CONVERSANDO COM AS GALINHAS, Irinéia Borges Carvalho, 2021,
Artner, Aracaju, 80 páginas, isbn
978-65-88562-45-1
Um dia, Pascoal mandou-me um original todo atrapalhado, que eu tentei ler e não consegui. Devolvi e disse que precisava ser reescrito pelo próprio autor, pois ninguém conseguiria ajustar o texto ao pensamento difuso que o autor talvez tivera. Tempo depois, Pascoal me disse que dera pitacos e que o autor, depois de alguma reforma, publicara o livro. E me mandou “Conversando com as Galinhas” um livrinho de 80 página que agora li e estou de boca aberta, encantado. As três primeiras histórias bem escritas, gostosas, que me emocionaram.
Sento-me em
um banco na praça do coreto, à sombra de um pé de Benjamim, gasto o resto de
meus dias feliz (meu corpo alquebrado não dói, nem minha alma gasta ansia), puxando
conversa com os passantes apressados, e mais, conversando com as galinhas.
Viajei à casa de pensão de dona Ruth lá numa cidadezinha,
quase vila, no interior de São Paulo. Numa sexta-feira, eu estava presente, ela
hospedou um senhorzinho, chamado Leonel. Os hóspedes de dona Ruth eram viajantes
que ficavam uma noite ou duas, mas o senhor disse que ficaria um mês ou mais. Seu
Leonel era um velho médico, sem ninguém, e buscava um bom lugar para morrer. Quem
adivinharia?
E fui com Corine, de trem, de Pittsburg até Philadélfia,
visitar a tia dela, Abgail, que a chamara com urgência. Deixamos nossas famílias
para trás. Eu, ninguém; sou apenas o leitor; Corine, deixou a filha que criou sozinha
e estuda na universidade. E Corine reencontra o destino que perdera vinte anos
atrás por conta de duas palavras mau entendidas...
Há mais quatro contos/crônicas/textos pequenos (quiçá
relembranças): Janelas abertas, aprendendo bons modos, meus amores reais e
colhendo palavras. Têm a ver com o cotidiano, com a missão de ensinar, com o
gosto pelos recantos sagrados nas almas e das letras e das palavras.
Destes quatro, o último, “Colhendo palavras”, me tirou da sintonia que os iniciais criaram. Anotações ao leu, em tom coloquial, que não fazem mal por isso, mas me sacolejaram pra lá e pra cá, sem me levarem a lugar a nenhum. Senti-me perdido no meio do galinheiro. Entretanto, reconheci como sendo interessante fluxo de ideias: matéria prima para subsidiar trabalho acadêmico a ser desenvolvido posteriormente sobre o uso das palavras em seus mil e tantos significados e nuances.
(Por Antônio FJ Saracura, em 2022dez03).
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