sexta-feira, 22 de março de 2024

ENTRE TRAÇOS E CONTEXTOS

 

ENTRE TRAÇOS E CONTEXTOS, as charges de Carvalho Deda no jornal A Semana (1959-1968), Amanda de Oliveira Santos, Aracaju, 2022, Segrase, isbn 978-65-86004-77-9

 

A emoção fez-se em nó lá dentro, subiu pelo gorgomilo na tora querendo ar e cortando o meu. Posso morrer disso. Bastou-me ver o jornalista Carvalho Deda criando mágicas para que seu jornal fosse lido até pelos analfabetos.  

Eu já conhecia Carvalho Deda de “Brefáias e Burundangas do Folclore Sergipano” que li até as entrelinhas. E de outros três livros que acompanharam Brefáias no book lançado no governo Marcelo Deda, que acidentalmente ganhei, pois estava de cara para cima em um final de tarde na galeria de arte Álvaro Santos sem entender porque ali havia tantos figurões se cumprimentando e sorrindo.

Entretanto, os livros “Simão Dias fragmentos de sua história”, “Carvalho Deda vida e obra” e “Formiga de Asas” (que completavam o book) dei uma sapeada e, espantado, vi que neles havia ouro puro. Urgências maiores surgiram. Então, escondi a boca da mina (o book com os livros) para oportunamente (que até agora não aconteceu) explorar o ouro.

Conheci a historiadora Amanda de Oliveira Santos, autora do “Entre traços e contextos”, quando visitei, com minha esposa, o Centro de Memória Digital de Simão Dias, em 20 de maio de 2023. Amanda  estava elaborando a dissertação de mestrado que foi transformada neste livro, agora impresso, que acaba de cair em minhas mãos.

Li “Entre traços e contextos” de um pulo[1].  O tema abordado é interessante, fui jornalista nos tempos basilares e quebrei a cabeça com as mesmas ferramentas. A escrita (apesar de técnica) flui fácil, tem sabor de romance, que é meu prato predileto.

O livro trata do jornalismo em Sergipe, com foco em Simão Dias e na longevidade do jornal “A Semana” (1946 a 1969), de Carvalho Deda. E mais firme foca nas charges xilográficas que o jornalista cria para que seu jornal seja útil e sofregamente consumido, que são as magias de que falei lá no começo.   

O jornalista, advogado e político José de   Carvalho Deda, é dono do jornal, editor, colunista, editorialista, criador das manchetes, o condutor da linha... É também o entalhador da madeira (ele foi carpinteiro e agora domina a arte da xilografia) que produz as gravuras que são impressas  nas páginas do jornal narrando casos, como os quadrinhos de uma revista, como a xilogravura dos livrinhos de cordel.  A charge provoca reações peculiares. O administrador público lê cauteloso. O cidadão comum sorri gratificado porque é a sua voz falando alto. Os que não sabem ler, se assustam porque conseguem entender a nova escrita.  

Todos ficam sabendo que estourou a guerra, que o ditador caiu, que o rio encheu, que Jânio renunciou, que o novo papa foi eleito... somente olhando as figuras.

Muitos sorrisos, alguma mágoa.

A charge do jornal “A Semana” está nas rodinhas, nos gabinetes, nas malhadas, nos roçados,  nas estradas, nos ajuntamentos, na sacristia da igreja, em todo canto.

Humor, ironia, alertas, afagos.

E muito mais jornais vendidos.

xxx

Que Simão Dias é essa que brilha tanto a meus olhos?

Que monstro foi José de Carvalho Deda?

Que livro bom  é “Entre traços e contextos” de Amanda de Oliveira Santos?

(por Antônio FJ Saracura, Aracaju, 22 de marco de 2024).


NOTAS 

[1] Eu estava lendo a resenha na tribuna e ouvi palração entre dois monstros sagrados da arcádia,  sentados na primeira fila do auditório.  Ao concluir minha apresentação, o ruído continuava, então me aproximei e me espantei.

Riam da minha frase “li de um pulo”. Diziam que  eu lera dando pulinhos.   

Apenas para evitar outros mal entendidos, deixo a frase do mesmo jeito, mas me justifico: O termo “de um pulo”  significa, em Itabaiana,   “ligeirinho”, e o conheço desde menino.

E eu explico nas frases seguintes da resenha porque "li de um pulo”. (Li ligeirinho).

Em casa, no Google, vi que não estava revelando uma das joias da Terra Vermelha de Itabaiana.  O mundo todo usa a mesma expressão no mesmo sentido (ligeirinho). Anotei alguns exemplos: 

“Do beijo pra cama é um pulo”

“A fazenda é logo ali, à distância de um pulo”.

“Depois deste remédio (para vermes), a menina vira outra de um pulo”

“Vou dar um pulo na sua casa”

(precisa de mais?)  

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