O HOBBIT, JRR
Tolkien,2013, Martins Fontes, São Paulo,8 edição, tradução Lenita Maria Rimoli,
300 páginas, isbn 9788578 277314
Um livro que vendeu 100
milhões de exemplares no mundo inteiro e, óbvio, deve ter sido lido tanto
quanto, não posso pular. É o sexto mais comercializado entre todos.
Até me admiro ter
ficado tanto tempo longe dele e dos outros de Tolkien, todos muito lidos. Apenas
na Bienal do livro de São Paulo (2018), tomei a decisão de ler tudo de Tolkien,
e digo o porquê na resenha do livro Silmillarion (o primeiro que li), já
publicada aqui em Sobre Livros Lidos.
Os hobbits são
criaturas humanas especiais, criadas (recriadas) por Tolkien. Pequenas, no máximo 1,30 de altura, e têm, em geral,
cabelos castanhos e encaracolados, pés grandes e peludos, como os de coelhos. Moram
isoladamente, sem querer envolver-se com outras criaturas, como humanos comuns,
anões, elfos. Mas aceitam envolvimento. São "conservadores", não
gostam de máquinas, preferem trabalho manual. Comem bem e primam pelo conforto.
São pacíficos, até quando podem. Vivem cerca 100 anos.
Bilbo
Bolseiro é um hobbit, o principal personagem das aventuras narradas neste livro,
que o designa. Sem querer, induzido, envolvido, enrolado por Gandalf (que toca
sua campanhia e manda os anões fazerem o mesmo), um mago conhecido, larga a toca, o conforto (e que mordomia!) e se mete em uma aventura maluca que
demora 300 páginas, nem sei bem quanto tempo, uma eternidade. Atravessa a terra
inteira pela superfície, pelo céu, pelas profundezas, enfrentando imensos
perigos. Uma epopeia, com o objetivo de recuperar a fortuna usurpada de um rico
rei anão (os mineiros de barbas longas), desde há mais de cem anos atrás. As
lendas dizem que o tesouro encontra-se em cavernas cavadas na Montanha Solitária,
guardado por Smaug, um dragão terrível (dragões adoram tesouros), que dizimou,
no passado, todo o povo dos anões para se apossar dele.
A
pequena caravana comandada por Thorin Escudo de Carvalho, herdeiro da coroa do reino da Montanha Solitária, parte em busca do improvável
sonho.
Há
chances?
Mesmo
que o roube como trazer de volta?
O
grupo é composto por treze anões (em um dom Quixote), um mago (Gandalf) e pelo hobbit,
Bilbo Bolseiro (um Sancho Pança), contratado como ladrão de tesouro. Bilbo não entende
porque o mago o meteu nessa. E os anões também não. Veem-no como um estorvo
até.
E
começa a caravana aventurosa.
Logo encontram
o primeiro entrave. Três trolls (monstros comedores de gente), que quase os come
assados na fogueira. O mago que escapara, provoca uma balbúrdia entre os trolls
e os enrola até o sol nascer. Trolls sob raios de sol viram pedra. Os caravaneiros
buscam um local seguro para se recuperarem da noite perdida. Acham a toca dos
troll cheia de potes de ouro e espadas lendárias, roubados de outros
saqueadores.
Depois
de se armarem, esconderem os potes, descansam um pouco e seguem em frente. Matas,
campos abertos, pântanos. Chegam ao limite do Ermo, ao vale secreto da Valfenda.
Encontram os primeiros Elfos e são bem recebidos. Comida boa e o hobbit quer
ficar ali mais tempo, mas os anões têm pressa.
A
marcha recomeça, e chegam à última Casa Amiga, onde habita Elrond. Descansam, enchem
os alforjes e tocam em frente, na direção das Montanhas Sombrias.
Picadas
sem fim até os vales profundos. Picos, veredas estreitas, despenhadeiros. Bilpo,
em patamar junto ao céu, olha pra trás e sente um calafrio. Lá ao longe, depois
das curvas no horizonte, deve estar sua toca confortável de onde jamais deveria
ter saído.
Escorregões,
chuva intensa, noite fria chegando... Acham um local protegido, caverna quentinha,
com chão batido, ótima para dormir e até acomodar os poneys... O mago Gandalf
estranha tanta sorte, acende o cajado, corre os quatro cantos e cede ao
cansaço. Todos conversam, fumam, soprando anéis de fumaça. Bilbo sente o mesmo conforto
de sua já saudosa toca. Agarram no sono. Bilbo tem pesadelos terríveis com o
piso da caverna se abrindo e os engolindo. Acorda assustado e ainda vê (de
verdade) os rabos dos poneys sumindo num buraco imenso que se abriu no chão.
Orcs (criaturas infernais de Morgot, guerreiros sanguinários) agarram-nos
(menos Gandalf, que sumira) e os conduzem, sob pancadas, às profundezas da
terra. Um labirindo de túneis escuros, corredores laterais tenebrosos. Chegam à
sala do trono e o Grão-orc está enfezado, manda castigar um a um, precisa saber
quem são os invasores. Indignado com Thorin, descendente dos reis que castigaram,
no passado, o Grão-orc, pula do trono e vem matá-lo. Gandalf, sai do
nada, e, com seu poder mágico, apaga as luzes e a grande fogueira que arde no
salão. E brande a espada cintilante, Glandring; mata o Grão-orc. Os orcs se batem uns aos outros desorientados, enlouquecidos. Gandalf desamarra os companheiros e os puxa escada acima, ainda com
as mãos atadas por correntes. Os orcs, refeitos, zoam subindo atrás,
vingativos, ferozes. Na corrida, Bilbo, o último da fila, cai dos ombros de
Dori (um anão caridoso), resvala em um declive, bate a cabeça e desmaia; fica
abandonado. Ao acordar,
ver-se só no silêncio escuro do fundo da terra, perdido. Se gritar os orcs o
comerão. Tateia daqui e dali e bate a mão em um pequeno objeto. É um anel
perdido. Coloca-o no bolso. Busca os amigos
sumidos. Extenuado, sente sob os pés, água. Parece um pequeno lago. E é. Ali habita,
clandestino, Gollum, viscoso, nojento comedor de orcs meninos, já enjoado do
gosto. E vem comer Bilbo, que se safa, por enquanto, com o jogo das advinhas. Gollum
perde e tem que mostrar a saída a Bilpo, mas resolve, mesmo perdendo, comer a
visita oportuna. Mas Bilbo tem uma espada afiada. Gollum não quer correr risco
e vai buscar o anel mágico que o deixará invisível. Começa a se lamuriar; o anel sumiu.
Bilbo conhece o poder do anel e o coloca no dedo. Gollum vem, matreiro,
pegar Bilbo e não o vê. Sobe o labirinto de cavernas, supõe que Bilbo já subiu e o pegará no caminho. Mas Bilbo, invisível, segue-o manhoso.
Bilbo passa por Gollum, pela porta vigiada por Orcs, e escapa. Aproveita o dia claro e anda em frente. Por sorte ou azar encontra os amigos lamentando o sujmiço do amitgo e a perda dos mantimentos e dos poneys. Já é começo da noite, todos partem para o mais longe possível dos orcs. Mais á frente, em uma clareira na mata, são cercados por uma matilha de lobos
gigantes, os wargs. Sobem nas árvores como último recurso.
Gandalf usa de mágica e joga fogo na pelagem espessa dos animais, provocando confusão. O fogo pega na folhagem ajuntada aos pés das árvores pelos wargs e quase alcança os nossos fugitivos. Nisso, os orcs chegam, eles sobem em árvores e são aliados dos lobos.
Águias gigantes veem o fogo fora de época e resgatam os quinze aventureiros, leva-os, pelo céu, até o grande Patamar, no final das Montanhas Sombrias, onde os orcs ou os lobos poderiam achá-los.
Gandalf usa de mágica e joga fogo na pelagem espessa dos animais, provocando confusão. O fogo pega na folhagem ajuntada aos pés das árvores pelos wargs e quase alcança os nossos fugitivos. Nisso, os orcs chegam, eles sobem em árvores e são aliados dos lobos.
Águias gigantes veem o fogo fora de época e resgatam os quinze aventureiros, leva-os, pelo céu, até o grande Patamar, no final das Montanhas Sombrias, onde os orcs ou os lobos poderiam achá-los.
Bilbo mata a insaciável fome, todos descansam. A viagem prossegue, pelo céu, até perto das terras de Beorn,
o senhor das abelhas. Boa hospitalidade boas informações de como atravessar a Floresta
das Trevas, longe dali, ainda. Novos poneys (emprestados por um trecho) e mantimentos nos alforges.
Na entrada da Floreta das Trevas, Gandalf os deixa. Possui outras missões e passa a liderança a Bilbo (sob silenciosos protestos de todos, até do próprio hobbib), e retorna às terras de Beorn com os cavalos.
E
agora, sem as magias de Gandalf?
Moscas
gigantes, perigos a cada passo. Bandos de aranhas enormes enlaçam os quatorze e
vão comê-los. Bilbo, com o anel e a pequena espada mágica, engana, mata, resgata os companheiros. Fome, sofrimento, escuro de breu, rios
mágicos. Elfos aparecem e os levam presos ao Castelo Encantado, onde respondem interrogatórios. Fogem em tambores vazios de vinho,
depois de não sei quanto tempo. E chegam, boiando, à cidade do Lago, do outro
lado da Floresta das Trevas. São recebidos com honras, os anões foram senhores, ali, no passado. Mas não tantas honras assim. Descansam, bebem bom vinho e comem, por
enquanto. A Montanha Solitária está à vista, ao longe, guardando o tesouro e o dragão.
Como
expulsar/matar o dragão e recuperar o tesouro?
Longa caminhada ainda. Estudam
o mapa e entram na montanha por uma porta secreta, abandonada pelo dragão, que não lhe cabe. Chegam ao ninho da fera e do ouro. Bilbo, usando o anel, abre o jogo
demais e o dragão (que fala nossa língua, como os demais animais encontrados na história), ameaçado, parte
outra vez ao ataque. Arrasa a Cidade do Lago que deu pouso à caravana. Bart, um
velho guerreiro, assessorado por um tordo, com uma flechada certeira no único
ponto vulnerável do bucho, derruba o dragão em pleno voo, que cai morto.
E aí o
mundo todo fica sabendo que o tesouro pode ser desfrutado. Os povos elfos,
outros anões desgarrados, habitantes da Cidade do Lago e de outras colônias mandam seus exércitos
à Montanha Solitária. Todos queriam o tesouro. Mas não é assim tão fácil.
Tholin Escudo de Carvalho,
o chefe da aventura, mais dois (Fili e Keli) morrem nas batalhas.
Por
fim (não consigo contar tudo em uma resenha), Bilpo retorna à sua terra (pense
quão longe foi o caminhada de volta) e encontra sua toca e suas coisas sendo leiloadas,
boa parte já vendida. Os parentes julgaram que ele havia morrido e não perderam tempo.
Alguns anos depois, Bilbo está sentado no estúdio de sua toca, escrevendo suas memórias, quando ouve a campanhia tocar. É, outra vez, o mago Gandalf...
Xxx
E eu
aqui tão empolgado em recontar o romance que ia esquecendo de minha avaliação.
Foi muito bom ter lido, mesmo estando hoje com 73 anos de idade. Pelo jeito, continuo morando nos 13, ou em menos, pelo que fala a primeira
crítica feita, em 1936, no lançamento. Rayner Unwin, de apenas 10 anos, foi o
“primeiro crítico” a tecer comentários sobre a obra de Tolkien e disse que o
livro deveria interessar a todos os meninos de cinco a nove anos. Acho que
O Hobbib encanta a qualquer idade. Não apenas pela história que corre na flor
da terra, mas a que, em paralelo, correr abaixo e acima dela.
(Aracaju,
04 de janeiro de 2019, por Antônio FJ Saracura).
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