AGRIDOCE MELAÇO DE CANA E
JABUTICABAS MADURAS, Aderbal Bastos Barroso, São Paulo, Scortecci, 2018,111
páginas, isbn 978-85-366-5692-2
Agora, está nas livrarias, um livro de
poesia, e eu nem sabia que Aderbal era poeta também, além de historiador e
memorialista.
A prefaciadora, Vera Duarte,
ilustre do Cabo Verde, do além mar, escreve que “a poesia de Aderbal canta, de
forma insofismável, o amor entre um homem e uma mulher com recurso aos
elementos da natureza. O amor como substantivo concreto que aquece os
enamorados ao anoitecer, o prazer que exalta os corpos dos amantes no calor da
paixão, a volúpia do desejo, o pecado do prazer, a liturgia da entrega que se
cumpre em êxtase e transe, a libido que se extravasa na visão febril do corpo
idolatrado. Mas também um amor amordaçado, estilhaçado, que traz soluções e
lágrimas e se devora no seu próprio veneno”.
O próprio autor confessa, na
apresentação (que ele chama de prólogo ou prefácio também) que selecionou os
poemas em 2003 e, por falta de ousadia, por receio em desnudar-se, despir-se,
apenas agora os publica (2018).
É que as jabuticabas amadureceram
e, antes que os passarinhos do céu viessem chupar todas, ele nos convida ao
sítio para saboreá-las. Sem medo e sem reservas, conforme garante. Sem medo
mais de nada.
Vi o livro lá num cantinho da
Escariz passei-lhe a vista como faço com todos que chegam. Gostei da arte da capa
(jabuticabas virgens, tentadoras), do título (sabores terra que me fazem um bem
danado), da fluidez dos poemas (único alvo para cada tiro certo). São poemas
curtinhos, alguns com o sabor agridoce da jabuticaba madura mas tendo sempre a
mulher como pano de fundo ou sem pano nenhum que é o trem mais espetacular
criado por Deus.
Claro que não percebi (devido a
mim mesmo, pois a poesia ronda em volta e teima em fugir do meu alcance) o
sabor, o teor, e a melodia de todos os poemas de Aderbal. Mas em um livro de 90
poemas, se apenas 4 encantam o leitor, já valeu a pena os vinte e cinco reais
que custou e o tempo que ficou lendo.
Permitam-me citar, a seguir, um
dos quatro (houve mais), este da página 29 e chamado: Paixões Clandestinas:
Amar você
É vencer todos os riscos
É permanecer no ar, e sempre em
equilíbrio,
Ao atravessar assustadores
abismos.
Amar você
É sobreviver a todas as
avalanches
É resistir, mesmo sem ser herói,
A inúmeras tempestades.
Amar você
É reescrever o destino
É despertar os deuses que
adormecidos
Velam os amores clandestinos.
Aracaju, 25 de fevereiro de 2019, Antônio FJ Saracura
Li na ASL em 2020
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