VILA NOVA PARA SER
LEMBRADA, um retrato falado de sua gente, Aderbal Bastos Barroso, JAndrade,
2022, Aracaju, 280 páginas, ilustrado, ISBN 978-6589836-73-6
Mais um bom e útil livro
publicado pelo escritor Aderbal Bastos, este também, como os outros, tratando do
povo ribeirinho do São Francisco, Neópolis e vizinhanças.
E o livro traz na abertura, escrito com letras de destaque o provérbio chinês (que eu não conhecia): “Esquecer os ancestrais é como ser um riacho sem nascente, uma árvore sem raízes”.
Talvez seja uma lição a quem não liga a história e ignora os parentes (mesmo de destaque) que se foram ou mesmo os que estão vivos e até moram perto. Ou seria pedido de desculpa por fazer literatura falando da própria família e de figuras de sua terra?
Há intelectuais que
criticam Carlos Drummond de Andrade por falar de Itabira: “como dói”. Outros
criticam Saracura: “talvez estejam certos”.
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Tenho 75 livros na fila
de leitura, muitos há mais de dois anos, e eu, furo a fila, abro Aderbal, me
desculpem os outros livros, e não me furtarei em dizer meia dúzia de palavras
sobre o novo livro de Aderbal. Especialmente porque trata do que muito
me toca: origem, ascendência, família. Fala da Vila Nova do autor, que merece demais
ser lembrada. O livro é o retrato falado da gente de Neópolis esquecida, mas que
ferve, como se fosse outro Sergipe separado.
***
o livro conta a história do lugar, os fatos que a fizeram cidade importante. Freguesia em 1679, vila em 1733, comarca em 1835, visita do Imperador em 1859, cidade em 1910, troca do nome de Vila Nova para Neópolis em 1960. E no meio desse turbilhão me encontrei com um velho amigo, Tio Ioiô Pequeno, que se chamava Agesilao Batista Martins Soares, nascido em 1880. Viajáramos juntos pelas páginas do belo livro “Ioiô Pequeno da Várzea Nova”, de autoria de Mário Leônidas Casanova, editado em 1979, pela Editora Clube do Livro de São Paulo, e do qual mantenho uma cópia xerox ao alcance da mão.
Foi uma inesquecível viagem: Ioiô Pequeno me levando
pela mão como se eu fosse um curumim amarelo.
Aderbal Barroso que, pelo que entendi, é sobrinho de Agesilao fala das pessoas que fizeram Neópolis grande e boa, no seu modo de ver. Alguns destes até conheci, como o padre Evêncio Guimarães, que diziam ter sido coiteiro de Lampião e é pai de imensa prole. O padre comentava com amigos chegados que o voto celibatário, que lhe impuseram como padre, não era natural.
Conheci padre Evêncio em
visita ao seminário de Aracaju. Os padres vinham do interior resolver problemas
da paróquia e se hospedavam numa ala especial que o seminário possuía. Nenhum dos
seminaristas conversou com o padre Evêncio nesta única vez em que o vi, mas
todos o olhávamos, balbuciando interjeições: um baixinho vermelho que criava seu
próprio regulamento e possuía três amásias carregadas de filhos. Para uns, era o
próprio Satanás, e para mim, um pequeno Deus. “Quer dizer então que padre pode
também?”
Há o monsenhor Moreno que ficou 50 anos como pároco.
Há Jorge Adalberto de Souza, comerciante conhecido como “Jobesa”, nome da empresa quase uma multinacional. Adalberto era filho de Itabaiana como eu. Há barqueiros, comandante de navio, professores, políticos, enfermeiros... Boa parte desses heróis tem laços de sangue com Aderbal (o autor) porque Neópolis é muito sua família, desde os primórdios.
E, por fim, é apresentado
o município sob o olhar do jornal “A Defesa”, que circulou (com períodos
ausentes) de 1932 até 1987. Uma epopeia invejável.
Aderbal Bastos Barroso,
que é o presidente da Academia de Letras de Neópolis, publicou (fora as obras coletivas)
os bons:
No Remanso do Rio (2014),
À Sombra dos Oitizeiros
(2017),
Agridoce, Melaço de Cana
e Jabuticabas Maduras (2017),
Carvão Aceso (2019),
A Casa que só tinha
Janelas (2021).
Fiz resenha de alguns
destes, leia-os em: Antônio Saracura Sobre Livros Lidos, basta pesquisar
no google.
Aracaju, 2023set11, por
Antônio FJ Saracura.