SIMÃO DIAS TRADIÇÃO E HISTÓRIA, Amaral Cavalcante organizador,
Edise, Aracaju,2020, 186 páginas, Isbn 978-65-86004-18-2.
Ao chegar em casa, comecei a ler o livro e gostei muito. Bem
escrito, exposições consistentes, suficiente iconografia. Vou arrumar um lugar para ele na minha
restrita biblioteca.
O livro está dividido em sete partes:
1.
Simão Dias, tradição e história, por Luiz Antônio Barreto.
O início da colonização com doação de sesmarias a alguns Simão
Dias de então, destacando o francês que veio de Itabaiana com seus rebanhos para
escapar do confisco holandês e da matança promovida pelos soldados de Portugal.
Passa pela emancipação, troca de denominação, visita de Antônio Conselheiro em
sua missão santa, as figuras ilustres...
2.
Tempos áureos de nossa cidade, por Jorge Luiz Souza Bastos.
Fatos, pessoas e equipamentos que constituíram e constituem o
município. A evolução do lugar, desde os currais, à comarca, vila, paróquia... As
figuras de escol são mostradas com intimidade. E aqui me causou espanto e
emoção o poeta Hermes Andrade, uma fantástica narrativa. Hermes pertence a um mundo
que vivi, fazendo jornalecos, como Pasquim, O Recreio e outros, no Seminário, e
logo a seguir, na redação de “A Cruzada” (semanário católico onde fui chefe da redação)
que dependia muito da criatividade de seus artesãos.
Hermes nasceu em 1912 no povoado Curral dos Bois, longe da
cidade. Autodidata, somente alfabetizado, improvisou uma tipografia com o casco
de cajazeira, e fez circular pelos sítios o jornalzinho “O Municipal”. Quando a impressora se mostrou inviável, o jornal prosseguiu
escrito à mão (manuscrito). Causou espanto nos jornalistas da cidade (A Luta)
que lhes dedicaram reportagens e lhes deram espaço para publicar crônicas. Faleceu
muito novo (27 anos) de tuberculose, mas angariou celebridade como o poeta da
solidão, “um dos talentos mais pujantes e mais multiformes dos nascidos em
terras de Simão Dias” (escreve “A Semana”, em 02.03.1947).
3.
Memorial de Simão Dias e sua importância para o município, por Edjan
Alencar e Amanda Oliveira.
O nascimento do museu (1991), os gestores (desde a primeira diretora,
Enedina Chagas Silva, tia do ex-governador Belivaldo Chagas. A composição do rico
acervo (hoje assimilado e ampliado pelo Centro de Memória Digital, inaugurado
em dezembro de 2022): pintores, artesãos, fotógrafos, Jornalistas, figuras ilustres
da história, e muito mais, com respectivos feitos e obras, desde a origem da
cidade.
4.
Simão Dias à frente do executivo sergipano, por Luiz Fernando Ribeiro
Soutelo.
Reencontro meu colega de faculdade de economia (turma de
1971) e meu confrade da Academia Sergipana de Letras (faleceu em 03/01/2022), historiador Soutelo, tão grande quanto os
maiores que Sergipe produziu. Ele apresenta os cinco governadores filhos Simão
Dias: Pedro Freire de Carvalho que assumiu com a renúncia de Siqueira de Meneses
e permaneceu de julho de 1914 a 24 de outubro do mesmo ano. Sebastião Celso de
Carvalho, assumiu o governo com a cassação de Seixas Dórea (revolução de 1964)
ficando até 31 de janeiro de 1967. Antônio Carlos Valadares, eleito, governou de
1987 a 1991. Marcelo Deda Chagas, também eleito, governou o estado de 2006 a
2013 quando faleceu. Belivaldo Chagas Silva, eleito, governou de 2018 a 2023.
Para cada um deles, Soutelo oferece preciosas informações.
5.
Intelectuais simaodienses, por Gilfrancisco dos Santos.
Gilfrancisco está sempre presente onde se produz história em
Sergipe, com livros, com ensaios, só nunca o ouvi em academias ou eventos proferindo
palestras. E, pelo que sei, não é mineiro. Acende mais luz ainda sobre Gervásio
Prata que, agora, brilha também como avô de um taumaturgo, Henrique Prata, com
seus hospitais em Barretos, Lagarto e resto do Brasil e nem médico é. E fala de
Carvalho Neto, Carvalho Deda (nasceu em Paripiranga), Pedro Barreto, Aline Paim
(nasceu em Estância), Paulo Dantas, Paulo de Carvalho Neto, Sinval Palmeira,
Artur Oscar Deda. Senti a falta de Amaral Cavalcante, um dos maiores.
6.
Simão Dias, ontem e hoje (um passeio pela história através das mudanças
no padrão arquitetônico), por Edjan Alencar, Geraldo Henrique dos Santos,
Alexandre do Nascimento Barreto Junior.
Uma plêiade de historiadores e pesquisadores caiu nas ruas da
cidade, escarafunchando os palácios, palacetes, mansões, prédios do comércio, equipamentos
públicos, igrejas e casas do povo. Desde as fundações, modificações, conservação.
E vasculhou a documentação disponível nos livros das sacristias e dos cartórios.
E catalogou os festejos religiosos e populares, as histórias das vias públicas...
E inclui no artigo, o que mais achou de valor, como a rica iconografia colorida
dos principais motivos descritos.
7.
Poema: uma endecha à Simão Dias, por Udilson Soares Ribeiro.
Não tem importância que a endecha seja uma composição de apenas
quatro versos de cinco sílabas. Não caberia mesmo toda a beleza da composição poética
que louva Simão Dias de um modo coloquial e familiar, mas sem deixar de ser grandiosa.
As procissões de dona Dé, os presépios de Joventina, os reisados de seu Tota,
os bailes do Caiçara Clube, o Cine Ypiranga que foi ressuscitado com o Centro
de Memória Digital... Eu nem sou daqui, mas me lembrei como e fosse, destes
eventos citados, dos demais ditos ou sugeridos, na bela endecha de Udilson
Ribeiro.
(Por Antônio FJ Saracura, em Aracaju 23/03/2024).
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