A SÉTIMA VEZ, Alina Paim, (...)
Alina nasceu em Estância e morou até os dez anos em Simão
Dias, com parentes. Depois foi para a Bahia, Salvador, onde viveu. Morou no
Mato Grosso e Rio de Janeiro.
Livros:
Simão Dias (1949) – Infância sofrida.
Sombra do Patriarca (1950) – Vida no campo, senhores de
engenhos.
A Hora Próxima (1954)- A participação de mulher uma greve da
rede ferroviária.
Sol do Meio Dia (1962) - Aventuras e desventuras de um jovem
de Paripiranga no Rio de Janeiro.
(série infantil):
Lenço Encantado
A Casa da Coruja Verde
Luz Bela vestida de Cigana
A Chave do Mundo
O Círculo
(Mais romances)
Flor de Algodão (1966)
A Correnteza (1979) -
População das cidades tentando sobreviver.
A Sétima Vez ( ) – O velho Teodoro com 67snod tem que voltar
a trabalhar.
(Página 7)
“Vem-se a ânsia pueril tornar-me invisível, um presente sem
perigo, capaz de varar paredes, penetrar em conferências de poderosos do
governo ou da Firma, de tudo ficar conhecendo sem o risco de ser sabedor”.
É um livro compacto, páginas cheias de letras, parecendo com
Saramaco.
Para mim, um ponto antipático. O livro não quer conversar com você, quer te
amassar, maltratar.
O capítulo intitulado “EU, Teodoro” são 84 folhas de letras,
ideias que vão e vem, como se o escritor estivesse fazendo um “brain storm” infinito.
E eu não consegui descobrir todas as sete vezes (já que o
livro indica que existem tantas).
1 – A Professora Agripina
2 – não achei
3 – O Padre Fidélio
4 – Não achei
5 – Ao tio Albano
6 – O Bacharel do cata vento.
7 – Deduzi que fosse todo o resto do livro.
(Antônio Saracura, Aracaju, 29 de maio de 2011)
Obs:
Achei os rabiscos desta resenha em uma biblioteca agora em
12 de fevereiro de 2012. Não possuo o livro mais em meu poder. Nem me lembro
dele. Nem a capa encontrei onde as guardo.
Resolvi publicar apenas como uma desobrigação (já que a escrevi). No dia
em que me bater com este livro, tentarei reatar os laços.
Como minha resenha nem a mim satisfez, incluo a seguir
duas publicações da web sobre Alina Paim;
Por: Allan de Oliveira.
Contato: allantbo@hotmail.com
Alina Leite Paim foi professora, escritora, comunista e feminista.
Nasceu em Estância a 10 de outubro de 1919. Sendo filha de Manuel Vieira Leite
e de Dona Maria Portela de Andrade Leite. Aos 3 meses de idade, mudou-se com a
família para Salvador. Perdeu a mãe aos cinco anos, vítima de tuberculose, e
Alina Paim retornou a Sergipe com o pai, indo morar na casa dos avós paternos
em Simão Dias que lhe deram uma educação muito rigorosa. Estudou o Ensino
Fundamental I na Escola Menino Jesus e, posteriormente, no Grupo Escolar Fausto
Cardoso onde recebeu formação religiosa. No ano de 1932, ela retornou a
Salvador, estudando no colégio de freiras Nossa Senhora da Soledade. É quando
ela começa a escrever seus primeiros textos aos 12 anos no jornal desse colégio
até se formar como professora.
Alina Paim leciona em Salvador
numa escola pública da periferia, convivendo com a miséria das crianças e com
as dificuldades da educação brasileira na década 30. Ela passa por problemas
pessoais por causa de conflitos familiares, entrando num quadro de profundo
stress, sendo internada em um sanatório, onde permaneceu por três meses. E
recebendo os cuidados do psiquiatra Isaías Paim, com quem chegou a se casar em
1943, morando com ele no Rio de Janeiro nos anos 40. Época que fez amizade com
Graciliano Ramos que corrigiu os seus três primeiros Romances.
Publicou o seu primeiro Romance Estrada da Liberdade em
1944, que teve grande repercussão e a primeira edição se esgotou rapidamente,
num período de quatro meses.
A autora escreveu também um programa infantil chamado “No Reino da
Alegria” para a rádio do Ministério da Educação e Cultura. Fundou a
revista Tempo, em 1948. Chegando a ser incluída no grupo de
escritoras da “Nova Literatura Brasileira” ao lado de Helena Silveira, Lúcia
Benedetti, Elsie Lessa, Lia Correia Dutra, Elisa Lispector, Ondina Ferreira,
entre outras. E em 1961, recebeu o Prêmio “Antônio de Almeida” da Academia
Brasileira de Letras por causa do seu romance O Sol do Meio-Dia.
Em sua literatura estão presentes os interesses humanos de sentido
político e social, sendo abordadas temáticas diversas que dão prioridade às
personagens que buscam respeito e participação na produção cultural, mostrando
a problemática da mulher em diferentes situações, e defendendo os ideais do
Feminismo. Como também a ideologia Comunista presente nas suas obras com o
intuito de ser defendida a igualdade para todos e ser denunciado as mazelas
sociais.
“Alina é uma romancista que escreve com naturalidade, conta a sua
história com um gosto e emoção crescente, conseguindo captar o que há de
duradouro e de eteno na criatura humana. Denunciando a história de várias
criaturas, cujos pequenos dramas ganham enormes proporções, porque exprimem
toda espécie de mutilação de uma sociedade rural, como no romance Simão Dias”. (A ROMANCISTA ALINA
PAIM – Por Gilfrancisco)
A escritora fez parte do Partido Comunista Brasileiro (PCB), chegando a
entrevistar grevistas que participaram do movimento ferroviário do Vale do
Paraíba em 1949, através de uma viagem paga pelo próprio partido. Viajando
também para a Rússia em 1950 para representar o seu partido em Moscou nas
festividades do 1º de Maio, o Dia do Trabalhador¹. Mas, nessa outra viagem ela
foi ajudada financeiramente pelo artista plástico Cândido Portinari.
Durante a Ditadura Militar foi perseguida por ter sido integrante do PCB
e por causa da sua militância feminista. É também nesse período que ela
traduziu textos marxistas de Lenin e colaborou em jornais de Sergipe, da Bahia,
e do Rio de Janeiro.
A autora escreveu 10 Romances, e 4 infantis, e alguns deles foram
editados na Rússia, China, Bulgária, e Alemanha. E além de sua obra ter
recebido crítica favorável que coloca a autora entre as melhores romancistas
nacionais e internacionais da sua geração. Infelizmente, ela ficou pouco
conhecida no Brasil, tanto nos meios acadêmicos quanto no público em geral. E
como consta no artigo científico Alina Paim, uma romancista esquecida
nos labirintos do tempo escrito por Ana Maria Leal Cardoso: “O
motivo não se sabe ao certo; talvez pelo fato de ela ser comunista e suas obras
estarem repletas de denso teor socialista (naquela época, um compromisso com o
PCB) que reivindica direitos iguais para todos, o que não agradava nem ao
governo e nem aos empresários do mundo editorial e artístico”.
ROMANCES
A Estrada da
Liberdade (1944).
Simão Dias [com prefácio
de Graciliano Ramos] (1949)
A sombra do
patriarca (1950).
A hora próxima (1955).
Sol do meio-dia (1961).
O círculo (1965).
O sino e a rosa (1965).
A chave do mundo (1965).
A Sétima Vez (1975)
A correnteza (1979).
A sétima vez (1994).
OBRAS INFANTIS
O lenço encantado (1962)
A casa da coruja
verde (1962)
Luzbela vestida de
cigana (1963)
Flocos de algodão (1966)
O chapéu do
professor (1966).
REFERÊNCIA:
ALINA PAIM. In: Wikipédia – A Enciclopédia Livre. Disponível em:
<https://es.wikipedia.org/wiki/Alina_Paim>. Acesso 04 de set. de 2017
ALINA Paim. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo:
Itaú Cultural, 2017. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa519577/alina-paim>. Acesso
em: 05 de Set. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Alina Paim, uma romancista esquecida nos labirintos do tempo – artigo científico escrito por
Ana Maria Leal Cardoso. Disponível em:
<http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/aletria/article/view/1535/1631>.
Acesso em 04 de set. de 2017
A ROMANCISTA ALINA PAIM – Por Gilfrancisco. In: O arquivo de Renato Suttana. Disponível
em: <http://www.arquivors.com/gilfrancisco7.htm>. Acesso em 05 de set. de 2017.
Sergipana, escritora, comunista e silenciada. In: Destaque Comunicação.
Disponível em: <https://www.destaquenoticias.com.br/sergipana-escritora-comunista-e-silenciada/>. Acesso em: 04 de set. de 2017
______________________________________
¹ O 1º de Maio sempre foi considerado o “Dia do Trabalhador” desde a sua
criação em 1888 e não “Dia do Trabalho” como mudaram nos calendários de uns
anos para cá. (Nota do administrador deste blog)
Xxx
(Gilfrancisco*)
Silenciosa, talentosa e paciente, essa romancista sergipana, deficiente
visual aos 87 anos, construiu seu mundo sem pressa, jamais se desligou do
interesse humano, do sentido político e social de suas histórias e de seus
personagens. Apesar das opiniões favoráveis a sua obra que mereceram da crítica
nacional e internacional, a colocando na altura das melhores romancistas da sua
geração, seu nome está injustamente excluído dos compêndios literários
brasileiros. Muitos desses intelectuais militantes, a exemplo de Enoch Santiago
Filho, Renato Mazze Lucas, Jacinta Passos e a própria Alina Paim foram também
silenciados pelo Partido, apesar de terem sido beneficiados da rede de relações
construída no seu itinerário.
***
Gênero literário em prosa, relativamente longo, o romance é
caracterizado pela narrativa de acontecimentos fictícios, mas geralmente
verossímeis, relacionados a uma ação centrada num enredo, na análise de
personagens ou no exame de uma situação. Entendido como sucedâneo do poema
épico, o romance moderno tem raízes nos romances de cavalaria, mas só se
configurou como hoje o conhecemos no século XVIII, tendo por precursores entre
outros, o abade Prévost (Manon Lescaut, 1731) e Henry Fielding (Tom Jones, 1749).
Ciente de sua vocação literária e disposta a seguir a trilha, Alina Paim
optou pelo romance, não se deixou tentar pela atração do conto, nem da crônica,
nem mesmo de artigo para jornal. Seu interesse maior e único o romance. Mesmo
tendo estreado aos 23 anos, o tempo lhe assegurou o necessário capital de
experiência e observação, indispensáveis para todo romancista. O romance tem em
Alina Paim a mão que o denuncia de todos os segredos e violências, explorando-o
em cada ângulo difícil sem restringi-lo à mera análise superficial, exigindo
assim do crítico que a estuda um esforço vital, um reconhecimento de nuances,
ampliando sua visão de autora consciente e politizada.
Alina dá a medida exata, a atualização essencial da narrativa romanesca,
um sentido de concepção nova na caracterização dos personagens, onde os
conflitos interiores surgem à descoberta inteiramente vigiada pelos seus
equilíbrios de narradora onisciente. Alina é uma romancista que escreve com
naturalidade, conta a sua história com um gosto e emoção crescente, conseguindo
captar o que há de duradouro e de eteno na criatura humana. Denunciando a
história de várias criaturas, cujos pequenos dramas ganham enormes proporções,
porque exprimem toda espécie de mutilação de uma sociedade rural, como no
romance Simão Dias.
Alina Leite Paim nasceu na cidade de Estância, (68 km de Aracaju) berço
da imprensa sergipana, a 10 de outubro de 1919, filha de Manuel Vieira Leite e
de Maria Portela de Andrade Leite, ambos sergipanos. Com três meses de idade
mudou-se com os pais para Salvador. Ao perder a mãe, foi para Simão Dias (SE),
morar na casa dos avós paternos, onde sofreu muito com a rigorosa educação dos
parentes, principalmente pelas constantes e severas repreensões das três tias
solteironas. A severa educação que recebera nesses primeiros anos, de certa
forma contribuiria para sua aprovação em 1932, no primeiro ano do curso
fundamental com distinção nos exames de suficiência do Colégio Nossa Senhora da
Soledade, em Salvador.
Simão Dias foi um celeiro político-econômico de grandes e influentes
famílias que marcaram toda a história de Sergipe. Ali, Alina fez os estudos
preliminares na Escola Menino Jesus e dos sete aos dez anos, freqüentou o Grupo
Escolar Fausto Cardoso, da Praça da Matriz, onde recebe formação religiosa e
participa de diversas atividades relacionadas à expansão do catolicismo. Parte
de sua infância e adolescência serviu de cenário e título para o seu segundo
romance, escrito nos meses de agosto a dezembro de 1946. Mudou-se outra vez para
Salvador e continuou seus estudos no colégio Nossa Senhora da Soledade. Aos
doze anos passou a escrever para o jornalzinho do educandário de freiras, onde
se formou como professora e trabalhando depois numa escola da Estrada da
Liberdade, hoje um dos bairros mais populosos de Salvador.
Casou-se em 1943, com o médico baiano Isaías Paim e mudou-se em seguida
para o Rio de Janeiro, onde reside com uma de suas filhas. Como na época não
conseguisse trabalho, foi ensinar na Escola para filhos de pescadores, na Ilha
de Marambaia. Aí escreveu seu primeiro romance, Estrada da Liberdade, publicado
em fins de 1944, com enorme repercussão nos meios literários e de público,
esgotando-se em quatro meses a primeira edição.
Com seu diploma de professora somente era válido dentro dos limites do
Estado da Bahia, encontrou-se, de súbito, sem profissão definida. E, a convite
de Fernando Tude de Souza, diretor da Rádio do Ministério da Educação e Cultura
- MEC, começou a escrever para o programa infantil “No Reino da Alegria”,
dirigido por Geni Marcodes. Para esse programa, colaborou entre 1945 a 1956,
escrevendo para crianças e adolescentes. Desde sua chega ao Rio de Janeiro,
Alina participou ativamente da vida literária do País, publicou quase dez
romance e quatro obras infantis, alguns de seus romances foram editados na
Rússia (1957), China (1959), Bulgária (1963) e Alemanha (1968).
Em 1944, a jovem Alina Paim se dirigiu a Barboza Mello, ligado ao
Partido Comunista, então diretor da Editora Leitura, levada pelo jornalista Osvaldo
Alves para entregar os originais do livro Estrada da Liberdade, e durante esse
primeiro contato, a jovem foi contando como e porque o escreve. Segundo
Barboza, Alina Paim era “uma menina de cabelos soltos, cacheados, 1,50 de
altura, 48 quilos de peso, rosto bonito de ingênua, fala suave, e uma tímida
inconcebível numa adolescente que queria ser escritora”.
Publicado pela Editora Leitura, do Rio em 1944, o romance Estrada da
Liberdade retrata a vida de uma professora cheia de idéias, em contato com a
amarga realidade de sua comunidade de bairro proletário, onde tenta aplicar
métodos modernos de aprendizagem. Alina baseou-se em sua infeliz experiência
para escrever. Conheceu a fome e a miséria da infância baiana abandonada, de
quem ela se apaixonou e que muito contribuiu para leva-la a colocar a sua arte
a serviço do povo. Pouco a pouco a professora vai tendo a revelação de tudo.
L~e livros diferentes dados por amigos novos e chega assim a uma nova concepção
da vida, do amor, das relações entre as pessoas humanas e revolta-se contra
tudo que é falso e lhe fora ensinado, uma educação dirigida no interesse dos
poderosos e ricos.
Esse é o clima em que se desenvolve a ação de Estrada da Liberdade, cuja
estrada entraram as primeiras “tropas libertadoras” nas lutas da Independência
da Bahia (1823), e, por esse motivo, recebeu a denominação simbólica. Alina faz
isso com muita felicidade: não cria as histórias, não inventa, mostra-se apenas
com o coração revoltada pelas injustiças sociais e pela miséria econômica, como
se contasse para uma pessoa amiga aquilo que viu e ouviu.
Essa obra foi muito elogiada pela crítica, pois nela a autora já mostra
sua tendência para a ficção e para as causas humanitárias. Estrada da Liberdade
é uma romance simples, sem as costumeiras técnicas apuradas, foge a temática da
época (seca, cangaço, cacau, café). O painel do livro, prende a atenção do
leitor pela leveza do estilo e pela condição natural dos seus personagens que
se apresentam como qualquer humano, com defeitos e qualidades. Em menos de 2
anos a edição de Estrada da Liberdade estava esgotada, tendo contribuído para
isso as freiras daquele Convento que eram as maiores compradoras do livro, não
para ler, mas para queimar... Elas não gostaram do que Alina havia escrito, colaborando
para a imortalidade do Convento N. S. da Soledade.
A partir daí, seguem vários romances que denunciam o poder dos fortes
sobre os fracos. Mostra, também, o amor como forma de realização e destruição
do ser humano; a exploração do homem como força-trabalho, que caracteriza a
sociedade brasileira. Suas obras sempre refletem um tipo de crítica
humanitária. Alina Paim sempre foi tida como de esquerda e lutadora pelas
causas feministas o que lhe causou sérios problemas durante o regime militar no
Brasil nas décadas de 60 e 70.
A redemocratização do país em 1945, com a queda de Getúlio Vargas e a
convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, coincidiria com a imposição
de novos reformismos, a partir do Ato Adicional nº 9 de fevereiro, o Brasil se
surpreende com a extensão e a importância do movimento comunista, que está
ligado ou dirigindo uma série de atividades políticas fundamentais. Com a saída
de Carlos Prestes da prisão, um novo panorama se apresenta: o PCB se tornará
legal e uma nova fase se abre para as esquerdas, em geral. A sociedade
brasileira, então, irá passar por um novo momento de sua história, havendo a
participação democrática de todas as suas classes sociais e uma mais ampla
conquista de direito sociais e isso inclui a literatura.
A morte de Mário de Andrade nesse ano como que assinala o fim de um
ciclo questionador da cultura, das instituições e das idéias. Sua obra crítica
deixa entrevar não apenas força aglutinadora, mas sobretudo sensibilidade e
abertura intelectual e todas as vocações capazes de revelar aspectos inventivos
de algum modo interligados com a trajetória renovadora da arte no Brasil.
Em 1949 a Livraria Editora Casa do Estudante do Brasil edita o romance
Simão Dias, com apresentação de Graciliano Ramos, amigo e grande incentivador
da tímida escritora sergipana: “A estréia, recebida com louvores, jogou a moça
na literatura. Alina fez vários livros. Este, o terceiro, deixa longe a Estrada
da Liberdade, manifesta um valor que o trabalho da juventude apenas indicava. A
autora observa, estuda com paciência, tem a honestidade rigorosa de não tratar
de um assunto sem domina-lo inteiramente. As suas personagens são criaturas que
a fizeram padecer na infância ou lhe deram alguns momentos de alegria, em
cidadezinhas do interior. Nenhum excesso de imaginação.”
Neste livro, Alina retrata parte de sua infância e adolescência,
compartilha com o leitor suas memórias sobre o cotidiano desta cidade do estado
de Sergipe. Orientada pelo amigo Graciliano Ramos, Alina mantém o teor autobiográfico
do romance, não substituindo os verdadeiros nomes dos personagens, no intuito
de aproximar ao leitor o cotidiano da cidade e de seus habitantes nomeados no
relato. Quando o romance foi publicado causou espanto em alguns membros de sua
família, pois tiveram as suas vidas expostas publicamente. Alina escreveu um
livro útil e o fez com amor, com generosa ternura, captando o ambiente, o meio,
a atmosfera que cercou a formação, intelectual e humanista, erigindo o edifício
do seu romance argamassando-o de reminiscências pessoais ou coletando
depoimentos.
A Sombra do Patriarca de 1950, publicado pela Livraria Globo retrata a
vida no campo romanceando a maléfica e prepotente atuação do Senhor de Engenho.
É neste ambiente do meio rural do Nordeste, numa antiga fazenda na qual um
mundo de personagens vive em redor do velho fazendeiro, tio Ramiro, e em função
dele. As pessoas e as coisas obedecem ao patriarca, sua vontade prevalece sobre
tudo e todos. Existências se mutilam sob o poder dessa energia despótica e
rígida, sob caprichos decorrentes de uma concepção absurda da vida. O velho
latifúndio muda a seu talante o destino de todo ser humano a seu alcance.
Ninguém se surpreende com tal estado de coisas até que um dia Raquel,
uma sobrinha do velho, vem passar poucos dias na fazenda. Mas como adoece de
impaludismo, é forçada a permanecer mais tempo, observa o poder infinito e
anacrônico do patriarca, descobre uma por uma as causas – locais, sociológicas,
históricas, psíquicas – em que ele se baseia, e com o descobrimento começa a
revoltar-se contra ele. Assim é a história de Raquel na velha fazenda, contada
por ela na primeira pessoa, mas é também uma imagem do latifúndio que confere
ilimitado poder a seu detentor e paralisa todas as vidas que dele dependem. A
Sombra do Patriarca, de Alina Paim, é o quadro vivo das vidas em conflitos, em
que a opulência acaba sendo derrotada pelas forças coesas de uma classe que um
dia entendeu de reivindicar ancestrais direitos postergados.
A literatura popular refletiu as lutas desse período. Em particular a
coleção, “Romances do Povo”, dirigida por Jorge Amado, publicada pela Editora
Vitória que reuniu 25 títulos de autores de vários países. Um desses livros, A
Hora Próxima, é de Alina Paim, escritora sergipana militante do Partido
Comunista do Brasil e colaborou na elaboração de uma narrativa literária que
espalham as lutas do povo, revelando o futuro de inevitáveis conquistas para o
proletariado. A Hora Próxima, título que compõe a coleção (Vol. XI), vendeu 10
mil exemplares somente na primeira tiragem, em 1955. O livro foi traduzido para
o russo e chinês, segue as pegadas de Jorge Amado, introdutor e praticante-mor
do realismo socialista no Brasil.
Segundo Jacob Gorender, em 1950, ouve uma reunião no Rio de Janeiro, num
apartamento em Copacabana dirigida por Diógenes Arruda, então braço direito de
Carlos Prestes, contando com a presença de aproximadamente 30 intelectuais
militantes, entre eles Alina Paim, James Amado, Carrera Guerra, Astrojildo
Pereira, Werneck de Castro, Oswaldino Marques e outros. O objetivo do encontro
era “implantar a teoria do realismo socialista entre os intelectuais
comunista”. Arruda, tentou orientar a produção cultural dos militantes, mas
encontrou resistência, porém, entre os próprios intelectuais alinhados, caso de
Graciliano Ramos.
O Realismo Socialista, padrão estético imposto pelo regime comunista na
antiga União Soviética, com a missão de controlar a produção intelectual,
subordinando-a aos cânones dogmáticos do comunismo de então. De acordo com tais
princípios, a literatura e a arte deviam exercer papel exclusivamente
pedagógico, difundindo os esforços comunistas para a construção do “homem novo”
e do “mundo novo” nos países socialistas. Para tanto, os textos deveriam ser
pautados pela objetividade social e participante. Em lugar da cultura burguesa,
considerada pelos comunistas “decadente e degenerada”, os escritores e artistas
tinham por obrigação se empenhar em edificar a “cultura proletária”, que
julgavam a única capaz de desmistificar os valores morais da classe dominante e
sustentar o caráter revolucionário da obra de arte. Graciliano, apesar de se
ter filiado ao Partido Comunista, jamais tolerou tal ingerência partidária no
campo da literatura.
A ação central do livro é uma greve dos ferroviários em 1950, em vários
entroncamentos da Rede Mineira. A estrada da Rede, em Cruzeiro, é tomada por um
piquete de mulheres com a tarefa de deter a locomotiva 437, que se prepara para
engatar uma composição e seguir viagem. O maquinista titubeia e, ante a firmeza
e ousadia do grupo de mulheres, pára a 437, que imediatamente tem na caldeira
esfriada e posta fora de combate. A locomotiva se tornará a bandeira do
movimento grevista. Escrito há cinqüenta e seis anos, A Hora Próxima, se refere
ao grande momento em que as massas, protagonistas de uma ação política
organizada e revolucionária, dirigirão a humanidade ao rompimento da aurora. A
narrativa de Alina Paim se prende à ação das massas, sem contudo tornar-se
aprisionada de factualismos e justificativas.
O romancista baiano prefaciou o romance “Sol do Meio-Dia”, vencedor
entre mais de uma centena de concorrentes, prêmio Manoel Antonio de Almeida,
concedido pela Associação Brasileira do Livro, em 1962, o livro foi publicado
no ano anterior pelas edições ABL, comenta a trajetória da romancista, desde da
estréia de Estrada da Liberdade. A história de Ester, a jovem que veio de
Paripiranga para o Rio de Janeiro, cidade maravilhosa e vive nas pensões
coletivas, onde se concentra a população problematizada pelas dificuldades nas
grandes cidades: “Volta hoje, Alina Paim a seu público com Sol do meio-dia,
romance já consagrado com um alto prêmio, o da Associação Brasileira do Livro,
julgado já por figuras como as de Valdemar Cavalcanti, João Felício dos Santos
e Plínio Bastos. Eis uma notícia excelente para os leitores, sobretudo para os
muito que têm acompanhado com constância e admiração a carreira vitoriosa da
romancista. Ela atinge agora sua maturidade criadora. A menina da Estrada da
Liberdade, que irrompeu pelo romance brasileiro em 1945 e nele impôs sua
presença, soube construir seu caminho e crescer de livro para livro, para
chegar à madureza deste Sol do meio-dia, que será sem dúvida um dos
acontecimentos literários importantes do ano. Estou certo do sucesso deste
romance não só junto aos intelectuais mas também entre o grande público pois
ele é construído com a experiência vivida e o amor ao ser humano”.
A escritora estanciana fez incursões na literatura infantil, atendendo
solicitação da Editora Conquista, publicou: O Lenço encantado; A casa da coruja
verde e Luzbela vestida de cigana. Em 1965, no mais disputado certame
novelística da época no país, em meio a três centenas de livros, coube a sua
Trilogia de Catarina o Prêmio Especial Walmap, IV Centenário do Rio de Janeiro
criado exclusivamente para distinguir essa obra. A comissão julgadora foi
integrada pelos acadêmicos Raimundo Magalhães Júnior, Adonias Filho e pelo
novelista Otto Lara Resende. A Trilogia de Catarina, lançada pela Editora
Lidador na coleção Imago, compreende os seguintes títulos: O Sino e a Rosa, A
Chave do Mundo e o Círculo, em que a romancista traça a trajetória de uma
mulher entre o sonho, o aprendizado da vida na busca de um sentido existencial,
num protesto contra os códigos, sempre dentro de um padrão da realidade e
dignidade feminina.
Indagada sobre o sentido de sua personagem, informa Alina Paim:
“Catarina tem uma constante: a busca do sentido da vida, a compreensão de si
mesma e do que lhe acontece para melhor se integrar na vida e no convívio de
seus semelhantes. Os três romances de Catarina deslizam no espaço de uma noite
e de vigília. É um trabalha com muitos planos de tempo. Ao amanhecer, após
longa análise, a Catarina que encara o sol é bem mais amadurecida que a
Catarina que se encolheu no topo da escada, no princípio da noite. Foram
violados, com certa audácia, os seus compartimentos selados”.
Um ano depois publica Flores de Algodão e Treze anos depois rompe o
silêncio com “A Correnteza”, publicada pela Record em 1979. Sobre este romance,
um dos maiores críticos literários da época, Valdemar Cavalcanti diz que o
romance “constitui um painel da vida de subúrbio do Rio. Mas não é
positivamente a moldura o que mais importa neste romance, embora montada com
indiscutível mestria. Importante mesmo é o quadro psicológico que Alina Paim
apresenta, de extraordinária nitidez. E o leitor inteligente observe no fino do
traço das figuras femininas, em particular, e veja como ela as desenha, com
mãos leves e firmes, mãos como de uma Marie Laurencin que se desse ao romance”.
A Correnteza ocupa lugar privilegiado neste espaço ficcional brasileiro, livro
para ser lido muitíssimas vezes. Exemplo de sua enorme capacidade de testemunho
dum roteiro lírico, dum movimento rítmico de ação continua, duma originalidade
incessantemente cultivada num alargamento espacial onde seus tipos criados têm
oportunidade de expandir-se em implicações sutis, num aparato episódio solene e
drástico, contudo movido por um realismo, cru, paralisante.
Em 1994, o Governo do Estado de Sergipe, por iniciativa da escritora
Núbia N. Marques, na época Diretora Presidente da Fundação Estadual de Cultura
– Fundesc, publicou na coleção Ofenísia Freire, capa de Ronaldson, uma edição
cuidadosa o romance, A Sétima Vez. Neste livro Alina Paim retorna à análise de
vida problematizada do velho Teodoro, aposentado, e já sonhando com a
tranqüilidade de um cata-vento, vê-se empurrado para a atividade laborativas,
pois necessitava criar o neto, colhido pela orfandade. Os esquemas competitivos
que na mocidade poderia muito bem enfrentar, o leva a esforço de sobrevivência.
A velhice encontra na pena dessa vigorosa romancista o dardo crítico e a
reflexão sábia de uma fase de vida humana que, a despeito da labuta já
enfrentada, empobrecida por uma aposentadoria irrisória, volta com toda força
para buscar o pão cotidiano, dentro das adversidades e dificuldades que cercam
um velho.
Como integrante do Partido Comunista, Alina Paim exerceu atividades
políticas diversas, tendo convivido durante meses com mulheres dos
trabalhadores ferroviários que participaram ativamente da grave da Rede
Mineira, de grande repercussão nacional. Por isso sofrendo perseguições e
pressões de toda ordem inclusive processo judicial. Traduziu trabalhos importantes
de Jorge Dimitrof e Vladimir Lenin, além de colaborar em vários periódicos O
Momento (BA), Época (SE), Leitura (RJ), dentre outros, sendo que essas
colaborações eram em sua maioria, capítulos dos seus livros.
* Jornalista, pesquisador e professor universitário.
Fonte: http://www.arquivors.com/gilfrancisco7.htm
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