A ESTRELA E A FLOR, Silva Ribeiro Filho, 2007, 190 páginas, sem isbn
Logo que saiu meu livro “Os
Tabaréus do Sítio Saracura” (2008), o radialista independente Ribeirão assumiu,
voluntariamente, à minha revelia, a espinhosa missão de torná-lo conhecido. Então tive meu primeiro contato
com a família Silva Ribeiro.
Fomos, Ribeirão e eu, sem marcar
consulta, ao consultório do médico Marcelo, um dos membros da família de
intelectuais. Ribeirão apregoara, era um grande poeta, cronista emérito, uma estrela
influente no meio intelectual sergipano. E seu conhecido. Mas não tinha laços de
parentesco com ele (Ribeirão), um caga-palácio, filho de Laranjeiras, de outros troncos
ilustres.
Achei que não devia ir, seria uma
temeridade essa visita! Um médico no trabalho é muito ocupado e solicitado. Há
pacientes, vendedores de remédios suficientes para encher seus horários. Não
cabe mais nada. Quanto mais, divulgadores de livros, especialmente, de um livro
desconhecido e escrito por um autor ainda mais.
Mas Ribeirão me puxava encabrestado,
eu não tinha muito como refugar. Iria por bem ou na marra. Eu resmungava, ruminava
mas estava dominado.
Esperamos um tempão sob o olhar
severo de uma recepcionista zelosa. A ante sala lotada de pacientes impacientes
fez-me arremeter de novo algumas vezes. Mas Ribeirão não me deixava arredar o
pé, me segurava firme. Então, que seja o que Deus quiser!
A secretária,lá pelas tantas, mandou-nos entrar, finalmente.
Marcelo recebeu meu livro sem
festa. Pouco conversa, de olho na porta, havia ainda muita gente lá fora
esperando a vez. Nem me deu ou ao
Ribeirão, um obrigado, nem uma de suas obras que brilhavam numa estante à
nossa frente, em retribuição.
Seria (Os Tabaréus do Sítio Saracura) mais um livro perdido?
Jamais seria lido, pensei comigo, ali incomodado.
Tive que puxar Ribeirão pelo
rabo, criei ousadia, não havia jeito de ele encerrar o monólogo incompreensível que
sustentava heroicamente.
E ainda veio me recriminando pelo caminho.
E ainda veio me recriminando pelo caminho.
Sobre Wagner Ribeiro, um irmão de
Marcelo, também famoso no mundo das letras, Adler Wiliam, meu cunhado e com boa
penetração na alta sociedade, disse-me que era a melhor pena de Sergipe. Ao ser-me
apresentado um dia, casualmente, mostrou-se agradável, dando-me um livro de
poemas de sua autoria.
Tempos depois, conheci J. Ribeiro
Neto, irmão de Marcelo e Wagner, e também escritor. Ele ganhou prêmio na categoria romance, como
eu, se bem que na categoria Crônicas, no último concurso literário promovido
pela Secretaria de Cultura de Sergipe, em 2010.
Ainda há outros irmãos e primos
que escrevem e publicam livros.
Como, em uma família, pode haver
tantos intelectuais, publicando livros?
A resposta veio agora com este
livro “A Estrela e a Flor” que recebi de presente de Wagner Ribeiro, tempos
depois daquele primeiro encontro. Vem do berço, é a genética. Não adianta dizer
que todos somos iguais. Nem ante a lei, especialmente diante desta.
Debrucei-me voraz nos poemas e na
vida profícua desse Silva Ribeiro Filho, que é o pai dos três intelectuais mal
apresentados acima. E é filho de José da Silva Ribeiro, que fez funcionar a “Hora Literária do Santo Antônio” da qual nasceu
a Academia Sergipana de Letras. Isso nos idos de 1929.
Acabei de ler o livro e estou me
sentindo um privilegiado. Nesse fim de vida, pois me aproximo dos setenta, bebo
sôfrego o melhor da literatura sergipana que, lamentavelmente, é pouco
divulgada. Os livros são zelados no âmbito das famílias. Não há onde encontrá-los,
nem nas bibliotecas públicas de precários acessos.
A “Estrela e a Flor” foi composto
em segmentos bem definidos.
Primeiro aparecem os “Sonetos”,
quarenta e oito. Alguns antológicos, e ainda hoje recitados nos saraus pela cidade.
O segundo segmento denomina-se: “Dora
e Outros Poemas”, com nove composições, entre as quais (apenas um estrofe), “Aracaju
de minha infância”:
“Minha cidade sonhadora e triste,
Areais... areais... paisagens doentias,
Mas aqui há coqueiros muito verdes,
Há noites cálidas e brancas
E um dilúvio de luz todos os dias”.
O terceiro chama-se “Pequenas
Canções” com 16 composições. Eis a “Velhice”:
“És velho somente quando
Deixas de amar, pois amando
O coração tens em flor.
Velhice é trazer no peito,
Solitário, contrafeito,
Um coração sem amor.”
Em seguida, vem as "Quadras" (quadrinhas, trovas). Bem trabalhadas, significativas:
Nem tudo que brilha é ouro...
Cuidado, moça, cuidado:
O santinho, no namoro,
Vira o capeta, casado”
E, por fim, o “Apêndice” onde são
disponibilizados os seguintes textos:
1) Prefácio
da primeira edição (por Santo Souza)
2) Um
homem exemplar (Luiz Antônio Barreto)
3) Carta
(trecho) de Luiz Amoroso Lima
4) Discurso
de posse na ASL
5) Discurso
de recepção a Santos Souza
6) Concurso
de poesia centenário de Silva Ribeiro Filho
Por que a Academia Sergipana de
Letras não mantem uma pequena livraria onde os sergipanos possam adquirir
livros de seus imortais, especialmente os mortos? Seria a maneira de acessarmos pérolas como essa
“A Estrela e a Flor”.
E as livrarias da cidade?
Ora! Elas não conseguem nem expor os livros dos autores vivos sergipanos. E nem podem. São empresas comerciais precisam faturar para sobreviver. E os livros sergipanos vendem quase nada. Os nossos leitores, a maioria, preferem a literatura feita fora.Teria que ser mesmo a Academia ou outra entidade pública, que não sobreviva da venda desses livros.
E as livrarias da cidade?
Ora! Elas não conseguem nem expor os livros dos autores vivos sergipanos. E nem podem. São empresas comerciais precisam faturar para sobreviver. E os livros sergipanos vendem quase nada. Os nossos leitores, a maioria, preferem a literatura feita fora.Teria que ser mesmo a Academia ou outra entidade pública, que não sobreviva da venda desses livros.
(Escrito em julho de 2012 e
revisando em setembro de 2016)
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