quinta-feira, 15 de junho de 2017

VIDA LIDA, Tereza Cristina Pinheiro Souza

VIDA LIDA, Tereza Cristina Pinheiro Souza, poesia, 2016, Infographics, 138 páginas



Minha esposa está lendo menos depois das redes sociais, nas quais entrou na marra (mea culpa). Está mais seletiva na escola das obras, só recomendadas, de preferência por  internautas, ou de autores conhecidos.

Ela conheceu Tereza Cristina nas sessões da Academia Itabaianense de Letras (acompanha-me solidária) e nas festas culturais do dia 14 na Praça Chiara Lubich de Itabaiana, onde tenho, em nome da mesma academia, uma tenda fixa.

Logo que botou as mãos no livro “Vida Lida” de Tereza Cristina, tomou conta da rede da varanda lá de casa, e navegou fagueira. Comecei a ver louvores aos poemas, curtidas, bonequinhos moganguentos fazendo mesuras, e ouvir vivas, ohs e urras...


A poesia é como o mar, gosto de ficar olhando de longe, temo os monstros das profundezas que comem gente. Meu tempo é escasso e achei que poderia deixar “Vida Lida” para depois, satisfeito com o efeito que ele produziu na crítica literária dos livros que escrevo. Mas minha esposa percebeu a fuga e pegou no meu pé: “Leia logo!”
Ela tinha razão! Paris é outra vista de dentro. Nada é tão belo como mergulhar na lua que inunda o terreiro do sítio Saracura nas noite de estio. Ouvir falar nem chega perto!

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Lá vêm as letras querendo ser poesia, mostrando força e poder, tecidas em palavras poderosas pelos dedos e pela mente de Tereza. Pegam o mundo em movimento, com dúvidas e com defeitos, e o refaz inteiro. Com um simples toque, parece milagre!

Que força é essa que as palavras têm de me acordar ainda no sonho, um pé lá e outro cá, para continuar lembrando-me deste sonho que me deu trabalho para acordar. Como é maravilhoso sentir o amanhã, poder sorrir e amar nele...Vou procurar uma moldura (espero que eu saiba escolher) para enfeitar e segurar os meus olhos (sonhadores), que não percam de vista a alegria de viver.

Tereza Cristina navega dentro de si, conformando-se com os revezes. “Querer ir” é melhor mesmo do que “ter ido”. E, por isso, ela busca “querer” ser feliz, a cada instante. E consegue, porque o poeta (já falou outro poeta) é um fingidor, “finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente”.

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Lembranças de Vovô Boanerges eu achei lindo, “me diga aí, quem souber, quem é o meu cravo branco?

Maria Fulô mexe com o coração, acorda sentimentos íntimos, os olhos marejam, o nariz coriza...Se a escola fosse um canto / pra se aprendê bem vivê! / qui além da fiarada / inté eu andava istrada / pro mode, quem sabe lê!

Em Momento Um, mesmo de mãos atadas  eu quis, eu lhe quis, eu quis sim. E no final, de “Mãos Atadas” outra vez, eu quis o certo no tempo incerto... Eu sou tantas / em pensamento vou a muitos lugares...


Acho (agora sou eu mesmo) mais prudente parar por aqui as citações. Os omitidos certamente não gostarão, mereciam tanto também! Além do que, o livro não está esgotado e, certamente, por mais que eu capriche na escrita, ele vem das misteriosas minas da serra de Itabaiana.

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Eu fico me perguntando por que Tereza Cristina doa-se tanto, anula-se, até esconde-se dentro de si para que seu brilho não ofusque os brilhos em volta, para que suas tristezas sejam vistas como felicidade.  

Uma vez eu a convidei para ingressar na Academia de Letras e ela me disse: “bote meu irmão que é poeta!”. Eu respondi-lhe que ele iria mas a queríamos também.  Outras forças se somaram para conquista-la. Que bom que a Academia deu-lhe força e obrigação para revelar o brilho que escondia.  “Vida Lida” mostrou, até para a autora, agora desprendida, agora descamada (como ela mesma diz), que as pessoas precisam ler seus poemas, valem muito a pena. Assim é que, sem timidez, eles estão cruzando os céus nebulosos das redes, soltos, livres e anchos, alumiando-nos.

Maria do Carmo Costa, navegante das redes sociais e autora de dois pequenos grandes livros (Alma Branca e Para sempre Itabaiana, você precisa ler!) tomou minha palavra final (obrigado Carminha): “Ele (o livro Vida Lida) revela você (Tereza), traz à tona seus sentimentos mais profundos, amores, amigos, a sua visão do mundo, postos e expostos como só você poderia... Seus versos extravasam alegria, melancolia, saudades, tenacidade, amor, experiências vividas e sabedoria adquirida”. 

Temos que ler mais poesia, faz muito bem!

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Resenha publicada na revista Impactos, ano I número 1, junho de 2017 (Itabaiana Sergipe)

(Aracaju, abril de 2017, por Antônio Saracura, escritor das academias Sergipana e Itabaianense de Letras).



 

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