A PONTE DO TOURÃO, Vírman
(Antônio de Oliveira Silva), 2017, Infographics, 251p, isbn 978-85-9476-059-3
(por Antônio Saracura, antoniosaracurasobrelivroslidos.blogspot.com).
O maior castigo contra o nosso
semelhante não é odiá-lo mas ser indiferente a ele (Bernard Shaw falou algo
parecido, na abertura da Ponte do Tourão, novo livro de Virman, que deixei mofando
por quase um ano. A dedicatória é de 20/05/2017). Uma injustiça que cometi,
porque Virman sempre leu meus livros ainda quentes.
É tanta coisa que enche dia a dia
de um pecador! Quando ele se dá conta, muita escapou-lhe pelos dedos, quase
sempre as mais relevantes. Como a leitura de um livro que vale a pena.
Um menino pobre, sem nenhuma
chance de estudar, sem ter como arrumar trabalho, ganha o prêmio: é aceito no seminário.
Estudo bom e de graça. Comida, dormida, lazer. Bastava segurar o volante que o
carro iria em frente, ao sucesso.
Mas vem o fogo prematuro da
carne, que nem fora de verdade, apenas um leve calor. Vem a consciência ingênua
que poderia aquietar-se ou ser silenciada. Custava esperar mais um pouco, até
concluir o curso superior, como era praxe? A vocação, que o demônio alardeia
haver sumido poderia apenas estar sufocada. Retornaria depois revivida. Mesmo
que não retornasse, sempre seria tempo de mudar de rumo. Por que agora, tão
cedo?
A apostasia (quebra de votos)
lembrou-me o onanismo (a santa masturbação) que quase me fez decepar-me,
encurralado pelas teorias medievais de São Tomás de Aquino. Ari foi vencido
pelo medo de renegar a fé, eu adotei a masturbação como minha oração secreta ao
diabo. Mas isso não me livrou do pecado maior de sair seminário como fez Ari. Quase
entro na marinha, escapei por um triz. Em vez de secretário do bispo cuidei de
um jornal da diocese, que me deu degraus seguros. Tive sortes, em seguida! E até
a honra de ser citado em A Ponte do Tourão, que nem sei como agradecer, além do
muito obrigado por me lembrar do professor de música, Alfeu, que era mesmo
muito engraçado.
A Ponte do Tourão é apenas o lugar
que prendeu o personagem, na infância, e a plataforma de voo que o arremessou à
vida dura. É uma ponte rasa em um rio seco. Veio-me à cabeça, outra ponte, essa
sobre o rio Vaza Barris entre as cidades de São Domingos e Lagarto. São 87
metros de seca profundidade. Remeteu-me a definitivo mergulho ao além
tranquilo. Mas o Ai atribulado estava longe demais, graças a Deus!
Ari e Lia são os principais personagens
do romance que o acaso uniu à uma vida feliz, de início. Pequenos gestos ou a
falta deles. Ínfimas ofensas, palavras mal colocadas. Um paraíso pode virar um
inferno. Um inferno de vida que nem vale a pena viver. Duas almas puras podem deliciar-se
mutualmente, mas digladiam-se sem trégua, cada uma se achando mais justa, não
arredando o pé de posições desconfortáveis. Simulam recuar para retomar a
trincheira com muito mais fel. Como as pessoas jogam fora a graça que recebem
de Deus!
A Ponte do Tourão poderia muito
bem ser um livro autobiográfico. Certamente é um romance de vida, de análise
sem trégua da dura realidade da vida a dois. Sem véus, sem paliativos. A
realidade maltrata, mas precisa ser mostrada, mesmo que seja para a glória da boa
ficção.
O autor, Vírman (Antônio de
Oliveira Silva), é um dos bons escritores sergipanos. Pertence à Academia de
Letras de Tobias Barreto, sua terra natal. É poeta premiado, cronista de
mão-cheia, colunista da revista Perfil com fã clube estabelecido. Este é o
sexto livro publicado, todos consagrados por quem teve a sorte de os ler.
(Aracaju, 12 de fevereiro de 2018,
revisto em 28/09/2019).
Emails trocados com o autor após a divulgação da resenha acima:
A ponte do tourão
4 mensagens |
Antônio Francisco de Jesus Saracura <afjsaracura@gmail.com> | 12 de fevereiro de 2018 19:06 |
Para: virman36@hotmail.com |
Boa noite, caro amigo Tonho virman,
Finalmente li seu livro. Gostaria de ter lido muito antes, mas não me comando. Envolvi-me com mil diabos que não me deixam fazer o que gostaria de fazer: a vida.
Aproveitei o carnaval quando eles foram às ruas cuidar de uma roça muito mais pródiga, e li seu livro. E antes que retornem para me consumir, escrevi quatro linhas sobre minha leitura, que submeto à sua apreciação.
Um grande abraço,
Tonho Saracura.
A PONTE DO TOURÃO, Vírman (Antônio de Oliveira Silva), 2017, Infographics, 251p, isbn 978-85-9476-059-3
(texto na cabeça do blog)
| | A PONTE DO TOURÃO.docx
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Antonio Silva <virman36@hotmail.com> | 15 de fevereiro de 2018 11:48 |
Para: Antônio Francisco de Jesus Saracura <afjsaracura@gmail.com> |
Saracura, bom dia
Eu sei que não adianta reclamar: a velhice chegou e pronto. Não que ela seja tão má. Inclusive encheu-me de experiências e direitos, principalmente depois que atingi a 4ª idade, a partir de quando comecei a ser "prioritário" até entre os da 3ª idade. O problema são os inconvenientes. É uma dor que surge na base do crânio, com formigamento e calor ascendentes, associados a uma tontura de segundos; é outra dor que desce pela junção das colunas cervical e torácica, aumentando na coccídea e se alastrando por toda a região glútea, seguindo pernas abaixo até as cãimbras nas plantas dos pés. Não bastasse, dei agora para cochilar em qualquer lugar onde sente, sem respeito aos presentes nem às horas, como se fora um velho. Por isto que demorei a escrever, agradecendo-lhe os valiosos comentários ao meu "A Ponte do Tourão". Sua inteligente interpretação dos fatos ali contados bem demonstram a perspicácia do ilustre acadêmico, de quem tenho a honra de gozar da amizade.
Receba um grande abraço, com os votos de uma quaresma voltada para o amor de Cristo, culminando com Sua gloriosa ressurreição, razão da nossa fé.
Do seu,
Vírman
[Texto das mensagens anteriores oculto]
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Antônio Francisco de Jesus Saracura <afjsaracura@gmail.com> | 15 de fevereiro de 2018 12:34 |
Para: Antonio Silva <virman36@hotmail.com> |
Amigo Vírman,
RAPAZ, você ainda é um jovem senhor e tem que mandar essas inhacas embora. Apele até pra rezador, mas não lhes dê guarida. Um bom terapeuta (aconselho Sandro que tem consultório aqui pertinho de onde moro) que faz mágicas em caras como eu e você: desentortando artérias, nervos e ossos (carne quebrada osso rendido)... êle não deixa o cara novo mas o deixa funcionando como se fosse, por uns dias, até a próxima sessão.
Temos que buscar a fonte da juventude até no leito derradeiro:no céu só entra quem sonha, quem zela pelos dons que recebeu; e viver é o maior deles.
(Desculpe-me, acho que me empolguei).
Os poetas cochilam: é quando engendram seus melhores versos. Os "outros" têm que entender.
Um grande abraço,do irmão que não gira bem de jeito nenhum:
Tonho Saracura
(Também tou cheio do mesmo jeito, quase. Falei para mim tb).
[Texto das mensagens anteriores oculto]
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Antonio Silva <virman36@hotmail.com> | 15 de fevereiro de 2018 15:36 |
Para: Antônio Francisco de Jesus Saracura <afjsaracura@gmail.com> |
Tonho
Após seguir toda a lógica médica, isto é, ser atendido por todo tipo de "picialista", socorri-me do homem das agulhas. Depois de dez sessões, parece que a acupuntura fez algum efeito, pois algumas dores tiveram medo e fugiram, e outras nem tanto. Já fiz também RPG, como você pode ver na poesia que lhe envio.
Como moro na roça, fica difícil frequentar o consertador de coluna, mas se me decidir morar em Aracaju, entrarei em contato com você para descobrir-lhe o endereço.
Sou um teimoso comigo mesmo. A matéria diz NÃO. PRA VOCÊ NÃO TEM MAIS JEITO e eu respondo: NÃO ACEITO, e continuo lutando. Mas quantas vezes penso numa coisa, a mente sabe o que é, quero mudar o passo e, quando procuro as pernas não as encontro? Não faz parte de mim o desistir. Mas é que, com tantas dores em todo o corpo, fica difícil realizar os sonhos. É tanto que meu "Deu a Louca no Olimpo", que já tem mais de 100 páginas A-4 prontas, faz mais de 2 meses que não me vê. Espero voltar a ele na próxima semana.
Receba um grande abraço de
Tonho de dona Maninha
De: Antônio Francisco de Jesus Saracura <afjsaracura@gmail.com>Enviado: quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018 10:34 Para: Antonio Silva Assunto: Re: A ponte do tourão
[Texto das mensagens anteriores oculto]
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