domingo, 31 de dezembro de 2017

JARDIM DE ÁRIDA POESIA, Marcos Antônio Lima

JARDIM DE ÁRIDA POESIA, Marcos Antônio Lima, São Paulo, 2016, 120 páginas, Kazuá, esbn 978-85-5565-058-1


Todos os poemas de Jardim de Árida Poesia eu li gole à gole, verso à verso, sem me engasgar ou entrar em parafuso. São do tamanho certo de meu em entendimento e de minha respiração.

Só que...

Achei que há palavras raras em excesso, um proceder comum em poetas. Seria alguma artimanha para impressionar? Penso que a boa poesia pode ser construída com palavras (e expressões) correntes, porque ela está no sentido evidente dos termos. Mas há quem ache o contrário: festeje enigmas, a linguagem morta ou que ainda nem nasceu.

Vi ou (acho que vi) pequenos lapsos sintáticos, como; sorrir (seria sorri?), no décimo terceiro verso de Mania de Querer, e mas (seria mais?) três versos após. Afogam (não seria afoga?) no oitavo verso de Sertão Caipira. Em Poesia Morena, no vigésimo terceiro verso, há um deveres (não seria deveras?) que não entendi. Em Plenitude há um minha em dois versos (o sujeito seria ex cunhadas?). Em Para uma Menina de Trança há um mas (seria mais?). Em Declaração de Amor há olhos verde-mar (não seria verdes-mar?). Em Trejeitos há uma expressão, no décimo verso, que receberia um hífen no meu ponto de vista. Em Bandolins, no terceiro verso há um invade (não seria invadem?). Em Cilene, no último verso, pareceu-me que houve uma troca de posição entre Celine (o que é?) e Cilene. Em Amor, penúltimo verso, há um permiti (seria permitir?) e, no último verso, um estar (seria está?). Em soneto de Espera, no décimo primeiro verso, há marejados (não seria marejado?).

Há outros.

Mas tanto estes como eles não interferem no valor real dos poemas. Não achei nada árida a poesia de Marcos, até fértil demais, como se fosse uma roça pródiga onde um pé de milho produz, incansável, muitas espigas. E nem precisava de tantas ao meu banquete pagão. Nem de tanto amor, nem de tanta paixão, nem de tanta morena bonita. A metade seria suficiente. Ou de menos até, pata mim.

Uma boa leitura tem cheiro de aventura, de novidade fluindo. Acho isso. Se repete-se, cansa. Até beleza demais enjoa, disse alguém por aí. Por isso, senti certa monotonia na orquestra que o poeta regeu em Jardim de Árida Poesia: Pela mesma tecla repetida, até redundante.  Uma tecla estonteante, é verdade: a morena é uma tentação poética que enche a boca d’água. 

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Anoto, a seguir, alguns poemas que me marcaram positivamente: Anjo (página 54), Pirilampos da Solidão (página 62), Balada da Ilha (página 65), O Meu Gostar (Página 83), Favo (página 89), Soneto à Pernambucana (página 93), no meio de muitos outros. Foram tão espontâneos que os senti mais profundamente.

Jardim de Árida Poesia foi um dos poucos livros de poemas que li com prazer do começo ao fim. Os senões apontados são irrelevantes ante a beleza do conjunto. Como as pessoas boas. Como os livros que escrevo (espero que sim!).  


(Antônio Saracura, 31 de dezembro de 2017) 

sábado, 23 de dezembro de 2017

MORTE NO RIO SÃO FRANCISCO, Tadeu M. Almeida

MORTE NO RIO SÃO FRANCISCO, Tadeu M. Almeida, 2017, Aracaju, Infographics, 99 páginas, isbn 978-85-9476-115-6



Há três anos, Tadeu, colega da faculdade de Economia dos idos de 1970, que nunca mais vira, também pelo motivo de eu ter ficado fora de Sergipe alguns anos, procurou-me, ia publicar um livro também. Sabia que eu era escritor, lera meu livro Meninos que Não Queriam ser Padres e fez considerações pertinentes que buscarei implementar em uma provável nova edição.
Eu me surpreendi, não sabia do pendor de Tadeu, sempre economista e auditor de tributos, além de advogado. Andava meio recluso, ele mesmo me disse. Morava em um sítio às margens do rio São Francisco, não sei bem em qual município. Vinha a Aracaju cuidar da saúde do corpo e do bolso apenas.


O livro transitava pela filosofia e se chama "Filosofando o Cotidiano", que saiu impresso e à cores o que me impressionou pelo zelo do autor em comunicar bem. No ano seguinte, saiu outro livro do mesmo naipe, “O Universo de Deus” e, em 2016, “A Consciência de Dagoberto”, que fiz o prefácio, e há uma resenha neste blog falando dele.
Este ano, para não perder o ritmo anual, Tadeu lançou mais um livro.  Um livro diferente mais ou menos: “A Morte no rio São Francisco”. Também curtinho. Um conto policial. George Simenon  escreve livros leves e curtinhos e neles o inspetor Maigret faz estrepolias como em alentados romances.

É uma tarefa dura ao escritor de narrativas policiais escapar da monotonia, das obviedades, das extensões inúteis.

“Morte no Rio São Francisco” é bem narrado. Coerente, consistente até onde pude sentir. Conta o assassinato de um fazendeiro importante e a cuidadosa investigação feita pelo delegado de carreira, Pascoal, para elucidar. A linha de investigação é retilínea e, mesmo descrevendo passos óbvios, o livro consegue prender o leitor até o final, já anunciado.
Um ponto a ressaltar: a ação desenrola-se aqui mesmo em nosso mundo sergipano, em um cenário rico que poderia ser muito mais explorado pelos autores da terra. Quantos mistérios não povoam as locas das beiradas do rio São Francisco quando entra em Sergipe e caminha até o oceano querendo recuar a cada arrojo? Tadeu Almeida promete desvendar muitos desses mistérios no ritmo em que vem produzindo. Talvez Pascoal ainda seja um famoso detetive da literatura. E Tadeu, um Simenon ou Agatha ou Doyle ou Le Carrè. Está bem iniciado aqui.

Aracaju, 23 de dezembro de 2017


sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

A CONSCIÊNCIA DE DAGOBERTO, Tadeu M. Almeida

A CONSCIÊNCIA DE DAGOBERTO, Tadeu M. Almeida, Infogrraphics, 2016, 84p, isbn 978-85-9476-047-0

(Um prefácio que é uma resenha)



Vivo intensamente cada momento de minha vida; conheço pessoas, lugares: faço amigos e me doo a cada um, de peito aberto. Mesmo aqueles feitos em rápidos contatos são amigos eternos. E quando, circunstancialmente, encontro um que há tempo não via, é como se nunca o tivesse deixado para trás. A conversa interrompida no passado continua agora com o mesmo vigor e fluidez da conversa antiga.

Não perco amigos.


Mesmo sem os ver, sem falar com eles, mesmo sem regar a amizade como dizem ser preciso, eles habitam meu mundo virtual. Confidencio-lhes os meus planos, as minhas dúvidas, as incertezas... Comemoramos juntos as vitórias, assim como   amargamos as derrotas, como se vivêssemos na mesma cidade, na mesma rua, na mesma casa.

Tanto é assim que, ao receber, dois anos atrás, um telefonema de Tadeu Almeida, senti-me na Faculdade de Economia, na praça Camerino, em Aracaju, numa aula de Temístocles Gonçalves, Aloisio Campos, Manir Abud, Thetis Nunes ou Alberto Carvalho.  Revivi a insegurança que nos atribulava a poucos dias da festa da formatura. O que seria dos novos doutores? Nenhuma empresa ou repartição, a não ser o Condese inflado de parasitas, queria saber destes inúteis anelados.

Perguntei a Tadeu pela bela Soninha, se estava lá fora, dentro do carro do namorado, aos amassos... Depois não viesse, na hora da prova, pedir cola! Mas ele mudou de assunto, falou de dona Abelarda, de Neide, de Wilma sonsinha, de Zé Carlos Macaco, o Zé do gato...

Eu escutava devaneios dos tempos de faculdade por minha conta e gosto. Pura ilusão.  Tadeu estava em outra. Agora era escritor, ia publicar um livro e, como soube que eu já fizera essa tolice algumas vezes, pedia-me para ensinar-lhe o caminho das pedras, que, a bem da verdade, eu nunca soube.

Contei-lhe minhas fragilidades, dando-lhes feições de fortalezas. Não ia decepcionar o velho amigo. Então, ele embarcou nas minhas águas e publicou “Filosofando o Cotidiano”. O livro fala de bondade, amizade, sabedoria, conhecimento, felicidade e, quem diria, de obesidade. E não é que a obesidade tem muito a ver com filosofia! Quem assegura é o autor, lastreado por Platão, Aristóteles e Gisele Bundchen.

Depois, Tadeu Almeida publicou mais outro livro, e, esta semana, ligou-me:

- Vou publicar o terceiro livro... Você pode escrever o prefácio?

Esfriei por dentro. Sou contra prefácios, nenhum livro que publiquei os tem; adiam o gosto, atrapalham mais do que auxiliam. Nunca li um prefácio em livro algum.E tenho me negado a escrever prefácios, aos montes. Há escritor com raiva de mim, achando-me metido a besta.
Mas Tadeu foi um bom companheiro nos quatro anos na faculdade de Economia. Como os demais vinte e cinco que se formaram comigo em 1971. Amigos do peito, mesmo que muitos deles nem mais se lembrem de mim.
Por um triz, Tadeu lembrou-se.
Todos são meus tesouros guardados que não quero gastar jamais. 

Disse que faria e fui ao encontro marcado, no café da Escariz Riomar. Tadeu passou-me o original da obra em gestação.

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E agora estou com o livro bem à minha frente. Já corri os olhos, já li partes, mas não sei como começar o prefácio. Por isso os enrolei (a vocês mesmo, distraídos leitores) com essa conversa embromatória ai de cima.

Sei que não vou escapar, eu prometi, dei minha palavra. Meus anjos me matarão, os valores cultivados com fervor a vida inteira me expulsarão de mim mesmo. E eu não serei mais nada, além de ridículo arremedo.

Minha consciência me acossa, encantoa-me, cozinha meu juízo, questiona-me. 

Essa é o drama que Tadeu Almeida disseca, através de Dagoberto, em debates com a consciência, mergulhado neste vale de lágrimas em que vivemos.

O que pretendo realizar é certo? A mudança de valores devido ao contexto, devido às circunstâncias. As permissividades. As flexibilizações. Também a intransigência e a intolerância.  O errado que se veste de certo, e o contrário também. 

São sete grandes embates de princípios, dissecando cada um desses temas:     
O    Poder (Político, Econômico, Social e Militar).
2)      Ódio, vingança e perdão.
3)      Expectativa, orgulho e esperança.
4)      Ambição, competência e bajulação.
5)      Injustiça, ingratidão e impotência.
6)      Usura, ganância e desprendimento
7)      Medo, coragem e covardia.

Dagoberto se vê doido com sua consciência...

Quem mandou tê-la deixado se criar?

Um debate igual ao travado a cada momento na vida real. Sem trégua. Exaltação, negociação, estratégia, avanços, recuos... Muita filosofia e sabedoria circulam nas páginas vivas do novo livro de Tadeu Almeida: A Consciência de Dagoberto.

(Aracaju, 08/08/2016, Antônio FJ Saracura)

(Post scriptum): Eu lhe avisei que não presto para escrever prefácios, pode jogar fora. O livro é seu e a decisão também. Que importância tem se eu ficar magoado?
 

  

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

LIVROS QUE CURAM, Cleber Marques de Oliveira

LIVROS QUE CURAM, Cleber Marques de Oliveira, Clube dos Autores, 2017, romance,185 páginas, isbn 978-85-5697-218-7




Encontrei Cleber há cinco dias. Ele me telefonou para um encontro na Escariz do Jardins. Disse-me que levaria a mãe. Queriam conversar sobre o livro Meninos que Não Queriam ser Padres, que leram (ambos) e gostaram muito. Informou-me que comprara o livro num desses finais de tarde quando marco plantão nas livrarias e abordo as pessoas que entram e que me parecem acessíveis (ou não, algumas vezes). Abordo e falo de literatura sergipana, chamo a atenção para a gôndola onde nossos livros estão expostos, e, especialmente, para minha literatura. É o programa que chamo O Escritor na Libraria, já tem mais de quatro anos, vem desde a II Bienal do livro de Itabaiana. Cleber acreditou em minha pregação e levou para casa um de meus livros. E agora dava retorno, que retorno? Leu o livro, gostou e passou para a mãe, que gostou também.


Conversa vai e conversa vem, fiquei sabendo que Cleber é também escritor. Publica livros em uma editora online que se chama: Clube do Autor.


Antes de se ir com mãe e mais um livro meu, Os Tabaréus do Sírio Saracura (espero que faça o mesmo sucesso, se não maior), ele me deu um presente: o livro de sua autoria: Livros que Curam. Em papel. A editora vende avulsas. Olho agradecido para Cleber e digo-lhe que estou abarrotado de livros, uma fila que não vejo o final e que, provavelmente, demorarei um pouco a tecer as considerações que me pede. Que indelicadeza de minha parte!


Em casa, começo a folhear o livro e sinto que ele tem algo que me segura, uma força de atração. Leio o primeiro capítulo, o segundo.... E não paro mais. Leio o livro em dois dias, nos intervalos de meus afazeres comerciais, de duas viagens:  à Japoatã para a instalação da Academia de letras de lá e à Monte Alegre para lançamentos e livros.

Gostei de "Livros que Curam". Leitura agradável, história cristalina, até singela, útil. Prende o leitor, emociona. Tive que enxugar lágrimas aqui e acolá.

Um garoto apaixonado por livros e que trabalha em uma livraria aqui em Aracaju, ali pertinho da Catedral, na rua Santa Luzia, nos fundos da Cúria, Fernando (ou Nando) é um aprendiz de livreiro. Está vivendo seu sonho junto aos melhores amigos, os livros. Há um colega de trabalho, Gilberto (Beto), confidente. Há os patrões, seu Francisco e duas filhas. A mais nova, Juliana, o atrai e desperta-lhe amor. Há a outra, Marisa, má, como nos contos de fada. Há sua mãe (Iraê, descendente dos xocós), sacrificada e dedicada e há o grupo familiar em torno, amigos solidários. Há também o motoboy e parceiro desde a infância (Tia), que segue outro rumo na vida e tenta tirar Nando da ilusão intelectual. Ia esquecendo do senhor Ladislau, o senhorio que dá a Fernando o amor que não pode ter do pai falecido antes de seu nascimento. Seu Ladislau traz momentos nobres ao livro, pela solidariedade, pela instinto família que irradia, pelos afazeres triviais aos quais se dedica com zelo e pelo mistério que revela a Nando de sonhos, similares quando fora um rapazinho como ele. Nada é eterno!

Os dramas se sucedem, avc do patrão, a mãe tem um infarto, as livrarias teimam e resistir mas as duas do shopping já fecharam, Juliana recebe um telefonema estranho e perde a graça (era um namorado que desagrada demais ao pai que não virá mais a Aracaju como estava previsto). Parece que o autor abriu uma brecha para Nando, só parece! vai

Dificuldades, barreiras, busca de caminhos, vitórias, derrotas.

Como em todo livro (ou quase todos), o leitor crítico sempre acha senões. Então direi alguns, com o intuito apenas de expurgar grilos enjoados de minha cabeça limitada.  O autor que me perdoe, pelo amor de Deus. Fica à seu critério decidir o que fazer com eles. Eu, por mim, os enterraria numa cova rasa.     
Encontrei um bom personagem que o autor poderia usá-lo melhor: aquele padre da escadaria da Catedral que entra, promete e não prossegue. Talvez outro romance (projetando) tome conta dele, pois marcou bem, como Hitchcock nos filmes que dirige e reserva uma ponta para si. Há também o evento pouco explicado até para os personagens: a festa na livraria (que seria na segunda e foi trazida para o sábado) quando seu Francisco precisava mesmo era de repouso, no meu modo de ver. E a festa foi pra quê mesmo, se o homem ainda nem estava cem por cento recuperado? Seu Francisco pareceu-me forçado a ir, como se uma marionete na mão da filha mais velha, que é um demônio (mas não chegou a ser, apenas mostrou o tridente). E também a sebista do Corujão (Lourdes) da rua Lagarto que vai à festa como penetra e sai dela sem cumprir missão nenhuma. Era melhor nem ter ido. Senhor Ladislau poderia muito bem ser amante da literatura (como fora em rapaz) e conciliar com qualquer função que teve na vida. Não ficou claro, pelo menos para mim (reconheço que li rápido demais e intervalos de viagens) o motivo de ter sepultado sua paixão antiga e compartilhável.

O autor disse-me que escreve seus livros muito rápido, este nem lhe tomou um mês.  Lembrei-me do Menino de Pijama Listado, que o autor, John Boyne, revela tê-lo escrito em seis semanas, se não me falha a memória. Como pode? Eu gasto seis meses só nos acabamentos finais. Mesmo assim, meus livros saem eivados de lapsos. Arrisco sugerir a Cleber que gaste mais um tempinho com o próximo livro (ele possui outros publicados que não li) para não deixar pontos mais ou menos soltos, que incomodam muito mais o próprio autor. Digo por mim.

Um novo livro, em continuação a este “Livros que Curam”, poderia explorar esses pontos que considerei lapsos, mas podem ser ganchos armados para segurar o leitor pelo futuro. Eu quero ler, se um dia houver.


(Aracaju, 27/11/2017, Antônio Saracura) 

XXX

E agora mesmo, Cleber, rápido como o raio, pois acabei de publicar a resenha acima, manda-me uma resposta às minhas considerações. Gostei e compartilho-a (a seguir, também está em 'comentários') com o leitor que me honra com a visita:

22/12/2017 08:55:25: Cleber Marques De Oliveira: Meu querido amigo Saracura. Fiquei muito orgulhoso e agradecido pelo trabalho que tivestes em ler este meu primeiro romance. Gostaria de explicar os pontos que achou nebulosos na história:

1) aquele padre da escadaria da Catedral que entra, promete e não prossegue. Talvez outro romance (projetando) tome conta dele, pois marcou bem.

Resp: De fato, o padre reaparece num momento importante para a vida de Fernando no segundo romance, já publicado, Livros pelo caminho.

2) Há também o evento pouco explicado até para os personagens: a festa na livraria (que seria na segunda e foi trazida para o sábado) quando seu Francisco precisava mesmo era de repouso, no meu modo de ver. E a festa foi pra quê mesmo, se o homem ainda nem estava cem por cento recuperado? Seu Francisco pareceu-me forçado a ir, como se uma marionete na mão da filha mais velha, que é um demônio (mas não chegou a ser, apenas mostrou o tridente).

Resp: Como o senhor havia dito. A leitura foi feita muito rápida, talvez passou despercebido. Porém, explico. Ficou implícito a mudança do dia da festa por causa das intrigas entre as irmãs, que fez o pai antecipá-la. Talvez porque o namorado da filha mais nova deu cano em sua ida para Aracaju e na discussão que houve no escritório da livraria deixou evidente que ela queria que a festa ocorresse apenas depois de seu retorno a Salvador. O pai, Sr. Francisco, já havia descansado uma semana em Salvador e estava com desejoso dessa festa.

3) a sebista do Corujão (Lourdes) da rua Lagarto que vai à festa como penetra e sai dela sem cumprir missão nenhuma. Era melhor nem ter ido.

Resp: Dona Lourdes cumpriu de fato sua missão que era reconciliar a amizade de décadas com Sr. Francisco. O ponto mágico foi a entrega do livro raro que tanto ele desejava.

4) Senhor Ladislau poderia muito bem ser amante da literatura (como fora em rapaz) e conciliar com qualquer função que teve na vida. Não ficou claro, pelo menos para mim (reconheço que li rápido demais e intervalos de viagens) o motivo de ter sepultado sua paixão antiga e compartilhável.

Resp: Talvez retome na terceira história, que já estou escrevendo. O problema foi que ele ficou traumatizado pela morte do grande amigo.

5) O autor disse-me que escreve seus livros muito rápido, este nem lhe tomou um mês. Lembrei-me do Menino de Pijama Listado, que o autor, John Boyne, revela tê-lo escrito em seis semanas, se não me falha a memória. Como pode? Eu gasto seis meses só nos acabamentos finais. Mesmo assim, meus livros saem eivados de lapsos. Arrisco sugerir a Cleber que gaste mais um tempinho com o próximo livro (ele possui outros publicados que não li) para não deixar pontos mais ou menos soltos, que incomodam muito mais o próprio autor. Digo por mim.

Resp: Fiz o primeiro romance em exatos 12 dias. Já o segundo, que é continuação da história, demorei 30 dias. O terceiro já está beirando dois meses e ainda não concluí. Talvez minha ansiedade exagerada não me permita passar tanto tempo.

6) Um novo livro, em continuação a este “Livros que Curam”, poderia explorar esses pontos que considerei lapsos, mas podem ser ganchos armados para segurar o leitor pelo futuro. Eu quero ler, se um dia houver.

Resp: De fato, a ideia é essa. Segurar o leitor para outros que virão.

Novamente, agradeço imensamente ao senhor pela paciência em ter lido a história de um aprendiz de livreiro elaborado por um aprendiz de escritor. Um forte abraço!!!!

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

HISTÓRIA DE SERGIPE (O livro), Acrísio Torres Araújo

HISTÓRIA DE SERGIPE (O livro), Acrísio Torres Araújo, 1967, J. Andrade, 78 páginas.





Acrísio Torres Araújo, um cearense e imortal da Academia Sergipana de Letras, faleceu em 2016, esquecido e até odiado por alguns da terrinha (Sergipe), em Brasília, onde vivia com a família, e exercera o magistério na UNB (professor de Moral e Cívica) até aposentar-se.

Esta é a última História de Sergipe formatada e não circula há mais de vinte anos. Apenas as bibliotecas guardam exemplares rotos. Não conto aqui com Sergipe Sociedade e Cultura do professor Antônio Wanderley e outros, 2007, edição do autor, 176 páginas. Este é mais um livro-apostilha de aula, de inquestionável utilidade, mas de enfoque notadamente didático. Nem conto também com o livro de Antônio Risério, Uma História do Povo de Sergipe, 2010, 612 páginas (resenhado neste blog) e queimado pelos editores. Não está em nenhum lugar além das mãos de meia dúzia de privilegiados. Um livro questionado por intelectuais, focado muito no povo que habita nosso chão.

As outras Histórias de Sergipe escritas e publicadas (menos as duas acima citadas) são anteriores à de Acrísio Torres Araújo. Pires Wine (1972), Elias Montalvão (1930), Laudelino Freire (1900), Felisbelo Freire (1891), o tempo as sugou, nem mais suas almas (das obras e dos autores) suspiram nos cemitérios de Sergipe. As edições que saíram desde a morte dos autores tiveram caráter restrito, atendendo um grupo de colecionadores de plantão.

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E como o povo procura nas livrarias uma História de Sergipe! Digo, porque ancoro, uma vez por semana, nas livrarias, divulgando a nossa literatura, desviando atenções para as prateleiras escondidas onde residimos. Mostro Ibaré Dantas e Samuel Albuquerque, cito Thétis Nunes e Ariosvaldo Figueiredo (seus livros não mais circulam a lustros).

As pessoas querem uma obra que junte e interligue estas partes perdidas como uma consolidação das leis do Trabalho.

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Mas retornando ao livro de Acrísio Torres Araújo...
Tenho aqui comigo um exemplar gasto, pois comprei quando foi impresso, edição de 1967, um opúsculo de apenas 42 páginas, com a pretensão declarada de servir aos 3. e 4. anos do curso primário. Consta na capa: aprovado pelo Conselho Estadual de Cultura. Foi impresso pela editora J. Andrade, estabelecida à rua Divina Pastora, 531. O livro tem prefácio de Áurea Melo, que conheci no meu tempo de jovem, no Seminário Arquidiocesano e a incluo em OS Tabaréus do Sitio Saracura, página 236, sem explicitar o nome, como Inspetora do MEC. E também na página 32 de Meninos que Não Queriam ser Padres, desta vez, dando o nome real.
História de Sergipe de Acrísio está dividida em blocos:
Sergipe capitania (1550-1822);
Sergipe província (1822-1889);
Sergipe Estado (1889-1930);
Sergipe Estado (1930-1945);
Sergipe Estado (1945 – até agora, 1967).

Cada um destes blocos cobre partes menores onde são descritos os fatos, cada uma ocupando em torno de uma página e meia. Gravuras (de autoria de Maria Clara) tornam mais simpática a leitura.

A História de Sergipe de Acrísio Torres Araújo é uma obra de fôlego curto.

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Precisamos urgentemente de uma História de Sergipe, para adultos e crianças, que alcance os dias de hoje. 

Em debates na Academia Sergipana de Letras, que vem ocorrendo desde que ingressei na casa, em outubro de 2016, tenho defendido isso com veemência. Na última reunião de 2017, no dia 28 de dezembro, o presidente Anderson Nascimento, fora da reunião, quando comemorava finalmente, a publicação de seu livro vultos Acadêmicos, encalhado nas gavetas da Imprensa oficial há anos, disse para mim, respondendo à pergunta que não queria calar: E agora, o senhor vai cuidar da História de Sergipe?
“É meu projeto a partir de agora!”
Viva Deus!

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FREIRE,F. História de Sergipe (1575-1855). Rio de Janeiro: Tip.Perseverança,1891.

FREIRE, L. História de Sergipe – resumo didático para o uso das Escolas Públicas Primárias. Aracaju: Tip. do “Estado de Sergipe”, 1900.
MONTALVÃO, E.R. Meu Sergipe: ensino de História e Geografia. Aracaju: Tip. Comercial, 1916.


(Antônio Saracura, escrita em janeiro de 2016, revisada em dezembro 2017)   

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

MONS ERALDO BARBOSA DE ALMEIDA, Carlos Mendonça

MONS ERALDO BARBOSA DE ALMEIDA, Carlos Mendonça, Infographics, 2013, 235 p, isbn(sem)


Carlos Mendonça está publicando como ninguém em Itabaiana. Neste ano (2013) depois de “Amor de Mãe”, que vendeu toda a edição de porta em porta às vésperas do dia das mães, lançou, na II Bienal do Livro de Itabaiana, “Mons. Eraldo Barbosa de Almeida”, já se esgotando (restam 300 de 1000 exemplares impressos). Desde 2011, quando fechou a pequena sorveteria que mantinha numa periferia de Itabaiana e virou literato, ele publicou: “Chico de Miguel”, “Na Feira de Itabaiana Tem” e “Vidas em Trânsito”...



Pelo que me disse, possui mais três livros em fase final de acabamento. E acredito, pois sempre o vejo fuçando jornais antigos na Biblioteca Epifânio Dória e no Instituto Histórico e Geográfico. Outro dia, liguei para ele (queria encomendar um de seus livros para uma amiga insistente), e alcancei-o (conforme me confidenciou) na casa de um ancião, num povoado socado no meio do mundo, alto sertão de Pernambuco, fazendo pesquisas.

Sei o tema de suas obras em fase final gestação: “A vida do Padre Bolinha” (José Araujo, o vaqueiro), “O Poder dos Coronéis: Manoel Teles e Euclides Paes Mendonça” e “O Matuto” (cordel ao estilo de na "Feira de Itabaiana tem". Este cordel, aproveitando a deixa, leva o nome de Itabaiana ao exterior, a partir dos congressos da Universidade. A professora Márcia Mariano da UFS elaborou um estudo científico sobre a obra e profere palestras mundo à fora.

Carlos Mendonça gagueja, mas não reluta: Escrevo uuuu que as pessoas querem ler. Por isso, venveeennndo!, disse outro dia em uma emissora de rádio, com o seu jeito singular de convencer.  

É uma “avis rara” em nossa campina árida em leitores. Filas ávidas se formam nos lançamentos que promove. Além do mais, o fã clube de Carlos, um garboso mancebo despachado e solteiro, aumenta a cada dia entre a intelectualidade feminina, que é quem mais lê, na verdade.

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Pouco se tem escrito biografias de vultos ilustres de nossos municípios. Percebe-se uma relutância da intelectualidade togada em escrevê-las, como se isso fosse um trabalho de menor valia. Parece um equívoco. Nas livrarias sempre estão em destaque biografias espetaculares sobre figuras que se destacaram em algo, pelo mundo. E esses livros são comprados. Se não, sairiam logo das vitrinas da frente.
“Mons. Eraldo...” é uma biografia. Vamos comemorar.
E não é a primeira de Carlos Mendonça (veja Chico de Miguel citado acima). Ele percebeu o espaço vazio. Carlos encontrou (acidentalmente ou em função de seu faro sherlokiano) os arquivos secretos do monsenhor e não deixou por menos. Até no vernáculo caprichou mais. A última parte, a que trata de renúncia do monsenhor ao vicariato de Itabaiana, é um triller azougado. O autor, como é de seu feitio, toma partido e xinga os opositores ao pároco de “uns cornos e uns fio duma égua desocupados”, como se ele mesmo fosse a vítima, interagindo com leitores e personagens, numa simbiose esquisita, mas cativante.

A obra tem maior fôlego que os livros anteriores. Fotos raras, documentos inquestionáveis, texto claro, organização didática, fazem dela uma peça interessante, tanto para leitura como para olhar as figuras. Sem dúvida também um documento que a teimosia de um escritor popular disponibiliza para estudiosos.

Não virem o rosto!

Por fim, extrapolando o tema da resenha, peço ao acidental leitor que dê crédito à literatura produzida em Sergipe. Só o leitor pode criar ou fazer progredir um escritor.

Se ninguém lê Saracura...
Ele (que sou eu) perdeu tempo escrevendo livros. Deveria ter ficado cuidando de sua roça de pedras nas encostas da serra do São José em Campo do Brito.

(Publicada na revista Perfil ano 16 número 8)

Antônio Francisco de Jesus, outubro de 2013. Revista em dezembro de 2017.

MEMÓRIA PATRIMÔNIO E IDENTIDADE, três autores

MEMÓRIA PATRIMÔNIO E IDENTIDADE, três autores, João Paulo Araújo de Carvalho, Luiz Carlos de Jesus e Manoel Messias Moura, Infographics, 2012, 254p isbn 978-85-
 61589-01-1.   



Três apaixonados pela história e que que não se conformam com o platonismo: João Paulo, Luiz Carlos e Manoel Messias. Eles vêm da mesma terra de José Lima Santana, o brilhante cronista da nossa imprensa e de Manoel Cardoso, o lúcido poeta de “Translúcido Silêncio” (leiam pra ver!).

O trio criou o projeto Memórias (2003) e se dedica à história da nação dorense. Os descendentes desse povo e de todos os povos agradecem, desde já.

O livro é composto de crônicas, ensaios, reportagens tratando da cultura de Dores: as figuras célebres ou nem tanto, os acontecidos que marcaram a personalidade do povo e muito mais. Pequenos textos, ricos de referências, documentação científica. Desde a origem até os dias atuais. Depoimentos sobre fatos marcantes, como o Mandacaru Filmes, a música de raiz, o folclore vibrante, as artes plásticas ponteando os iluminados Adauto Machado e Ismael Pereira, além da literatura, com os monstros sagrados citados acima.

Não deixem de ler todos. Destaque especial para:

Enforcados: Lenda ou história do índio em Sergipe;
Na trilha do gado vacum;
As dores da vila das Dores;
Sinhô Porto: a legião de dorense e a política da vila;
Enforcaram nossa emancipação;
Ofícios de nossa gente: sapateiros;
Pérolas de João Libânio;
Na rota do rei do Cangaço;
Nordeste Sangrento;
O Intrépido José Lucena;
A Sucupira;
O Lagamar do Heréu
E muitos outros temas apaixonantes.
Um livro útil.

Há um blog desenvolvido pelos autores onde consta muito mais sobre Nossa Senhora das Dores (blogdoprojetomemorias.blogspot.com).


Antônio Saracura, Aracaju janeiro de 2013, revisão em dezembro 2017)

O HOMEM MEU PAI, Maria Terezinha Silveira Dias da Silva,



O HOMEM MEU PAI, Maria Terezinha Silveira Dias da Silva, Infographics, 2010, páginas: 112, formato: 21 x 15 sem isbn





O livro narra a saga de uma família comandada por um rude patriarca (O Homem) e que produziu cidadãos de muito valor, meus conhecidos, donos de uma revista de grande circulação no Estado (Perfil) e de uma gráfica (Infographics) aqui de Aracaju (Honorino Júnior, Antônio Luiz Dias, Karina e Márcio Gibson).




Nunca mais esqueceremos do Sítio Felicidade (que conheci em uma visita rápida) no povoado Pimenteira, e também da bodega de seu Dias, e até da maneira singular do amansamento do cavalo passarinheiro, chamado “Mussuripe”. O sangue bárbaro de Frei Paulo esquentando a poética e dengosa Boquinha da Mata.

Estes livros singelos que tratam de famílias são antológicos. Especialmente os que contam a história de famílias sem pompa. Mesmo escritos ao correr da pena, sem rebuscamentos literários. Principalmente por isso. Eles resgatam memórias que se perderiam definitivamente. Os descendentes, que certamente serão muito mais ilustrados e exigentes, não saberiam de suas raízes e sentiriam falta disso.

Um povo sem memória não chega a ser um povo. Uma família também!

O Homem meu Pai é bom para a família, para Boquim, para leitores como eu (que talvez existam muitos) que se embevecem com as histórias de famílias dos povoados remotos. Bom demais para a cultura do País. Sem alardes, ela está mais rica por causa deles. Assim como este, há circulando outras pérolas por aí. Cito algumas das que passaram pelos meus olhos: Meu Cobertor de Lã, de Benjamim Fontes e que também acontece em Boquim; Memórias em Retalhos, de Perolina Bensabath, rico e bonito; Meu Nome é Marleide Monteiro, da própria, conta a vida dessa ceboleira vitoriosa; Procurando o Pequeno Príncipe, de Carlos Leite, maravilhosas crônicas de infância. Peço vênia para incluir também um livro de minha autoria, Os Tabaréus do Sítio Saracura, que anda pela mesma estrada de Esse Homem meu Pai, com personagens muito parecidos, e com similar barbárie, quem sabe se não por causa da mesma origem, gestada na velha Itabaiana Grande.

(Publicada na Perfil 14/02)
Antônio Saracura, Aracaju, abril de 2013, revisão em dezembro 2017



domingo, 17 de dezembro de 2017

MONSENHOR JOÃO BATISTA DE CARVALHO DALTRO

MONSENHOR JOÃO BATISTA DE CARVALHO DALTRO, Claudefranklin Monteiro Santos (organizador), Gráfica J Andrade, 2011,Tiragem: 1000 Exemplares, patrocínio: 
Prefeitura de Lagarto e Faculdade Ages, páginas: 52. :Il. Isbn: 978-85-64363-00-7




É um pequeno livro, um opúsculo. Acaba de sair sob o patrocínio da Prefeitura de Lagarto e outros mecenas. O poder público acordou para a literatura, parece, a quem deu migalhas, quando deu. Sua fortuna é gasta com conjuntos musicais de gosto duvidoso ou com farras secretas.

O livro de que falo aqui é uma coletânea de artigos de intelectuais (pegos na internet, na imprensa ou escritos para o próprio) e poemas de alunos, versando sobre o personagem, Monsenhor Daltro, um homem célebre de Lagarto, que fez história e mudou para melhor a vida de seus conterrâneos. Ele já não está em nosso meio desde 1910, mas deixou marcas indeléveis. Ele é o pai dos Garcia Moreno. Muitos de seus descendentes fazem Itabaiana ser melhor e engrandecem Sergipe e o Brasil.

Atribula-me o descaso que damos aos nossos grandes homens.

Jogâmo-los na vala do ostracismo. Suas catacumbas nos cemitérios, depois que os netos se vão (ou até antes) jazem abandonadas, como seus moradores, cobertas de mato, deterioradas. Ou soterradas, o que aconteceu com as catacumbas do piso da Igreja matriz de Itabaiana após uma reforma do vigário do momento (Monsenhor Eraldo Barbosa?).

Quanta história não está sumindo definitivamente sob os escombros das igrejas jesuítas apodrecidas e espalhadas pelos antigos canaviais de Sergipe e do nordeste inteiro? Os grandes (homens e monumentos) da nossa terra, que agregaram orgulho ao nosso povo, estão sendo esquecidos. Quando muito, ainda temos deles fotos esmaecidas pelo tempo cobrindo as paredes dos Institutos Históricos e Bibliotecas menosprezadas. Os cupíns as cercam perigosamente.

Como teremos orgulho de nossa terra por conta apenas das futilidades contemporâneas?

Graças dou à igreja católica que, através do Instituto da Santidade, consegue preservar eternamente os seus militantes, os quias foram exemplo no seu tempo.  Estou me referindo aos santos, apesar de nem todos serem tão santos assim! Qual o católico que ignora Santo Antônio, São Francisco, São Cristóvão e até São Jorge (que falam que nem existiu de verdade)?
  
Graças dou à Lagarto pela publicação dessa obra sobre o Monsenhor Daltro. Um livro justo e, além do mais, muito bom de ler.

(Antônio Saracura, dezembro 2012, revisão em dezembro 2017)



COISAS DO NORDESTE, José Roque de Jesus

COISAS DO NORDESTE, José Roque de Jesus, 197 páginas, edição do autor, 2013, Aracaju, Infographics, isbn 978-85-915926-0-9.


Conheci Roque na I Bienal do Livro em Itabaiana, em 2011. Alegre, contagiante. Ajudou-nos demais, trouxe escolas de seu mundo para visitar à bienal, montou um stand da Embrapa (ondes de trabalha),  que foi um dos mais visitados.
Roque atua na área de divulgação de programas da Embrapa, a grande auxiliar no desenvolvimento do País. Ele é filho de Itabaiana, natural do Rio das Pedras e formado em jornalismo pela Unit. 

Esse povo de Itabaiana sempre está à frente, surpreendendo. Nem todos, é bem verdade! Um dia ainda me juntarei a este grupo determinado.

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Agora, uma bienal depois, em 2013, tive acesso a seu livro. Nem soube, em 2011, que Roque fosse escritor. 
Assim como ele, seu Coisas do Nordeste, editado em 2013 mesmo, é alegre e contagiante. Tem conteúdo, tem utilidade.
E está assim organizado:

Capítulo 1: Poemas. Cerca de cinquenta peças, a maior parte canta o Nordeste e seus equipamentos naturais e artificiais. O poema “Cadê Você” abre com chave de ouro a coletânea e tem a amplitude do País inteiro, senão do mundo. Quero ouvir o barulhão / das águas na cachoeira.../ descansar no sombreado das árvores das ribanceiras...
São tantos, todos merecem destaque mas, em nome dos demais, cito ainda:
“Dieta do Matuto” é espontâneo, agradável; “Eta Vidinha Boa”: A mensagem por email /fica fácil de mandar / converso com o exterior / e não saio do lugar; “Feira de Bugigangas” parece a Feira de Itabaiana que conheço bem.

Capítulo 2: As belezas de um planeta chamado Brasil (fotos espetaculares).

Capítulo 3: Eu estive aqui (mais fotos documentando as andanças do autor pelo País, quase sempre pregando as missões a mando da empresa Embrapa).

Capítulo 4: Os Radiodramas. As informações técnico-científicas apresentadas de maneira descomplicadas, facilitando a aprendizagem dos ouvintes dos programas de rádio da Embrapa. O tema é sempre a missão sagrada de ensinar as boas técnicas ao povo mais simples, seja do campo ou das cidades. São mais de quarenta peças tratando de nascentes de rios, do cultivo da abóbora, da adubação verde e muitos outros.

Capítulo 5: Causos e aboios. Mais poesia (sempre o bom cordel) mostrando a criatividade e a arte de 
Roque de Jesus: Fuxicaria, o Bode Zé Ernesto, Japaratuba cidade vale, Boêmio apaixonado...

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Boa leitura, agrega valor.

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Publicada na Perfil ano 16 número 8

Aracaju, Antônio Saracura, dezembro de 2013. Atualizada em dezembro de 2017) 

sábado, 16 de dezembro de 2017

MOITA BONITA CINQUENTA ANOS, Jorgevânio Lima Menezes

MOITA BONITA CINQUENTA ANOS, Jorgevânio Lima Menezes, 288 páginas, 2013, edição doméstica.



O professor Manoel Aelson Gois, confrade da Academia Itabaianense de Letras e autor do livro: Associação Olímpica de Itabaiana do Gênese ao Penta, ligou-me. Estava com um livro e gostaria de me presentear. Queria meu endereço. Eu sou um quebrador de protocolos, fui buscar o livro no Dom Luciano onde Aelson ensina. Trouxe o livro para casa.

Moita Bonita conta a história do jovem município, desde os primórdios aos dias atuais. Passa pelos povoados Capunga (onde o Museu de Vicente está brilhando no Brasil inteiro), Campo Grande, Figueira, Cova da Onça (onde fui muitas vezes, em menino, pegar esterco, num carro de bois, para a agricultura do sítio Saracura), Bernardo, Oiteiros, Candeias (de onde vêm meus avós paternos), Cantinho, Saquinho, Lagoa do Capunga, Lagoa Seca, Moita de Cima e Arisco...

Discorre sobre as figuras ilustres, sobre pessoas simples que também agregaram valor ao município. 

Trata da vida cultural, da vida religiosa, de tudo que uma nação tem como lastro.

É um compêndio útil aos filhos da terra, aos estudantes (a quem especificamente se destina, inclusive pelo seu viés didático), aos pesquisadores de nossa história.

Publicar um livro hoje não exige recursos imensos.

De minha casa, artesanalmente, pode sair uma obra de qualidade como esse livro do geógrafo e professor de carreira, Jorgevânio Lima. Ninguém mais conseguirá deter a cultura, popularizou-se.

 (Publicada na Perfil, ano 16 número 03)
Antônio Saracura, janeiro 2014, revisão em dezembro 2017)



MEMÓRIAS DO MOVIMENTO DE CURSILHISTAS DE CRISTANDADE, João de Deus Souza

MEMÓRIAS DO MOVIMENTO DE CURSILHISTAS DE CRISTANDADE, João de Deus Souza, J. Andrade, 2012, 286p, isbn 978-85-8253-001-6.



O Supermercado Nunes Peixoto, de Josias Peixoto, em Itabaiana, é um ponto especial de divulgação de livros. Tenho o privilégio de ter meus livros expostos em uma gôndola e, garças a isso, ganhei muitos leitores e amigos no Brasil todo.

Comprei o livro de João de Deus lá. Nem sabia que escrevera um livro. E nem o conhecia pessoalmente. Via-o pela cidade e em Aracaju: grandão, branco, desengonçado como seu primo e meu amigo, José Crispim de Souza. Ambos do povoado Zanguê, no pé da serra da Itabaiana Grande.

O livro trata de pessoas de fé e de ideais.

Com pequenas crônicas, João delineia cidadãos honrados de Sergipe que participam de grupos católicos dedicados aos mais necessitados.Lá está Josias Peixoto (o dono do supermercado), José Crispim (aquele meu amigo), Arivaldo Montalvão Filho (personagem de meu livro “Meninos que não queriam ser padres” juntamente com seu pai que me pescou no mar revolto), José Ginaldo de Jesus (Relações Públicas dos Correios e que faz questão de falar bem de meus livros em toda solenidade onde cabe). Perto de cem outros.

Um útil Banco de Dados. Quando precisar citar um desses abnegados católicos, exemplo para mim, relaxado batizado, vou ao livro de João de Deus.   


Post scriptum: Hoje o Nunes Peixoto não tem mais livros de minha autoria. O supermercado  cresceu demais,  formalizou-se, e eu continuo o mesmo cara rústico, informal).

Antônio Saracura, desse 2013, revisão em dezembro 2017)



POESIAS E AMOR DE DOR, Inez Resende

POESIAS E AMOR DE DOR, Inez Resende,2011,69p. Il. 21 cm, Isbn: 978-85-912793-0-2




Alguns anos atrás, no Facebook “Itabaiana Grande”, li um poema (bons tempos!) chamado “Ruazinha” e comemorei pela lucidez que senti nele. E declarei meu sentimento na rede. Alguns navegantes “curtiram”. O poema começava com uma pergunta que me fisgou, pela simplicidade da escrita e clareza do objetivo: “Ruazinha cinzenta / Quem teu lume apagou?”.
Depois, Inez Resende, a autora, que eu não conhecia até então, postou mais poemas seus. Nem todos com o visgo de “Ruazinha”, mas também me agradaram. Um deles, “Sonho Caboclo”, fez lembrar-me “Onde a Ventura Mora” que acho um dos mais bonitos de nossa literatura, de autoria de Cleômanes Campos (sergipano de Maruim), falecido em 1968. Pela alma irmã, achei, na ocasião, que os poetas navegam em sentimentos irmãos e, os dizem, às vezes, de maneira parecida.

Na I Bienal do Livro de Itabaiana (novembro/2011) Inez Resende lançou o livro que dá nome a essa página. Eu a conheci, então, rapidamente, e ela me pareceu com seus versos, doce até na dor.

Já disse aqui antes, até repetindo o que escrevi em “Meninos que não Queriam ser Padres” (página 94), que acho a poesia um ente misterioso. Vibro com poemas que ninguém sequer percebe e abomino outros ovacionados pela intelectualidade estabelecida.
E parece que não sou só.
Na página 496 do livro “Fernando Pessoa – Quase uma autobiografia” estão duas opiniões aparentemente antagônicas a respeito de Teixeira Pascoaes, poeta então consagrado (falecido em 1952) e diretor literário da revista “Águia” (que circulava à época em Lisboa). Júlio Brandão (simbolista de renome, falecido em 1947) considera o poeta Teixeira “uma bexiga de porco a rebentar de vaidades”, enquanto, Fernando Pessoa (badalado com todos os badalos, falecido em 1935), tem-no como “o maior poeta lírico da Europa atual”.

Xxx

Fiquem avisados os leitores (alguém ainda me segue?) que minha opinião não passa da expressão íntima de meu gosto rude, quiçá equivocado. E dentro desse meu equívoco duvidoso, relaciono alguns poemas do livro (eterno) “Poesias de Amor e Dor”, que os senti lúcidos, sonoros, úteis:

Ruazinha (sobre o qual não mudei de opinião),
Faltou Coragem,
Um Amor Assim,
Sonhei,
Maldita Guerra,
Felicidade...

Do último, transcrevo a estrofe final para o leitor reter:

“E nesse torpor, encho de suavidade os meus dias!
E assim vou vivendo nessa fantasia.
Descobrindo a beleza onde antes não via.
Encontrando a felicidade onde pensei que não existia.
Podendo ter certeza de que ser feliz
É renascer a cada novo dia!”.

Antônio Saracura, junho 2012, revisão em dezembro 2017)

OS PROTESTANTES DE ITABAIANA, Ismael Alves de Meneses Moura

OS PROTESTANTES DE ITABAIANA, Ismael Alves de Meneses Moura, InfoGraphics
90p. :il.; 21x15cm, edição: 2011,ISBN: 978-85-912797-0-8




O livro tem prefácio do historiador Vanderlei Menezes, um destacado intelectual de Itabaiana, que discorre sobre o papel dos protestantes na sociedade brasileira, desde a colônia. Pinta o autor com a tinta certa, alivia-lhe a responsabilidade, ao dizer que Ismael apenas abriu caminhos, não esgotou o assunto. Outras obras poderão surgir e aprofundar o estudo sobre o tema.



E sobre a obra em si?



 Melhor seria que eu reproduzisse o prefácio de Wanderlei. Seria de bom tamanho. Bem mais cômodo para mim, considerando que, a bem da verdade, muito pouco tenho a acrescentar. Entretanto, para garantir o salário virtual que revista não paga (mas recebo de meus leitores com acessos que nem meço), apresentarei anotações rabiscadas às margens das páginas, que sempre faço em todos os livros que leio. Alguns livros ficam tão rabiscados que me constranjo em emprestá-los por os julgar danificados pela minha mania de dialogar com o texto lido. E peço desculpas ao dono, quando devolvo o livro que me emprestou com mil recomendações para não amarrotar.

Os Protestantes em Itabaiana contam a origem do protestantismo (boa revisão), como chegou a Sergipe (pioneiros de Laranjeiras) e como entrou em Itabaiana. Descreve a miscelânea confusa de seitas (?), os personagens que se destacaram, a começar pela admirável família Nunes que deve ter enfrentado um tampado danado (como dizia meu pai, agricultor rude da Terra Vermelha).
E muito mais.
Mesmo contando tudo isso...
Eu gostaria que contasse também a história épica dos protestantes das Caraíbas (tem que ser as Caraíbas de Itabaiana), rincão dos intrépidos compradores de galinha e ovos de porta em porta na Terra Vermelha da minha infância, que passam por “Os Tabaréus do Sítio Saracura” e deixam sua indelével marca de um povo esperto. Por que viraram “bodes” (cabal explicação ao insólito e injusto apelido), como resistiram à discriminação (natural) dos católicos romanos?
Eu gostaria (se descendesse de um evangélico pioneiro) de conhecer os nomes de todos os meus irmãos de fé, com data de batismo, local de moradia, etc. etc.
Eu gostaria, como gostariam também Wanderlei (o prefaciador) e Ismael Moura (o próprio autor) que o livro despertasse novas pesquisas, desencadeasse outras publicações sobre o tema empolgante.
Quem dera possa instigar (aqui sou eu querendo) algum ficcionista da terra a escrever um romance, que será espetacular, pois o tema possui ingredientes apaixonantes de sobra.
O livro é referendado por uma bibliografia respeitável e ilustrado por um rico acervo fotográfico.

É um opúsculo que pode ser lido em uma hora, mas merece o respeito de um grande livro.
Enriquece qualquer biblioteca. Na minha está bem aqui, ao alcance da mão.

(Publicada na Perfil 14/10)

(Antônio Saracura, outubro 2012, revisão dezembro 2017)