domingo, 7 de agosto de 2022

EU NÃO VIM FAZER UM DISCURSO, Gabriel Garcia Marques

 

EU NÃO VIM FAZER UM DISCURSO, Gabriel Garcia Marques, tradução de Eric Nepomuceno, Rio de Janeiro, Record,  2011

EU NÃO VIM FAZER UM DISCURSO, Gabriel Garcia Marques, tradução de Eric Nepomuceno, Rio de Janeiro, Record, 2011.

A obra de Gabriel Garcia Marques mostra o amor sem quartel à literatura, ao desbaste da gramática pomposa, ao fio da meada nítido, a paixão pelo jornalismo que marcou sua escrita ligeira e translúcida. O escritor nasceu pronto, sempre escreveu para ser lido por todos, conduzindo a trama pela superfície do fácil entender, mas revelando ciências que outros gastariam muitas vezes mais para mostrar.

O livro “Eu não vim fazer um discurso” reúne quase tudo que ele usou pra encantar as plateias, quando se viu obrigado a fazer discursos, ao lhe darem prêmios pela sua obra. Equivale a dizer: quando se sentiu obrigado a cometer duplo pecado. Pois prometera a si nunca receber prêmios e nem fazer discursos (página 18).

O livro se compõe de 21 discursos concisos para que cada ouvinte na plateia não tivesse tempo de abrir a boca enfadado, terminava antes. E fossem assimilados integralmente, pela objetividade. Poucas palavras dizendo muito, que é um princípio do bom jornalismo (e da boa poesia).

Na Academia do Dever em Zapaquirá, Colômbia, em 1944, com 17 anos de idade, por ocasião da despedida da turma no colégio. Em Caracas na Venezuela, 1972, ao receber o prêmio Rômulo Galegos pelo seu livro “Cem Anos de Solidão”. Na cidade do México em 1982, ao receber a Ordem da Águia Azteca. E alguns outros. Como este em Estocolmo na Suécia, em 1982, na cerimônia de entrega do Prêmio Nobel de Literatura. E outro discurso em Estocolmo, também em 1982, em baquete oferecido pelos reis da Suécia em homenagem aos ganhadores do Nobel naquele ano. E o último discurso, em 2007, em Cartagena das Índias, na Colômbia, diante das academias de línguas e dos Reis de Espanha...

Aqui, Gabriel completava 80 anos de vida, 40 anos da publicação de “Cem Anos de Solidão” e 25 do prêmio Nobel. E relembra, no discurso, a dura fase de sua vida quando escrevia seu maior romance, que lhe deu de presente o mundo inteiro.

"Aos meus trinta e oito anos, com quatro livros publicados desde meus vinte anos, me sentei na máquina e escrevi durante dezoito meses. Não deixei de escrever um único dia. Naquele tempo não ganhei um único centavo, nem sei como Mercedes, eu e dois filhos fizemos para sobreviver. (...) Por fim, o livro estava concluído. Era o começo de 1966. Mercedes e eu fomos a uma agência do correio da cidade do México para o enviar para Buenos Aires (onde o editor imprimiria), “Cem anos de Solidão”, um calhamaço com 590 páginas escritas à máquina. Custava para o enviar oitenta e dois pesos, mas só tínhamos cinquenta e três. Então resolvemos mandar a metade das folhas. Por descuido, mandamos a metade errada, o final do livro. Paco Porrua, nosso editor da Sudamericana, ansioso para conhecer a primeira parte (deve ter gostado muito da segunda) remeteu-nos o dinheiro necessário para enviar o resto". 

Hoje, os leitores de “Cem Anos de Solidão”, se vivessem em um único pedaço de terra, este lugar seria um dos vinte países mais povoados do mundo.Tem mais de 50 milhões de exemplares vendidos e já foi traduzido para 46 línguas diferentes. 

(Apenas para relembrar):

“Cem anos de solidão” se passa no vilarejo fictício de Macondo e acompanha a longa trajetória da família fundadora da cidade, os Buendía... A história é construída a partir do realismo fantástico, corrente literária que mescla realidade com elementos mágicos. (Leia mais em: https://super.abril.com.br/cultura/conheca-a-historia-de-cem-anos-de-solidao-que-vai-virar-serie-na-netflix/)

Por Antônio FJ Saracura, em 05 de agosto de 2022, em Aracaju.

(PS):

E apenas para contradizer o que falei sobre a translúcida escrita de Gabriel no início desta resenha: O livro “O Outono do Patriarca", do mesmo autor, que foi publicado logo após "Cem a nos de solidão" pareceu-me um bloco de granito de 300 toneladas, eu não consegui ler nem dez páginas seguidas. É poema que chora/canta a solidão do poder, centrado nas contradições das ditaduras latino-americanas; não deu para mim. 

 

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