domingo, 6 de agosto de 2017

A SERRA E O SONHO, Ivanildo Sampaio

A SERRA E O SONHO, Ivanildo Sampaio, Fundação Pedro Paes Mendonça, Recife,2017,148 páginas, ilustradas, isbn 978-85-5829-010-4



De cara, gostei da ficha catalográfica, rica em palavras chaves o que permitirá ao mundo acessar o livro caso busque temas inerentes ao texto. Meus livros têm fichas pobres demais e o google não os mostra ao mundo ansioso em conhecer temas que enfoco. Rosa Maria, uma leitora de Salvador, reclama de minhas fichas pobres, ela foi, a vida inteira, bibliotecária, então sabe o poder da peça aparentemente inofensiva de uma obra literária.

Soube que João Carlos Paes Mendonça (que não o conhece no Brasil?) lançara um livro sobre sua obra social na Serra do Machado. O lançamento fora no Recife, e houve outro na sequência, para um grupo fechado de empresários, no hall de algum castelo medieval de Aracaju. Fiquei frustrado porque o lançamento já havia acontecido, nem pude mexer meus fracos pauzinhos para me imiscuir em um deles.

Mas veio-me a informação fresca, via Ribeiro, que me supre de notícias literárias, de que o livro seria lançado no Lar dona Conceição, em Serra do Machado, um povoado de Ribeirópolis, na noite daquele dia. Já era o finzinho da tarde, sem chance de viajar de topic para Ribeirópolis, especialmente ,porque não teria retorno, as topics rodam até as vinte horas.

Eu queria ler o livro por vários motivos.

Ribeiro, amigão que ganhei por causa de meus livros, como político em campanha, prometeu-me arrumar um exemplar, usaria a influência de sua irmã Miriam, assessora para todos os assuntos de Albano Franco. E era certeza que Albano estaria nesse evento, como estivera nos anteriores.

Entre os vários motivos citado acima, preciso explicitar um:

Em 1965, eu estava em Aracaju no maior sufoco: desempregado, sem dinheiro, comendo uma vez por dia na casa de minha irmã, dormindo de favor em uma rede num quarto de vila, indo ao Atheneu à pé desde à rua Dom Quirino. Já pensava em retornar ao sítio de onde saíra sete anos antes. Jogaria fora toda minha sabedoria escolar obtida no seminário. Sabedoria que não me servia agora para nada: não conseguia um emprego, uma ocupação que me rendesse qualquer vintém. Meses tentando e nada, além das experiências desastrosas como vendedor de bíblias, de pratos, de enciclopédias, que só renderam mais dívidas, que jamais pagaria.

Apenas aos sábados e domingo pela manhã, ajudava meu pai na grade de cereais do mercado, de quem recebia alguns tostões suficientes para o pão com manteiga na mercearia defronte à vila, pela manhã, até o meio da semana.

Era um final de tarde de nenhuma freguesia, o mercado estava perto de fechar, meu pai me pegou pelo braço e levou-me ao armazém de Pedro Paes Mendonça, no mesmo bloco do mercadão.

Pedro olhou-me e disse que não tinha vaga, mas botou a mão no meu ombro e me levou para perto da mesinha onde estavam muitos papeis arrumados. Pegou o telefone e discou um número. Depois, me disse: Segunda-feira às sete horas, vá à loja de Mamede, aqui na rua da Frente. Diga que é o filho de Zé de Pepedo Saracura.

Foi meu primeiro emprego digno com carteira assinada e o recomeço de uma vida que talvez desmoronasse sem ele.

Sempre acompanhei os Paes Mendonça com respeito. Fiz compras nas lojas deles, se havia nas cidades por onde morei.

Logo que retornei à Aracaju, depois de uma epopeia que daria um romance, isso nos anos de 1980, visitei o Lar Dona Conceição com minha família. Encantei-me. Quando publiquei livros, fui à Serra do Machado, e os doei à biblioteca do Lar. Tentei fazer uma reserva para minha velhice. A gerente avisou-me que somente velhinhos nascidos nos povoados entorno: Esteios, Fazendinha, Serrinha e João Ferreira, além da própria Serra, poderiam morar ali. Paciência!

Xxx

Uma tarde na Academia Sergipana de Letras, Miriam Ribeiro me entregou o livro prometido pelo irmão.

Xxx

O capitalismo convive bem com o social e pode, porque dispõe de recursos, promover vida digna ao povo. O projeto dos Paes Mendonça na serra do Machado é um grão de areia nessa praia de penúria que é o Brasil. Mas é um exemplo a seguir, um trabalho do capital privado que dignifica um povo.

A Serra e o Sonho (nome do livro ao qual venho me referindo) faz justiça à Pedro Paes Mendonça e à seus filhos, liderados por João Carlos.

O livro está segmentado em capítulos:
1  
     Os Caminhos Percorridos - No princípio não havia mesmo quase nada em comparação ao que hoje há. Pedro conseguiu, através do pequeno comércio, e da ousadia, vencer na vida. Sempre carregava a ideia de um dia poder ajudar esse povo que era seu. Bodegas, armazéns, supermercados. Ribeirópolis, Itabaiana, Aracaju. O filho, João Carlos, desbravou novos mundos, expandiu os negócios, criou um conglomerado estável. A Serra do Machado então ganhou o Lar dona Conceição, para acolher os velhinhos longevos da região. Era só o começo. A igreja mandou vir de Portugal experientes profissionais, que deixaram marcas indeléveis no coração do Lar e na comunidade. Izaias Oliveira, capitão de mar e guerra, segurando os trancos, olhos e mãos do empresário que corria mundo crescendo cada vez mais. Novas janelas para a comunidade são plantadas: Pintando o sete (contadores de histórias aos pequeninos), Orquestra Filarmônica, Grupo de Teatro, Grupo de Balé...

     Isso são coisas da Serra – Um conjunto habitacional e o governo de Sergipe (Albano Franco) chega solidário: a comunidade pôde morar melhor. Vem a cooperativa de artesanato, uma galeria comercial no núcleo urbano, que cresce a cada dia; uma rodovia asfaltada liga agora Serra às cidades próximas, às rodovias federais. Nasce a escola São Sebastião, vêm os ônibus para levar alunos às faculdades  da capital e de Itabaiana. Quadras de esporte, escola de informática, nova igreja matriz, clinica média, posto policial, uma capela em louvor a São Bento Meni no povoado Serrinha. A Estrela pousa na Serra do Machado, dando empregos aos jovens que agora podem ficar em sua terra.

     Vieram, viram e gostaram – Sergipe começa a prestar atenção à obra da Serra. O Brasil e o mundo vêm visitar a obra de João Carlos. Pessoas comuns (como eu), empresários, religiosos, políticos. O sucesso contamina também outros capitalistas que devem estar pensando em fazer algo semelhante. Deveriam! Esperar pelo governo é tempo perdido. Temos que fazer nós mesmos.

   Homenagem mais que justa - João Carlos Paes Mendonça representa o pai, Pedro, nascido na pobreza, mas um homem sábio. Criou os filhos com rigor, com a amor: “Vocês têm de mim tudo que quiserem , só não têm direito de jogar fora o que estou lhes dando”. Maria, Ester, Cecinha, Maria do Carmo, João Carlos, José Américo, Eduardo, Reginaldo e Joseilde. Uma família emprenhada em ganhar dinheiro, em usá-lo bem.


5   O futuro é agora e tudo precisa ser louvado - O grupo JCPM tem sede em Recife. João Carlos é o presidente da fundação Pedro Paes Mendonça e do Grupo. Shoppings centers, imóveis em cidades pelo Brasil, vinícula em Portugal, jornal e rádio em Pernambuco... João é casado com Maria Auxiliadora há 50 anos e tem uma prole que reza pela mesma cartilha do pai e do avô.
    
P   Por uma vida longa – Capitulo final, bem curtinho... Todo o clã, até os pequeninos (dois netos), está preocupados com os mais carentes e decidido a fazer o que for possível para dar-lhes dignidade.

xxx

Este é um livro que deveria estar em cada biblioteca (até as mais simples de escolas de bairro), ele mostra que há bons caminhos demais a serem seguidos. E que o Brasil é um País de oportunidades. Um empurrãozinho, como a obra de Serra do Machado ou como o livro de Ivanildo Sampaio, que teve a honra de contar essa obra, vêm sempre em boa hora.

Que outros empresários sigam o exemplo destes Paes Mendonça, e que o grupo JCPM cada dia fique mais forte.


(Aracaju, em 01 de agosto de 2017)

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