segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

TROVÕES E FLORES

 

TROVÕES E FLORES, Luiz Carlos Andrade, 2020, Infographics, 162 Páginas, capa de Izaias Marinho, isbn 978-85-5730-011-4



Trovões e Flores” é o terceiro livro publicado pelo médico Luiz Carlos Andrade, no campo literário.

Este livro é mais compromissado com os meandros da profissão que o autor exerce, de onde sai a maior parte das crônicas e contos. Como se “Trovões” viesse mostrar a prática da teoria científica desenvolvida pelo autor em sua obra técnica “Medicina Interna” (dois tomos), publicada bem antes de sua estreia na literatura. Como se "Trovões" fosse o relatório das oficinas (consultório de clínica médica). 

Mas, também, há em “Trovões” gostosos e “inocentes” casos do tempo de estudante do autor, quando aprontou mil, como o roubo da prova do gabinete do professor Anito, no colégio Murilo Braga. E na mesma linha, há “A Punição de um estudante inocente”, e há outros que honram Itabaiana e os ferreiros (nossa família sagrada): “Tia Belizana”, “Os Caminhos de Itabaiana”, e “Itabaiana, Euclides e Tonho de Libânia.”

E há os contos que não são memórias da infância e nem de aplicação da ciência no consultório, como o bem humorado “Sai, Sai, Sai Diabo”. 

Neste, os evangélicos, instalados em uma nova igreja expulsavam o demônio dos corpos dos fiéis e os "fedorentos" correm se esconder justo no consultório do médico-escritor-autor, que fica em frente, do outro lado da avenida, conturbando o clima essencial a diagnósticos seguros.

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Assim, o corpo principal do livro consiste de uma dezena de histórias de vida e análise cuidadosa (até profunda), dissecando a alma (respiração do corpo) dos pacientes: 

o poder da seringa cheia de Neozine ante a imposição dos símbolos sagrados (Exorcismo via Endovenosa); 

O que não fazem a testerona, o bisturi do cirurgião, um bom filme pornográfico, na derrubada das barreiras mentais (As confissões de um padre); 

durante o banho meu padrasto ensaboava meus cabelos, lavava cada pedaço de meu corpo com muita leveza e, demoradamente, minha genitália e nádegas (Abuso sexual); 

a medicina é ciência e arte e inclui atitudes humanísticas como ouvir, olhar, tocar, fundamentais para o médico separar o joio do trigo e chegar a um diagnóstico correto (Ciência e Superstição); 

e outros na mesma linha tão bons quanto. 

“Trovões e Flores” é apenas uma amostra (nos livros anteriores apareceram rápidos ensaios) do que o ilustre médico, Luiz Carlos Andrade, tem para nos apresentar ainda. Afinal, ele dedicou a vida à clínica médica na qual angariou status de mago. A argúcia e a competência, aliadas ao domínio da ciência e a organização, dão-lhe um filão inesgotável de excelentes histórias para nos encantar e nos assustar.

Há um pequeno porém: Algum paciente se achar o personagem do conto ("essa é a história que contei ao doutor no consultório") e reclamar na justiça. Como fizeram alguns leitores, no conto "Ladrão de História", destruindo a carreira do escritor Maurício ("Histórias Roubadas", Décio Torres Cruz, 184 páginas, Penalux, 2022, Isbn 978-65-5862-308-0).

 

(Aracaju, 07 de fevereiro de 2021, revisão em setembro de 2023, por Antônio FJ Saracura).

 

 

 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

HORIZONTE AZUL, Sônia Gentil

 

HORIZONTE AZUL, Sônia Gentil, Páginas: 462, Isbn: 978-85-910928-0-2


 Dei uma folheada inicial, como sempre faço, para sentir o produto. Li frases soltas aqui e ali, cheirei sutilmente para pegar afinidade, acariciei com os dedos folhas aleatórias. Mas sempre um tanto desconfiado e, porque não dizer logo, achando o livro muito volumoso. Não que eu tenha medo de livros volumosos, pois acabara de ler Stieg Larson inteiro, três volumes, duas mil páginas cheias, como se sorve um gole de vinho bom.

Mas não me animei a ler afinco esse Horizonte Azul, também porque o cenário era fora do Brasil, região de gelo puro, que me dá calafrio. Por que autor, com tantas palavras na agulha, não escreveu uma epopeia de nossa gente, de nossa terra, tão pobre de literatura e de respeito.

 Então resolvi passar o livro para frente para ver se criaria coragem de enfrentá-lo depois. Emprestei-o ao antigo professor do ginásio de minha longínqua infância, doutor Carlos Leite. Ele está velhinho, tem quase noventa anos, e passa o dia numa cadeira de rodas. Possui todo o tempo do mundo a arriscar. Achei!

Uma semana depois, ele me devolveu o livro dizendo que gostara, e muito. Era uma história bonita, emocionante e contou-me passagens.

Nesse meio tempo, Joelma da Infographics, minha editora, ligou-me querendo saber se eu já lera “Horizonte Azul”, do qual lhe farara quando o comprei na Escariz.

 

Disse-lhe que ainda estava o arrodeando. E ela, assim como o doutor Carlos Leite, falou que lera e o achara muito bom.

Fiquei sem alternativa, teria que ler também.

 Xxx

 Estou na página 83 e não vou continuar lendo amiúde, palavra a palavra. Lerei os pedaços aqui e acolá apenas. Leitura dinâmica, que não gostaria que ninguém me lesse.

 Estou achando que a autora desperdiçou palavras demais para contar pouca coisa. Ou talvez tenha se alongado, quando nem seria necessário. Situações poderiam ser descritas com uma frase apenas ela gasta mais de cem. Achei os diálogos óbvios demais. Achei as descrições fúteis, que não preparam para nada. Ou serão (talvez) aproveitadas na trama muito a frente, um lugar onde não chegarei. Há muitas gentilezas, muitos salamaleques, muitos adjetivos amenos, muitas flores no andor do santo.

 Que me desculpem Carlos Leite, Joelma, Sônia Gentil. Especialmente Sônia que escreve português irretocável, conta uma história admirável...

Mas não me tocou, não me envenenou.

 (Aracaju, julho de 2013, Antônio Saracura, recuperada em fevereiro de 2021).

A AVENTURA DE SAMAEL, NA TERRA TRÊS RIOS

 

A AVENTURA DE SAMAEL, NA TERRA TRÊS RIOS, Evandro Ximenes, Offset Editora Natal, 2020, ra 172 páginas, isbn 978-65-990089-5-5

 



Eu tenho Groaíras (cidade pertinho de Sobral, no Ceará) como um pouco minha. Ouvi tantas histórias sobre Groairas da boca de Domingos Pascoal de Melo nas viagens pelo interiorzão de Sergipe, na plantação de sementes para o despertar e democratização da leitura e da escrita, que misturei Groairas com minha Itabaiana. Terra Vermelha e o Cantodohamaistempo me parecem o mesmo lugar, com os rios Jacaracica e Groaíras cheios pelos olhos dos paus e correndo um ao lado do outro.

Sobre o livro "A Aventura de Samael"... 

O prólogo do livro me ouriçou. Estava adentrando na intimidade de um lugar e é delas que brotam grandes narrativas. Os costumes, a geografia, o povo... E aquele moleque traquinas que transpirava adrenalina... seria meu novo herói.

Mas...

A tropa de ciganos passa à cavalo por uma estrada, e membros proferem longos discursos que mais caberiam numa sala de aula ou no púlpito de uma igreja. Pode ter acontecido desse jeito mas o narrador não pintou tela para isso.

O autor escreve que vai contar um fato. Bastava contar. Encomprida os desenlaces. Revela a surpresa que é essencial postergar na prosa (capitulo três página 39), como o final da trama que o romance ainda vai desenvolver: o rigoroso castigo que cabe a Helena e agregados pelo atrevimento de desfrutar a felicidade fora dos paradigmas da absurda lei divina (judaica).

Há esbanjamento de filosofia, doutrinas religiosas, mistérios suspeitos dos livros sagrados, sabedorias canônicas... Sem o contexto exigir. Ficou parecendo afetada retórica fora do lugar.

O velho andarilho (bom personagem com excelente entrada e postura) desvia o rumo e faz brotar o miolo de um novo livro: Os antecedentes, o julgamento a condenação da família modelo. Mais um crime da absurda Santa Inquisição. Como não encontrei bibliografia que garantisse ter sido fato histórico, senti que um alienígena roubou a metade do romance esperado.

Há personagens marcantes, como o ermitão, Francisco do Espírito Santo e Torquemata. Mas o primeiro não merecia a má fama apregoada de tarado praticante de zoofelia. E o segundo (espero que não seja fato histórico) não merecia ser pintado com seus “apolos” em libidinosa orgia. Não me pareceu justa a associação de ermitão asceta às taras animais nem a de fanático religioso à pederastia. 

Como o protagonista Samael, que tem o poder do Cão, pois é o próprio, não anteviu a desgraça que aconteceria aos seus (havia ido à Sobral comprar mantimentos) e, além do mais, quando retorna e sabe, covarde foge?

Que diabo fraco e frouxo é esse? Nem parece que é o personagem principal que confere o título da obra. 

Torci em vão para o autor conectar as famílias remanescentes dessa aventura (descrita com maestria desde a denúncia ao julgamento de condenação da família modelo) às atuais famílias que constituem Groaíras (Ximenes, Feijões, Melos...). Os fracos links que contem, como Deolino, como Pietro Cesar e seus descendentes, como os dois padres espertos portugueses, Lucião e Mancião, não deixaram rastros claros apenas indicações. Ficou clara apenas a herança da prática da zoofelia praticada pelos moleques do lugar.

Julgo que Evandro Ximenes pode escrever um grande livro sobre o valoroso povo que desbravou e colonizou esse belo canto sombreado de imponentes buritis. Mostrou que pode.

 (Por Antônio Saracura, em 29 de outubro de 2020).

 

 

ROMANCE DA PEDRA DO REINO, Ariano Suassuna

 

ROMANCE DA PEDRA DO REINO, Ariano Suassuna, edição: (Emprestado da biblioteca do Sesc, na Rua Dom José Thomaz, em Aracaju).




 

 

Os desvarios de Ariano Suassuna

Gaguejados assim: “diz... mas não diz...”

Em mais de setecentas folhas cheias

De estórias deste seu “reino” infeliz

 

E eu penso aqui comigo: Pouca gente

Conseguiu ler o livro após o meio...

Até os caras que elogiaram

Usaram no elogio chapéu alheio

 

Eu que sou um tremendo cdf

Li “Os Sertões” até a última linha...

Precisei saltar trechos nesse livro

Ao perceber que lia o que já tinha...

 

Acompanhei matreiro  o incansável

“Corregedor”. Também “Pedro”, o enrolado...

Pegando meia frase aqui e ali...

E achando que lia duplicado. 


É tanto  vai-e-vem que até um príncipe

Foi nomeado para endireitar

O príncipe agora está mordendo o rabo, 

Rodopiando sem poder parar 

 

Mas, por fim, boto a culpa em quem merece,

Que não é o brilhante escritor,

Sou eu mesmo e, por causa de burrice,

Não me coube entender o que narrou.

 

(Aracaju, fevereiro de 2010, Antônio FJ Saracura, recuperada em fevereiro de 2021, revisão em setembro de 2023).


30/03/2012 / ANDREIA SANTANA, EM "MAR DE HISTÓRIAS":

Um romance para decifradores (O primeiro parágrafo):

 Romance d´A Pedra do Reino não é leitura para ser feita às carreiras. É livro de decifrar, de palmilhar página a página, em compasso de quem anda pelos descaminhos do sertão sob um sol abrasador. O estilo da obra de Ariano Suassuna é difícil de definir. Seria cordel, novela de cavalaria, autobiografia, exorcismo de um trauma passado, história de amor, de ódio e de sangue, epopeia em prosa? O próprio personagem principal, Dom Pedro Dinis Quaderna, nos dá a pista: é um castelo de sonho, “a obra máxima da raça brasileira”. Bem disse Raquel de Queiroz no prefácio, que ler livro escrito por um erudito é o diabo. Ou você eleva o pensamento ao nível do visionário e delirante Quaderna (e da genialidade de seu autor), ou deixará a leitura inacabada. É de delírios, miragens de deserto, de legenda e sonho que trata essa obra. Da grandeza do homem mesmo diante da mesquinharia da vida. ... (Leia inteira em:  no site) 



terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

PONTO DE PARTIDA, Tarciso Ramos

 

PONTO DE PARTIDA, Tarciso Ramos, J. Andrade, Edição: 2, páginas: 78,ISBN: 978-85-60075-55-3



Por que será que não encontro o ponto certo do prazer  na maior parte dos poemas publicados aqui?

Tarciso Ramos veio festejado, ganhou discursos de louvor de eméritos intelectuais no lançamento do seu livro que aconteceu na Academia Sergipana de Letras.  Vieram de Estância (sua terra) autoridades. O poeta então deve ser bom, pois angariou prestigio à arte, tarefa inaudita, 

Já ouvira Tarciso declamando poemas em saraus e comemorei: um poeta convincente.

***

Estou lendo “Ponto de Partida” há duas semanas. O livro é pequeno, e leio devagar.

Repito a leitura de cada verso, tentando encontrar o sentido oculto, a alma que vibre. E os poemas não me fisgam. Que dê o vate estanciano que me encantou nas declamações?  Impaciento-me, porque eu queria muito rever. 

Talvez eu deva reler o livro inteiro, até a última  página, pois há algo amargo demais neste meu fel  hoje. 

Respiro fundo.... E mais devagar do que da primeira leitura, compulso as páginas, cheiro os versos, fuço as magias. E me encanto com   “Na mão” (página 23), “Os Olhos” (página 24), “Eu Gosto de Você” (página 25), “Sono dos Inocentes” (página 38), “Morro, Barraco e Madeira” (página 39)... e outros tantos que me escaparam da primeira vez.  

E digo para mim mesmo (e acho que já escrevi isso em algum lugar): "Uma leitura não é nada para qualquer poema."

***

Se um livro de poesia contiver um único verso que me arrebate, o livro é bom. E o livro Tarciso tem muito mais e teria mais ainda se eu tivesse tempo para outras releituras. .  .


(Aracaju, 25 de setembro de 2011, Antônio FJ Saracura, recuperada na pandemia do Corona Virus fevereiro de 2021).

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

PROFISSÃO EX-MULHER, Albino Freire,

 

PROFISSÃO EX-MULHER, Albino Freire, JM Editora (Curitiba),2000, Isbn:85-86267-07-4 (9788586267079)

 


 

Um cidadão chamado José Dantas Mendonça disse-me ao telefone que havia lido “Meninos que Queriam ser Padres” e que gostara muito. Queria marcar um encontro comigo para conversarmos. Já se vão mais de dez anos, é que ando devagar mesmo,  . 

Eu, como sempre sou mais livre do que todo mundo, fui ao seu encontro em  empresa na rua Campo do Brito aqui em Aracaju. Ele era o dono.

No pouco tempo que fiquei o Sr. Dantas (ele tinha outro compromisso. marcado) me falou de Albino Freire, seu colega de colégio, e que é escritor consagrado no Paraná e no Brasil.

Pediu-me para autografar um exemplar de “Meninos que não Queriam ser Padres” que mandaria para Albino e me emprestou, estava sobre sua mesa, esperando-me,  um livro de crônicas de Albino, “Profissão Ex-mulher”.

Acabei de ler agora.

Uma leitura agradável, estilo (eu achei) parecido com o meu, assim despojado, sem firula nem latim nenhum. 

Há algumas crônicas específicas da área jurídica onde o autor exerceu a magistratura como Juiz. “O Coxo” é muito boa. 

Há crônicas que tratam do trânsito e de flanelinhas, similares a algumas que escrevi em “Minha Querida Aracaju Aflita”. Outras tratam de violência, de reminiscências, de situações engraçadas. “Galo Marvado” e “Velhinha da Lambreta” são especiais.

(Aracaju, 08 de dezembro de 2011, Antônio Saracura, recuperada em janeiro de 2023).