quinta-feira, 30 de junho de 2022

OS CAMINHOS DA PESQUISA ANTROPOLÓGICA,

 

OS CAMINHOS DA PESQUISA ANTROPOLÓGICA, Beatriz Góis Dantas, Criação Editora, 278 p, isbn 978-65-88593-86-8.

 


A primeira parte do livro trata da família. Ibarê Dantas conta a trajetória de sua companheira na vida. E não há como não se emocionar com a narrativa que começa pelo baile de jovens em Boquim: “Quando a orquestra começou a animar, convidei-a a dançar. A mocinha de 16 anos levantou-se e unimos nossas mãos sem atinar para o significado daquele primeiro gesto singelo. Começamos a dançar e a dialogar sem saber se a interlocução duraria. Após a festa”...  

E misturando momentos estritamente particulares (os afazeres na singeleza feliz do lar) com rigorosamente públicos (a luta em busca da ascensão profissional) o livro espanta e encanta. Pela simplicidade dos fatos e pela grandiosidade do efeito: os filhos crescem ouvindo historinhas para dormir, as doenças são cuidadas com zelo, as dificuldades administradas, os desafios enfrentados, as vitórias comemoradas...

Tocou-me o discorrer poético do tupinambá Ibarê, herói de grandes batalhas e autor de proezas incomuns, como a consistente obra publicada. Um homem assim certamente tem uma grande mulher junto a ele. E tem mesmo.

O livro entra na trajetória profissional de Beatriz Dantas, os caminhos de sua pesquisa antropológica que é referência no mundo acadêmico. E doutores que testemunharam a epopeia da garotinha de 16 anos apresentam memórias, avaliações, louvores. Como faz a dra. Maria Laura Cavalcanti, professora da UFRJ, que nos mostra o mundo de “Vovó Nagô e Papai Branco: usos de abusos da África no Brasil”, que hoje tem alcance universal. Como Eufrázia Cristina Santos, doutora na USP e professora da UFS, arrematando notas sobre a antropologia em Sergipe que necessariamente passa por Beatriz. Luiz Mott, historiador, pesquisador sênior do CNPQ, e que muito pesquisou Sergipe, fala da pesquisadora, professora e ativista cultural: “Os índios foram seu grande objeto de pesquisa, Beatriz é a principal etno-historiadora de Sergipe, quiçá do Nordeste, seja pelo volume de publicações pela diversidade dos grupos tribais e temas pesquisados, seja ainda pela sua preocupação política engajada da defesa da cidadania dos remanescentes dessa etnia”.

Osvaldo Trigueiro, professor da UFPBA escreve sobre a “Mulher perguntadeira”. Therezinha Alves Oliva, professora da UFS, escreve sobre o Patrimônio Cultural que é Beatriz Dantas. Verônica Nunes, professora da UFS, mostra Beatriz museóloga. Diogo Francisco Monteiro e Kléber Rodrigues andam pelas memórias e experiências nos estudos sobre os povos indígenas de Sergipe. Vagner Gonçalves da Silva, professor da UFS, escreve sobre a arquitetura viva do mundo: “O terreiro de Macumba” e presta uma homenagem à mestra Beatriz. Lea Freitas Perez trata das Festas, da Religião e da Cidade na obra de Beatriz.

Há os depoimentos de Peter Fly (Desvendando Áfricas), de Manuela Carneiro da Cunha (Para Beatriz) e de Maria Tereza Camargo (Carta à minha amiga).

A poeta Maria Lucia Dal Farra(*), professora da Ufs, que abre o livro e que deixei passar porque queria terminar minha resenha com flashes (como se fosse possível) de seu poema “A Missionária da Memória”, canta assim.

“Ela bate tambores na Mussuca,

Bate bilros em Poço Redondo...

Ela desvela o que mora no cotidiano, revela (dos hábitos) o segredo ali premido, da artesania, a longínqua alma - a memória dos mortos esquecidos...

Tudo que vibra e é humilde e simples merece o seu olhar.

Negros, migrantes, caboclos, índios em Ilha de São Pedro, Divina Pastora, Laranjeiras, Itabaianinha.

Um largo abraço para sagrar Beatriz – a imperatriz – a cultora das artes que de Sergipe ela é”.

 

Xxx

Que sorte termos Beatriz Góis Dantas em nosso tempo! E Lagarto, sua terra natal, que extravase orgulho pelos filhos ilustres, entre os quais a estrela Beatriz!

Agradeço pela distinção em me enviar o livro logo que saiu impresso (outubro de 2011): “Ao escritor Antônio Saracura, grande divulgador de Sergipe. Com os cumprimentos de Beatriz”.

Antônio FJ Saracura, Aracaju, 29 de junho de 2022).

(*) Maria Lúcia é concunhada de Beatriz, vez que é casada com Francisco Dantas, que é irmão de Ibarê. Os dois casais são compostos de doutores da Universidade e amam as letras. Todos têm reconhecimento no Brasil e no mundo pelas obras publicadas.


3 comentários:

  1. Publicada no jornal Zona Norte em 27/12/2022.

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  2. Estou confuso, tentei tanto ler na sessão da ASL que agora fiquei com a impressão de já ter lido. Tenho tido muito dificuldade de receber autorização do presidente para falar. Por via das dúvidas marco como se já a li na ASL

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