domingo, 7 de novembro de 2021

RIMAS CALADAS, Lili Ferreir

 

RIMAS CALADAS, Lili Ferreira, (Eliliane Santos Ferreira), um livrinho de cordel com 12 páginas e 24 estrofes apenas, editado pela Datagraph, em março de 2020.

Depois do pico do Corona vírus pico (que me derrubou de jeito) tenho me acordado mais tarde. Algumas noites, só durmo nocauteado pelo pugilista mister Zolpidem, melhor o nocaute do que rolar a noite toda implorando um carocinho de sono. Melhor o dia seguinte irritado do que zonzo.

***

Corri ao computador, precisava aproveitar o dia, já eram sete da manhã. Avançar um pouco na leitura livro de Paulina Chiziane, escritora moçambicana que arrebatou o prêmio Camões de 2021,  consertar as crônicas que escrevera ao correr dos dedos trôpegos sobre a Feira do Livro de Itabaiana, inventada para não esquecermos da Bienal, que o Covid-19 impediu de acontecer. 

Entre a papelada mal arrumada na escrivaninha (agora também relaxei na organização de roças de lavoura ) bati-me com um livrinho de cordel. Como chegara a mm? E lembrei do lote de vinte e tantos livros que trouxe da Feira, fruto de permuta que faço (muitos aceitam) em todo evento literário com autores presentes. É um modo de ser lido; de fazer circular o sangue das letras antes que talhe de vez. “Rimas Caladas”, o título do livrinho, é de autoria de Lili Ferreira, Eliliane Santos Ferreira, nascida em 1994, em Campo do Brito e formada em letras pela Ufs Itabaiana e especialista em Clarice Lispector, que, agora, não me recordava da fisionomia. 

Folhei-o, achei simpático e mudei meu plano inicial. Mudar planos é também moda adquirida nessa fase triste de fuga inútil do vírus invisível e fatal. 

Comecei a ler o cordel de Eliliane...

Aqui e acolá, alguma destoava o tom e a métrica flutuava entre os sete e os oito tum-tum, mas trama escorria bem. Repreendi meu purismo besta, escondi o diapasão que me habita afinado com os padrões do cordel desde que me avô, na longínqua infância, cantava versos como quem bate malho na bigorna moldando foices. Então achei que todos os versos do mundo tinham sete sílabas, e toda rima, até da minha bruta prosa, deslizava macia. Meus filtros abriram as pernas e sentiam prazer. Trataram de ajustar os tons e sincopar ou suprimir as marcações do surdo para que o rio fosse de planície. Palavras nem precisam ser tão compridas ou pronunciadas inteiras. O contexto é quem melhor revela a trama.

Comi as doze páginas e compartilhei o sentimento  de angústia, dor, medo, sofrimento e horror... Entendi o aviso dos filmes de terror, de que os eram versos fortes que iriam me assombrar.

Concluo esta resenha, declamando, como meu avô Totonho fazia no bastieiro do sobrado de cedro cheiroso nas Flechas de minha infância:

Belas ou donas do lar / Acordem! Acabou o tempo / de domínio e submissão. / Agora o lugar de mulher / é onde ela quiser / pois tem determinação.

Somos sensíveis, ferozes... / depende da ocasião. / Graciosas como a pluma / ou bravas como o leão / expomos o sentimento... Queremos reconhecimento: / igualdade, liberdade e união”.

(Aracaju,07 de novembro de 2021, Antônio FJ Saracura.

Post Scriptum:

No mesmo ninho esfoliado, achei outro livrinho de LILI: “Por Baixo dos Panos”, que aborda a discriminação em geral e pede para se respeitar as diferenças e não as tratar como se fosse doença.  


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