ACADEMIA LITERÁRIA DE VIDA. Lígia Pina, e outras, Infographics, 2012
Você já ouviu falar?
Uma academia de mulheres geniais
de Sergipe. Em dezembro de 2012 completou 20 anos e editou uma bela revista,
pela Infographics, que tem o mesmo nome.
Li a revista, que me encantou.
A imortal Maria Madureira Pina
(autora de “A Relíquia – Crônica e Contos”) comanda o grupo e é a grande
estrela da nossa cultura. Ela sempre me tratou com extrema distinção, tendo
escrito resenhas antológicas sobre alguns livros que publiquei, haja visto a
que escreveu sobre “Tambores da Terra
Vermelha”, que reproduzo onde me dão espaço.
Cumpre-me informar que Lígia Pina
faleceu em 18/08/2014. Lamentei muito, era alguém que valorizava meus escritos,
um dos poucos que me liam religiosamente. O presidente da Academia Sergipana de
Letras, José Anderson Nascimento, fez publicar no Jornal da Cidade um artigo de
sua lavra que precisa ser lidos por todos (está no final desse resenha, se
tiver tempo não o pule).
Mas, retornando à revista da
Academia Literária de Vida, ela traz belos poemas e crônicas de alguns de suas
imortais:
Yvone Mendonça de Souza (“Trajetória
de uma Vida”) que já falou bem de meus livros e até fez um rsgado elogio aos “Tabaréus
do Sítio Saracura”.
Cléa Maria Brandão de Santana
(“Casa de Farinha e Outros Escritos”) que sempre encontro na Academia Sergipana
de Letras nas tardes das segundas-feiras. Casa de Farinha é um belo texto que
encanta sem favor.
Adelci Figueiredo Santos
(“Geografia de Sergipe”) que foi minha professora de Geografia Econômica na UFS
nos idos de 1968. Sempre deu-me notas boas. Talvez por isso tenho-a em um altar
de ouro no templo de minhas lembranças gratas.
Ângela Margarida Torres de Araujo,
Maria Conceição Ouro Reis, Maria Hermínia Caldas, Josefina Cardoso Braz ,
Shirley Maria Santana Rocha, Marlaine Lopes de Almeida...
Ainda há na revista poemas e
matérias de figuras ilustres da nossa urbe literária: Martha Hora, Avany Torres
de Souza, Leyda Regis, Therezinha Belém, para citar apenas alguns.
E, agora, leia o artigo que
prometi reproduzir:
18/08/2014 ÀS 10H00
- ARTIGOS
A escrita de
Maria Lígia Madureira Pina
Por: José Anderson Nascimento
A escritora, poeta, professora e
acadêmica Maria Ligia Madureira Pina, falecida em 14 de agosto de 2014, era uma
ilustre sergipana que se dedicou ao ensino e às letras, tanto na composição de
belíssimos poemas, como na escrita de ensaios historiográficos e de crônicas.
Filha de Affonso Pinna e de D. Alexandrina Madureira Pina, Lígia Pina, como era
mais conhecida no meio acadêmico, nasceu em Aracaju, Sergipe, a 30 de setembro
de 1925. Fez as primeiras letras com a Professora Carlota Sales de Campos, no
Colégio Frei Santa Cecília, em Aracaju, transferindo-se depois, para o Grupo
Escolar Manuel Luiz e, em seguida, para o Colégio Nossa Senhora de Lourdes,
onde concluiu o curso primário. Cursou o secundário no Instituto de Educação
Rui Barbosa, quando iniciou com as suas atividades literárias, muito
incentivada pelas professoras Maria Conceição Melo Costa, Julia Teles e Dalva
Costa.
Já professora, graduada pela Escola Normal, tentou fugir do magistério, para
atuar como comerciária, na firma Cabral Machado & Cia., tentativa esta
frustrada diante da sua vocação pelo magistério, principalmente porque havia
conquistado no curso do Instituto de Educação Rui Barbosa, um amadurecimento
social e cultural, capaz de transmitir aos adolescentes aracajuanos, os
conhecimentos obtidos naquela modelar instituição de ensino público, formadora
de uma plêiade de profissionais do ensino, que se destacaram no cenário
educacional do Brasil.
No curso superior, muito incentivada pelos professores José Silvério Leite
Fontes, Maria Thetis Nunes, Josefina Leite, Lucilo Costa Pinto, Felte Bezerra,
Gonçalo Rollemberg Leite e D. Luciano Cabral Duarte, Lígia Pina dedicou-se ao
estudo da Filosofia, da Antropologia, da Sociologia, da Geografia, da
Literatura e, principalmente da História, dando início, assim, aos ensaios
publicados nesse campo, além de outras pesquisas com o foco na Pedagogia.
Graduada em História e Geografia, na Faculdade Católica de Filosofia de
Sergipe, firmou-se no magistério, por mais de três décadas, lecionando aulas de
História, Geografia e Sociologia, com atuação, desde 1959, em colégios da
capital sergipana, entre eles o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, o Instituto
de Educação Rui Barbosa, o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de
Sergipe; e, também, no Colégio Estadual de Sergipe e no Colégio Tobias Barreto.
No decorrer da sua carreira no magistério estadual, a intelectual que
subitamente nos deixou, transferindo-se deste Oriente para o Oriente Eterno,
participou de vários eventos educacionais, tanto no Brasil, como no exterior,
valendo destacar as suas experiências internacionais no Curso de Sistemas
Educacionais a que frequentou em Israel, no ano de 1989.
Paralelamente à sua atividade no magistério, Lígia Pina, muito produziu textos
literários e trabalhos didáticos para a orientação de adolescentes, como: As
Riquezas do Brasil, em 1969; O Poema Histórico da Ordem Sacramentina, em 1970;
O Viajante do Tempo, em 1977; o Ponto Ômega, 1979; Patrícios e Plebeus, entre
outros, que tiveram grande repercussão nos meios educacionais do Estado de
Sergipe.
Ao lado de tudo isso, a intelectual aqui referenciada, no seu livro de poemas
Flagrando Vida, publicado pela Sociedade de Cultura Artística de Sergipe, em
1983, demonstrou os seus pendores literários, despertando o sentimento do belo.
De igual forma, no seu livro Satélite Espião, produziu poemas com extrema
qualidade lírica.
Mas, foi na prosa, especialmente no livro A Mulher na História, que a acadêmica
Maria Lígia Madureira Pina veio a se notabilizar, no cenário intelectual de
Sergipe.
A Mulher na História é um repositório de preciosas e importantes informações,
pois adotando o método de pesquisa bibliográfico, com algumas incursões no
método empírico, ela narra toda a trajetória da mulher, desde a mais longínqua
Antiguidade até aos dias atuais.
Nesse livro, começa por analisar as origens da discriminação da mulher, a
partir da função biológica, própria do sexo feminino; dos tabus que passaram de
geração a geração e a sua segregação bíblica. Mostra, ainda, a submissão da
mulher na Antiguidade Clássica, sob o regime do patriarcado, quando era
submetida a uma capitis iminutio perpétua: o marido podia repudiar a mulher;
era legal a subordinação total da mulher à autoridade marital.
Ao recebê-la na Academia Sergipana de Letras, quando tomou posse na Cadeira
número 27, numa memorável sessão acontecida em 13 de maio de 1998,
concentramo-nos na análise do seu livro, A Mulher na História, que apresenta um
elenco importantíssimo das representantes do sexo feminino, em todas as áreas
do conhecimento humano, valendo destacar Rosa de Luxemburgo, líder socialista e
uma das grandes expressões da Economia Política; Simone de Beauvoir, romancista
e feminista, autora do livro O Segundo Sexo, que trata da emancipação feminina;
Coco Chanel, que revolucionou o mundo da moda; Agatha Christie, romancista
mundialmente conhecida; Virgínia Wolf, escritora que introduziu o romance
psicológico e lutou contra os padrões literários da Era Vitoriana; Dolores
Ibárruri (La Passionara), líder operária espanhola, que lutou contra a opressão
do Generalíssimo Francisco Franco; Golda Meir, fundadora do Estado de Israel e
Madre Tereza de Calcutá, que dispensa comentários, diante da sua trajetória em
benefício dos menos afortunados.
A Lígia Pina, na sua obra literária, exibe-nos um formidável painel das
mulheres que se projetaram no balé, no teatro, no cinema, nas artes, e focaliza
as mulheres brasileiras que tiveram uma maior participação na política, na
literatura, na música, nas artes plásticas, na aviação, na filantropia e
beneficência, exemplo de Maria Quitéria de Jesus Medeiros, Joana Angélica de
Jesus, Ana Néri, Anita Garibaldi, Princesa Isabel, Cecília Meireles, Raquel de
Queiroz, Dinah Silveira de Oueiroz, Cora Coralina, Madalena Tagliaferro, Bidu
Sayão, Chiquinha Gonzaga, Alice Tibiriçá, Tarcila do Amaral, Carmem Miranda,
Anésia Pinheiro Machado, Irmã Dulce.
Na sua escorreita escrita, a professora Lígia Pina dedicou um especial capítulo
à mulher sergipana, dando ênfase especial às educadoras laranjeirenses
Possidônia Bragança e Zizinha Guimarães. Ressalta a atuação das intelectuais
Etelvina Amália de Siqueira, Leonor Teles de Menezes e Cezartina Régis,
ex-alunas da Escola Normal e pioneiras do Movimento Cultural Feminino, em
Sergipe.
Nesse mesmo sentido, a acadêmica Maria Lígia Madureira Pina, abriu páginas
indeléveis fincando a participação de Quintina Diniz de Oliveira Ribeiro,
professora e política; da jurista Maria Rita Soares de Andrade e da poetisa Carlota
Sales de Campos.
Genésia Fontes (D. Bebé), na filantropia; Flora do Prado Maia, no romance;
Leyda Regis, na contabilidade, Rosa Faria nas artes plásticas e Yvone Mendonça
e Celina de Oliveira Lima, no magistério, receberam especial registro no livro
A Mulher na História.
No destaque final da sua obra, Lígia Pina dedicou-se ao estudo da vida e da
obra das acadêmicas Ofenísia Freire, Maria Thetis Nunes, Núbia Marques,
Carmelita Pinto Fontes e Gizelda Morais, escritoras, cientistas sociais,
poetisas e romancistas, todas elas dedicadas, também, ao magistério e
responsáveis pelo desenvolvimento moral e cultural do homem sergipano.