PARADOXOS EM VERSOS, Maria Neide
Sobral, Criação,138 páginas, 2016, isbn 978-85-8413-089-4
Senti uma sensação agradável.
Outro filho de Terra Vermelha, um
ermo povoado que nem arruado possui revelar-se escritor e orgulhar-se de seu
rincão! Lá onde a enxada é a caneta, e a malhada, o caderno de escola!
Dois tabaréus, dois saracuras dos
brejos, rasgaram os cânones, plantaram palavras em vez de mandioca. Jogaram a
enxada para cima e apararam uma pena cheia de magia. Ah! se nosso avô visse isso!
Levaríamos uma boa pisa.
Se escrever é loucura, não o sou
só, mais. Se cantar Terra Vermelha é um exagero, somos dois exagerados, agora.
Minha conterrânea chama-se Neide
Sobral, e acaba de lançar um livro de poesias, chamado “Paradoxos em Versos”. Ela
já é famosa na Europa, no mundo todo. É doutora da universidade e publicou, anteriormente,
trabalhos técnicos que encantaram a academia.
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Um livro publicado, para mim, é
uma catarse, um grito de libertação. Correntes partidas são arreadas aos pés e
pisadas. É um alívio, o autor sai flutuando puro no ar, é como uma confissão
bem feita...
“Paradoxos em Versos” é a própria
autora em todas as suas dimensões. Cada poema, um pedaço de sua alma. Segredos
íntimos circulam nas páginas, trocam confidências, arrancam as máscaras uns dos
outros e saem a gargalhar. Mangam do pejo incabível, do ridículo natural e salutar.
Há alma, há sangue. Há o corpo nu de mulher, do homem implícito, há o animal
que somos. Há a família, os agrupamentos sociais, a maldita solidão que ninguém
consegue escorraçar definitivamente, e nem deve: ela é quem nos ajuda a
descobrir-nos.
“Agarro-me a mim mesma, na
escuridão, / sôfrega vontade de nada ver. / A cegueira parece-me solução, / na
solidão que faz doer”. (...) (Sangria)
“ (...) Às vezes a travessia é
perigosa / mas sem ela, como saber? / Em Deus e em nós há tantos segredos, /
tornando a vida uma aventura inesgotável. / Ás vezes precisamos calar nossos
egos, /acalmar nossos desejos a força. / Conter nossas mentes dos juízos de
valor, / para encontrar a serenidade em campos minados. (...)” (Travessia)
“Ah! Quantas dúvidas. / Que poderei eu ter
para oferecer-te?? / Palavra falada? / Canto aprisionado? / Pedaço de uma
história? // Desenhei um pedaço de mim. / Olhei, olhei, e que estranho! / Sem
cor, sem vida, apático, inerte...” (Amiga)
“É tão bom ver a lua, / tão
clara, serena e nua. / É tão bom ver a gente: / sensíveis, ternos e ardentes, /
Ver a gente olhando a lua, / serena e carente, / eu e você simplesmente”.
(Simples assim).
E, por fim, para ser ainda mais explícita, a
poeta inventaria-se e ao seu labor de escrever poesia:
“Contei tantos pedaços de minha
história...! / pedaços de mim em desdobraduras tantas / Paradoxos do que sinto,
em entranças, em versos, reversos, adversos / descortinei-me em palco sem luzes
/ em meio a tantas sombras (...) / Afoguei-me , enfim, ao fim, na espera
inevitável, /do outro leitor que por empatia, simpatia e até antipatia /
visualize o ser do ser que sou, nesses versos em paradoxos.” (Fim de
Conversa...).
xxx
Palavras claras, sem
subterfúgios. Ideias transparentes sem enigmas. Jogo sem cartas escondidas. Eu
acho que a boa poesia não precisa dessas muletas.
Tomara que mais escritores
revelem-se: filhos da Terra Vermelha de Itabaiana, filhos de outros povoados,
de outros municípios, de outros Estados... Temos tantas histórias bonitas para
contar em meu povoado, que dois apenas, jamais darão conta. No seu também! Por
que temer, se o Index foi varrido por Paulo VI em 1966 e os inquisitores do
Santo Ofício já deveriam ter-se aposentado?
(Antônio Saracura, Aracaju
22/11/2016)
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