domingo, 6 de março de 2016

O NOME DE DEUS É MISERICÓRDIA, papa Francisco e Andrea Tornielli

O NOME DE DEUS É MISERICÓRDIA, papa Francisco e Andrea Tornielli, Planeta, 2016, 144p, isbn 978-854-220-634-0



Doutor Carlos Leite é autor do livro “Procurando o Pequeno Príncipe”, crônicas de sua infância no Chapadão dos Bugres e no Barracão: Cristinápoplis e Jandaíra, respectivamente. Gostosas lembranças! Foi meu professor de história  nos idos de 1960, quando me deu boas notas.  Eu o fiz personagem, um dos principais, do meu livro, “Meninos que não Queriam ser Padres”. Doutor Carlos fecha a trama de maneira espetacular, no dizer de Vieira Neto, um dos grandes intelectuais dessa terra:  poeta, crítico literário, dramaturgo, cronista, memorialista e romancista.

Depois dos incidentes que narro no citado romance (está saindo a segunda edição) comecei a frequentar, com certa assiduidade, a casa do velho professor, quarenta anos depois de ter saído do colégio onde ele ensinava, o Arquidiocesano de Aracaju.
 
Ele agora tem 94 anos e praticamente não sai de sua cadeira. Passa o dia inteiro, entre dormindo, lendo algum livro (geralmente com viés religioso) e rezando.

Eu levo livros para ele ler. Os que publico e os que compro e acho que fazem o seu estilo. Talvez por isso ele se ache em débito comigo e sempre está procurando um jeito de retribuir, também me emprestando algum livro. Esta semana eu trouxe de sua casa: “O Nome de Deus é Misericórdia”, uma entrevista feita pelo jornalista do jornal “la Stampa”, Andrea Tornielli com o papa Francisco (Francisco Jorge Mário Bergoglio).

E não é que li o livro! Talvez como penitência. É que tenho lido pouco livro de religião, até a Bíblica Sagrada sobre a cômoda de meu escritório, está aberta na mesma página (O Livro de Ester, página 413) há meses. Além do que, sou um pecador inveterado. Por pensamentos, palavras e obras. Sempre arrependido e sempre vacilando. Comecei a ler " Nome de Deus..."para compensar um pouco, ajuntar bônus para o tal Julgamento Final. E gostei.

Os temas abordados no livro são, de acordo com os capítulos: Tempo de Misericórdia, a graça da confissão, procurar todas as brechas, Pecadores sim - corruptos não, misericórdia e compaixão, entre outros.

A Misericórdia significa abrir o coração. É a atitude divina que abraça, que se dedica a perdoar. Então é preciso existir o pecador para que a misericórdia possa ser exercida. Ele (o pecador), nesse contexto, é mais importante do que o justo. Sem o pecador não haveria misericórdia. O Senhor perdoa tudo e, se assim não fizesse, o mundo não existiria (página 55). Haverá no céu alegria por um só pecador que se converta do que por 99 justos que não precisam de conversão (página 84).

Confessar-se com um sacerdote é uma forma de colocar minha vida nas mãos e no coração de outra pessoa, que naquele momento age no lugar de Jesus.  O confessor deve ouvir e não interrogar. E perdoar, mesmo que o pecador não esteja arrependido de seu pecado.  Arranjar um jeito. Até pelo fato do pecador lamentar-se não se arrepender do pecado. É um motivo justo.  

Se alguém é um ministro de Deus, acaba por acreditar que está separado do povo, é dono da doutrina, titular do poder, fechado às surpresas de Deus (degradação do encanto). Os que adoram os primeiros lugares, gostam de ser chamados de mestres, começam a perder o encanto diante da salvação que lhes foi dada, ao se sentirem mais seguros, começam a se apoderar de atributos que não são seus. O corrupto tem a cara de quem diz: não fui eu. Ele se indigna porque lhe roubam a carteira, lamenta-se pela falta de policiais nas ruas, mas depois ele ludibria o Estado, sonegando impostos; talvez demita os funcionários a cada três meses para evitar contratá-los por tempo indeterminado, ou então possui trabalhador não registrado.  E ainda conta vantagem disso aos amigos (página 120).


O livro é bem diagramado, bonito, agradável então. Letras graúdas, espaço duplo entre as linhas, anima por isso. Uma penitência que o pecador (como eu) paga sem sacríficos maiores. Até com prazer. Apesar dos temas óbvios, faz bem ouvir de novo.

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