada rincão de Sergipe, de São Paulo, do Acre, de todo lugar, fazendo-o sério e digno. Por que então não o é?
(Antônio Saracura, Aracaju, 07 de dezembro de 2019)

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De: Gilson Neri <gltneri@gmail.com>
Data: 6 de agosto de 2019 18:07:25 BRT
Para: afjsaracjura@gmail.com
Assunto: Os Tabareus do sitio Saracura

Prezado Antonio

Estava uma tarde procurando um livro  na Livraria Escariz, Jardins, sobre um romance de uma negra africana que veio como escrava para o Brasil, todo o seu sofrimento desde da sua terra natal, a perda de sua família, talvez  uma nova “Cabiria” do Filme de Felline , não sei o final,  pois ainda não terminei o livro. Só que nessa procura, apareceu um senhor que me lembrou meu pai, oferencendo um livro de um escritor Sergipano,  " Os Tabaréus  do Sitio de Saracura" em que ele era o autor.
No primeiro momento, parei para ouvi-lo por educação, todavia, o senhor começa a relatar algumas passagens do seu livro que comecei a fazer um paralelo. Comentei que dos escritores Sergipanos tinha lido era o Antonio Viana , com destaque o livro O jeito de matar lagartas, Aberto está o inferno, entre outros.
Mais ao chegar em casa, comecei a lê o seu livro, de uma leitura fácil, gostosa, fui na livraria e comprei para dar de presente o livro  Meninos que não queriam ser Padres, para meu cunhado Dr. Domingos Sávio, também potiguar.
Apesar da dureza dos seus pais em criarem tantos filhos em um sítio com princípios valores e ética, descrevendo os costumes, a cultura e a vida dura de um nordestino que de tempo em tempo sofre com o período de grandes estiagens todos eles pelo seu cordel também venceram na vida.
E assim em Sergipe, como em qualquer estado do Nordeste brasileiro,  mais por ser homem forte venceu na vida, e assim comparei com a minha família nordestina do interior do Rio Grande do Norte, também de uma família grande, 15 irmãos , todos vivos, e pais determinados para darem melhores condições aos filhos do que eles tiveram, uma história com focos diferentes mais relatam os mesmos desafios da Família Saracura do Sitio  Terra Vermelha  com a minha família “Neri” de São Miguel do Gostoso-RN, em que meu irmão Emanuel Neri, Jornalista, escreveu sobre ela nos contos do livro “Cabeças do Vento” A historia e as estórias de São Miguel do Gostoso sob o olhar da família Teixeira Neri, a partir de relatos e memórias  da matriarca Isabel Neri,  em que quero  presente-lo ao colega petroleiro.
Grande abraço


Gilson Neri


Antônio Francisco de Jesus Saracura <afjsaracura@gmail.com>
21 de nov. de 2019 20:48
para Gilson

Estou aqui numa cerimônia de posse de acadêmico da Academia Sergipana de Letras, mas não resisti e fui olhar seu email. Estou num cantinho meio discreto.
Estou querendo logo Cabeças de Vento, então, quando você tiver tempo me avise que vou  até você buscá-lo.
Sua cidade tem um nome muito gostoso de que já ouvi falar, alguém de lá eu encontrei em alguma dessas viagens. Instiga ver in loco.

Ainda bem que você gostou de Os Tabaréus, agradeço não ter me enxotado  quando o interpelei na Livraria. Você é um gentleman.
Um grande abraço,
Saracura

Enviado do meu iPhone

domingo, 13 de outubro de 2019

CARTAS DE HERMES FONTES (ANGÚSTIA E TERNURA)


CARTAS DE HERMES FONTES (ANGÚSTIA E TERNURA), J. Andrade, 2006, Páginas: 267 com ilustrações, sem isbn




Ana Medina tem nos dado obras impagáveis, como “Efemérides Sergipanas”, de Epifânio Dórea, “Mário Cabral” e este “Cartas de Hermes Fontes - Angústia e Ternura”. Só para citar três. Foi nessas obras que aprendi muito sobre vultos da nossa intelectualidade, orgulhando-me mais ainda de minha terra.
O livro “Cartas de Hermes Fontes“ está agora comigo. Peguei-o emprestado com Carlos Leite, meu professor na infância e meu amigo a vida toda. Uma empatia espontânea.



É uma pena que o livro foi impresso em papel nobre e a cola usada e não teve o mesmo nível de nobreza. Deve ter ficado tímida. As folhas se soltam a medida que vamos lendo, apesar de ser uma publicação recente, de 2006. Mas este é apenas um detalhe bobo, diante da magnitude do trabalho de Ana Medina.

Hermes Fontes estava sendo esquecido, como outros ilustres de nossa terra. Apenas nomes de ruas e monumentos depredados os nomeiam. Quem em Sergipe sabe que ele foi um menino prodígio, e aos dez anos decorava integralmente longos discursos que ouvia na Assembleia, repetindo-os em seguida, sem erro. Impressionou dois grandes da época, Laudelino Freire e Martinho Garcez.
E, ao contrário de Genário Pereira de Carvalho, meu primo das Flechas de Itabaiana, que também fazia a mesma coisa e nem foi percebido (apenas pelos vizinhos que o adoravam), Hermes foi adotado por Martinho Garcez e levado para o Rio de Janeiro, o reino da cultura. Para o seu mal e para o seu bem. Desfrutou da glória mas “estourou o crâneo buscando na morte a tranquilidade que não tivera na vida“, como estampou o jornal “A Noite” do Rio de Janeiro, em 27 de dezembro de 1930. Ele morreu aos 47 anos, e Genário aos 77.

No livro Ana Medina recupera toda correspondência da família à Hermes (e algumas dele) mostrando o ser humano que foi o poeta.

Além de compositor (Constelações, Luar de Paquetá), Hermes foi poeta de muitos livros (Apoteoses, Gênese, Ciclo da Perfeição...).

Vejam o poema (Messianeida), publicado no seu livro “A Fonte da Mata”:

“São Francisco de Assis pregou aos pássaros, e Santo Antônio aos peixes.
Mais corajoso do que São Francisco
e do que Santo Antônio,
Jesus pregou aos homens e às mulheres...
Perderam, todos eles, o seu tempo
e o seu sermão:
O mais sábio por certo,
o mais sábio de todos foi São João,
que pregou no deserto...”

(Aracaju, 17 de abril de 2011, por Antônio FJ Saracura)

CARTA ABERTA Á ESCRITORA CHRISTINA CABRAL






CARTA ABERTA Á ESCRITORA CHRISTINA CABRAL


Aracaju, 20 de outubro de 2013.

Querida amiga,



Há muito tempo que eu precisava escrever-lhe esta cartinha, respondendo a uma que me mandou e que reproduzo abaixo. Precisava agradecer as bonitas palavras da carta e o sorriso cordial com que me honrou ao encontrá-la dias depois.

Fiquei sabendo  hoje que a senhora viajou para o céu. Que azar o meu!

Preciso andar mais rápido em cuidar das pessoas que me tratam como a senhora me tratou, não perder tanto tempo escolhendo as palavras capazes de expressar meu sentimento, que nunca me vêm, talvez elas nem existam.
Bom céu para a senhora, poetisa!
Lamentei muito tê-la perdido aqui na terra. Mas o céu ganhou muito com a sua chegada, sem desmerecer os outros justos que moram lá.

Um beijo,

Antônio FJ Saracura, escritor.


Aracaju, 02 de maio de 2011

Querido amigo Antônio Saracura,

A literatura nos permite colecionar amigos no coração, mesmo sem conhecê-los ou ter com eles convívio. Estes amigos nos tomam as mãos e nos levam ao imaginário. De mãos dadas permitem-nos percorrer seu encantador passado e invadir, com espanto e êxtase, o seu íntimo sadio e puro. Refiro-me aos seus livros “Os Tabaréus do Sítio Saracura” e “Meninos que não queriam ser Padres”.

Monteiro Lobado com seu “Sítio do Pica-pau Amarelo”, lançou sua âncora amorosa e renovadora no Brasil e no Mundo. Abriu a imaginação para busca e exaltação do belo e, na sua riqueza de personalidades e temas nos permitiu, como você nos permite, integrar os nossos passados, viver com alegria ou emoção os nossos momentos, abraçar com ternura os nossos idos familiares ou amigos.

Você chegou de mala de cuia e tomou conta do “pedaço”. Nós o seguimos Saracura, com ansiedade e curiosidade pelos momentos de calma e bom humor que nos proporciona e pelas andanças nos caminhos de nossa memória.

Esperando que esta cara seja fiel aos meus sentimentos de carinho e admiração, envio-lhe meu abraço amigo.

Christina Cabral, escritora e membro da Academia Portuguesa de Jovens Escritores, cadeira número 4..


À SOMBRA DA MANGUEIRA E OUTROS CONTOS, Adélia Mota

À SOMBRA DA MANGUEIRA E OUTROS CONTOS, Adélia Mota, infographics, 2019, 71 páginas, isbn 978-85-9476-203-0




Adélia Mota é professora e ensina no Colégio Mauá (e outros) e sempre a vejo de relance por onde ando nessa minha missão de escrever e divulgar livros. Eu gostei da escrita leve, ágil, consistente desse primeiro conto (já que sempre pulo prefácios e apresentações), “A Beleza do Óbvio” do livro magrinho, “À Sombra da Mangueira e outros Contos”, de Adélia Mota, itabaianenses universal. E, por isso, resolvi ler o livro inteiro...

Vi em Pedro arrebatado (a Moça com o livro de Bandeira), trair-se profissionalmente, o poema de Manoel Bandeira prende-o inapelavelmente à desconhecida moça que pagou a conta pela metade. Há um silêncio mágico na escrita que nos permite ouvir os corações pulsando, sentir a pureza das almas. Em meia página, o conto mostra uma vida inteira: comprimida, trágica, lírica.


Carlos Castanheda, em algum trecho de Viagem à Ixtlan, fala de um lugar acolhedor reservado para cada um de nós; até no meio do deserto de Sonora, camufla-se entre os cactos hirsutos ou na ventania que zoa. Se tivermos a sorte de achá-lo, desfrutaremos a essência de nosso ser, como se o paraíso fosse inteiramente nosso, os desejos íntimos, mesmo os não reconhecidos, realizam-se milagrosamente.
“No silêncio e na solidão (do quintal cheio de árvores de minha meninice) construí os melhores dias de minha infância”, escreve a autora logo no início do conto: À Sombra da Mangueira.

Se eu não tivesse também um lugar assim acolhedor, tomaria agora emprestado este, de Adélia, que, certamente, é o mesmo de que fala dom Juan em Ixtlan.

Ailton, como eu aposentando e claudicante, sentiu-se um cavalo selvagem e sai em busca de sonhos confusos. Felizes os que têm um anjo da guarda zeloso.

Dona Ritinha é a guardiã dos falsos valores que matam muito mais do que bala, câncer e solidão. “Boa noite, lindo rapaz, entre e venha tomar comigo um cafezinho com pão de ló!”

Pareceu (“Entre sapatos e chinelos”) uma história comum, até óbvia, mas há um cão andando junto que faz a gente, estranhamente, chorar.

A gata Mimi entrou sorrateira fugindo do dilúvio, aproveitou a porta aberta para a bicicleta passar. Só o olho do escritor atento vê fatos assim corriqueiros mas que dão vida à vida. A amizade faz-se forte até pela indiferença. E Mimi morta revela um mundo bruto que precisamos amansar.

“O Museu de lembrança” traz-me uma palavra de meu povoado (talvez de muito mais lugares ) numa frase cinematográfica: “Estava com a roupa rasgada, e com a boca cortada por um murro que levei de um garoto mais velho.”

Parei aterrorizado em “Quando Pedro enlouqueceu”, para anotar que a mãe não pode dar-se ao luxo de ficar louca, melhor que a filha engula os cordões das redes desfiadas.

...

Adélia escreve devagar, não deixa nada escapar, pinta o ambiente em volta e o mundo interior, mas apenas o que interessa mostrar. E o faz de um jeito peculiar, que encanta e que assombra.
Antônio Saracura, Aracaju 13 de outubro de 2019).  

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Biografia de Adélia, escrita por ela mesma, na página 72 de seu livro: “Adélia Mota pouco tem a dizer sobre si. É itabaianenses de coração, professora e, acima de tudo, leitora. Este livro é um exercício de terapia e criatividade para alguém que encontrou, nas palavras escritas, uma forma de expressar sentimentos e emoções.”.

quinta-feira, 20 de junho de 2019

O SENHOR DOS ANÉIS (O RETORNO DO REI), J RR Tolkien,


O SENHOR DOS ANÉIS (O RETORNO DO REI), J RR Tolkien, Martins Fontes, 2011, ISBN 85-336-1516-1 para os três romances, total páginas 1210, este 426.


 “O mundo está dividido entre aqueles que leram O Senhor dos Anéis e Hobbit e os que não leram”, The Sunday Times.




A Comitiva se recompôs depois de descaminhos, entretanto, Frodo e Sam seguiram sós (os dois) em busca da Montanha da Perdição onde o Anel poderia ser destruído. Como chegar ao lugar se nenhum dos dois sabiam de antemão o caminho? Ali não havia estradas e nem placas. Era o meio do mundo, um ermo. Se encontrassem alguém, teriam que fugir dele; a chance de ser um Orc caçador seria grande.






O anel é o símbolo do poder, todos o querem, veladamente ou explicitamente. Os cavaleiros negros circulam nas noites farejando, escutando até conversa de bêbados nas tavernas de beira de estrada. E caçando a Comitiva que tenta escapar. Gollun busca-o alucinadamente há mais de setenta anos. Especialmente Sauron que o criou na antiguidade e o perdeu. Até os guardiões, pelo menos uma parte deles, entre os quais Boromir. Boromir é príncipe de Gondor que está em missão específica (e secreta) de roubar o anel para o Rei, que é seu pai. Ele fez parte de Comitiva até ser trucidado pelos Orcs em Emyn Muir.


A guerra dá sinais evidentes de está deflagrada. O mago Gandalf é o porta-voz do perigo. Montado na ventania Scadufax, com Pippin na garupa, corre feito um louco alertando os reis frágeis e acomodados para se organizarem e enfrentarem Sauron, que está forte como nunca esteve e quer escravizar todos os povos. Quem mandou ter sido tratado com complacência pelos vencedores das guerras antigas.

Os hobbits, Pippin e Merry, aparentemente simples agregados à comitiva, começam a ganhar importância na trama. Nem o leitor nem seus companheiros de viagem lhes deram, de início, qualquer importância.

O rei das Minas Tirity, Denethor, e o senhor dos Cavaleiros de Rohan, Theoden, mesmo na iminência da guerra, quedam-se ouvindo as aventuras contadas pelos pequenos. Ou relutam em enfrentar a situação crítica, achando que não terão chance nenhum de sobreviver. Estão enfeitiçados pela televisão(?) ou melhor, pela pedra mágica, que é controlada pelo Mal e faz as cabeças agirem conforme ela deseja.

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Por que o poder é assim insaciável? Enfeitiça qualquer um. Mesmo a simples possibilidade ou a ilusão fugaz de que o possui ou o possuirá. Até o puro Frodo, mensageiro escolhido para proteger e levar o Número Um à destruição, é contaminado. Após não sei quantos meses (teria sido anos?), enfrentando riscos imensos (e fazer seu companheiro acreditar na missão como se fosse sua também) fraqueja. Frodo não aceitou que Sam tivesse arrancando a corrente com o anel de seu pescoço mesmo sabendo que o salvou das mãos dos capitães Orcs. “Não, não, nada disso, seu ladrão”. E arrebatou o anel para si, puxando a corrente do pescoço do fiel Sam. E o agrediu com palavras duras. Depois, desconversou: Se alguém tivesse que morrer junto com o Anel, seria ele, Frodo.

E o abjeto mas simpático Gollun?
Mau desde que matou o primo na pescaria ou desde que nasceu. Perigoso, sonso, insensível. Mas é capaz de fazer uma boa ação, mesmo que não queira: Guiou, com escusas intensões, Frodo e Sam até a boca da Laracna que era o melhor caminho para entrar despercebido em Mordor. Levou a refeição ao monstro para lucrar o descarte natural: a roupa e os utensílios, entre os quais, o seu Precioso. 

Como disse Gandalf: “um traidor pode trair-se a si mesmo e fazer o bem que não pretende”. Obcecado, capaz de todo simulacro para botar as mãos no Anel, que lhe pertencera no romance anterior (Hobbit). Para ele a esperança é a última que morre. Quando viu seu Precioso na boca do vulcão, imaginou que o perderia para sempre. Entendeu mal o momento e, desesperado, encheu-se de poderes que nem deveria possuir, e arrancou o dedo de um homem invisível, o dedo exato do Anel. E com tanta gana, que se desequilibrou e caiu com Anel e tudo no magma da boca aberta do vulcão.
Gollun poderia ter esperado um pouquinho... Frodo estava apenas escapando de Samwise e de todos, com o Anel no dedo, resolvera ser o poderoso que todo queriam ser. “Não vou realizar este feito (destruir). O Anel é meu!”

Justo na hora, Sauron tremeu nas bases, seu olho mágico captou o Anel na boca do vulcão, o único lugar onde poderia ser destruído. Abandonou as estratégias de guerra e mandou seu exército de morcegos, nazgul e espectros resgatar o Anel. Mas já era. Gollun virara torresmo agarrado ao dedo decepado de Frodo.

Os dois hobbits conseguiram escapar por improváveis caminhos e, depois, foram encontrados pelos amigos (remanescentes da Comitiva), agora vitoriosos. 

Sauron e seu reino (Mordor) virou pó. Talvez o espírito do mal tenha escapado, como de outras vezes. E deve mesmo ter escapado, senão, por que estamos atravessando uma fase tão calamitosa. Pelo menos, no Brasil de hoje.

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Guerras fratricidas entre os guardas de Mordor (orcs) apenas pelo privilégio de levar o prisioneiro (Frodo) à Sauron. Não há mal que não gere um bem. Como Sam resgataria Frodo da prisão e o levaria ao local de destruição do Anel Um que nem sabia onde era? “Com suas desculpas, sr. Frodo, mas o senhor tem alguma noção de quanto tempo ainda teremos que caminhar?”. Frodo não sabia.
Vales profundos, montanhas nevadas entrando no céu, fantasia e realidade em luta insana. Arte e feitiçaria de braços dados. O Bem tímido e o Mal agressivo, como é comum até aqui. Bólidos arremessados por catapultas que caíam na praça e não explodiam: eram cabeças dos guerreiros amigos. Efeito devastador! Rios degradados de águas fétidas e córregos destilando a morte.

Recrutamento de Orcs à chicotadas para compor os pelotões de zumbis sanguinários, como acontece em todas as guerras. O soldado (e até o comandante) é um mercenário (luta por dinheiro) ou um escravo (luta por medo). As bandeiras (o idealismo) são apanágios dos poetas. A artimanhas do Mal e o espanto do Bem. Batalhas ensandecidas, mortes aos montes e seletivas e até mortes seguidas de ressurreição...

Sempre o anão barbudo de conversa cavernosa, um machado amolado e a força concentrada de um batalhão inteiro. Todos são personagens úteis, nenhum é abandonado. E ao final de tudo, como nos livros puros, contas são prestadas sobre o que de desgraça ou que de glória recaiu sobre cada um. Menos os Orcs! Onde se socaram afinal? Eram tantos, que as fogueiras acesas queimaram quase nada. As duas centenas que se instalaram no Condado sob as ordens de Saruman, dos quais o romancista fala, dão um nadinha.

Tudo junto nos capítulos, no livro, numa única palavra. E cada link ativado pode abrir-se em outro romance maior ainda.
Ainda bem que o Bem venceu. 
Eu fiquei preocupado que isso não acontecesse. 
A moça casou com o mocinho e havia uma princesa que não a percebi antes, reservada a Aragorn, o rei.

O Senhor dos Anéis é um romance sem fim. Dom Sebastião retornou e começou uma nova era.

(Aracaju, 20 de junho de 2019, Antônio FJ Saracura)

Agora eu sou um dos 170 milhões de leitores de O Senhor dos Anéis (sou um grão de areia).

domingo, 2 de junho de 2019

CAMPO DO SER, Vera Santos


CAMPO DO SER, Vera Santos, 2017, romance, editora Multifoco (selo Desfecho romances), 103 páginas, isbn 978-85-9512-085-3 (não encontrei a ficha catalográfica padronizada).



Vera Santos está sempre conosco em O Escritor na Livraria. Um ano atrás ela falava de um romance de sua autoria encalhado em uma editora do Rio de Janeiro, que não saía nunca. Sempre era pedida uma nova alteração...

Até que o livro ficou pronto.

Ontem foi o lançamento, no Museu da Gente Sergipana, com excelente público. Vera é de Aquidabã, irmã de Chico Buchinho e pertence aos quadros da Academia Aquidabãense de Letras, que está sendo implantada. Aquidabã é uma cidade parecida com Itabaiana, tem imensa e participativa colônia em Aracaju. Um dos ilustres ao lançamento era meu amigo Joaquim Macedo, dono de colégios e de uma fazenda em Campo do Brito, chamada Fazenda Saracura, de amargas lembranças para mim. Estavam lá também Murilo Melins, Expedito Souza, Estácio Bahia, Ismael Pereira, Chico Buchinho (coordenando em silêncio).

Gostei da capa e do conjunto arquitetônico, bem encadernado, bem diagramado, letras de bom tamanho e com espaço suficiente a uma boa navegação. 103 páginas é um bom tamanho, não maltrata fisicamente o leitor ancião. Eu li, um pouco, ontem à noite e, o resto, enquanto esperava, na clínica, minha esposa que era submetida a uma operação de catarata.
Uma boa leitura. Leve, instrutiva, instigante.

O romance tem uma engenharia diferente dos livros que tenho lido. Primeiro são apresentados os personagens, um a um, envolvidos em rápidas ações e, por fim, o dia a adia da cidade com suas principais atividades: costumes, equipamentos: Comprador de garrafas, amolador de facas, o cemitério, o terror, a marinete... E o epílogo: considerações finais, prestação de conta, conclusões pertinentes.  

Em qualquer livro, há pontos que provocam estranheza, que mexem mais no leitor. Para o bem ou para o mal. Eu rabisco as margens com o que me encanta ou o que me agride. É um costume que tenho desde o tempo de colégio. Paga reter, preciso escrever.

Deixo, a seguir, alguns dos rabiscos feitos no livro Campo do Ser:

1)      A Universidade na página 99 poderia ser outra, indeterminada.
2)      No setor dedicado a Margarida entraram penetras demais, que poderiam ter seus setores próprios.
3)      A Vida em Campo do Ser seria melhor colocada antes dos personagens (Os Habitantes do Campo do Ser). Estes poderiam ir sendo mostrados nos transcorrer do enredo.
4)      Carmem fala: “Só me arrependo de não ido mais fundo” e insiste nas lamentações de não ter consumado o amor juvenil. Isso é verossímil? O contexto pinta Fred como um frouxo (não foi a vítima do casamento forçado). Mostra Carmem possuidora da certeza de encontrar outro amor da vida. Desenha Carmem correta, forte, e que escapou de uma fria... Não parece normal querer outra. 
5) ...

Por fim, quero dizer que estou comemorando o livro de Vera. Uma leitura prazerosa e útil. E sobre os rabiscos acima, podem ser equívoco de um leitor alvoroçado.

(Aracaju, 25 de maio de 2017, Antônio Saracura)


CADERNO DE RUMINAÇÕES, Francisco J. C. Dantas


CADERNO DE RUMINAÇÕES, Francisco J. C. Dantas, Afaguara/objetiva, 2012, 402p, isbn 978-85-7962-133-8


Francisco Dantas é um escritor consagrado pelas obras anteriores. É o grande  ficcionista sergipano, um dos maiores do País atual.  Bem formado na arte, pois ensinou literatura em universidades no Brasil e no exterior; trabalhou com a matéria que hoje pratica com maestria.

Eu nunca havia lido uma obra dele inteira (em 2012), com a desculpa íntima de que poderia influenciar (polarizar) minha escrita. Afinal, ele é o sol sergipano...
Como não me encandear?
E, por isso (acho, pois eram sentimentos fluidos), apenas roubava trechos de seus livros nas bibliotecas públicas,  nas Rodas de Leitura e nas livrarias. Banhos de sol. Gloriosos!

E aí aconteceu o lançamento de seu novo livro, Caderno de Ruminações, na Livraria Saraiva, em 31 e maio de 2012; misturei-me à multidão, entrei na fila e consegui (calado) o meu autógrafo.


De posse do livro, não havia como me furtar à leitura...


Quando concluí a leitura, dois dias depois, quedei-me atribulado, como fez o ferreiro Jánus no conto de Mikszáth Kálman: ao conhecer a ciência, suas mãos tremeram e ele preferiu abandonar a profissão de cirurgião de cataratas. De que me serviria criar uma obra inferior? Ou cegar o paciente?  

E comecei a rabiscar considerações sobre o livro lido,  ainda meio encandeado, para ir me acostumando com o novo tempo.
Caminhões de elogios encharcaram minha cabeça. A empolgação cega qualquer um. Amassei os papeis e os joguei fora.


Parei dois dias, até achar uma beira de lagoa na Terra Vermelha  onde o canto das saracuras, no final da tarde, fosse o mesmo de antes da leitura.

Talvez tenha esperado demais.
O que me saiu agora são ruminaçõezinhas que, a seguir, compartilho com você, que ainda me segue.

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No início da leitura, estive claudicante, como aluno de dança na primeira aula. Depois peguei o ritmo da escrita, o jeito da prosa.  E o livro fluiu fácil, gostoso, até o final.

 “Caderno de Ruminações” conta a história de um médico brilhante que entra em decadência. Tudo que tenta ou que faz dá errado. E a cada dia, sobe mais no seu monte calvário. O autor está perto e não  perdoa, acompanha-o, vasculha suas dúvidas (são muitas), seus orgulhos falidos (não são menos), sua paixão suicida por uma prima do ramo perverso da família, (que o maltrata).

Essa Analice, mesmo aparecendo pouco, acelera a trama. Ela é gasolina de alta octanagem que faz o avião quebrar a barreira da lógica. Uma Iracema do circo de Zé Bezerra, que fazia os espectadores esqueceram a família para segui-la pelo mundo. Como o fez Zé Bigodinho, vendedor de bilhetes de loterias em Itabaiana,  e como eu quase faço na condição de leitor dessas Ruminações de Francisco Dantas.
  
Há um perfeito entrosamento das palavras, das frases, das partes do enredo. Nada sobra, nada falta. As figuras, apesar de aparecerem em profusão, ajudam no criação dos climas. As palavras e construções eruditas são assimiladas facilmente pelo contexto bem definido. Acho que qualquer autor deve utilizar todos os recursos que a língua oferece. Quem os conhece, sorri contente;  os outros (meu caso) sintam-se numa sala de aula proveitosa e aprendam.

O romance é ambientado em Aracaju, o que me deixou muito envaidecido. Estamos deixando de ser o fim do mundo.

Recomendo a leitura do Caderno e, para mim, em especial, recomendo a leitura dos demais  livros de Francisco Dantas. Onde eu os achar à venda, darei um jeito de comprá-los.  Perdi o medo! Depois do impacto inicial, cresci em busca do tamanho do monstro (sagrado). Na verdade, há espaço para todos. Parar com essa busca desesperada ao ótimo. Ter calma e usufruí-lo, por enquanto.

(Aracaju, 25 de junho 2012, Antônio Saracura), recuperada em 02 de junho de 2019).




(Estou consertando lapsos) 

sábado, 1 de junho de 2019

BETUME, Rogério Santos


BETUME, Rogério Santos, sem mais informações (o livro sumiu de minha biblioteca, devo tê-lo doado a alguma geloteca).


O livro Betume trata da decadência da cultura do arroz irrigado no Baixo São Francisco (Propriá e outras cidades).
Uma fazenda desapropriada pelo governo, foi dividida em lotes e distribuída para seus funcionários. Nesse espaço acontece o romance.  

O autor assim o descreve:
“Em sua primeira parte, Betume tem Capilé, um vira-mundo que vive cometendo crimes, abusando de mulheres e vagando por aí. A segunda etapa traz histórias da fazenda e todo o seu processo de formação. Na terceira parte (capítulo) entra um novo personagem que descende de Capilé e do antigo proprietário da fazenda!”
Em entrevista à jornalista Monique Oliveira, o autor diz que “Betume faz uma crítica ao abandono de um povo. Conta como os rizicultores sofrem, não só com as dificuldades do plantio, mas também por fazerem parte de uma região extremamente pobre, quase sem perspectiva de crescimento. O leitor se deparará com coronéis, prostitutas que viram santas, árvores conselheiras, vagabundos, almas penadas e vinganças, que trespassam a barreira da vida e da morte.”
Xxx

Escrevi um texto (04.12.2012) que sumiu nos meus arquivos mal organizados.
Quero registrar alguns fragmentos que ainda retenho.
Li o livro (pequeno) em uma tarde.

O primeiro capítulo não prepara nada para os próximos. O segundo capítulo, que é a constituição da propriedade, tem quase nada a ver com o primeiro; apenas um dos personagens se transforma em feitor na fazenda. No terceiro capítulo, a fazenda entra em decadência e os personagens são outros (apenas o feitor continua); este capítulo também não é integrado aos anteriores.  
O livro todo transmite miséria e pessimismo, vida degradada ao extremo.
O autor transforma misérias transitórias em definitivas e age na trama como se elas fossem normais. Deus me livre!

O final, lembrou-me Pedro Páramo (Juan Rulfo), com os mortos transitando como alma penadas. E também “Essa Terra”, de Antônio Torres, que me deixou com a sensação de que viver não vale a pena. Creio em Deus Padre!

(Aracaju, 04 de dezembro de 2012, Antônio Saracura), recuperada em 01 de junho de 2019.

ATHENEU PEDRO II MEMÓRIA E RESTAURO


ATHENEU PEDRO II MEMÓRIA E RESTAURO, Josevanda Mendonça Franco,  Edisa, 2015, 328 páginas, 28 cm , texto em português e em inglês, isbn 978-85-63318-38-1




O lançamento aconteceu 16 de dezembro de 2016, apesar de ter sido editado (pela ficha) em 2015. 
O livro trata do Atheneu (onde estudei os dois últimos anos do curso científico nos idos 1965 e 1966) e que formou gerações de sergipanos desde 1929.

O livro é também um monumento. Não li todo, folha a folha, mas senti cada espaço, cada época, cada suspiro colégio. Já teve pompa de faculdade. Os professores apresentavam monografias, eram submetidos à mesa como o são os doutores das universidades. O nosso Atheneu, hoje, nem é a sombra do passado glorioso. É, apenas, um colégio comum, mergulhado em problemas como quase toda escola pública desse Brasil relaxado.

Por que houve essa decadência, que é geral?

Eu sei. Você também sabe.

Daqui a pouco estaremos vivendo apenas de lembranças.

Aracaju, 17 de dezembro de 2016, Antônio FJ Saracura. Resenha recuperada em 01 de junho de 2019.

ATÉ ONDE EU SEI..., Marlene Alves Calumby


ATÉ ONDE EU SEI..., Marlene Alves Calumby, infoGraphics, 2011, 199p. ; 21 cm. Isbn: 978-85-912747-0-3





Estive em Itabaiana, na Bienal, no lançamento do livro “Até onde eu sei.”
E dois dias depois, na Academia Sergipana de Letras ao mesmo lançamento. Na Academia, vendo a autora olhar-me como a um seguidor fiel, achei que deveria dar-lhe uma explicação. Eu queria saber como se faz um lançamento de sucesso, ambos com casa cheia, esvaziando o estoque levado. Aos meus, acorre minguado de público e, no final, trago para casa caixas pesadas cheias de livros e de sonhos frustrados.

Sobre esgotar o estoque de livros, relembro um lançamento de um livro de Vladimir Souza Carvalho, na época ele era ainda Juiz Federal. Já faz um bom tempo. Neste, o estoque de livros esgotou-se antes que começasse a festa, marcada em um badalado clube de Itabaiana. Todos ficamos atônitos, tanto o autor, como os que estavam na fila previamente organizada, entre os quais, eu. O vigia informou-nos que o prefeito da cidade, meia hora atrás, entrou no clube, com o motorista, veio à mesinha posta para os autógrafos e mandou o motorista carregar as caixas de livros à sua caminhoneta. Sentou-se à mesa e preencheu um cheque nominal em nome do autor com o campo de valor a preencher, e o entregou ao vigia: “Tenho que viajar. Entregue ao doutor Vladimir, diga que bote o valor dos livros. Depois eu explico a ele, pessoalmente.”.

Sobre eu aprender a fazer um lançamento de sucesso, isso não se aprende. É um direito adquirido pelos méritos acumulados na vida. Marlene Calumby tem uma história de sucesso literário (publicou em 2001 “Tudo Valeu a Pena - Memórias de uma Vida”, pertence à Academia Sergipana de Letras, titular da cadeira 35, e tem um relacionamento social glorioso, fruto de uma vida de dedicação intensa ao Estado de Sergipe (professora, diretora do Ateneu Sergipense, presidente do Conselho de Educação, Superintendente da Fundação Aperipê e muito mais). E descende de uma família ilustre (o pai foi o grande construtor da cidade; o esposo, um médico carismático; e o irmão, João Alves Filho, prefeito de Aracaju e governador do Estado, imbatível em obras e sonhos.

Não vejo como chegar perto.

“Até Onde eu sei...” são suas lembranças sobre a vida de seu irmão, João Alves Filho. O tempo glorioso, como prefeito de Aracaju, no primeiro mandato. Quem não se lembra do administrador furacão, do fazedor incansável de obras. Até os inimigos políticos tiram-lhe o chapéu.

E Marlene narra calmamente, passo a passo, a epopeia do engenheiro cheio de ideais que refez Aracaju inteira. Uma leitura que gratifica e enche de orgulho cada morador dessa cidade bela, muito mais ela inventividade de João.

Senti falta da identificação nominal dos capítulos, e, talvez, devido também a isso, achei que alguns assuntos se repetiram aqui e acolá. Pelo menos, fugiram de seu compartimento natural, circularam livres dentro do livro. E também senti falta do nome do personagem foco (João Alves Filho) que poderia ser citado mais vezes sem comprometer a lisura e imparcialidade da obra.

Mas “Até Onde eu sei...” é um livro essencial. Um livro justo. João Alves filho merece-o inteiro. Merece muito mais obras falando de sua vida que, agora (estou recuperando essa resenha em junho de 2019), atravessa uma fase crítica, maltratado pelo terrível mal de Alzheimer. Deus que me livre!


Aracaju, 06 de novembro de 2011, Antônio Saracura)
Recuperada em 01 de junho de 2019

sexta-feira, 31 de maio de 2019

AS PRINCESINHAS, Ana Beatriz Soares Rocha


AS PRINCESINHAS, Ana Beatriz Soares Rocha, Infographics, 2013 40 páginas, Sem isbn

A autora tem apenas nove anos.

Estive no lançamento do livro, no Cantinho Cultural dos Correios, e achei a criança um tanto agastada com aquele povo todo a sua volta. Os pais (que são funcionários dos Correios) tentavam fazer a filha mais agradável. Afinal era a estrela; mas ela não estava, aparentemente, a fim do céu.

Independente do valor do livro (para crianças), muito bom, acho uma malvadeza o que os pais corujas fazem com suas crianças. Será que elas conseguirão lidar com o sucesso ou o estrelismo que até derrubam/confundem a cabeça de escritores maduros?

Acompanhei, recentemente, na Bienal do livro de Itabaiana, uma escritora mirim, filha de outro corujão mais empolgado ainda com a genialidade da cria. A menina parecia uma pequena manequim num desfile de modas do colégio.

Sinto algo estranho nesse mundo de talentos literários precoces em demasia.

Que a criança seja genial, que escreva bem, que surpreenda o mundo das letras. Que seu livro seja publicado e difundido. Mas que continue criança, não um cão peludo sendo levado a todo desfile transmitido pela televisão.

(Aracaju, 18 de janeiro de 2014, Antônio Saracura)
Recuperada em 31 de maio de 2019.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

ALÔ ARACAJU AQUELE ABRAÇO, Vieira Neto


ALÔ ARACAJU AQUELE ABRAÇO, Vieira Neto, J. Andrade, fl 130, sem isbn



Não tive ainda a honra de conhecer Vieira Neto, um dos grandes literatos de nossa terra. Ele possui rica bibliografia, gerada desde 1985, que inclui teatro, prosa e poesia. Com evidência para o teatro, onde é mestre, e para a poesia, de que já escutei elogios na imprensa; e li, gretando, seus livros expostos nas livrarias da cidade. Tenho comigo “Celeiro de Emoções” (não resisti e comprei), que mereceu rasgado elogio de Santo Souza um rasgado: “A produção deste poeta é, sob todos os aspectos, um tesouro de pérolas luminosas de espiritualidade, amor fraterno e, alguma vezes, eróticas também”.

O jornal “do Dia” publica semanalmente os contos  e crônicas de Vieira Neto que leio com prazer. Textos apimentados, de gostoso ardor. Agradam sem escandalizar.

Vieira Neto publicou m sua coluna no mesmo jornal (sem nunca ter falado comigo) uma avaliação de meus livros “Os Tabaréus do Sítio Saracura” e “Meninos que não queriam ser padres”, tendo-os recomendado como bons. Foram dois momentos de glória para mim, sempre poupado pela crítica, como os demais escritores dessa terra insensível.  

Caiu-me agora às mãos, emprestado por Euclides de Oliveira, o segundo livro de memórias de Vieira Neto “Alô Aracaju, aquele Abraço”, que trata de seu início de vida em Aracaju até quando resolve emigrar para o sul. Já que disse que este é o segundo, obrigo-me a dizer que o primeiro, também de memórias, chama-se “Um Garoto Estanciano” e trata exclusivamente de sua infância princesa do Piauitinga. Sei disso pela leitura de afogadilho (para o dono da livraria não me expulsar).

Este “Alô Aracaju” é de leitura fácil, seguindo mais ou menos um linha cronológica. Mas há idas e vidas, como a partir da página 107 ao se referir à sua deusa Luciana, da cidade ribeirinha de Propriá.

Revi a Aracaju saudosa dos bodegas em cada esquina, dos programas de auditório, dos bregas fuleiros e dos luxuosos Miramar e Chantecler. Também dos empreguinhos fajutos e dos chefes (que sempre há) que se achavam donos dos subordinados. Parecido demais com minha vida de garoto na selva,  que é a cidade grande para o tabaréu.  

Passei boas horas andando com o "perdido" Vieira Neto pela pecaminosa Aracaju...

 (Aracaju, 13 de julho de 2014 (recupera em 30 de maio 2019).
Nesse meio tempo, eu conheci Vieira Neto, até leve alguns livros dele para a III Bienal do livro de Itabaiana. Depois, o perdi de novo; ele deixou de escrever no jornal.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

ALGUM POEMA CONCISO, Marcelo Ribeiro


ALGUM POEMA CONCISO, Marcelo Ribeiro, Gráfica Editora Triunfo, 106p (2005),Sem isbn

Gosto de textos que dizem o que querem dizer com poucas e adequadas palavras. Não sou adepto das preliminares longas, dos desvios intermináveis, dos finais que nunca se acabam. Dão-me agonia as frases ou palavras pomposas apenas, como se fossem tiros de festim.

Marcelo Ribeiro nesse livro é sinônimo de economia. Desde o título. Não gasta verbo à toa. Todos no lugar certo e coerentes. 

Os versos têm sentido. Um exemplo de respeito ao leitor. Poemas bem elaborados e claros, dignos de um artesão brilhante; eu achei. 
Melodiosos. Sem enigmas nem advinhas a decifrar, que assim não é poesia no meu modo de pensar. Não esnoba e não parece querer impressionar a academia. 
Li Algum Poema Conciso sem protestar, repugnar (arrepugnar), sem brigar com o poeta. Há muito tempo que não lia um livro de poesias até o fim. 

Apenas boiei em EGG. Acho que por deficiência cultural minha. O autor não poderia desconfiar que um tabaréu bruto da Terra Vermelha leria um dia seus versos.

xxx

Valeu a pena pagar cinco reais no sebo pelo livrinho. Além de barato premiado.  Ganhou o segundo lugar do Prêmio Santo Souza, em 2004.

Aracaju, 20/02/2016, Antônio FJ Saracura. Em 04 de março de 2019 recuperei meu texto dos alfarrábios. Não achei o livrinho, o  que queria muito para mostrar um poema, pelo menos, nessa pequena resenha. Deve ter ido em alguma caixa de doação que sempre faço à escolas). 

ARMADILHA MORTAL, Roberto Arlt


ARMADILHA MORTAL, Roberto Arlt, L&PM Pocket, 98 páginas, isbn 978-85-254-0613-2



Sempre me liguei em filmes e livros policiais A série com um zanôio chamado Columbo (Peter Falk) preencheu minhas tardes monótonas quando ainda não pensava em escrever livros. Hercule Poirot e Miss Marple de Agatha Cristhie, Inspetor Maigret de Simenon, Sherlock Holmes e meu Caro Watson de Conan Doyle, Smiley de Jonh leCarré...

Em minha exígua biblioteca ainda resistem ao tempo e aos visitantes gatunos alguns exemplares, jóia raras, que mantenho como sinal de fidelidade e veneração.


Bem recentemente, mantive contato com Roberto Arlt, um argentino que viveu pouco, apenas 42 anos (eu já tenho 70) e morreu quando eu ainda nem era nascido (1942). O livro que me apresentou a Roberto é Armadilha Mortal, uma coletânea de contos policiais (ou criminais quase perfeitos) de dá um gosto de sangue na boca. Escrita leve sem esnobismo, quase uma reportagem. Prende, surpreende, fixa-se na memória de quem ler.

“A Pista dos Dentes de Ouro” narra um crime de vingança em que o criminoso cobre um dente com papel dourado: uma pista falsa. Quando desfaz o disfarce, um fiapo do papel ficou encravado e na gengiva causando-lhe desconforto a ponto de procurar um dentista. E o dentista torna-se cúmplice do crime. Não há detetives, e nem precisa. O crime foi uma vingança justa e o assassino e o dentista selam um pacto de silêncio.

 “Um Argentino entre os gângsters” é surpreendente apesar de o desenlace previsível, como se isso fosse possível. Afinal, para que serve o domínio da arte?

“A Vingança do Macaco” mostra o ladrão, senhor de si, em ação roubando um escritório à noite.  De repente, experimenta uma sensação desconfortável: alguém o observa. Trepado na escrivaninha, com o chapéu do ladrão na mão, um pequeno macaco o observa em silêncio. No chapéu estão as iniciais do ladrão gravadas em uma brincadeira. Um descuido bobo. Pronto! O conto muda o rumo. Agora não é um predador recolhendo jóias e dinheiro, mas a caça a um macaco esperto, matreiro.

“A Dupla Armadilha Mortal” termina com Estela escapando no para-quedas, que não abriu. E Ferrain cantando vitória por um instante apenas, pois a bolsa esquecida no avião, por Estela, era uma bomba, e explodiu. Conto logo o fim!

“O Mistério dos três Sobretudos” mostra que não é necessário nada espetacular para se construir um ótimo conto. Vale tudo para pegar o ladrão comprometedor que usa duas pernas postiças, uma honesta e outra nem tanto.

“O Enigma das três Cartas” tem um final sem sal e aqui e acolá frases sem nexo. Botei a culpa no tradutor. Um grão chocho de feijão no meio do bom cozinhado.   

“Um Crime quase Perfeito”...

É melhor você ler o livro. É quase perfeito. Se encontrar em alguma livraria ou sebo.

(Aracaju, 16 de janeiro de 2016, Antônio Saracura)

O SENHOR DOS ANÉIS (AS DUAS TORRES), J RR Tolkien,



O SENHOR DOS ANÉIS (AS DUAS TORRES), J RR Tolkien, Martins Fontes, 2011, ISBN 85-336-1516-1 para os três romances, total páginas 1210, este 357



A Comitiva (como saiu do Condado) dispersou-se nas complicações da estrada. O guia Gandalf caiu primeiro, deixando Aragorn, estradeiro veterano mas cheio de dúvidas, como substituto. O guerreiro Boromir, após tentar roubar o anel de Frodo, toca sua corneta em pânico. Os Orcs fecharam o cerco, atacaram o acampamento, já estavam à espreita. Quando Aragorn, Legolas e o anão Gimli acorreram, a corneta silenciara. Muitos Orcs jaziam mortos e Boromir estava varado de flechas, à morte: “Vá às Minas Tirith e salve meu povo!”

Os Orcs levaram os hobbits que conseguiram pegar: Merry e Peppin. Frodo sumira, resolveu cumprir a missão (destruir o anel número 1) sozinho. Samwise, o fiel escudeiro, fui junto;os dois meteram-se em um barco e desceram o Arduim em direção ao reino do mal.

E agora o romance segue quatro caminhos, incluindo Gandalf, morto mas nem tanto. Aragorn segue os passos dos Orcs e vive mil aventuras. Merry e Pippim conseguem escapar quando o pelotão de Orcs é destruído pelos guerreiros de Theoden. Os Entes da floresta os acolhem. Um novo caminho se abre na drama: a marcha dos Entes para atacar a primeira torre, onde mora Saruman (Isengard).

E Gandaf aparece. Eu bem que desconfiava!

Primeiro, de relance, como um velho de chapéu caído no lusco-fusco. Depois, apareceu como da vez anterior, e agora era Gandalf. Então contou parte de sua aventura desde que foi engolido no precipício em chamas, e garantiu que o velho anterior não fora ele. Pode? Que teria sido então: Saruman, o novo aliado de Saulon?

Achei que não havia guerra suficiente para a empreitada que Gandalf (passando por cima de Língua de Cobra, que me lembrou Gollum disfarçado) e obrigou o povo de Eldoras, e seu rei paradão, Theoden , a marchar desbandeirado para atacar Saruman. Mas havia. Passo ter pulado alguma página colada (que são duas) ou cochilando, peguei um desvio privativo inventado pela minha imaginação (estou com essa mania) que Tolkien nem desconfia qual seja.

Gandalf organiza a defesa dos cavaleiros de Rohan e a guerra recrudesce, derruba a primeira torre e deixa Saruman preso na cidadela Orthanc. Mas Saruman é apenas um lacaio tirado a gato mestre; um ponta de lança da imensa investida que Sauron encetava para conquistar o mundo para o mal.

xxx

Enquanto a guerra mata (muito mais orcs), Frodo e Samwise varam rios, pântanos e montanhas em busca de Mordor para cumprir a missão. Apenas na torre do Inonimado o anel poderá ser destruído.
 Gollun, o simpático perigo, silencioso e surpreendente acompanhou a Comitiva desde o Condado. Navegando pelo rio sobre um tronco, Deus sabe como. Misturou-se aos Elfos da floresta que moravam sobre árvores. Visitou sorrateiro o ninho dos hobbits. Fechava o cerco. Daqui a pouco atracaria, era o esperado, o óbvio.

Gollum sempre a quem seguir. E os hobbits, meio perdidos, percebem o nojentinho e o pegam. Será que Gollun não se deixou pegar?

Por que Gollum aceita guiá-los até Mordor?

O certo seria apossar-se do anel. Para isso, atrasar a viagem até surgir uma chance. Se Frodo queria tanto chegar até Mordor e leva o anel consigo, então vai entregar a alguém seu “Precioso.” Mas, na cabeça de Gollun, em última instância, há Ela. Se não der para recuperar o anel antes, tem a certeza de que Laracma o fará para ele.

Frodo dá pena: frágil, feminil, e ainda pega uma dose cavalar do veneno da aranha Laracna; Sam assume a missão de levar o anel até a Fenda da Perdição. Nem percebe que seu amigo e patrão apenas está sedado. Mas já é hora do terceiro volume da trilogia.

xxx

A escrita de Tolkein é cheia de truques, como se fosse um seriado do cinema. Cada cena deixa um suspense (pequeno ou grande) para ser resolvido na seguinte ou para agregar mais suspense. Assim, o livro vai se desenvolvendo e comendo o sossego do leitor. Ágil, voraz. Até nas descrições de flora ou fauna existe um perigo correndo em paralelo, que intriga. O autor estabelece porta-vozes (pode ser uma águia, os capitães orc...) para esclarecer pontos obscuros, preparar o terreno para desenlaces, justificar ações aparentemente precipitadas. Em poucas linhas ele revela segredos que mil páginas não dariam conta de fazer.

Estou escrevendo essas linhas sem me aguentar pois gostaria mesmo era de me entrar até a raiz do cabelo em O Retorno do Rei, que é o último da trilogia e está me esperando de olho comprido.

(Antônio Saracura em 26 de maio de 2019)

O SENHOR DOS ANÉIS (A SOCIEDADE DO ANEL), JRR Tolkien


O SENHOR DOS ANÉIS (A SOCIEDADE DO ANEL), J RR Tolkien, Martins Fontes, 2011, ISBN 85-336-1516-1 para os três romances, total páginas 1210, este 426.




Eu precisava ler Tolkien, pela quantidade de livros vendidos (mais de 500 milhões), pelos filmes a que vi rapidamente na tv, especialmente pela palestra na Bienal de São Paulo em 2017, que me enfeitiçou. Esse motivo da Bienal eu conto no meu blog antoniosaracurasobrelivroslidos (para os mais curiosos).  

O exemplar do Senhor dos Anéis que adquiri  tem 1.210 páginas e engloba três romances (uma trilogia): A Sociedade do Anel, As duas Torres, e o Retorno do Rei. Os três contam a história da destruição do anel número um, que dá imensos poderes ao seu usuário: pode controlar todos os reis do mundo. A história começa em um livro anterior: Hobbit, que está resenhado aqui no blog. 



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A mesma longa e perigosa viagem feita em Hobbit por Bilbo Bolseiro e outros, é feita agora em A Sociedade de Anel, por Frodo Bolseiro, sobrinho do primeiro, e sua Comitiva. Até o roteiro geográfico é parecido: montanhas, pântanos, áreas desoladas, florestas com arvores vivas. Orcs, balrocs (novidade nesse), trolls, elfos, anões, hobbits, swangs, dragões... A viagem, que é o livro todo (tanto um como outro) é, nesse, bem mais tranquila.

Talvez eu tenha me acostumado com os perigos e aqui não me atribularam tanto como em Hobbit.

O ferimento de Frodo naquele cemitério desativado, que o deixou fora de combate, me pareceu meio irreal. Como se tivesse acontecido em um sonho. Apenas uma vez Frodo foi o alvo certo. Então foi um acaso, Sauron não sabia com certeza que Frodo portava o anel. Os Orcs, em Valfrenda, mal mostraram a cara e foram destroçados. Os da margem leste do Arduin, na chegada da grande cachoeira, apenas lançaram uma chuva de flechas inofensivas.

Até Gollun permaneceu tímido nas sombras, acompanhando a comitiva nem sei como conseguiu. Mais para não o esquecermos. Foi timidamente acusado de ter denunciado a Comitiva aos Orcs/Sauron. Como poderia? Se esteve o tempo seguindo a comitiva como um barco salva vida amarrado ao navio? Se saísse para avisar, perderia a pista e o seu “precioso”. Só se já houvesse celular!

Eu estava na maior expectativa quando a Comitiva entrou na Floresta Dourada. Viriam as aranhas, as árvores carnívoras? Mas apareceram Elfos bonzinhos que acolheram-na por mais de um mês no maior luxo.

De espetacular apenas, Gandalf sugado ao buraco flamejante de Moria, laçado pelo chicote de Balrock, essa sombra escura não bem definida. Causou suspense, emoção. O mago, meio demagogo (me pareceu)  sacrifica-se, manda a  Comitiva seguir em frente ficando para fechar a ponta do inferno (o fogo queimava todos os túneis). As cavernas de Moria ofereceram adrenalina com os Ulrucs negros de Mordor, com Orcs violentos, com trols. Como essa turma malvada (tão populosa) achou a Comitiva nos subterrâneas de Moria?

A morte do mago pode dar ao romance muito mais imprevisibilidade...

No mais, bons banquetes, barriga cheia, Destaque para os laços da amizade que ligam, especialmente, Samwise a Frodo, com momentos de grandiosidade. Diz Frodo, vencido, a Sam: “Não adianta tentar escapar de você, mas estou feliz, Sam. Não sei dizer como estou feliz.” Pela dor maior do anão Gimli, banalizando os perigos reais e sofrendo muito mais pela separação dos novos amigos achados no caminho: “o tormento no escuro era o perigo que eu temia, e esse perigo não me demoveu. Mas eu não teria vindo se soubesse do perigo da luz e da alegria. Agora, com essa despedida, sofri meu maior sofrimento, e não poderia haver pior nem mesmo que eu tivesse de ir nesta noite, diretamente ao encontro do Senhor do Escuro.”

A ganância de Boromir, bem disfarçada até quando não mais aguentou. O poder ofusca e cega. Em todo lugar. Em todos os níveis. Como resistir até ao prenúncio? A rainha Galadriel, que poderia ficar com o anel, teve forças para recusá-lo. E mostrou a Frodo do perigo que o poder eminente representa: “Os anéis concedem poderes de acordo com a capacidade de cada um que o possui. Antes que você pudesse usar esse poder, sentiria a necessidade de ficar mais forte, e treinar sua vontade em relação ao domínio dos outros. O poder é bom mas é incontrolável. Melhor nem pensar no anel.”

A Sociedade dos Anéis (primeiro da trilogia) é um livro de história singela que prende o leitor. Cada frase lida instiga à próxima, numa cativação que se transforma mais e mais em saborosa escravidão.

xxx

Essa parada que fiz na leitura para escrever as anotações que você está lendo, antes de começar o segundo livro, estão-me deixando agoniado, ansioso para subir às Duras Torres de um fôlego só.
Agora, entendo, perfeitamente, que 1.220 páginas é muito pouco se a escrita é boa. Mesmo que trate de coisas comuns, arrebata o leitor. Por outro lado, uma única frase mal escrita é demais para qualquer leitor aguentar.

(Aracaju, 14 de abril de 2019, por Antônio FJ Saracura)