quarta-feira, 15 de março de 2023

O CORAÇÃO DAS TREVAS, Joseph Conrad

 

O CORAÇÃO DAS TREVAS, Joseph Conrad, edição especial, Nova Fronteira, 2017, tradução de Mascos Santarrita, 128 páginas isbn 978-85-209-3575-0

 


“Logo aos 17 anos, o polonês Joseph Conrad começava a sua carreira como marinheiro. E poucos anos depois, partia rumo ao Congo, em nome de uma companhia de comércio Belga.

Lá, viveu na pele a realidade da colonização, desde a crueldade obscena até a completa indiferença para com o sofrimento alheio. E foi nesse ambiente, em meio à miséria e à doença, onde conheceu com os próprios olhos o “Coração das Trevas”, o qual viria a retratar magistralmente anos depois.[1].

O livro “O Coração das Trevas” é um clássico da literatura universal e tem 120 páginas na edição especial da Nova Fronteira.

O narrador, em uma escuna encalhada no Tâmisa enquanto espera que a maré suba, narra para uma roda de marinheiros conquistas na marinha inglesa pelos mares do mundo. Os ouvintes entediados estão quase a dormir, pois a noite chega e a escuridão toma tudo em volta. Então Morlow, um dos ouvintes, tome a palavra.  Ele é marinheiro dos mares e navegar ali no rio o deixa agoniado. E conta a história que ele mesmo viveu: uma empreitada no Rio Congo, no coração da África. Submeteu-se ao rio, pois era um tempo de emprego difícil e não aguentava mais esperar o navio que nunca ficava pronto e nem a promessa de emprego que não se concretizava. Soube que havia uma vaga, submeteu-se enquanto esperava o mar. A companhia holandesa precisava de capitão para conduzir um vapor no Rio Congo, região onde explorava riquezas. O anterior havia morrido em um acidente. Morlow sabia que os civilizados saqueavam o continente negro, matando e escravizando nativos, roubando tudo de valor sobre a terra e embaixo dela.

E viajou para a África em busca de seu vapor e o encontrou afundado. Precisava fazê-lo submergir e o reparar. No entreposto da companhia, enquanto fazia o serviço, viu um clima ruim demais. Ninguém confiava em ninguém. Escravos e nativos eram degolados à revelia. Os líderes se digladiavam na surdina ou abertamente. Teve a sensação que entrara em uma briga no escuro, com inimigos por todo lado. Como escapar da estocada fatal e como desferir o golpe certeiro?

A primeira missão seria resgatar um missionário-colonizador da Companhia dona do navio, o doutor Kurtz, que sumira na selva, não prestava contas à companhia, e agia como um Messias. Selvagens fanáticos e sanguinários o seguiam cegamente. A informação que se tinha era de que acumulara imensa riqueza em marfim, o ouro de então, e que estava muito enfermo, em risco de vida.

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A trama do romance não é linear. Não é clara no rumo e nem das conexões de pontos, que se soltam e se prendem incessantes. Surgem fatos aparentemente sem lógica que assombram. Não existem mocinhos, mas uma montanha de seres se debatem, sem liderança em uma terra de ninguém.

E o vapor mal reconstruído começa a navegar para o coração da África, cumprir a missão. O clima em volta e nos portos é de suspense, de desgraça anunciada. Eventos surreais, assombrosos. Uma imensa Treblinka é pintada por cegos e os pincéis são cabeças decepadas.

Dá uma impaciência, dá uma agonia, dá uma tristeza... Revolta, indignação, imensa insegurança.

“Um terror, um terror” conforme o missionário enfermo, finalmente, resgatado, pronuncia ao morrer.

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E eu me pergunto como Francis Coppola extraiu o monumental filme “Apocalipse Now” deste pequeno romance de Joseph Conrad? Assisti ao trailer para relembrar e penso que “O Coração das Trevas” entrou com o clima insustentável, o alopramento dos seres humanos, o pouco caso à vida, a insensatez de atos, a horrenda rapacidade branca contra as demais raças. No livro, os negros africanos e, no filme, os asiáticos do Vietnan, em guerra com os Estados Unidos, na época, e as selvas do Camboja, onde habitava o Kurtz de então.

O horror do romance tomou conta do filme. O mesmo que era o senhor da vida nos dois momentos flagrados, que são eternos.

Aracaju, 2023fev06, Antônio FJ Saracura.



[1] Texto colado do “Clube de Literatura Clássica e publicado no Facebook. 

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