terça-feira, 12 de dezembro de 2023

A MULHER QUE SE CASOU DEZOITO VEZES , Edleide Santos Soza

 A MULHER QUE SE CASOU DEZOITO VEZES  (Cordel, letramento literário e verbo-visualidade),  Edleide Santos Roza, Criação Editora, 2022,142 pag, il, Isbn 978-65-88593-78-3.

 


02/09/2023, 06:52:12] Antônio Saracura para Edleide in wsapp:

‘’Li o primeiro capítulo e pedaços ao longo do texto de “Cordel Letramento Literário Verbo-visualidade” agora. Estou fazendo festa. Os meus pontos de vista (que são um tanto gerais mas absurdamente contestados por muitos) foram consolidados em palavras claras e argumentos incontestes pela professora. Obrigado pelo presente com dedicatória e tudo”.

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(Voltando ao livro...)

A autora, professora Edleide Santos Roza, de Escola pública em Riachão do Dantas, traz-nos uma boa surpresa em sua dissertação de mestrado de conclusão do curso de Profissional em Letras da UFS. A poesia de um cordelista chamado Valeriano Feliz dos Santos, com quem nunca tive a chance de me encontrar, mesmo vivendo, como eu vivo, intensamente, o dia a dia literário. Nem João Firmino Cabral, nem Pedro Amaro, nem Zezé de Boquim, que conviveram com Valeriano e comigo, me falaram do poeta, que me lembre. Certo que Valeriano já era falecido (em 1996) e eu apareci na literatura apenas em 2008, com a publicação do livro “Os Tabaréus do Sítio Saracura”.

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Valeriano nasceu em 1926 no Riachão do Dantas, povoado Palmares. Viveu na Bahia a idade madura, em Simões Filho, onde foi funcionário público e se aposentou. Consta ter exercido o jornalismo.

A professora usou, em sua análise, apenas um livreto de Valeriano: “A mulher que casou 18 vezes”.

Um bom livreto. Tem rimas naturais, visco na trama, tem humor, chacota, a melhor verve. Valeriano não é um poeta qualquer, conhece a arte, domina a ciência do sentimento, manobra o amor e a morte com segurança. 

Cria versos e estrofes, que são tiros certeiros.

Valeriano é autor de muitas obras.

80 livretos dele foram encontrados no acervo da biblioteca da fundação Rui Barbosa no Rio de Janeiro e mais 43 constam na bibliografia escrita pelo próprio autor na sua obra “De volta ao ninho antigo”.

Foi poeta integrado ao meio cultural do tempo. Seus livros eram impressos no Rio de Janeiro e São Paulo, boa parte pela Editora Luzeiro, pelas Visual Books e DocReader.

E teve projeção nacional. O livro “O Encontro de tia Policarpa com o seu destino”, foi transformado em série, exibida na semana de 10 a 14 de janeiro de 1993, no programa Caso Verdade da TV Globo.

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E a professora navega pela teoria literária e pelos seus naturais mares de saber, consolida conceitos, disseca os versos de Valeriano nos 18 casamentos da mulher singular. Faz uma cuidadosa avaliação técnica literária do romance que tomou como foco. Não lhe escapa nada, desde as editoras que o publicaram, às capas que o ilustraram... Tece considerações sobre cada componente, validando-o, seja verbal, seja visual. E enriquece a dissertação ao oferecer aos colegas professores de Língua Portuguesa, roteiros lúdicos de aulas “que podem ser usados, de imediato, em qualquer série de educação básica”, conforme observa o mestre em Letras pela UfS, Lucas Santos Silva, na contracapa.

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Catei meia dúzia de estrofes de  “A mulher que casou dezoito vezes” para ilustrar esta resenha.

 

E naquele cemitério,

uma cova existe aberta,

pois quem casar-se com ela,

 Perde a cama e a coberta,

Não comerá mais pirão,

pode levar o caixão,

que tem a morte por certa (Página 4).

 

 

Mas em cada sepultura,

Há de deitar uma flor,

Dizendo: Durma feliz

o meu décimo oitavo amor...

Que a terra lhe seja leve,

e outro irá dentro em breve

aliviar sua dor (página 5).

 

Soluçando inconsolável

Disse consigo: Eu não acho

um homem que seja homem,

Um macho que seja macho.

Escuto roncar trovão

chove tanto no sertão

Vive seco o meu riacho (Página 9)

 

Na verdade, não sou feia

sou rica, dengosa e bela

Todos olham para mim

se vou até a janela...

Tenho os cabeços compridos,

já tive tantos maridos

mas continuo donzela... (página 10.

 

Eu me caso com você,

-Disse o rapaz destemido -

nem que morra logo após

engasgado ou entupido,

está selado o assunto,

me considero defunto

mas hei de ser seu marido. (página 10).

 

Aracaju, 19 de novembro de 2023, por Antônio FJ Saracura.