O CORAÇÃO DAS TREVAS, Joseph Conrad, edição especial, Nova
Fronteira, 2017, tradução de Mascos Santarrita, 128 páginas isbn
978-85-209-3575-0
“Logo aos 17 anos, o
polonês Joseph Conrad começava a sua carreira como marinheiro. E poucos anos
depois, partia rumo ao Congo, em nome de uma companhia de comércio Belga.
Lá, viveu na pele a
realidade da colonização, desde a crueldade obscena até a completa indiferença
para com o sofrimento alheio. E foi nesse ambiente, em meio à miséria e à
doença, onde conheceu com os próprios olhos o “Coração das Trevas”, o qual
viria a retratar magistralmente anos depois.[1].
O livro “O Coração das Trevas” é um clássico da literatura
universal e tem 120 páginas na edição especial da Nova Fronteira.
O narrador, em uma escuna encalhada no Tâmisa enquanto espera
que a maré suba, narra para uma roda de marinheiros conquistas na marinha inglesa
pelos mares do mundo. Os ouvintes entediados estão quase a dormir, pois a noite
chega e a escuridão toma tudo em volta. Então Morlow, um dos ouvintes, tome a
palavra. Ele é marinheiro dos mares e
navegar ali no rio o deixa agoniado. E conta a história que ele mesmo viveu: uma
empreitada no Rio Congo, no coração da África. Submeteu-se ao rio, pois era um
tempo de emprego difícil e não aguentava mais esperar o navio que nunca ficava
pronto e nem a promessa de emprego que não se concretizava. Soube que havia uma
vaga, submeteu-se enquanto esperava o mar. A companhia holandesa precisava de
capitão para conduzir um vapor no Rio Congo, região onde explorava riquezas. O anterior
havia morrido em um acidente. Morlow sabia que os civilizados saqueavam o continente
negro, matando e escravizando nativos, roubando tudo de valor sobre a terra e
embaixo dela.
E viajou para a África em busca de seu vapor e o encontrou afundado.
Precisava fazê-lo submergir e o reparar. No entreposto da companhia, enquanto fazia
o serviço, viu um clima ruim demais. Ninguém confiava em ninguém. Escravos e nativos
eram degolados à revelia. Os líderes se digladiavam na surdina ou abertamente. Teve
a sensação que entrara em uma briga no escuro, com inimigos por todo lado. Como
escapar da estocada fatal e como desferir o golpe certeiro?
A primeira missão seria resgatar um missionário-colonizador da
Companhia dona do navio, o doutor Kurtz, que sumira na selva, não prestava
contas à companhia, e agia como um Messias. Selvagens fanáticos e sanguinários
o seguiam cegamente. A informação que se tinha era de que acumulara imensa
riqueza em marfim, o ouro de então, e que estava muito enfermo, em risco de
vida.
xxx
A trama do romance não é linear. Não é clara no rumo e nem
das conexões de pontos, que se soltam e se prendem incessantes. Surgem fatos
aparentemente sem lógica que assombram. Não existem mocinhos, mas uma montanha
de seres se debatem, sem liderança em uma terra de ninguém.
E o vapor mal reconstruído começa a navegar para o coração da
África, cumprir a missão. O clima em volta e nos portos é de suspense, de
desgraça anunciada. Eventos surreais, assombrosos. Uma imensa Treblinka é
pintada por cegos e os pincéis são cabeças decepadas.
Dá uma impaciência, dá uma agonia, dá uma tristeza... Revolta,
indignação, imensa insegurança.
“Um terror, um terror” conforme o missionário enfermo,
finalmente, resgatado, pronuncia ao morrer.
Xxx
E eu me pergunto como Francis Coppola extraiu o monumental filme
“Apocalipse Now” deste pequeno romance de Joseph Conrad? Assisti ao trailer para
relembrar e penso que “O Coração das Trevas” entrou com o clima insustentável, o
alopramento dos seres humanos, o pouco caso à vida, a insensatez de atos, a
horrenda rapacidade branca contra as demais raças. No livro, os negros africanos
e, no filme, os asiáticos do Vietnan, em guerra com os Estados Unidos, na época,
e as selvas do Camboja, onde habitava o Kurtz de então.
O horror do romance tomou conta do filme. O mesmo que era o senhor
da vida nos dois momentos flagrados, que são eternos.
Aracaju, 2023fev06, Antônio FJ Saracura.
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