A CELA DE VIDRO, Patrícia
Highsmith, Benvirá, 2013, 321 p, isbn 978-85-02-20743-4

E não é que é mesmo, pensei com meus botões. Fico quebrando a cabeça com poetas e escritores daqui,
que não vendem nada. E não são lidos por ninguém, a não ser por meia dúzia de
caras como eu. Os amigos que vão aos lançamentos concorridos sequer abrem os
livros. Ou abrem e leem a dedicatória, se muito. Ou apenas olham-na, lamentando
o cansaço na fila ou os trinta reais gastos à toa.
Então eu li “A Cela de Vidro”.
Comecei as dez horas da
manhã e, às onze da noite, parei na
penúltima página. Poderia ter acabado, mas preferi prolongar o prazer, desfrutar
o modo como uma escritora consagrada acaba um best seller. O final é sempre o
grande trunfo de um livro. De que adianta uma boa história mal terminada? A
última impressão é a que fica, diz um refrão popular. Mesmo um livro medíocre, quando
termina bem, o leitor sente-se recompensado pelo sacrifício de ter chegado até ali
na leitura.
Resisti à tentação e deixei mesmo
o finalzinho do livro para o dia seguinte.
“Voltou-se para Hazel, que o
estava olhando – devia pensar, para olhá-lo do jeito que olhava agora, que os
dois tinham aprontado confusões terríveis, mas que havia algo que ainda podiam
e que valia a pena resgatar. Não haviam
destruído tudo. Restava um bocado de coisas, em abundância até, e tudo ia ficar
bem”.
Uma boa saída para o embrulho
aprontado. As pessoas nunca são definitivas em nada. Há sempre um jeito à dar. E quanto à dor, é passageira demais. Basta o
alívio, e cai no esquecimento, embota-se. Todo sofredor prefere não reter má lembrança.
O enredo é simples, até trivial;
um pouco manjado. Um cara é acusado injustamente e cumpre pena numa prisão
desumana, onde é perseguido, outra vez sem motivo justo, por guardas
sanguinários. Aprende artes marciais, um
idioma social e se vicia em drogas pesadas. Há muitos inimigos gratuitos e
alguns amigos bizarros. Sua desvelada esposa, enquanto isso, envolve-se
amorosamente com seu advogado, que se passa como amigo vingador e protetor.
Finalmente sai da prisão.
Os realmente culpados pelo crime vivem
à tripa forra. Há ainda o “amigo” advogado
que dorme em sua cama, só para relembrar. Sem maiores planejamentos,
aproveitando uma chance rara, o cara (artista) assassina o advogado e incrimina
os velhos culpados. Elimina a única testemunha que poderia denunciá-lo. Só no
cinema (ou na literatura)!
Qualquer escritor sergipano
escreveria um livro até melhor e ninguém se daria ao trabalho de ler, a não ser
eu. “A Cela de Vidro”, entretanto, vende aos milhões no mundo todo. Vendeu, inclusive,
um exemplar à minha esposa, sempre muito segura, aqui nesse fim de mundo que é
minha terra.
E ainda há quem escreva sobre
ele, promovendo-o mais ainda, como estou fazendo aqui agora.
E os livros que escrevo?
O cupins aproximam-se deles, inexoráveis.
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