MEMÓRIAS DO MEU LUGAR, Maria Adriana e Thais Oliveira (e mais
os alunos do 8 ano da Escola Municipal Professora Eliete de Melo Guimarães)
Retornamos da festa do
lançamento deste livro, em Japoatã, perto
da meia-noite. Eu dirigia e bati em dois
trens na pista, juro que não os vi, me pegaram à traição: uma cratera e um
quebra-molas camuflado de mil tons escuros. Após cada um, achei que o carro se
partira em dez. No quebra-molas, pedaços levantaram voo como se acionados pela explosão de uma bomba de breu Estanciana.
A cratera estava na segunda pista, a da direita, por onde andam os caminhões de
carga e idosos inseguros, e bem disfarçada por um manto deixado pelo pé de água que acabara
de se levantar.
Nos dois casos, o dono do carro, Pascoal, ao lado, com quem cruzo estes mares tenebrosos e que
conhece rezas fortes, consertou tudo antes do bólido aterrissar na pista e
continuar o voo temerário para Aracaju.
Eu estava certo de que, se mais trens idênticos aparecessem no
meu caminho teriam o mesmo destino dos dois, mas sorri seguro para Pascoal, que me olhava de través.
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Logo adiante, apareceu o letreiro anunciando um posto de combustível.
Pascoal, que vinha caladão, mandou-me
entrar, pois precisava ir ao banheiro.
Após, com um jeito educado e irrecusável, pediu a chave de
volta: “Vou dirigir um pouco para me
manter acordado”.
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Retornando à festa de lançamento do livro das professoras
Adriana Oliveira e Thais Oliveira... Foi muito bonita. O salão esteve lotado até o encerramento, já perto da
meia noite, ninguém queria sair, todos presos pela exibição de peças de artistas,
declamação de poetas, testemunhos do
povo prestigiado.
“Memórias do meu lugar” descobre os espaços, revela histórias
e memórias. Faz um mapeamento
antropológico de Japoatã povoada de lendas e de mistérios: frades apressados,
tesouros bem escondidos, exploradores frustrados.
Cada aluno do oitavo ano da escola Eliete de Melo Guimarães (divididos
em grupos e conduzidos pelas professoras nomeadas acima) foram aos logradouros
da cidade, vasculhando a memória dos moradores e bisbilhotando entradas de
poços abandonados nos quintais, portas falsas das casas mais antigas.
Se acharam os tesouros dos frades do passado, não revelaram.
Entretanto, acharam um tesouro de maior valor, na rua São Jorge, vivendo normalmente, a
mulher mais idosa do mundo, dona Maria José dos Santos, nascida em 1905 que, por pouco (morreu antes)
não figurou no inacessível Livro dos Recordes.
E em uma segunda-feira, ainda agrupados, os alunos autores
iam aos seus destinos (aos logradouros), foram engolidos pela Feira tradicional,
que tomava a Praça da Matriz e que os
impregnou do cheiro de coentro fresco, de
peixe salgado, de couros dos arreios, de café sendo coado, de tapioca quente ao
queijo derretido...
Por meses, fotografando
e anotando, eles correram a rua do Campo (de Ximbo e Melindroso), a rua das
Pedras onde os Bezerras são honrados e onde a bodega de Manoel tem uma janela
ao mundo e a escola Municipal Eliete Guimarães mais de mil. Também a Rua do
Matadouro, rua Pacatuba, rua das Sete Casas, Santa Terezinha, rua São Jorge
(onde morou dona Maria José dos Santos...
Mais ruas, trevos, rodovias,
conjunto residência, praças...
Cada logradouro é uma nação e merece toda a atenção.
São 32 exploradores (indianas jones), sob o comando das
professoras Adriana e Thaís. Os nomes deles, as fotos e as biografias ocupam o
coração do livro (páginas 95 a 111).
Iriam até ao castelo onde moram as musas e o vate Chico Lúcio,
autor de belos poemas e da melodia e da letra do hino da cidade. Mas o castelo fica
no povoado Poxim, que está no roteiro do segundo tomo do livro, já projetado.
Mas os autores não esqueceram o poeta maior do lugar. No fechamento, incluíram biografia dele, pra quem mando um abraço, e a
letra do hino de Japoatã, que já sei até cantar uns trechinhos.
(Aracaju, 24 de dezembro de 2025, por Antonio FJ Saracura)
