domingo, 16 de setembro de 2018

VALIDANDO IDEIAS, Domingos Pascoal de Melo



VALIDANDO IDEIAS, Domingos Pascoal de Melo, Aracaju, Infographics, 2017, 186 páginas, isbn 9 78.859.476. 098.2



Sou amigo íntimo de escritores espalhados pelo mundo. A maioria nem vive mais na terra. Confabulo com os personagens de suas tramas, fecho a cara para os maus e abro-me com os bons. Saio das obras e converso com os autores: conto-lhes meus sonhos, eles riem. Vibro quando os encontro nas livrarias ou assisto a filmes baseados em suas obras. Ao escutar alguém falar deles, curto um silêncio de glória, minha voz embarga. Lamento não os ter em meu mundo real, desfrutar o ar que os fez criar obras maravilhosas.
Lamento mas me contento. Contento-me porque, aqui em meu mundo, há também monstros que me encantam. Domingos Pascoal de Melo é um deles. 


E tenho a sorte de conviver intensamente com este incansável semeador de academias de letras. Sou seu acólito atento nessa semeadura. Conheço momentos de sua vida, desde a origem humilde nos cafundós do Ceará até a luta de hoje em meu ingrato Sergipe. O que fazer nas estradas longas para mantê-lo acordado ao volante, se não o instigar a contar-me suas aventuras, que dão mil romances?
Escuto suas palestras, leio seus livros, os artigos nos jornais, as crônicas nas revistas...

Gostaria de ler muito mais, como os prefácios espalhados em obras de autores que lhes pediram um. Mas é uma missão quase impossível, são tantos livros espalhados que nem os autores sabem mais o paradeiro.

Agora ninguém mais precisa buscar muitos livros para saborear os prefácios de Domingos Pascoal de Melo. Basta este livro! Aqui, eles revelam a nobreza do semeador de academias e dão boa notícia a respeito das obras que Pascoal recomendou e que circulam por aí.

O livro contém 29 crônicas (ou ensaios literários) tratando de livros publicados e que coube a Pascoal escrever o prefácio, conforme já explicitei. 
Começa com o bom “Ecos de Lagarto e sua Gente”, passa pela “A Magia de Conta Histórias” de Antenor Aguiar, “Um voo sobre Frei Paulo”, de Carlos Magno Andrade, e muitos outros.

(O texto acima compôs a contracapa do livro citado).

(Aracaju,17 de setembro de 2017)

domingo, 9 de setembro de 2018

O LIVRO BRANCO DA FOTOGRAFIA, Robério Santos


O LIVRO BRANCO DA FOTOGRAFIA, Robério Santos,






(Por Adail Vilela, publicada no facebook em 09nov2013. Peço a devida licença ao autor para me deixar guardar sua bela crônica aqui junto com as que escrevo sobre livros lidos).




Fosse minha intenção apresentar, resenhar ou discutir mais uma obra de Robério Santos poderia perfeitamente cumprir tal objetivo reproduzindo a Apresentação do livro, da autoria de José de Almeida Bispo. Acreditem, é uma obra em si. Para quem só acredita vendo (ou lendo) segue um trecho: “(...) cada imagem desta aqui exposta (...), convido o leitor ou leitora a bem observá-las; porque nem sempre é possível exprimir-lhes a grandeza através das palavras. As imagens estão postas; seus sentimentos são quem vão nortear a sua interpretação delas.” Então?

Minha modesta pretensão é só prestigiar mais um exemplar da literatura sergipana, demonstrando, como tanto insiste Saracura, por exemplo, que o autor merece uma leitura e, sempre que possível, um retorno, uma opinião sincera, um gesto de alteridade.

Não por acaso o livro de Robério tem por epígrafe o icônico Robert Capa e a dedicatória a Teixeirinha, Percílio Andrade e Joãozinho Retratista; quem conhece o autor sabe que se trata de um apaixonado pela Fotografia, e grafo em maiúscula porque é neste sentido de Arte que estamos nos referindo. Para que as imagens publicadas tenham a importância atribuída pelo autor dimensionadas, basta dizer que ele delimitou dez anos de atividade (2002/2012), avaliou quase 20.000 fotos de sua autoria e selecionou 58, associando cada uma a um comentário.

Posso estar enganado, mas esta brutal seleção, com seu resultado (amostra correspondente a menos de três milésimos do universo original), remete ao título, o qual me pareceu uma referência ao famosíssimo Álbum dos Beatles. E, comparando as duas capas (do Álbum e deste livro) enxergo também uma crítica cultural literalmente emblemática, bem como um posicionamento ético denunciador das desigualdades sociais. É a minha opinião...
Voltando ao livro, um detalhe que me chamou muito a atenção é que todas as fotos são nomeadas e datadas: é preciso que o Fotógrafo seja também um Professor, para ter este senso de agente histórico. 

O futuro agradece.

A minha imagem preferida (todos terão a sua, claro) é “Juventude”. Além do desafio técnico de fotografar todas as 16 crianças em pleno ar, a imagem para mim refletiu o atendimento dos clicados a um desafio maior, bem como a confiança tanto em suas capacidades quanto no guia (o Fotógrafo). Sensacional.

Ah, adorei rever o Saracura. Será que ele também adorou o título da foto em que é co-protagonista (Tabaréus)?... Acredito que todos saibam, mas não custa relembrar que o livro (por enquanto) mais conhecido de Antônio Francisco de Jesus, o Saracura, é TABARÉUS DO SÍTIO SARACURA. O nome da foto, portanto, pode conter uma referência literária, uma homenagem, uma brincadeira, ou tudo junto... em uma só palavra!

Na foto do “Tremendão da Serra”, eu pensando que o autor destacaria a cebola, mas ele salienta o Beto Silveira... Estes comentários singelos são apenas para que o leitor vislumbre a riqueza do conteúdo à sua disposição... maiores informações, IN LOCO (lendo o livro).

(Adail, Vilela de Almeida, Em 09/09/2013)             
                              
xxx

Saracura respondeu à crônica de Adail no facebook, na época:   
Adail, você tem o fôlego de sete gatos e a energia de Paulo Afonso, Xingó e de cinquenta saracuras.
Sinto o facebook muito mais interessante, com suas publicações sobre literatura.

Os livros publicados, os nossos livros ignorados pela mídia, esnobados pelos leitores da moda, menosprezados pelos nichos pedantes estão parecendo agora com os americanos que a Veja e nossa mídia anunciam nas suas colunas nobres.

Apenas um cidadão (você) com poucas publicações (essas resenhas) já mudou o clima para melhor.
Nós que escrevemos, damos vivas, porque alguém tem o que dizer sobre os livros que vem sendo publicados. Alguém (mais alguém) está quebrando a indiferença absurda, o ouvido de mouco que tanto magoa quem publica: Adail Vilela de Almeida, Robério Santos e todos que transitam por essa estrada.
(Por Antônio Saracura, em 09/09/2013)


domingo, 2 de setembro de 2018

COISAS DA VIDA, Luiz Carlos Andrade


COISAS DA VIDA, Luiz Carlos Andrade, editora Infographics, 2018, 148 páginas, isbn: 978-85-9476-146-0


(Resenha de prefácio)

Iracema, sua mãe, é filha de Felismino, que é filho de Nanã, que é filha de João José de Oliveira, um patriarca quase bíblico, que chegou ao Brasil em meados do século dezenove. De Itaporanga, foi à São Cristóvão, semeou-se em Estância e, por fim, instalou-se numa aldeia de índios mansos e redondos, em Itabaiana. Plantou a nação dos ferreiros, que, além de Oliveira, carrega brasões de Pereira, Santos, Andrade, Monteiro, Teixeira, Machado e outros que se agregaram por uniões ou apenas por gosto.

Os Ferreiros!

Trabalhadores incansáveis, artistas do ferro, do fogo e do ar. Um povo alegre e cheio de histórias espetaculares. Os antepassados passavam os dias na lida árdua das forjas, das malhadas, nas soltas de gado, nas oficinas de arte... E, nas bocas de noite, sentavam-se à luz do candeeiro ou da lua, contavam histórias de seus maiores e dos próprios feitos. Ulisses e Homero concomitantes.

E hoje, seguimos o mesmo rumo. Trabalhamos em consultórios médicos, em salas de aula, em bolsas de valores, em laboratórios, em fábricas de softwares... E quando surge uma brechinha, contamos histórias de nossa gente em livros e nas redes sociais. O mundo mudou, informatizou-se. Ninguém tem tempo de falar nem de ouvir.

Que leia então!

E que leia este livro, o segundo de autoria do médico Luiz Carlos Andrade. Crônicas do dia a dia, do duro passado e de muito mais. Elas trazem a sisudez respeitosa e a suspeita. Pureza aqui e malvadeza ali. Sérias, irônicas, mordazes. Minam humor. Gargalhadas pela graça. Lágrimas pela emoção. Tudo junto em uma prosa fácil de ler, fácil de entender, fácil de gostar.

São momentos de uma Itabaiana povoada de heróis e anti heróis (todos festejados do mesmo jeito): A micareta e suas figuras inoxidáveis, o guaxinim Fefi caracterizado de mágico e dono de uma fábrica de tentação, o desbragado Maceta de Zé Bigodinho que bebeu todas e aprontou o imponderável: viveu um nadinha mas intensamente.

Mergulho nos sonhos da criança pobre que tenta participar da cerimônia do lava pés até perceber que a fila o faria rapaz antes; quer que papai Noel coloque o presente de Natal na sandália de sola. Dupla perda de tempo, se bem que um doce sonho.

Aprendizado em feitiçaria que todo menino precisa ter para jamais temer despachos em encruzilhadas. Placas trocadas colocam em parafuso o Murilo Braga, e os mortos enterrados no Cemitério das Almas. Ao retornarem da ronda da madrugada pela cidade, encontram seus leitos cheirando a outro defunto. Era a véspera de um dia de Finados conturbado!

Nem a mãe, Iracema, nem o tio Daniel (o maior tribuno da família), nem o avô Felismino para segurar a mão. A serpente pisca o olho com malícia. Depois, vem Maceta, agente da Policia Federal, para o resgatar do paraíso do prazer: Boate Bambu.
E esse professor Rivas, magro como um palito de coqueiro e elegante como um arcebispo em missa solene? Voz nasalada, fanhosa e molhada; ao falar emite gotas de orvalho para todos os lados. Gepeto pediu um formão afiado a Collodi e traçou o professor tão bem que parece real.
O velho gavião fareja carne, levanta voo, vai a caça. Ou se não vai, ela é trazida por amigos que irrompem ao consultório causando transtorno: A Mulher do Shopping, O Feitiço Saiu pela Culatra, A garçonete Zipper.
Luzes são acendidas sobre Felismino, Iracema e os filhos que nascem. Claridade bastante para penetrar nas carnes e pecados, nas almas e santidades. Como médico cirurgião criterioso, disseca cada célula; como psicólogo dedicado, bota sentimentos pelo avesso. Crônicas que valem um romance. Que me fizeram chorar e que me encheram de orgulho por ser também um Ferreiro da Matapoã, que penso que sou. Preciso repetir os títulos? Felismino Fogueteiro, Iracema de Felismino, o Primeiro Filho e os Últimos Dias. Não me custa nada. Para você querer ler! Para você nunca mais esquecer!

(Aracaju, junho de 2018, Antônio FJ Saracura, escritor, das academias Itabaianense e Sergipana de Letras).