quarta-feira, 21 de julho de 2021

O CORPO, Welis Couto


 

O CORPO, Welis Couto,2019, 228 páginas, Ella Editorial Eirele, Campo Grande/MS, isbn 978-85-8405-183-0

 

No primeiro capítulo achei que a trama não evoluiu bem, logo na abertura, onde o escritor deve prender o leitor.

Com a chegada de Munhela, fiquei animado e fui em frente.

Então a história mudou de cenário indo para a Holanda. Me pareceu um momento impróprio, com o gado morto no curral. Eu ligo!

Há ganchos interessantes, como as referências ao estranho que mira o caixão (por que diabo queria expulsá-lo de minha casa?).

O terceiro capítulo tem bois mugindo desesperados (sentimento humano) ao verem irmãos irem ao matadouro...

Naveguei pelo alto do capitulo quatro, sentindo cheiros, tentando captar algo que me prendesse e me fizesse retornar ao início do livro (ou do capitulo).

Fiz o mesmo com o restante do livro até a página 225 (final) que li inteira.

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Amigo Welis, seu livro pode ser um clássico, mas não me segurou. Certamente eu não consegui sintonizar seu mundo por deficiência de minha engenharia.

Guardei o livro para reler depois.

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E constato, agora, dezembro de 2020 (um ano passou rápido), que não consegui ler outra vez seu livro.  Apareceram mil outros e mil agonias com essa pandemia.

Então, resolvi enviar as anotações (de um ano atrás), apenas porque eu gostaria muito de recebê-las sobre meus livros, assim sinceras. Não fique com raiva de mim. Achei melhor falar do que me calar. Seria mal maior, pois você me deu uma adorável resenha sobre “Pássaros do Entardecer.”

O amigo de sempre, Antônio Saracura

(Aracaju, 08 de dezembro de 2019, por Antônio FJ Saracura)

 

Post Scriptum:

Eu não conhecia o símbolo africado Sankofa que é um pássaro olhando o rabo e representa flash back.

Muito bom.

Obrigado.

 

A SAGA DE UM PILOTO

 

A SAGA DE UM PILOTO, J. C Queiroz, Editora Image 2021, 48p Isbn 978-65-992413-5-2.



“A Saga de um Piloto” não mergulha nas águas da Mãe D’água es avança no tempo para o ano de 2050, com o piloto James, um menino da roça que sonhava alto e esbarra com no seu destino improvável.

Um acidente aéreo, que James evitou por um triz, muda sua vida. Descobre o Apocalipse profético que lhe contesta a vida pasteurizada.

O autor do livro se levanta das páginas e conversa com o leitor. Um diálogo do materialismo com a espiritualidade. 

 As crises nos arrancam do conforto, criando um recomeço, fazendo-nos superar os limites.

O erro que persiste... E não conseguimos nos perdoar ou perdoar a quem nos machucou.

Lições obvias, mas que fazem bem ouvi-las de novo.

 

 (Aracaju, 26 de junho de 2021, por Antônio FJ Saracura, em plena pandemia do Corona).

POESIA AOS CINCO CANTOS

 

POESIA AOS CINCO CANTOS, Viviane dos Santos Cardoso, Aracaju, Artner, 2021, 68p, isbn 978-65-88562-27-7

 



Viviane é do povoado Taborda, Nossa Senhor das Dores, onde viveu ate os vinte anos. Ela ainda é jovem. E na Taborda esteve sempre envolvida com a arte, pois em seu lugar há infraestrutura que possibilita isso. A ONG “Cultivar” oferece entretenimento, educação e cultura na região sul do município de Dores, onde está a Taborda. Nem só a lida dura do campo enche o dia a dia do povo da zona rural. E Viviane, como muitos moradores destes povoados de Nossa Senhora das Dores,  desde garota,  participou de antologias literárias, ensaiou poesia e prosa, ganhou prêmios.

Tenho acompanhado e me gratificando com o tema da maioria dos textos produzidos por esta garotada dorense:  histórias do povo do lugar. 

Conhecendo bem nossa gente e lugar, em vez de nos envergonhar,  nos orgulhamos deles a vida toda.  

 “Poesia aos Cinco Cantos ”, primeiro livro solo de Viviane, fala de Taborda, da terra mãe, da família, dos sonhos,  das queixas, das dores e do espanto ante o mundo complicado quando precisou voar mais longe. São poemas simples como a natureza no campo,  têm o sabor da fruta respingada de orvalho colhida no pé .

O livro está segmentado em cinco cantos como o título anuncia. O primeiro canta o povoado; o segundo rememora a vida vivida; o terceiro trabalha o social e seus ingredientes bons e maus; o quarto trata da família; o quinto, do sonho do poeta. 

Sem o rigor da matemática.

Gosto da ousadia, que pratico com parcimônia, e que não deveria.

Gosto de quem canta seu mundo (sua aldeia) e tento fazer isso também por que estou satisfeito com o que Deus achou que me servia.

Que Viviane continue fiel ao seu lugar, o melhor do  mundo para ela! E que o cante a vida toda, assim: 

 

“Sem muita extensão,

Luxo,

Urbanização.

Sem muito barulho,

Correria,

Gritaria.

É assim o dia a dia

 No melhor lugar do mundo.

É assim no Taborda

E dele eu não mudo”.(Página 11)

 

Aracaju, 21 de julho de 2011, Antônio FJ Saracura

terça-feira, 20 de julho de 2021

A CASA QUE SÓ TINHA JANELAS

 

A CASA QUE SÓ TINHA JANELAS, Aderbal Bastos Barroso, J. Andrade, 2021, 204 páginas, 21 cm, isbn 978-65-993739-5-4

 


Mais um livro do profícuo Aderbal Barroso, presidente da Academia de Letras e Artes de Neópolis. Em pouco tempo nos presenteou com "No Remanso do Rio" (2014), "À Sombra dos Oitizeiros" (2017), "Agridoce Melaço de Cana e Jabuticabas Maduras" (2018), "Carvão Aceso" (2019), e este, "A Casa que só tinha Janelas", em 2021. Achei todos bons. Nesse meio tempo, organizou/participou de Antologias, como “Neópolis Academia de Letras”, que a tenho. Ela contempla a produção intelectual de membros da arcádia (poesia, crônicas, músicas com endereços do áudio no Youtube, artes plásticas) e inclui sucinta história de Neópolis e da academia de letras (atas iniciais e biografias dos patronos e os membros fundadores de cada cadeira.

“A Casa de só tinha janelas”, o mais recente, que tenho aqui, são crônicas curtas e tratam de acontecidos na beira do Rio São Francisco (cenário recorrente na obra de Aderbal). Canoeiros, pescadores, lobisomens, mães d’água... Zé Mandin, Gato Vagalume, Roque das Mulas, Joãozinho Barroso (JB), Cila do Brejo da Conceição, Zé Simão, Alemão de Água Doce, tia Nanã, Sebastião Salomé...

Personagens mitológicos ou venerados no beiradão imenso do grande rio ou na imaginação privilegiada do poeta e prosador.

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"A Casa que só tinha janelas” possuía portas, nas sempre fechadas.

Em certa manhã, eles estavam na mesma praça da Casa que só tinha janelas, seu Adroaldo amolava a foice na soleira da porta de sua casa, preparando a amiga para o trabalho e seu Zé de Lídia (seria Aderbal?) ia à padaria e, em sua cabeça, amolava a caneta de contar histórias. Atônitos, os dois viram portas abertas na casa. Seu Adroaldo ficou paralisado. Mas Zé de Lídia foi lá, subiu a escada, olhou o interior tão carregado de segredos. Entrou na casa e pasmou ante cantoria de igreja, o cheiro de incenso, o tilintar de turíbulo fumegante na capelinha de Nossa Senhora Menina. Tudo se configurava real. Abriu caminho por entre a gente toda que já estava circulando na casa e chegou em um imenso salão iluminado por velas. No meio, estava um caixão azul-celeste, cheio de flores amarelas, que escondiam um corpo do qual aparecia apenas o nariz. 

Naquele dia, Zé de Lídia chegou a casa da avó sem os pães que toda manhã ia comprar, mas em compensação, trouxe um braçado de boas histórias para contar, que eram o segredo que se perdia nesta misteriosa casa que só tinha janelas.

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Apresento, a seguir, três excertos que dão o batido da prosa de Aderbal nas histórias vividas ou ouvidas, como confessa, de pessoas do rio e alagados em volta. Tesouro pouco e explorado pela literatura, que agora ganha seu Homero ribeirinho. Neópolis, Brejão dos Negros, Brejo Grande, Santana do São Francisco na margem de cá, e outras localidades da banda de lá, nas Alagoas.

“A patroa estava inconformada por causa do achaque de indiferença do macho da casa, ultimamente ele não estava conseguindo uma levantadura suficiente para o gasto” (Fumo de Rolo)”.

“Todo fato, por mais simples que fosse, quando caía na roda e era tecido no fio da conversa, se transformava de vez em um senhor acontecimento” (Quem Herda não Furta)”.

“Ela era muito animada e se realizava em contar sua vida na lavoura e nos currais de gado leiteiro de seu patrão, o coronel José Guimarães, o Zé Padre, como era conhecido nas aguadas de Parapitinga, hoje chamadas Brejo Grande”. (Xícaras Azuis).

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Um livro que dá gosto ler. 

Aracaju, 20 de julho de 2021, revisada em julho 2022, Antônio FJ Saracura.

 

 

domingo, 18 de julho de 2021

RETORNO AO DESMEDIDO SILÊNCIO

 

RETORNO AO DESMEDIDO SILÊNCIO, Jânio Vieira, Aracaju, Artner, 2021,  89 páginas,Isbn 978-65-88562-25-3

 

De cara me veio à mente o bom “Translúcido Silêncio” de Manoel Cardoso, um poeta de Nossa Senhora das Dores mas radicado em São Paulo há anos e que conheci via uma irmã dele que tocava pequena papelaria na Coroa do Meio, na rua que eu morava. Cheguei a mandar um livro de minha autoria para Manoel, mas não me lembro de que tenha dado retorno. Seu livro de poemas me pegou e não tenho qualquer constrangimento em chamá-lo bom e ao poeta,  de meu amigo. .

Quando eu estava lendo os poemas de Jânio, vi-o numa “live” falando sobre si  e sobre sua estreita ligação com o vate Manoel Cardoso. Um amigo de Manoel é meu também. 

Os poemas de "Retorno ao Desmedido Silêncio" são curtinhos, entretanto poderosos. E me pegaram também. Consegui captar a alma na maioria e gostei dela. Claro que em um livro de poemas a unanimidade é impossível, sempre vai haver poemas que, por mais que o arrodeemos, por mais que o mordamos pelas beiradas, escapam incólumes deixando um travo na boca: “que diabos o poeta quis dizer aqui?”

Mas estes não chegam a tirar a beleza do conjunto.

Achei ótimos: “Os olhos” (o poeta se amplia em sua dor); “Ao abrir a janela” (ali os cantos dialogam e se entendem); “A Percepção” (para se ver bem é necessário imaginar); “A Noite” (é um constante duelo com minhas metades); “Quando eu tinha sete anos” (Mal sabia que estava capturando poesia); “Procuro” (o indizível)...para citar alguns.

Compartilho com o que diz Joao Paulo Araújo Carvalho, na orelha do livro, sobre o contista, cronista, poeta e membro da Academia Dorense de Letras, Jânio Vieira: “A poesia de Jânio volta à infância, ao passado, à memória, num caminho de contemplação palmilhado de imaginação, ludicidade, simplicidade e inocência, como num sorriso infantil.”

Então “Retorno ao Desmedido Silêncio” é um bom livro de poesias.

(Aracaju, 24 de junho de 2021, revisão em 2023ago04, por Antônio FJ Saracura).


terça-feira, 6 de julho de 2021

CONTOS QUE A LEITURA ESCREVEU

 

CONTOS QUE A LEITURA ESCREVEU, Leosmar Simplício da Silva, Aracaju, Editora Brasil Casual,2021, 144 página, Isbn 978-65-86316-10-0.

 


Leosmar Simplício da Silva é um leitor compulsivo, leu 51 livros de janeiro a junho de 2021, o que dá uma média de mais de oito livros por mês, dois por semana. Performance que vem se mantando até hoje. Nem eu no meu tempo de seminário, nos dois últimos anos antes de ser expulso, quando enchi uma caderneta com os títulos dos livros lidos. Mas eu não fazia mais nada, apenas lia. Leosmar tem família para cuidar e tem aulas em dois colégios para ministrar.

“Contos que a leitura escreveu” tem prefácio e apresentação que li agora, e me deixou com inveja dos autores, pois disseram o que senti, mas não achei as palavras deles.

O livro compõe-se de gostosos textos sobre nosso lugar e povo, com seus tipos, suas paisagens, seus costumes. Fui carreiro (na verdade, menino-chamador) de carro de bois na minha infância e me encantei quando as cantadeiras (feitas aqui de cajueiro, quem diria!) abriram o bico no mundo enchendo as baixadas e serrotes a riba.

Aborda o campo engrandecimento humano, onde Domingos Pascoal e Augusto Cury caminham fagueiros, e se sai bem. Conta casos que exemplam, mostram caminhos, surpreendem pelos desenlaces nobres. Aqui e ali há um ensaio de assombração, que faz parte de minha escrita; um pouco de Edgar Alan Poe, amigo íntimo de Leosmar, sou testemunho pelos títulos lidos que as redes sociais dão conta. E não podia faltar a chuva torrencial que inebria o homem do sertão seco. Bênção, dádiva, grandeza, fartura. Daqui a pouco: felicidade.

E há as confissões do professor vocacionado que busca transformar alunos comuns em brilhantes. A missão vai além, fazê-los escrever. Derruba equívocos, como o de que não vale a pena estudar, pois emprego não haverá mesmo.

Homenageio, especialmente, os contos: “Primeira Viagem de ônibus” (cinematográfico); “A Menina que não sabia nadar” (surpreendente); ”No mundo da lua” (perfeito); “Jogo de Bola” (gratificante)...

(Antônio FJ Saracura, Aracaju, de julho de 2021, revisão em agosto de 2023).