QUERIDA CIDADE, Antônio Torres, Recordo, 1 edição, 2022, isbn
978-65-55897-011-4
Não consegui avançar a leitura do Querida Cidade, novo livro de Antônio Torres. Fiquei indignado comigo mesmo. Arremeti várias vezes e o abandonei. Arrependido do gesto, peguei-o de volta e li um trecho aleatório, em cada página, pedindo a Deus que me grudasse em algo, como passarinho irrequieto no visgo de jaca. A última página chegou ligeiro demais, sem visgo algum.
E nessa árida caminhada, bati-me com frases feitas, sinônimos
rebatidos em profusão, letras de canções buscando se encaixar no enredo (ou
vice-versa), parecendo penetras no casamento da filha do ricaço da cidade.
Até me entusiasmei em um trecho, entre as páginas 130 a 180, mas
não passou de um oásis de cinquenta palmeiras, que é grande, mas representa somente
um refrigério de 8% da imensa travessia.
Encontrei no oásis velhos conhecidos de livros meus (Meninos
que não queriam ser padre), como “a enxada continua no mesmo lugar que você
deixou” (página 189), “o vergonhoso castigo de escrever quinhentas vezes a
mesma frase: “não devo roubar nada de meus colegas” (página 132), “não se
admire demais ao ver na cidade para não dizerem que você é tabaréu (página 189)...
Estranhei eles estarem assim tão longe de casa, como se perdidos.
Reclamei de minha dor ao amigo que me sugeriu a leitura e,
ele, enérgico, professoral, botou-me de castigo, me mandou ler o livro quantas
vezes fossem suficientes para fazer o gênio sair da lâmpada e me solicitar os três
pedidos clássicos. E vendo-me desanimado, iludiu-me, disse que em algum lugar
eu teria surpresas que me fariam aplaudir o livro de pé. E por fim, eu não me animava,
botou o dedo em riste na minha cara ameaçando, que o livro não era de qualquer
um, mas do monstro sagrado, autor de “Meu Querido Canibal”, que sabe que eu
adoro e mora no meu oratório.
xxx
E como fiz ante outros grandes livros, pedi perdão à Querida
Cidade, no canto sagrado, onde reconheço meus pecados cabeludos.
E aqui o estou colocando no purgatório onde está Ulisses de James
Joyce, que também não consegui ler, não houve jeito. Os dois (para não me alongar)
são bons demais para minha limitada cabeça de leitor.
Se não, como é que o mundo todo os adora?
Por Antônio FJ Saracura, em 11 agosto de 2022.
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